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A MAIOR HISTÓRIA DE AMOR DO ROCK

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casal A MAIOR HISTÓRIA DE AMOR DO ROCK

Qual o casal mais cool do rock? Debbie Harry e Chris Stein, do Blondie? Ela, uma loura fatal de cinema noir e ele, um intelectual existencialista e expert em magia negra? Lux Interior e Poison Ivy, do Cramps, estetas da cultura B?

Não tão rápido. A maior história de amor do rock periga não vir de nenhum desses casais famosos e cultuados, mas de um que, há quase meio século, vive completamente à margem do “mainstream” e cuja ética de trabalho e filosofia do “faça você mesmo” é inigualado. Falo de Fred e Toody Cole, do grupo Dead Moon.

Em junho, Fred e Toody completaram 47 anos de casamento. Quando trocaram alianças, em 1967, Fred tinha 19 anos e já era músico profissional. Sua primeira banda, The Lords, gravou o compacto de estreia em 1964. Dois anos depois, Fred tocava no The Weeds, banda que entraria em uma coletânea “Nuggets”, a série de compilações de rock de garagem americano dos anos 60 criada por Lenny Kaye, pesquisador musical e guitarrista da banda de Patti Smith.

Fred e Toody tiveram três filhos. Fred continuou tocando em várias bandas – Lollipop Shoppe, Zipper, King Bee – até que, no início dos anos 80, ensinou Toody a tocar baixo e formou com ela o grupo punk The Rats. Nunca mais se separaram – em casa e no palco. Em 1987, montaram o Dead Moon, uma das melhores bandas de rock de garagem e psicodelia de todos os tempos (se não conhece, sugiro procurar a coletânea dupla “Echoes from the Past”, lançada pela Sub Pop. Vai mudar sua vida).

Fred sempre fez tudo à sua maneira. Nos anos 70, percebeu que só poderia ser realmente um artista livre se fosse dono de suas canções. Montou uma editora e começou a lançar os próprios discos.

Fez mais: construiu, sozinho, a casa da família, numa área rural no estado de Oregon. Também construiu seu estúdio, uma loja de equipamentos musicais e a sede da gravadora Tombstone, por onde lançou quase todos seus discos. Cansado de pagar caro pela masterização de seus discos, Fred comprou uma antiga máquina de acetatos dos anos 50 – a mesma onde foi cortado o acetato original do clássico “Louie Louie”, do Kingsmen – e passou a masterizar os próprios discos em casa. Também emprestava a máquina para qualquer banda que a quisesse utilizar.

O Dead Moon nunca dependeu de ninguém. Fred e Toody agendavam os próprios shows, dirigiram a van em turnês e montavam o equipamento de palco. Fred construía guitarras e baixos, que vendia a preços acessíveis na loja do casal. Depois dos shows, o casal descia do palco e vendia camisetas e pôsteres para fãs.

Não existe nada igual a um show do Dead Moon. Quando entram no palco, Fred, Toody e o baterista Andrew Loomis dão as mãos e fazem uma espécie de ritual de invocação aos deuses da música, sobre um estranho altar formado por uma velha garrafa de Jack Daniels coberto por velas. Depois, detonam um rock primal e imundo que vem de um lugar distante e sombrio. Tive a sorte de vê-los três vezes, sempre em botecos minúsculos com palcos tão baixos que você quase encostava na guitarra de Fred. Uma coisa linda.

Em 2004, saiu um documentário sobre o Dead Moon, “Unknown Passage”. Dois anos depois, Loomis saiu da banda e Fred e Toody montaram outro grupo, o Pierced Arrows. Mas a lenda do Dead Moon só cresceu: o Pearl Jam passou a tocar uma canção do grupo, “It’s Okay”; o Shellac convidou o Dead Moon para tocar no famoso festival ATP.

Há quatro meses, Fred Cole foi hospitalizado com problemas cardíacos e fez uma operação de emergência. “Sou como um carro velho”, disse. “Eles vão cortar parte do meu coração e botar novas válvulas”. A cirurgia foi um sucesso. “A barata sobreviveu!”, postou nas redes sociais um dos filhos de Fred e Toody. Dia 27 de agosto, Cole fez 66 anos de vida e posou para uma foto mostrando a cicatriz no peito e empunhando uma garrafa de Jack. Que ele tenha muitos outros aniversários, e que visite o Brasil em breve.

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A CANOA NÃO VIROU (E UM PODCAST SOBRE “PAVÕES”)

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7451627182 b89a99e3eb z A CANOA NÃO VIROU (E UM PODCAST SOBRE PAVÕES)

Há alguns meses, compramos uma canoa. Era um desses modelos chamados de “canadenses”, feito de fibra, ideal para três pessoas e passeios em águas calmas. As crianças adoravam a canoa, que, por sua cor alaranjada, haviam batizado de Caqui.

Um dia, saímos para passear de canoa. Na volta, como sempre, deixamos o barco na praia.

Na manhã seguinte, Caqui havia desaparecido. Nem sinal da canoa. Ninguém lembrava se a havíamos ancorado, mas o lugar onde ela estava era, pelo menos na teoria, alto o suficiente para que não fosse levada pela maré.

Havia duas hipóteses: ou não amarramos o barco e a maré o levara, ou alguém o havia roubado.

