Quem assistiu a “Capitão Philips” se impressionou com a audácia dos piratas somalis, invadindo navios gigantescos a bordo de uma lanchinha de 5 metros de comprimento e carregando metralhadoras.
Mas não é só na Somália que existem esses corsários modernos. No Brasil eles também proliferam. Faça uma busca na Internet e você encontrará notícias de ataques de piratas na Amazônia, no Nordeste e até em rios da Baixada Santista.
Dia desses, conheci um casal de holandeses na fila do supermercado. Eram jovens de vinte e poucos anos e estavam há 17 meses navegando ao redor do mundo em um veleiro antigo de quase 100 pés (cerca de 30 metros), acompanhados de mais dois tripulantes.
Semanas antes, haviam decidido parar próximo ao porto de Santos para comprar comida e conhecer a cidade. Acharam um local abrigado de ventos e correntezas e ancoraram o barco. Decidiram pernoitar ali. Um barco pesqueiro passou por eles e os alertou para o risco de assaltos. “Não acreditamos”, disse a menina. “Estávamos tão perto da cidade, como alguém poderia nos assaltar ali?” Preocupados, decidiram fazer um rodízio para vigiar o barco.
Por volta de duas da manhã, a menina, que estava de vigia, ouviu um pequeno bote se aproximando. Na escuridão, só conseguiu distinguir três ou quatro pessoas no bote, que chegava cada vez mais perto do veleiro. Experiente, ela chamou os outros tripulantes e apontou uma lanterna forte na direção da lancha. Percebeu que um dos homens tinha uma arma. A movimentação no barco assustou os piratas, que se mandaram.
Se a menina não estivesse vigiando, a tripulação possivelmente acordaria sob a mira de revólveres. Foi o que aconteceu com R., um marinheiro de Paraty que, há cerca de dois anos, tomava conta de um iate na Ilha do Cedro quando foi acordado no meio da noite com uma arma na cabeça. A gangue amarrou toda a tripulação e roubou vários aparelhos eletrônicos caros. Com certeza eram marinheiros experientes e sabiam exatamente o que deveriam levar.
Menos sorte teve uma família que estava em outra lancha. Os bandidos torturaram um membro da família com uma faca e ameaçaram todos de morte. Semanas depois, a polícia prendeu o bando. O líder era marinheiro e trabalhava há anos em barcos na região.
Mas a história mais escabrosa que já ouvi de pirataria em águas brasileiras foi contada por um casal de velejadores que há anos viaja o mundo a bordo de um veleiro de 36 pés. Numa noite, na costa do Ceará, os dois perceberam a aproximação de um barco. Acharam estranho o fato de o barco estar com as luzes desligadas. Ouviram um chamado no rádio:
- Abaixem a vela. Nós vamos invadir. E se vocês desobedecerem, vamos matar todo mundo a bordo!
O casal sabia que ali, no meio do nada, eles não poderiam parar de jeito nenhum. O homem pegou uma espingarda calibre 12, que guardava há anos para uma situação dessas – mas que nunca havia usado – e desligou todas as luzes. Experientes, mudaram de rumo, aproveitaram um vento forte e conseguiram despistar o barco. Passaram o resto da noite na popa do veleiro, procurando os piratas. “Já velejamos no mundo todo, mas nunca passamos um sufoco daqueles.”
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