A revista francesa “So Foot” publicou uma reportagem arrasadora sobre a bagunça da organização da Copa do Mundo no Brasil (leia aqui).
Faltam 94 dias para o início da competição, mas a Copa já é um fracasso. Foram completadas menos de 15% das obras de mobilidade urbana prometidas, e a discussão se estádios como os de Manaus e Cuiabá se tornariam “elefantes brancos” parece ter acabado há alguns meses, quando os times de Manaus anunciaram que não jogarão no estádio após a Copa por causa do alto custo de manutenção da estrutura.
E o Ministro do Esporte Aldo Rebelo, nosso Policarpo Quaresma de agasalho da Nike, que por um tempão defendeu que os estádios ajudariam a desenvolver o futebol naquelas regiões e até pôs em dúvida o patriotismo de quem dizia contrário, nunca mais tocou no assunto.
Aconteceu exatamente o que todos sabíamos que ia acontecer: quanto mais próximo da Copa, mais contratos são desrespeitados e prazos se mostram inexeqüíveis, forçando soluções emergenciais – sempre com dinheiro público, claro.
Nas últimas semanas, Inter, Atlético-PR e Corinthians disseram que não vão arcar com despesas de estruturas temporárias – como cabines de imprensa – em seus estádios, apesar de terem assinado contratos em que assumiam os custos. No caso do Inter, a prefeitura de Porto Alegre vai entrar com 25 milhões em verba pública para cobrir o rombo do contrato desrespeitado e montar estruturas que serão desfeitas após a Copa.
Enquanto isso, as cidades-sede continuam com problemas estruturais absurdos. No Carnaval, o terminal rodoviário Novo Rio, no Rio de Janeiro, sofreu um engarrafamento tão gigantesco que a média de atrasos em embarques foi de seis horas. O trânsito prejudicou a circulação de táxis por toda a cidade. Passageiros que chegavam ao aeroporto do Galeão esperaram mais de três horas na fila do táxi.
A prefeitura de Recife – cidade que, mesmo tendo três estádios de times de massa, achou por bem construir um quarto estádio – desobedeceu a um contrato assinado e anunciou que não porá um centavo no “Fan Fest”, a festa em que torcedores sem ingresso podem ver os jogos pelo telão. Resultado: o “Fan Fest” não deve ocorrer. “Estamos muito surpresos”, disse a Fifa.
A Fifa, aliás, parece estar na fase do “seja o que Deus quiser”. O arrogante Jerôme Valcke, que prometeu dar um “chute na bunda” do Brasil para acelerar as obras, já percebeu que é tarde demais para fazer qualquer coisa e que o melhor agora é torcer para o “jeitinho brasileiro” dar as caras.
Enquanto isso, Estocolmo anunciou que desistiu da candidatura à cidade-sede das Olimpíadas de Inverno de 2022: “Os custos seriam altos demais e não haveria uso para as instalações depois das Olimpíadas”, disse o prefeito local. As cidades de Munique (Alemanha) e St. Moritz (Suíça) já haviam desistido, citando preocupações financeiras e ambientais. Ou seja: enquanto países subdesenvolvidos como Suécia, Alemanha e Suíça acham esses megaeventos uma tremenda roubada, nós jogamos dinheiro público no ralo. Mas a gente não desiste nunca, certo?
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