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Filme de Keith Richards parece obra do Procure Saber

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Se você quiser ter uma ideia de como seriam os documentários se o mundo fosse dominado pelo Procure Saber de Caê, Gil e o "Rei" Roberto, basta assistir a "Keith Richards - Under the Influence", que estreou esses dias no Netflix.

O filme é um festival de puxa-saquismo, diplomacia e elogios, sem um pingo de ousadia ou espírito jornalístico. Deixaria o Procure Saber orgulhoso.

Dirigido por Morgan Neville, vencedor do Oscar de melhor documentário pelo piegas "A Um Passo do Estrelato", o filme é uma eulogia a Richards e à mitologia que o cerca, sem nenhuma preocupação em explorar as ideias, idiossincrasias e pensamentos do guitarrista.

Basicamente, é um comercial de 81 minutos sobre o novo disco de Richards, "Crosseyed Heart". O guitarrista aparece tocando várias músicas do LP e batendo papo com os músicos que o acompanham.

Essas cenas são intercaladas por reminiscências de Richards sobre sua vida, a música que o marcou e os amigos que se foram, como Gram Parsons e Muddy Waters. Nada que qualquer fã dos Stones não tenha visto um milhão de vezes.

Há cenas que vão interessar aos fãs: ver o técnico de guitarra de Richards mostrando as peças mais raras da coleção do músico, incluindo um violão de 1928 idêntico ao do bluesman Roberto Johnson, é muito legal. Mas não basta.

Keith Richards é um dos poucos artistas que podem ser considerados ícones do rock. Ele não só inventou a persona do roqueiro rebelde e fora de controle, mas foi um símbolo - junto a Elvis e poucos outros - do conflito de gerações que surgiu com a explosão do rock'n'roll.

Hoje é difícil entender o que foi esse conflito. Mas basta assistir a um filme como "Charlie is My Darling", sobre uma turnê dos Stones pela Irlanda, em 1965, para ter uma ideia do abismo geracional que os Stones simbolizaram.

Seria muito interessante ouvir as opiniões de Keith Richards sobre isso, saber como um moleque de vinte e poucos anos se sentiu ao ser considerado inimigo público pela maioria da sociedade e herói pelos jovens.

Como Richards via a contracultura? Qual o papel dos Stones - e dele, Richards, em particular - nas batalhas velho vs. novo que ocorreram em 1968? O que ele acha do fato de os Stones terem se tornado "o sistema" que eles tanto criticavam?

Morgan Neville teve uma chance de ouro. Infelizmente, escolheu a saída mais fácil e fez um filme anêmico, frouxo e sem graça, que trata Richards como realeza. Conseguiu a proeza de fazer um filme INTEIRO sobre Keith Richards em que as palavras sexo e drogas não são sequer mencionadas. Parabéns, Morgan. Que tal um documentário sobe Roberto Carlos agora?

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