Passamos dois ou três dias procurando a canoa. Fomos a todas as praias e restingas da região. Nada. Um pescador disse que, na noite em que a canoa sumiu, houve uma maré altíssima e inesperada. Ele fez um cálculo rápido, de cabeça, e sugeriu o local onde deveríamos procurá-la. Era longe pacas, coisa de uma hora de barco a motor.

Depois de alguns dias de busca, sem sucesso, fizemos um boletim de ocorrência na delegacia e reportamos o sumiço à Capitania dos Portos. Dessa forma, se flagrássemos alguém com a canoa, poderíamos chamar a polícia e recuperá-la. “A essa hora, algum malandro já pintou o casco e vendeu a canoa”, disse o policial que fez o B.O.

Passaram-se mais de 40 dias. Nos primeiros, as crianças ainda perguntavam quando Caqui voltaria, e até se animavam a visitar praias e ilhas mais distantes para procurar a canoa. Com o passar do tempo, as esperanças minguaram.

Três dias atrás, a surpresa: um vizinho nos procurou e disse que haviam achado a canoa. Um pescador a encontrara. Ligamos para o sujeito, que confirmou a notícia e combinou um local para devolvê-la.

As crianças vibraram quando viram, ao longe, o barquinho do pescador rebocando o Caqui. Foi uma festa. O sujeito trabalhava também de vigia em uma marina e encontrara a canoa de madrugada, no exato local onde o pescador havia calculado. Detalhe: dez dias depois do sumiço (Isso me lembrou um texto publicado no blog de um amigo, Marco Mendonça, que estava velejando com a família do Caribe a Portugal e encontrou, no meio do Atlântico, um veleiro abandonado que valia um milhão de dólares. A história é legal demais, e você pode ler aqui.)

É incrível pensar que um barquinho de fibra, que não pesa mais de 30 quilos, ficou à deriva por dez dias e dez noites, enfrentando chuva, vento e correntezas, e não virou e não se chocou contra nenhuma pedra. Tanto que os remos continuavam dentro do barco.

O rapaz que achou a canoa disse que não é incomum encontrar embarcações à deriva, especialmente depois de tempestades, quando cabos arrebentam e barcos se soltam de docas. E contou um caso incrível de quando achou uma escuna de mais de 20 metros boiando sozinha no meio do mar. “O dono da escuna até chorou quando eu devolvi o barco. Hoje, é meu melhor amigo”. 

PODCAST DOS "PAVÕES"

Está no ar uma entrevista que dei para o ótimo podcast "O Resto é Ruído" sobre meu novo livro, "Pavões Misteriosos: 1974-1983 - A Explosão da Música Pop no Brasil". Você pode ouvir aqui. Muito obrigado ao pessoal do "ORéR".

 

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OK, “TRUE DETECTIVE”, VOCÊ VENCEU…

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true detective harrelson mcconaughey 610x348 OK, “TRUE DETECTIVE”, VOCÊ VENCEU...

Já contei várias vezes aqui no blog que não sou grande fã de séries de TV. Tenho um problema sério com qualquer coisa que me obrigue a acompanhá-la durante muito tempo. Talvez, por isso, nunca tenha me empolgado com novelas, histórias em quadrinhos, álbuns de figurinhas e “O Senhor dos Anéis”.

Nunca vi um capítulo de “Lost”, “24 Horas” e “Mad Men”. Vi quatro ou cinco episódios de “Sopranos”, mas por obrigação profissional, mesma razão pela qual assisti, recentemente, a alguns capítulos de “Breaking Bad”, “House of Cards” e “The Killing”. Sinceramente, não me empolguei com nenhuma. Mas é um problema meu, não das séries.

Perdi qualquer vontade de acompanhar “Breaking Bad” no minuto em que Bryan Cranston jogou um pacote de 40 mil dólares de metanfetamina na privada enquanto o traficante tentava impedi-lo, aos chutes, e outro bandido agonizava no porão com o pescoço preso num cadeado de bicicleta. Tudo era bobo e impossivelmente cool. Parecia um quadro dos Trapalhões dirigido pelo Tarantino. Pode funcionar num longa ou num romance de Elmore Leonard, mas numa série que se estende por anos, acho difícil.

O que mais me incomoda em séries é o fato de as narrativas, ao se adequarem a uma duração pré-definida, resultarem esquemáticas e repetitivas. Não é raro o espectador perceber o roteiro acelerando o arco narrativo para caber em um episódio. Também não consigo gostar das armadilhas de roteiro incluídas para obrigar o espectador a assistir ao capítulo seguinte, e acho inevitável que a história, em algum ponto, passe a se arrastar. Admiro demais quem escreve séries - deve ser um trabalho do cão - mas acho impossível manter o interesse nos mesmos personagens por tanto tempo.

Voltando a “True Detective”: decidi assistir depois que muitos leitores começaram a recomendar a série (obrigado a todos pela insistência!). Mas o que me convenceu mesmo foi descobrir que só tinha oito capítulos e que a segunda temporada terá novos personagens. “True Detective” é mais uma antologia de histórias policiais do que uma série que se arrasta por anos. Excelente.

