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COMO FOI O LOLLAPALOOZA CHILE (PARTE 2)

Se no sábado o público do Lollapalooza foi predominantemente adolescente e feminino, no domingo, 30 de março, a idade média era maior e as camisetas de bandas indie – Pixies, Arcade Fire, Phoenix, Vampire Weekend – predominavam. O sol estava forte e a temperatura passou de 30 graus durante a tarde. Mas o Parque O’Higgins não estava tão lotado quanto no dia anterior.

GO, JOHNNY, GO!

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lollapalooza 1 COMO FOI O LOLLAPALOOZA CHILE (PARTE 2)

Chegamos por volta de 15h para o show de Johnny Marr. Antes, uma passada rápida para ver alguns minutos de Portugal. The Man (é isso mesmo, tem um ponto depois de “Portugal”, uma coisa bem modernex). Do pouco que vimos, O Homem-Portugal mostrou um folk-rock psicodélico bonitinho, mas estragou tudo com um cover bisonho de “Another Brick in the Wall”. Precisava, Portuga?

Não foi difícil chegar bem na frente do palco de Johnny Marr. Havia menos gente para ver o ex-guitarrista dos Smiths do que no show do Portugal não-sei-lá-o-quê. Johnny entrou com sua Fender Jaguar branca, saudou a plateia e começou com “The Right Thing Right”, uma das melhores canções de seu álbum solo, “The Messenger”. Mas a coisa esquentou mesmo com “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before”, o primeiro de quatro clássicos dos Smiths que ele tocaria.

Marr emendou três canções de “The Messenger”, todas bem recebidas pelo público, e deu uma sacaneada em Morrissey, dizendo “Essa vai para um velho amigo” antes de tocar o riff inesquecível de “Bigmouth Strikes Again”. Depois de um dia e meio aturando Imagine Dragons, Ellie Goulding e Capital Cities, essa canção, feita há quase 30 anos, foi suficiente para lembrar por que passamos dias inteiros ao sol esperando por um show. Foi o primeiro grande momento do Lollapalooza, pelo menos para mim.

Dali em diante, a tarde estava ganha: Johnny surpreendeu com uma versão bacana de “Getting Away With It”, do Electronic, tocou um cover de “I Fought the Law” e pôs todo mundo pra chorar com “How Soon is Now” e “There is a Light That Never Goes Out”. Foi bonito demais ouvi-lo cantar “Take me out tonight / where there’s music and there’s people / and they´re young and alive” e esquecer, pelo menos por uns instantes, do ambiente ultracorporativo e asséptico do festival. Johnny Marr destoou daquilo tudo, e foi genial.

O TRIUNFO DAS SELVAGENS

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Depois da beleza da apresentação de Johnny Marr, eu deveria ter tirado meia hora de folga antes de ver as Savages, mas a obrigação profissional falou mais alto, e rumei para o palco eletrônico, onde Perry Farrell, chefão do Lollapalooza, se apresentava com a mulher, Etty, e o DJ francês Joachim Garraud.

Cheguei ao local e vi a seguinte cena: Perry e Etty dançavam uma coreografia que lembrava o Trio Los Angeles, enquanto Garraud mandava um poperô trance de quinta categoria. Perry, microfone em punho, gritava “Santiago! Let´s go crazy!”, ou algo cafona do tipo. Quando ouvi Garraud mandando uma faixa que sampleava o riff de – juro – “Smoke on the Water”, saí correndo dali como se tivessem soltado na pista o vírus do Ebola. Na pressa, dei azar de passar na frente do palco onde se apresentava Julian Casablancas. Parecia que o Stroke estava tocando metal. Era tão ruim e tosco que nem parei. Fui direto para um bonito palco ao ar livre, onde um público minúsculo esperava pelas Savages.

Eu já tinha gostado muito do único disco da banda, “Silence Yourself”, mas, ao vivo, esse quarteto feminino de Londres é ainda melhor.

É chato falar de influências e comparar sonoridades ao descrever uma banda tão boa, mas não dá para citar as Savages sem lembrar bandas do pós-punk britãnico como Gang of Four, Wire, Fall, Siouxsie and the Banshees e os primeiros discos do The Cure.

As Savages têm uma pegada sombria e fazem um som denso e atmosférico, cheio de climas soturnos, mas com partes muito pesadas e rápidas, marcadas por uma bateria tribal que lembra o Killing Joke e linhas de baixo que são puro Peter Hook, tudo embalado em um senso estético chique e cool. Bom demais.

A cantora Jehnny Beth tem um carisma gélido e comandou o público com uma presença cênica intensa e contida. E a guitarrista Gemma Thompson é um assombro: por vezes, despeja riffs angulosos e agressivos como os de Andy Gill, do Gang of Four, ou usa efeitos e ecos para criar barulhos sombrios. Sua sonoridade lembra também a de East Bay Ray, genial guitarrista do Dead Kennedys.

Mesmo sem conhecer a banda, a plateia do Lollapalooza aplaudiu muito ao fim do show. As Savages botaram o festival inteiro no bolso. Não perca o show delas de jeito nenhum.

OS BOCEJOS DE FRANK BLACK

Depois de ver o massacre das Savages, passar em frente ao palco principal e ouvir o pop-étnico-mauricinho do Vampire Weekend foi pior que levar surra de enxada. Felizmente, durou pouco.

No outro palco grande do Lollapalooza, uma multidão aguardava pelos Pixies, uma banda extraordinária, mas que sempre fez um show chinfrim. E as apresentações ficaram ainda piores depois da recente saída da baixista Kim Deal, única integrante que parecia se divertir no palco.

