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Clik here to view.O acidente com o ônibus em Trindade, no município de Paraty, ocorrido no início da tarde de domingo, 6 de setembro, foi a maior tragédia humana já vista na região. Quinze pessoas morreram – cinco permanecem em estado grave – e, segundo relatos, cerca de 60 se feriram.
O motorista do ônibus sobreviveu e está internado em um hospital de Ubatuba. Segundo testemunhas, ele disse que o freio do veículo havia falhado. Passageiros disseram que o ônibus “perdeu o freio” e capotou.
O fim dessa história a gente já conhece: daqui a alguns meses, uma perícia qualquer vai culpar o motorista ou uma falha mecânica, a notícia vai merecer uma notinha de rodapé nos jornais, e todo mundo vai esquecer a história.
Será?
Gosto de acreditar que o Brasil está mudando. De um ano para cá, vimos empreiteiros e políticos em cana e investigações chegando a empresas poderosas e partidos políticos.
Espero que a tragédia de Trindade mereça a mesma atenção. Porque um crime desses nunca tem uma única razão, mas é consequência de uma longa cadeia de erros, incompetências e irresponsabilidades. E todos os envolvidos precisam sofrer as consequências.
Algumas perguntas precisam ser respondidas:
- Se a estrada é municipal, quando o prefeito de Paraty, Carlos José Gama Miranda (PT), o Casé, será intimado a esclarecer por que ela é considerada uma das mais perigosas da região?
- No caminho entre Paraty e Trindade há dois postos policiais, um na rodovia Rio-Santos e outro no trevo de Trindade. Por que nenhum deles parou um ônibus que estava superlotado com mais de 80 pessoas, em pleno feriadão?
- Por que o posto da Polícia Rodoviária Federal na Rio-Santos vive às moscas e só atuou com rigor nas semanas que se seguiram a um atentado a tiros contra o prefeito Casé, ocorrido em maio?
- Quando o dono da empresa Colitur, que presta serviço intermunicipal de transportes em Paraty, será intimado a esclarecer por que os ônibus saem tão lotados da rodoviária?
- Quando o fiscal da Colitur terá de explicar por que deixou um ônibus superlotado sair da rodoviária?
- Quando a prefeitura vai esclarecer à população a situação de fiscalização dos ônibus da empresa Colitur? Os veículos estão sendo vistoriados? Estão em boas condições de manutenção?
- Quando o diretor do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) dará explicações sobre o fato de seu departamento estar há mais de um ano sem fazer manutenção nos acostamentos da Rio-Santos? Ninguém vai cobrá-lo pelos muitos quilômetros de estrada em que o mato simplesmente cobre todo o acostamento e esconde placas de trânsito?
- Quando o Secretário de Saúde vai explicar por que não houve coleta de sangue na cidade e por que as pessoas que quiseram doar sangue aos feridos tiveram de ir a Angra dos Reis, a 94 km de distância?
Ter essas perguntas respondidas – e os culpados responsabilizados - seria um bom começo.
A MONTANHA-RUSSA DE TRINDADE
Falei com um morador de Paraty que usa regularmente o ônibus para Trindade. Ele pediu para não ser identificado, mas autorizou a publicar uma informação assustadora sobre um "hábito" local. Leia o depoimento:
"Só quem pega esses ônibus sabe o estado deles. E eles fazem uma coisa que chamam de 'montanha-russa' para 'divertir' os turistas: quando começam a descer a serra, descem na banguela, e vai que vai! Já reclamei com o motorista, mas não adianta. O pior é que os turistas gostam, acham divertido, a maioria levanta os braços, grita e entra na onda."
P.S.: O blog estaria de folga até terça, depois do feriado, mas, devido ao terrível acidente, adiantei o texto de terça-feira. O blog volta com um teto inédito na quarta, dia 9.
The post Tragédia em Paraty é culpa de muitos (e conheça a “Montanha Russa” de Trindade!) appeared first on Andre Barcinski.