Pete Seeger, que morreu segunda-feira, aos 94 anos, foi um dos nomes mais importantes da música folk norte-americana. Instrumentista, compositor, arquivista e agitador social, Seeger foi um dos responsáveis por levar a música folk para um público urbano. No fim dos anos 50, liderou o “folk revival” em clubes do bairro de Greenwich Village, em Nova York, ajudando a lançar as carreiras de Bob Dylan, Joan Baez, Joni Mitchell, Dave Van Ronk, Phil Ochs e Peter, Paul & Mary, entre outros.
Seeger conheceu nomes históricos do folk e do blues. Foi amigo de Woody Guthrie (1912-1967), tocou com Leadbelly (1888-1949) e Paul Robeson (1898-1976), e durante anos trabalhou na Biblioteca do Congresso Americano, catalogando velhas gravações folclóricas.
Ele via a música como instrumento de transformação social. Durante uma carreira de quase 80 anos, defendeu causas sociais, organizou shows beneficentes e sempre se opôs à visão da música como produto. Nos anos 50, sua banda, o Weavers, foi colocada numa lista negra de simpatizantes comunistas e passou a ser perseguida pelo governo, boicotada em programas de TV e festivais. Mesmo passando por dificuldades financeiras, Seeger saiu da banda quando seus companheiros aceitaram gravar um comercial de uma marca de cigarro.
No fim dos anos 50, Seeger ajudou a fundar o Newport Folk Festival, evento que levou a música americana de raiz - não só o folk, mas também o jazz, o rockabilly e o blues - a um público amplo. Howlin’ Wolf, Johnny Cash, Duke Ellington, Muddy Waters e outros se apresentaram por lá.
A maior controvérsia da carreira de Seeger aconteceu em Newport em 1965, quando Dylan, queridinho do festival, apareceu com uma banda eletrificada e foi vaiado por puristas que não aceitaram a sonoridade “moderna” do bardo. Seeger teria cortado os cabos elétricos com um machado. Em entrevistas, décadas depois, ele disse que só fez aquilo porque o som estava muito ruim.
Nos anos 60, Seeger fez grande sucesso comercial. Seus discos vendiam muito e sua oposição à Guerra do Vietnã e apoio ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos o tornaram conhecido em todo o país. Gente como Bruce Springsteen, Warren Zevon, Ry Cooder e T-Bone Burnette aprenderam o grande “songbook” americano ouvindo as coletâneas de folk que Seeger organizou.
Seeger foi, até o fim da vida, um purista teimoso. Dizia que a verdadeira música era a tocada ao vivo e diante do público. Ano passado, quando o perguntaram sobre o estado da indústria musical, disse: “Não sei. Não ouço música gravada desde que tinha 19 anos.”
P.S.: O canal Off exibe na madrugada de hoje para quinta, à 1h, o documentário “Bra Boys”, sobre a temida gangue de surfistas da praia de Maroubra, em Sydney, na Austrália. O filme foi produzido e dirigido por membros da gangue e, por isso, traz uma visão meio idealizada e romântica da vida desses alucinados. Mas as cenas de arquivo e imagens impressionantes de ondas impossíveis – os Bra Boys são conhecidos por surfar em lugares perigosíssimos, com ondas quebrando em cima de rochedos – valem o filme. Aqui vai um trailer:
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