Há uma semana, o Netflix estreou o longa “Beasts of No Nation” numa inédita campanha de lançamento simultâneo aos cinemas nos Estados Unidos. O resultado não foi dos melhores: boicotado por grandes redes de exibidores, que consideraram a concorrência do Netflix desleal, o filme estreou em apenas 31 salas norte-americanas e fracassou na bilheteria. O público preferiu ver o filme em casa a desembolsar pelo ingresso nos cinemas.
“Beasts” foi dirigido por Cary Fukunaga, 38, um sujeito talentoso que havia feito a primeira temporada da série “True Detective”. Rodado em Gana, o filme relata a vida de Agu (Abraham Atta), um menino de um país africano não identificado que se junta a uma milícia de rebeldes depois que parte de sua família é assassinada.
O chefe da milícia é um sádico carismático chamado apenas de Commandant (Idris Elba), que treina seus comandados, inclusive meninos, a matar sem piedade e com requintes de sadismo.
Filmes sobre crianças na guerra são quase sempre comoventes, e o cinema cansou de mostrar o choque entre a pureza infantil e a realidade da violência (um de meus prediletos é o russo “Vá e Veja”, que Elen Klimov dirigiu em 1985). A transformação de crianças em assassinos é um tema recorrente do cinema.
“Beasts” é um excelente filme, mas confesso que foi difícil assisti-lo até o fim, por causa da extrema brutalidade de algumas cenas. Não sei se é a idade ou a paternidade, mas não tenho mais estômago para ver crianças sendo brutalizadas – ou brutalizando outros. Uma longa sequência envolvendo um prisioneiro de guerra e um machete quase me fez desistir do filme.
Cada vez mais, acredito que a sugestão da violência pode ser tão ou mais eficaz do que mostrá-la em closes escabrosos. Há uma cena em que um menino entra à noite no quarto do Commandant, e fica óbvio o horror que acontece ali dentro, mesmo que a cena tenha sido apenas sugerida à nossa imaginação.
Claro que é difícil relatar a realidade de guerras, com suas execuções, estupros e decapitações, sem apelar à tática do choque. A questão é como fazer isso de forma a não repelir totalmente o espectador. Achei que Fukunaga passou do ponto. E tenho curiosidade em rever “Vá e Veja” para saber se aguentaria ver o filme hoje.
De qualquer forma, “Beasts” é um filme muito acima da média, assim como Fukunaga é um cineasta que merece ser visto.
Bom fim de semana a todos.
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