Gostei muito da trama, da estética gótica e da ambientação: dois policiais, Rust Cohle (Matthew McConaughey) e Eric Hart (Woody Harrelson) investigam uma série de assassinatos em áreas rurais da Louisiana, sul dos Estados Unidos. A Louisiana é um lugar fascinante, com uma rica história de imigração africana e haitiana, uma geografia linda de pântanos, rios e florestas, e uma cultura riquíssima. É um dos berços do jazz e do blues, um lugar místico e repleto de mistérios. Vodu, Louis Armstrong, Truman Capote, William Faulkner e Dr. John, tudo misturado num pote fumegante de gumbo.

Os dois personagens principais da série são bem diferentes: Hart é um tipo mais simplório, um pai de família que não compreende muito bem as divagações filosóficas, niilistas e existenciais do parceiro, Cohle. Este, por sua vez, é um misto de Sherlock Holmes e visionário, sempre com uma visão profunda sobre qualquer acontecimento, por mais mundano que seja. Achei que o roteiro carregou um pouco na caracterização de Cohle. De tão genial e imprevisível, o personagem parece, por vezes, bom demais para ser de verdade.

Gostei de acompanhar a investigação sobre os crimes. Adoro filmes policiais investigativos – “Operação França”, “Zodíaco” – e curti mais os episódios em que Hart e Cohle entrevistam testemunhas e penetram em mundos desconhecidos para mim (sensacionais as sequências numa igreja montada numa lona de circo e numa vila de pescadores em um delta). Já os episódios “de ação”, como um em que Cohle se infiltra numa gangue de motociclistas e acaba numa guerra contra traficantes negros, pareceram forçados e incluídos só para adicionar um pouco de adrenalina à mistura.

No fim, gostei de passar oito horas em companhia de Cohle e Hart. Não me importo com filmes longos – se puderem, assistam a “Red Riding” e “Carlos”, filmes de cinco horas feitos para a TV e divididos em três episódios cada – mas gostei, especialmente, de saber que os detetives não voltarão para a segunda, terceira, quarta ou quinta temporadas.

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A AMPLA E NOSSO DIA DE “MAD MAX”

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madmax A AMPLA E NOSSO DIA DE “MAD MAX”

A ventania começou às três da manhã de segunda-feira. Parecia um furacão. O barulho das árvores era assustador. De manhã, deu para ver o estrago: troncos caídos, telhas espalhadas pelo jardim, cadeiras de praia arremessadas a 50 metros. Um vizinho, 62 anos de bairro, disse nunca ter visto nada parecido. Estávamos sem luz, telefone e Internet.

Os celulares funcionaram por algum tempo, mas só por mensagens. Às 9, uma amiga escreveu: “Li as notícias. Tudo bem com vocês?”. Notícias? Que notícias? É uma sensação estranha estar no meio de um acontecimento e não saber de nada.

Um vizinho veio da cidade e disse que o município inteiro estava sem luz. Aparentemente, uma ventania absurda havia varrido todo o litoral norte de São Paulo e sul do Rio de Janeiro. Em Santos, 12 pessoas estavam feridas.

Em casa, ninguém se machucou, mas a falta de luz acabou com nossos planos. Eu tinha um texto para entregar e tive de correr à casa de um amigo, que tinha um gerador. Na estrada, a cena era surreal: parecia que alguém tinha penteado as árvores todas para o mesmo lado. Consegui escrever metade do texto, até que o diesel acabou. Fomos a cinco postos de gasolina. Todos fechados, assim como bancos, lojas, correios e cartórios. Os únicos estabelecimentos comerciais abertos eram os que tinham geradores de emergência. Num supermercado, as filas eram imensas. Todo mundo queria abastecer.

Finalmente, achamos um posto de gasolina aberto. O sistema de cartões não funcionava. Quem só tinha cartão brigava com os atendentes. Uma família, que rumava na direção do Rio, estava há horas parada na beira da estrada, esperando a energia voltar para poder abastecer o carro. Um sujeito chegou ao posto com duas garrafas PET e quase bateu no frentista quando este avisou que só podia encher recipientes com selo do Inmetro. “O governo proibiu encher garrafa pro pessoal não fazer coquetel molotov”, foi a explicação. Me senti numa cena de “Mad Max”, onde todos brigavam por combustível.

A luz em nossa casa voltou depois de 19 horas. Demos sorte: teve gente que ficou 40 horas sem energia. A padaria onde compramos pão ficou fechada por dois dias; a peixaria perdeu quase todo o estoque. Ouvimos histórias de horror: uma mãe contou o desespero de não poder fazer inalação no filho pequeno com problemas respiratórios; um senhor, paraplégico, ficou preso em casa sem conseguir chamar ajuda pelo telefone.

A Ampla, nossa concessionária de energia, levou 19 horas para restabelecer o fornecimento em parte da região. E isso por causa de um vento forte, não de um tsunami. Dezenove horas para religar a luz é prazo de desastre natural, de hecatombe. Eu estava em Los Angeles em janeiro de 1994, quando um terremoto matou 57 pessoas e feriu 5 mil,  e não passamos mais de uma hora sem luz. Mas, aqui, a Ampla vive em permanente estado de hecatombe. É a concessionária mais vagabunda, negligente e irresponsável que eu já tive a obrigação de pagar.

