Tarde chuvosa e quatro ou cinco horas de completa solidão. Nessas circunstâncias, nada melhor que achar um bom livro e uma poltrona confortável.
Escolhi “The Digger’s Game” (em português, “O Jogo da Extorsão”), de George V. Higgins, um de meus autores prediletos de romances policiais. O livro era tão bom que, quando me dei conta, tinha terminado.
Decidi fazer uma lista de dez livros sensacionais que podem ser lidos em uma tarde. Não incluí coletâneas de contos, só romances, novelas e relatos de não-ficção. Em comum, todos provam que, em literatura, tamanho não é documento. E todos estão disponíveis em português.
Aqui vai a lista:
O Jogo da Extorsão, de George V. Higgins (1973, 198 páginas)
Já falei bastante sobre Higgins no blog (leia aqui). Ninguém escreve diálogos de meliantes como ele. Nem Elmore Leonard, que sempre disse ter aprendido muito com Higgins. Aqui ele conta a história de um bandido mequetrefe, Digger, que perdeu uma grana preta num cassino de Las Vegas e precisa pagar o agiota - ou comer capim pela raiz. Um diálogo de George V. Higgins contém mais ação, emoção e surpresa que livros inteiros de 99% dos autores policiais por aí.
1280 Almas, de Jim Thompson (1964, 180 páginas)
Jim Thompson é uma espécie de Ramones da literatura policial: suas histórias já começam a 150 por hora, duram quase nada e te deixam com uma sensação desesperadora de “quero mais”. Esse livro é uma injeção de anfetamina na jugular: numa cidadezinha interiorana (população: 1280), um xerife narra o que acontece por trás da aparência pacata do lugar. Thompson é o cara.
O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson (1886, 97 páginas)
Stevenson não precisou nem de 100 páginas para fazer da história do Doutor Jekyll, um cientista que se transforma no violento assassino Senhor Hyde, um clássico da literatura policial e de horror.
Hiroshima, de John Hersey (1946, 172 páginas)
Os leitores da revista “The New Yorker” tomaram um susto ao abrir a edição de 31 de agosto de 1946: todas as páginas eram tomadas por uma única reportagem, que contava as histórias de seis sobreviventes da explosão atômica em Hiroshima, um ano antes. Reunido depois em livro, o texto de Hersey virou um clássico do jornalismo.
O Jogador, de Fiodor Dostoievski (1867, 188 páginas)
Escrito entre duas obras-primas - “Crime e Castigo” (1866) e “O Idiota” (1869) - “O Jogador” é outra beleza de Dostoievski, um drama narrado em primeira pessoa por Alexei Ivanovich, jogador inveterado e que trabalha para uma rica família russa hospedada numa estação de águas na Alemanha chamada “Roletemburgo”.
O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald (1925, 158 páginas)
Nick Carraway é um sujeito simples que se vê em meio a uma fogueira de vaidades e maldades no jet set nova-iorquino. Sua prima Daisy é casada com um bruto, Tom, tão rico quanto podre, mas é apaixonada pelo enigmático magnata Jay Gatsby, vizinho de Nick. “Gatsby” não foi muito bem recebido no lançamento. Fitzgerald morreu em 1940, sem saber da idolatria que seu livro despertaria anos depois.
O Caso Morel, de Rubem Fonseca (1973, 166 páginas)
Meu livro predileto de Fonseca ainda é a coletânea de contos “Lucia McCartney” (1969), mas “O Caso Morel”, seu primeiro romance, é um assombro. Paul Morel é um artista excêntrico que está preso e começa a escrever na prisão. Seus textos são recolhidos por um escritor, Vilela, um ex-policial, e é a partir dessa correspondência que a história vai sendo contada. Fascinante.
Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida (1854, 200 páginas)
Quase morri de rir quando li pela primeira vez e continuo passando mal até hoje com a história de Leonardo, filho de Maria da Hortaliça (“saloia rechonchuda e bonitota”) e Leonardo Pataca, e suas aventuras pelo mundo da malandragem carioca do século 19.
A Última Casa de Ópio, de Nick Tosches (2002, 94 páginas)
Autor de biografias sombrias e espetaculares de Jerry Lee Lewis, Dean Martin e do boxeador Sonny Liston, Tosches narra sua busca por algum lugar no mundo em que possa deitar e entregar-se aos prazeres do ópio. Absolutamente sensacional.
Estrela Distante, de Roberto Bolaño (1996, 140 páginas)
Até hoje não sei dizer se gosto ou não dos livros de Bolaño. Nunca vi um escritor capaz de criar páginas tão arrebatadoras seguidas de outras tantas de puro tédio e lenga-lenga. Mas “Estrela Distante” não sofre dessa montanha-russa. A história de um poeta que na verdade é um facínora a serviço de Pinochet é fascinante do início ao fim.
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