Um grupo com um repertório tão bom quanto o do Pixies tinha a obrigação de fazer um show matador. Quem mais pode emendar “Bone Machine” com “Wave of Mutilation”, “Caribou” com “La La Love You”, ou ter à disposição hits do cancioneiro indie, como “Where is My Mind?”, “Debaser” e “Here Comes Your Man”?

Mas a letargia, preguiça, antipatia, desdém e ar de tédio de Frank Black, Joey Santiago e trupe puseram tudo a perder. Ninguém está pedindo para Black escalar os alto-falantes, tirar a camisa e dar um mosh na plateia com uma bandeira do Chile na cabeça, mas passar uma hora e meia bocejando, com cara de quem está louco pra sair dali, é uma maldade com todos os moleques que esperaram a vida inteira pela banda. Joey Santiago, então, parecia estar pensando em pegar os filhos na escola ou na data de vencimento do cartão de crédito.

Deu pena ver a molecada pulando e cantando, enquanto Frank Black fez mais um show no piloto automático. Depois de uns 30 minutos, até os fãs mais ardorosos do grupo perceberam a roubada, e hordas começaram a abandonar o show.

ARCADE FIRE: VIVA LAS VEGAS!

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Da última vez que vi o Arcade Fire, eles divulgavam o disco de estreia, “Funeral”, com um show despojado, em que os integrantes se revezavam em vários instrumentos e cantavam juntos. O resultado era empolgante.

De lá para cá, o AF lançou mais três discos, incluindo o maravilhoso “The Suburbs” (2010), e tornou-se um dos grupos mais populares do rock alternativo. Os shows do Lollapalooza fazem parte da turnê do CD mais recente, “Reflektor”, e surpreendem pelo gigantismo. São grandes espetáculos audiovisuais, com uma produção enorme e uma banda de apoio numerosa, incluindo dois percussionistas, dois violinistas e um naipe de metais.

É tanta gente no palco, tanta luz, tantas imagens grandiosas no telão e tanta roupa engraçadinha (o AF versão 2014 é um tanto carnavalesco, com jaquetas coloridas, saias de franjas e balagandãs), que você nem sabe direito para onde olhar. Se, antes, a banda lembrava um alegre grupo de teatro performático, hoje está mais para desfile do Dudu Bertolini.

Nada parece muito espontâneo. Win Butler e Régine Chassagne comandam o grupo com gestos teatrais e exagerados. Em determinado momento, o casal fez um dueto à distância, ele no palco e ela numa plataforma no meio do público, e o resultado foi 100% Jane & Herondy. Em outro, um dos 187 integrantes da banda correu pelo fosso no meio do povo, carregando um repinique, e ficou tão possuído pela emoção que quebrou o pobre tambor no chão (cada festival tem o instrumento quebrado que merece, não é mesmo? Se Pete Townshend arremessou sua Gibson SG no público em Woodstock e Hendrix ateou fogo à sua Stratocaster em Monterey, o Arcade Fire destruiu um repinique no Lollapalooza).

Mas o repertório do show é tão bom – “Neighborhood #3”, “Rebellion (Lies)”, “The Suburbs”, “Ready to Start”, e o bis, com “Here Comes the Night Time” e “Wake Up” - que até os exageros estilísticos são perdoados. E, só pra provar como as coisas mais simples podem ser as mais bonitas, um dos melhores momentos do show foi Win Butler, sozinho, tocando um trecho de “Wave of Mutilation”, do Pixies.

DESCULPE, SOUNDGARDEN, MAS NEW ORDER É FUNDAMENTAL

O festival chegava ao fim, e eu precisava escolher: ser esmagado por 40 mil fãs de grunge no show do Soundgarden, ou ouvir algumas das melhores músicas dos anos 80, a poucos metros do palco e sem nenhum aperto? Fui voando pro palco secundário, onde um público surpreendentemente pequeno esperava pelo New Order.

O New Order é um caso semelhante ao do Pixies: uma banda extraordinária, que faz shows ordinários. É preciso lembrar que Bernard Sumner, quando fez o Joy Division, pôs dois caras bem mais carismáticos que ele para brilhar no palco. Mas o primeiro, Ian Curtis, se matou, e o segundo, Peter Hook, foi demitido do New Order há uns dois anos. E Bernie, com sua pinta de professor, agora tem de comandar a massa, mas não leva o menor jeito. Que “frontman” do pop abriria um show dizendo “Boa noite, Santiago! Sei que não precisava dizer isso, mas nós somos o New Order, e esperamos fazer um ótimo show para vocês”?

E não que o show foi bom mesmo? Da abertura, com “Crystal”, ao bis, com a esperada “Love Will Tear Us Apart”, passando por “Ceremony”, “Bizarre Love Triangle”, “Blue Monday” e “Atmosphere”, Bernie comandou um karaokê de clássicos do Joy Division/New Order. De brinde, uma música nova, “Drop the Guitar”, que a banda tocou pela primeira vez. Veja aí, num vídeo feito por um fã, mas que vale como registro histórico. Afinal, não é todo dia que se tem a chance de ouvir uma inédita do New Order, não é mesmo?

E a cobertura do Lollapalooza aqui no blog continua amanhã e sexta, com uma lista de alguns grandes momentos que presenciei em edições anteriores do festival e um guia das melhores atrações da edição brasileira. Até lá.

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