O que a Ampla faz com os clientes beira o criminoso. Outro dia, fui à sede da empresa em Paraty perguntar, pela terceira vez, sobre um pedido de ressarcimento que nós e um grupo de vizinhos fizemos há meses, depois que a Ampla levou 22 horas para atender a uma solicitação de emergência (um cabo de alta tensão, todo remendado, que arrebentou e causava choques em nosso portão, até que provocou uma explosão tão forte que destruiu aparelhos elétricos num raio de 200 metros). Na fila para o atendimento, peguei o livro de reclamações da empresa e comecei a ler. Dava vontade de chorar. Um dos pedidos era mais ou menos assim:

“Moro na zona rural e minha filha é deficiente mental. Ela precisa usar um aparelho elétrico, mas estamos há três dias sem energia. Pelo amor de Deus, consertem logo isso.”

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MAIS UMA PATADA DE ABEL FERRARA

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Goste ou não dos filmes de Abel Ferrara, eles nunca são esquecíveis, como a grande maioria do que vemos hoje nos cinemas.

Existem um milhão de razões para não gostar de “Bem-Vindo a Nova York”, por exemplo. É um filme repugnante sobre um homem repulsivo; não há explicação ou desculpa para o comportamento abjeto dos personagens; nem redenção ou castigo para os delitos. Eles existem porque é da natureza de quem os comete. Ferrara parece dizer: o mundo é desse jeito. Aceite. Se não gostou, procure outro.

Em "Bem-Vindo a Nova York", o cineasta se inspirou na história do francês Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI que, em 2011, foi preso por supostamente violentar a camareira de um hotel. O sujeito é um viking de terno, pilhando e violentando tudo que passa pela frente.

Gérard Depardieu, em sua melhor atuação em muitos anos, interpreta Devereaux, inspirado em DSK. Entre reuniões com ministros e executivos, ele promove orgias, usa os serviços de prostitutas, cheira e bebe. Tudo enquanto decide os rumos da economia mundial.

Ferrara não está interessado em explorar detalhes do caso. Não importa se Devereaux é culpado ou se a camareira, como aparentemente aconteceu, mentiu em depoimento à polícia. O cineasta quer é penetrar na psique de Devereaux, um demente poderoso, que vê o mundo como um playground para suas fantasias.

Já escrevi bastante sobre Ferrara aqui no blog. Acho o sujeito um dos últimos cineastas verdadeiramente corajosos e que não tem medo de incomodar.

Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre Ferrara, descrevi uma “entrevista” que fiz com ele (leia aqui) e fiz um texto sobre seus filmes (leia aqui).

“Bem-Vindo a Nova York” não é um filme para ver num encontro romântico antes de um jantar à luz de velas. Possivelmente vai arruinar seu fim de semana. Mas é outra paulada de um artista que ainda faz filmes pessoais e que não está nem aí para o que você, eu, ou qualquer um ache deles.

Só tome cuidado para não confundir com “Tudo Acontece em Nova York”. E bom fim de semana a todos.

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O HOMEM QUE INVENTOU A “GERAÇÃO X”

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ok O HOMEM QUE INVENTOU A “GERAÇÃO X”

Em 1991, o canadense Douglas Coupland lançou o romance “Geração X – Contos Para Uma Cultura Acelerada”. O livro foi um fenômeno cultural: não só vendeu muito, como ajudou a eternizar a expressão “geração X”, a massa de jovens que chegou à idade adulta nos anos 90.

Coupland virou uma espécie de porta-voz de uma geração meio perdida em meio à globalização e a inovações tecnológicas que mudaram o mundo no fim do século 20. Pelos últimos vinte e tantos anos, escreveu outros 13 romances, todos lidando, de formas diversas, com a modernidade, a tecnologia e o consumismo.

O que muita gente não sabe é que, antes de ser escritor, Coupland era designer e artista plástico.  Sua carreira na literatura começou por acaso: um dia, mandou um cartão-postal de Tóquio, onde trabalhava como designer, para uma amiga. O marido da amiga, que era editor de uma revista, leu, gostou do estilo e convidou Coupland para escrever.

Hoje, ele divide o tempo entre livros e o trabalho para museus e escolas de arte canadenses. Em maio, estreou em Vancouver a obra “Gumhead”(“Cabeça de Chiclete”), uma escultura imensa de sua própria cabeça, que ele pede ao público que cubra de chiclete. O trabalho está em exposição no CCBB de São Paulo.

gumhead O HOMEM QUE INVENTOU A “GERAÇÃO X”

Fiz uma entrevista com Coupland para a “Folha”. Por restrição de espaço, publiquei apenas alguns trechos. Aqui vai o papo completo:

- Só vi “Gumhead” em fotografias. Qual foi a inspiração para a obra?

- Foi um projeto que fiz há seis anos, quando dei chiclete a 40 mil estudantes canadenses para que eles construíssem uma torre de chiclete. Faço muito trabalho em museus e escolas de arte e lido com a questão da descaracterização em todas as suas formas. Acho fascinante o que acontece quando o “id” é liberado em um objeto superpúblico. Recentemente, tenho feito vários trabalhos com cabeças grandes, daí decidi juntar tudo numa obra só.

- Como foi a reação do público de Vancouver à obra?

- As pessoas amaram. Há um artigo adorável sobre isso no jornal canadense “The Globe and mail” (leia aqui, em inglês).

- O resultado foi o que você esperava?

- Eu esperava que fosse interessante, mas não bonito. E ficou bonito demais.

- Nas fotos que vi, o rosto da escultura não ficou escondido pelo chiclete, como você disse que esperava...

