Nunca achei que iria viver para ver isso: um senador ser preso no Brasil.
Mas Delcídio Amaral (PT-MS) foi em cana na manhã de quarta-feira. A acusação: tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato.
Segundo a imprensa, Delcídio teria oferecido possibilidade de fuga a Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, para que ele não assinasse um acordo de delação premiada. Delcídio teria procurado Bernardo Cerveró, filho de Nestor, e oferecido a possibilidade de fuga ao ex-diretor da estatal. O plano envolveria uma viagem de avião ao Paraguai e, de lá, exílio na Espanha, já que Cerveró tem nacionalidade espanhola.
Bernardo teria gravado toda a conversa. Segundo relatos, Delcídio citou nomes de de ministros do STF que, segundo ele, estariam dispostos a votar pela soltura dos investigados da Lava Jato que estavam presos em Curitiba.
OUÇA AQUI A ÍNTEGRA DA CONVERSA GRAVADA.
Um dos delatores da Operação Lava Jato, Fernando Baiano, disse que o senador teria recebido 1,5 milhão de dólares na operação da compra da refinaria de Pasadena.
É a primeira vez que um senador é preso no exercício do cargo no Brasil. Senadores têm foro privilegiado e, de acordo com a Constituição, só podem ser presos se cometerem delitos em flagrante. O Supremo Tribunal Federal (STF) precisou autorizar a prisão de Delcídio.
Claro que ele pode ser solto por seus pares (a Constituição diz que o Senado precisa aprovar a prisão - felizmente, em sessão com voto aberto), mas o simples fato de ter sido preso merece aplausos e comemorações. Todo apoio à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. Que Delcídio seja o primeiro de muitos.
Independentemente de partidos, é preciso mostrar que, apesar das leis ridículas que protegem políticos e os dão abrigo em “julgamentos” pré-arranjados por seus pares (a CPI do Petrolão não achou nenhum indício de irregularidades), ninguém está – ou deveria estar, ao menos - livre das consequências.
A prisão de Delcídio Amaral foi uma notícia espetacular. A última vez que chorei lendo uma notícia das páginas político-policiais foi há dez anos, quando Paulo Maluf foi em cana. Aquilo não deu em nada, e hoje Maluf está livre, leve e solto. Torço para que o mesmo não ocorra dessa vez.
Ficarei ligado no noticiário o dia todo para ver a reação de Brasília, do governo e da oposição.
P.S.: Devido à importância da notícia da prisão do senador, publiquei dois textos hoje – este e o do livro sobre Beethoven. O blog volta com um texto inédito na sexta.
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