Tenho escrito bastante aqui no blog sobre a relação confusa entre jornalismo e assessoria de imprensa (leia aqui).
Cada vez mais, as empresas apostam em um bom relacionamento com os jornalistas para receberem textos favoráveis sobre seus produtos e serviços, e cada vez mais os jornalistas retribuem, agindo como verdadeiros porta-vozes dessas empresas.
Claro que isso não se estende a todos os jornalistas, mas é impressionante a quantidade de profissionais que se deixam influenciar por pressões e mimos.
Além do blog no R7, escrevo uma coluna quinzenal para a “Folha de S. Paulo” chamada “Fique em Casa”, com dicas de livros, filmes e discos. Por isso, costumo receber produtos de editoras, distribuidoras e gravadoras. Até aí, nada de errado: afinal, o trabalho das assessorias de imprensa é justamente informar à mídia sobre os lançamentos das empresas para as quais trabalham.
O problema é quando essa relação entre assessoria e jornalista se transforma em troca de favores.
Vejam um e-mail que recebi esses dias de uma assessora de imprensa (não vou revelar os nomes das empresas ou da assessoria, até porque a intenção não é malhar ninguém, mas simplesmente mostrar como essa prática do “toma lá, dá cá” está completamente enraizada em nossa realidade):
Olá André, tudo bem?
A EMPRESA GIGANTE DE CINEMA e a EMPRESA GIGANTE DE TECNOLOGIA aqui no Brasil gostariam de fazer uma ação especial para oferecer os 20 melhores filmes da EMPRESA GIGANTE DE CINEMA em filme Digital HD na loja da EMPRESA GIGANTE DE TECNOLOGIA.
Faz parte da negociação conseguirmos alguma matéria (...) Você acha possível? Na ‘Folha’?
Em contrapartida, a EMPRESA GIGANTE DE TECNOLOGIA gostaria de te dar um APARELHO ELETRÔNICO [valor de mercado: cerca de R$ 500], dispositivo para você assistir aos filmes digitalmente, conhece? Para os filmes da EMPRESA GIGANTE DE CINEMA, podemos lhe enviar os ‘codes’ para você assistir gratuitamente (...) O que acha da ideia? Aguardo seu retorno.
Essas coisas são tão corriqueiras que nem me espantam mais. Não acho que a assessoria de imprensa faça isso por mal. Ninguém está tentando corromper ninguém. É simplesmente a regra do jogo hoje em dia: trocar espaço jornalístico por agrados, numa estranha relação em que ninguém mais sabe onde acaba o jornalismo e onde começa a propaganda.
E vai tentar explicar para estudantes de jornalismo que um repórter não pode receber mimos de empresas ou se deixar influenciar por presentes? Eles simplesmente não entendem. Parece que você está falando etrusco ou que acabou de descer de um disco voador.
P.S.: Estou em viagem e não poderei moderar os comentários como gostaria. Caso o seu comentário demore a ser publicado ou respondido, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.
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