- As pessoas não só colaram chiclete em tudo, mas modificaram as feições da escultura, colorindo os olhos e adicionando sobrancelhas. Antes de as pessoas começarem a cobrir a escultura de chiclete, ela parecia muito o Lênin!

- No Brasil, você é mais conhecido como autor do que artista plástico. Que reação espera do público brasileiro à sua obra?

- Tudo que você pode desejar com a arte é expandir a noção do espectador do que é possível.

- Vamos falar um pouco sobre seus livros: o subtítulo de seu primeiro romance é “Contos para Uma Cultura Acelerada”. O que você pode dizer sobre a velocidade de nossa cultura hoje? Faz seus personagens da Geração X parecerem tartarugas?

- É engraçado como, naquela época, precisávamos de pouco para que vida parecesse fora de controle. Basicamente, o que fazemos hoje, enquanto cultura, é sentar e absorver onda após onda de tecnologias logarítmicas, que aniquilam qualquer conceito prévio de política, religião e individualidade. A verdade é que 1991 não foi nada perto disso.

- Quando você lê seu primeiro romance, mais de duas décadas depois de tê-lo escrito, o que sente?

- As emoções estão todas ali, então não mudou. Até um livro sobre o “ultra-extremo-presente” como “Microserfs” (romance de 1995, cujos personagens trabalhavam para a Microsoft) mantém a atualidade, pelas mesmas razões. E as pessoas gostam de ler esses livros como se fossem cápsulas do tempo.

- Como você explica o impacto do livro?

- Para muitas pessoas, foi a primeira vez que viram suas vidas interiores descritas.

- Como você compara o processo criativo de escrever um livro e fazer uma obra de arte?

- Livros existem no tempo, e arte existe no espaço. Você precisa ler um livro inteiro, mas eu ‘saco’ uma pintura em três segundos. As sensações são muito diferentes. Escrever um livro me coloca num transe que dura 24 a 36 meses.

- Li em uma entrevista que você mora no meio do mato (Coupland vive com seu companheiro em uma área de florestas perto de Vancouver).

- Sim, vivo.

- Isso é meio surpreendente, já que tantos de seus livros e obras lidam com a tecnologia, o futuro, e os efeitos do consumismo...

- Foi ali que cresci, então, nesse aspecto, sou antiquado. Mas, com acesso à Internet, a natureza se torna uma realidade revisada. É ainda a natureza, ou algo completamente novo?

P.S.: Contagem regressiva: amanhã sai nos Estados Unidos "Perfidia", primeiro romance de James Ellroy em cinco anos. Já encomendei meu ebook e escreverei sobre o livro aqui em breve. Muito breve.

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MOJICA: DEPOIS DO ENFARTE, RÃ FRITA

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mo MOJICA: DEPOIS DO ENFARTE, RÃ FRITA

Depois de quase três meses internado no Incor (Instituto do Coração) em São Paulo, José Mojica Marins, o Zé do Caixão, finalmente recebeu alta. Mojica, 78, está em casa e se recupera bem.

No início de junho, ele foi internado para fazer um cateterismo, mas sofreu um enfarte pouco antes da cirurgia. Por sorte, escolheu o melhor lugar do mundo para ter o enfarte: dentro do Incor. “A equipe médica aqui é de primeira, só tem fera”, disse Mojica, que recebeu apoio comovente da família. Uma das filhas, Mariliz, conhecida por Liz Vamp, ficou o tempo todo ao lado do pai.

Visitei Mojica no hospital, na manhã de 13 de agosto. Quando cheguei, ele acompanhava a cobertura do acidente que matou Eduardo Campos. “Que horror, o avião caiu no meio de Santos”, comentou.

O quarto tinha duas camas e era compartilhado com outro paciente. Naquela manhã, o segundo leito estava desocupado. Fiquei pensando no desespero do paciente que, ao acordar depois de uma cirurgia, descobre que seu companheiro de quarto é Zé do Caixão.

- Que nada, todo mundo que ficou aqui era fã meu! – disse Mojica.

Ele estava magrinho – perdera 15 quilos – mas de bom humor. Reclamou do Corinthians (“O time só joga na defesa”) e da comida do hospital. Pela primeira vez na vida, alimentou-se regularmente de frutas e verduras, não de linguiça com Steinhager ou de sua especialidade na cozinha, o mitológico Kibe aos Quinze Queijos (não, você não leu errado, são quinze queijos mesmo!).

Sua magreza preocupava a equipe médica. Duas nutricionistas tentavam convencê-lo a comer mais, para ganhar peso.

- Seu Mojica, o senhor precisa comer melhor, pra ganhar peso e receber alta...

- Mas filha, não dá pra fazer uma comidinha mais gostosa? Eu tô louco pra comer um queijinho, um bifinho acebolado...

Uma das nutricionistas prometeu afrouxar um pouco a rigidez da dieta e pediu que ele listasse cinco coisas que gostaria de comer.

- Mas não podem ser muito pesadas, tá bom, seu Mojica?

- Tá bom, filha, deixa eu pensar... Que tal testículo de boi?

- Testículo de boi?

- É, o saco do boi!

- Eu sei o que é, seu Mojica. Mas onde vamos conseguir isso pra cozinhar pro senhor?

- Pede lá no Valadares! – respondeu Mojica, referindo-se ao famoso boteco da Lapa.

As nutricionistas o convenceram a pedir pratos mais leves e fáceis de encontrar.

