Há um trecho de “Kill Your Friends”, de John Niven - um dos melhores e mais engraçados romances já escritos sobre a indústria da música pop (aliás, muito obrigado ao amigo Junior, que me presenteou com essa belezinha) - em que Niven diz mais ou menos o seguinte: “O que há de comum entre astros pop, seja Bono, Eminem ou uma das Spice Girls, não é o talento, mas a pura ambição. Qualquer um deles é capaz de acordar às quatro da manhã e viajar trocentas milhas para dar uma entrevista de 30 segundos numa TV comunitária”.
Há 20 anos, o mundo pop presenciou um desses momentos épicos de ambição e ganância: a famosa “Batalha dos Compactos” entre Blur e Oasis.
Para quem não lembra: o Oasis havia marcado o lançamento de seu “single” “Roll With It” para meados de agosto de 1995. O “single” do Blur, “Country House”, tinha outra data de lançamento. Mas Damon Albarn, vocalista do Blur, convenceu a banda a colocar as duas canções nas lojas no mesmo dia. Rivalidade? Desafio? Espírito competitivo? Claro que não: esperteza.
O “NME” fez uma ótima matéria sobre o caso, com declarações de vários dos personagens envolvidos. Leia aqui.
Na época, as duas bandas viviam se alfinetando na imprensa. O público britânico rachou: metade preferia a “ética e honestidade da classe trabalhadora” representada pelos irmãos Noel e Liam Gallagher, do Oasis. A outra metade gostava mais do dândi cool Damon Albarn, do Blur, com sua carinha de galã teen e seu romance de tabloide com Justine Frischmann, da banda Elastica – o casal Britpop.
Era tudo uma farsa, claro. Alex James, do Blur, saía pra beber com os Gallagher. Os irmãos, grandes pilantras que são, logo perceberam que xingar Damon Albarn dava ibope.
A briguinha fez a festa da imprensa pop e das gravadoras, e muita gente ganhou muito dinheiro.
Os dois compactos saíram no dia 14 de agosto de 1995, uma segunda-feira. No domingo, dia 20, saiu o resultado: “Country House” havia vendido 270 mil cópias, contra 220 mil do Oasis. Blur campeão. Mas o verdadeiro vencedor foi a indústria do disco inglesa, que viveu sua semana mais rentável em mais de dez anos.
Executivos aprenderam a lição: nada melhor para as vendas do que uma briguinha arranjada. E em 2007, Doug Morris, então chefão da gravadora Universal, fez ainda melhor: pegou dois álbuns de rap de sua própria empresa, ambos muito aguardados por fãs e indústria – “Graduation”, de Kanye West, e “Curtis”, de 50 Cent – e programou os dois para o mesmo dia.
Kanye West e 50 Cent começaram a se bicar a imprensa. 50 Cent chegou a dizer que se aposentaria se perdesse a batalha das vendas. Tudo migué, claro. Os pombinhos chegaram a posar juntos para a capa da "Rolling Stone":
Os discos saíram em 11 de setembro de 2007 e foram imensos sucessos. Kanye ganhou – 957 mil a 691 mil cópias vendidas em uma semana – e aquela foi uma das semanas mais lucrativas da história da gravadora Universal.
No fim das contas, não importa quem vence a batalha entre artistas. O que importa é quem vence a guerra. E a vencedora era sempre a gravadora.
The post Blur vs. Oasis, Kanye vs. 50 Cent: as grandes farsas do pop appeared first on Andre Barcinski.