- Tá bom... E rã frita? Eu adoro rã frita! Ah, já sei: língua ao molho madeira!

Finalmente, chegaram a um consenso: panquecas de carne à parmegiana. Foi o prato mais "light" da vida de Zé do Caixão.

 

R.I.P. MARCOS Z

Muito, mas muito triste com a notícia da morte de Marcos Zomignani, o popular Marcos Z. Muita gente que curte EBM e os sons mais darks da música eletrônica descobriram incontáveis músicas nas discotecagens de Marcos no Madame Satã. Fui cliente de sua ótima loja em Pinheiros, a Indie Records, e perdi a conta de quantos discaços conheci por recomendação dele. Era um empreendedor - foi dono de casa noturna, produziu shows e lançou discos - e vai fazer muita falta. Força à família e amigos.

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ALÔ, CLASSE ARTÍSTICA BRASILEIRA: APRENDA COM O TARANTINO…

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tarantino ber ALÔ, CLASSE ARTÍSTICA BRASILEIRA: APRENDA COM O TARANTINO...

Há dois meses, escrevi aqui no blog sobre o ridículo “abraço” que artistas e moradores deram no Cine Leblon, no Rio, para salvar a velha sala. Ou melhor, para fingir que a salvavam, enquanto apareciam em colunas de jornal e se gabavam da proeza em redes sociais (leia aqui).

Enquanto nossa classe artística encena essas presepadas por aqui, em outros lugares do mundo, artistas verdadeiramente preocupados com sua arte põem a mão na massa e resolvem os problemas sem ficar choramingando ou esperando o Estado nhonhô resolver a parada. É o caso de Quentin Tarantino.

Esses dias, Tarantino assumiu a função de programador do New Beverly Cinema, um cultuado cinema de Los Angeles.

Tarantino cresceu vendo sessões duplas no New Beverly, um antigo teatro de shows e vaudeville que o então proprietário, Sherman Torgan, transformou em cinema em 1978. Quando a sala de 228 lugares começou a passar por crises financeiras, nos anos 2000, devido à concorrência de TV a cabo e locadoras, Tarantino passou a colaborar com um cheque mensal de 5 mil dólares, que ajudava a equilibrar as contas.

Em 2007, Torgan morreu depois de sofrer um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta. Tarantino comprou o prédio e jurou que, enquanto tivesse condições financeiras, o cinema não fecharia. O filho de Torgan assumiu a direção da sala, e Tarantino passou a programar algumas sessões duplas e exibir filmes de sua coleção particular.

Há alguns dias, o cineasta resolveu assumir de vez o controle do cinema: bancou uma enorme renovação e virou seu principal programador. O New Beverly reabrirá em dois meses, exibindo sessões duplas de filmes antigos e novos, que não encontram espaço no circuito comercial.

Tarantino mostrará filmes e trailers de sua coleção e baniu de vez a projeção digital da sala. “Enquanto eu viver, o New Beverly só exibirá filmes em película”, disse o cineasta que, junto a nomes como Martin Scorsese e Judd Apatow, convenceu a Kodak a continuar fabricando filme para cinema. Numa entrevista ao site Deadline (leia aqui), o cineasta disse: “As pessoas não têm noção de como chegamos perto de perder filme para sempre (...) Para mim, projeção digital é como ver televisão em público, as pessoas saindo de casa para ver um DVD com um monte de estranhos. É a morte do cinema.”

Na noite de Halloween, Tarantino sonha em convidar o cineasta Eli Roth, que interpretou Bear Jew, o soldado que matava nazistas com um bastão de beisebol em “Bastardos Inglórios” e que será homenageado com uma retrospectiva de seus filmes, para encarnar de novo o personagem e destruir todo o equipamento digital da sala. Taí uma sessão que eu viajaria meio mundo para ver.

Enquanto isso, no Leblon, nossos artistas abraçam um poste e reclamam do governo. Bastardos inglórios...

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MÚSICA PARA LER

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1973banner MÚSICA PARA LER

Impressionante a quantidade de livros sobre música lançados no Brasil recentemente. De biografias do Motörhead a entrevistas com Jimmy Page, passando por livros sobre Ronnie Von e um volume de fotos da Pitty, tem para todos os gostos.

Dois dos lançamentos mais interessantes são trabalhos coletivos, compostos de ensaios sobre discos e artistas. O primeiro é “1973 – O Ano Que Reinventou a MPB” (Sonora Editora ), organizado por Célio Albuquerque, e o segundo é “Indiscotíveis” (Editora Lote 42), organizado por Itaici Brunetti.

indiscotiveis MÚSICA PARA LER

O primeiro reúne 51 ensaios sobre artistas que lançaram discos marcantes em 1973, um dos anos mais ricos de nossa música. A lista é incrível: “Secos e Molhados”, “Manera, Fru, Fru, Manera” (Fagner), “Índia” (Gal Costa), “Ou Não” (Walter Franco), “Novos Baianos F.C.” (Novos Baianos), “Pérola Negra” (Luiz Melodia) e “Krig-Ha, Bandolo!” (Raul Seixas), além de LPs importantes de Hermeto Paschoal, Clementina de Jesus, Marcos Valle, Clara Nunes, Chico Buarque, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Taiguara, Sérgio Sampaio e vários outros.

A lista de autores inclui jornalistas e pesquisadores musicais - Pedro Só, Marcelo Fróes, Silvio Essinger, Roberto Muggiati, Ayrton Mugnaini, Antônio Carlos Miguel, Ricardo Schott – e músicos como Sérgio Natureza, Tavito, Mona Gadelha, Moacyr Luz e Marcos Suzano.

Já “Indiscotíveis” é mais anárquico em sua seleção e reúne textos sobre 14 LPs de estilos e períodos diversos, mas que marcaram várias gerações de ouvintes. Assim, “Os Afro-Sambas” (1966), de Baden Powell e Vinicius de Moraes, analisado por Marcelo Costa, do site “Scream & Yell”, divide espaço com um trabalho lançado trinta anos depois, “Roots”, do Sepultura, em texto de Pablo Miyazawa, editor da “Rolling Stone”.

Há textos de Dafne Sampaio sobre o clássico dos Racionais, “Sobrevivendo no Inferno”, de Kid Vinil sobre “Krig-Ha, Bandolo” (é legal comparar esse texto com o de Sílvio Essinger sobre o mesmo disco, no livro “1973”), de meu colega do R7 Luiz Pimentel sobre “Cabeça Dinossauro” e do rapper Emicida sobre o pioneiro “O Lado B do Hip Hop”, além de ensaios sobre “Racional” (Tim Maia), “Solta o Pavão” (Jorge Ben), “Afrociberdelia” (Chico Science & Nação Zumbi), “Selvagem?” (Paralamas do Sucesso) e outros.

“Indiscotíveis “ tem um formato bacana: vem numa caixa, dividido em sete livrinhos quadrados que simulam capas de discos, cada um com dois textos e capas alternativas para os LPs, criadas por artistas e ilustradores como Luciana Martins, Gustavo Piqueira, Dalton Soares, Luciano Salles e Yara Fukimoto.

“1973” e “Indiscotíveis” são dois livros feitos com capricho e apurado senso estético, assim como os discos sobre os quais discorrem. É muito bom saber que ainda tem gente que gosta de discutir música.

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ROGER CORMAN VEM AÍ

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ate ROGER CORMAN VEM AÍ

Se você se interessa por cinema independente e de baixo orçamento, tem uma chance rara de aprender com o homem que é o Papa do assunto: o cineasta e produtor norte-americano Roger Corman.

Corman, 88, virá a Curitiba para o evento Madrugada Sangrenta (29 de outubro a 1 de novembro), onde ministrará uma “master class” sobre produção de filmes baratos. Isso é absolutamente imperdível.

A esposa de Roger, a produtora Julie Corman, que trabalha com ele há mais de quatro décadas, fará uma palestra sobre o processo de distribuição de filmes fora do “mainstream” hollywoodiano.

Além disso, o evento exibirá uma retrospectiva de filmes de Corman e terá também uma oficina de efeitos especiais ministrada pelo capixaba Rodrigo Aragão, o talentoso diretor de filmes de terror como “Mangue Negro” e “Mar Negro”.

Já escrevi bastante sobre Corman aqui no blog. Em 2012, fiz um texto (leia aqui) sobre um ótimo documentário, “O Mundo de Corman: Proezas de um Rebelde de Hollywood”, que passa de vez em quando na TV.

Roger Corman é um herói do cinema alternativo. Somando os filmes que dirigiu e produziu, passam de 300, sempre à margem dos grandes estúdios. Suas produções revelaram cineastas como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Peter Bogdanovich, Joe Dante, James Cameron, Jonathan Demme, e atores como Jack Nicholson, Bruce Dern e Robert De Niro.

 

 

Os interessados em participar da “Master Class” com Roger Corman, da palestra com Julie Corman ou da oficina de efeitos especiais com Rodrigo Aragão, podem adquirir as credenciais exclusivamente neste site.

Bom final de semana a todos.

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JÁ VIU “A CAÇADA”?

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Estava tão ocupado com meu livro que acabei deixando passar batido um dos melhores lançamentos no cinema em 2014: “A Caçada” (“The Rover”), de David Michôd.

Michôd é um australiano de 41 anos que estreou no cinema em 2010 com “Animal Kingdom” (“Reino Animal”), um dos filmes policiais mais impressionantes dos últimos tempos, em que a veterana Jackie Weaver (indicada ao Oscar pelo filme) faz a matriarca de uma família de criminosos de Melbourne. Passa sempre na TV e é imperdível.

“The Rover” é tão bom quanto. Passado num futuro próximo, “dez anos depois do colapso econômico global”, tem Guy Pearce no papel de um homem misterioso que anda de carro pelo deserto australiano (o release do filme diz que o nome do personagem é Eric, mas não lembro isso ser mencionado no filme).

O cenário é desolador: quilômetros e quilômetros de poeira, com um armazém /posto de gasolina de vez em quando, sempre protegido por um capanga armado com um rifle. Numa dessas paradas, Eric sai para tomar água e seu carro é roubado por um grupo de bandidos fugindo de um assalto.

Ele acaba encontrando Rey (Robert Pattinson, de “Crepúsculo”, que meu amigo José Mojica Marins chama de “o vampirinho emo do Crespulinho”), irmão de um dos bandidos. A gangue abandonou Rey, ferido, no local do assalto. Eric sequestra Rey e o obrigado a levá-lo até o esconderijo da gangue para recuperar seu carro.

Quando se pensa em filmes distópicos passados no deserto australiano e envolvendo carros, a primeira reação é pensar em "Mad Max”. Mas “The Rover” é diferente. Tem um ritmo lento e um minimalismo estético que o afasta da fórmula “carros explodindo e tiros a granel”.

É um filme barato. Não tem efeitos especiais, os cenários são todos naturais, e conta com uma dúzia de personagens (o elenco todo, incluindo figurantes, é de 25 pessoas). Deve ter custado menos que uma dessas comédias com o Leandro Hassum pulando numa piscina.

Alguns críticos o chamaram de “faroeste moderno”, mas não concordo. Diferentemente do que ocorre em “westerns”, a violência aqui não é estilizada e amplificada com música e efeitos, mas mostrada de maneira seca e realista. Não há duelos ao pôr do sol ou mocinhos cerrando os olhos antes de matar os bandidos. A brutalidade surge em explosões breves e chocantes. Como metáfora de nosso futuro cinza, faria uma sessão dupla sensacional com “Sob a Pele”, com Scarlett Johansson, outro filme inventivo e surpreendente.

“The Rover” abre com um close de Guy Pearce dentro do carro, imóvel, olhando para a desolação à sua volta. A cena parece levar vários minutos e, mesmo sem ação, é angustiante. Ao longo do filme, o diretor Michôd cria diversas situações em que os personagens agem de maneira estranha e inesperada. Rey, personagem de Pattinson, é indefinível: numa hora parece um limítrofe, incapaz de manter uma conversa; em outra surpreende pela visão e se torna a criatura mais sensata da história. E o Eric de Guy Pearce vai se revelando, pouco a pouco, até descobrirmos por que diabos ele se importava tanto com aquele carro.

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CSN&Y: NENHUMA BANDA SE ODIOU – E FATUROU – TANTO

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Acaba de sair “CSNY 1974”, uma caixa de três CDs e um DVD com trechos da célebre turnê de 1974 do grupo Crosby, Stills, Nash & Young. A doçura das melodias e a sonoridade zen das músicas não reflete em nada os bastidores da turnê, uma das mais conturbadas do pop, em que os músicos saíam na porrada nos bastidores, cheiravam pó como tamanduás e  se comportavam como prima donnas enquanto tocavam baladas de paz e amor para 70 mil pessoas por noite em estádios lotados de fãs que só queriam reviver o espírito libertário e otimista da era Woodstock.

O CSN&Y foi um dos primeiros – senão o primeiro – “supergrupo” do rock, formado no fim dos anos 60 por músicos que já haviam feito sucesso em outros grupos: Stephen Stills e Neil Young no Buffalo Springfield, Graham Nash no The Hollies e David Crosby no The Byrds. O projeto começou como CSN. Neil Young foi adicionado depois, por sugestão do chefe da gravadora Atlantic, Ahmet Ertegun.

Não é à toa que os dois grupos mais populares do início dos 70, o Led Zeppelin e o CSN&Y, foram, basicamente, projetos criados por gravadoras ou produtores (Jimmy Page escolheu os músicos do Zep, um a um). A música pop já havia se tornado um big business. Não havia mais espaço para o amadorismo saudável de dez anos antes, quando bandas se conheciam na escola ou na faculdade. As gravadoras sabiam o que o público queria e criaram projetos que apelavam ao gosto médio.

Não importava que os músicos se odiassem, contanto que os discos vendessem bem. O caso do CSN&Y é emblemático daquela era de ganância: os quatro não se suportavam e haviam prometido nunca mais pisar num palco juntos. Cumpriram a promessa por quatro anos, até que, em 1974, a gravadora Atlantic e o empresário Bill Graham vieram com uma proposta tão alta que eles não resistiram. Seriam 31 shows em estádios, com públicos variando de 40 mil a 90 mil pessoas. A maior turnê de rock até então.

Quando Cameron Crowe, então repórter da revista “Creem” (e depois diretor de “Quase Famosos”), perguntou a Stephen Stills por que a banda estava saindo novamente em turnê, Stills respondeu: “A primeira tour foi pela arte e música, a segunda pelas garotas. Esta é pela grana”.

E grana não faltou. A equipe tinha mais de 80 pessoas e incluía traficantes, massagistas, acupunturistas e até um sujeito que tomava conta dos tapetes persas onde os quatro sentavam durante o show (leia aqui uma hilariante matéria da “Rolling Stone” americana, com entrevistas com vários participantes da turnê).

Crosby e Nash eram mais tranquilos, mas Stills e Young, donos de gênios fortes e egos do tamanho de rinocerontes, brigavam por qualquer coisa: arranjos, ordem das músicas no setlist, e quem iria cantar o quê. Neil Young se recusava até a viajar junto com os companheiros.

Os shows foram caóticos. A música de CSN&Y era adequada a pequenos teatros, não a estádios de futebol, e o volume altíssimo das montanhas de caixas dificultava a harmonização dos quatro cantores. Naquela época, não existiam telões que transmitissem o show ao vivo, e deve ter sido uma experiência frustrante para o público. Mesmo assim, o resultado é muito bom. Ainda prefiro ouvir CSN&Y no estúdio – acho que as versões ao vivo tendem a obscurecer as sutilezas das gravações – mas é divertido ouvir “Wooden Ships” ou “Old Man” seguidos do barulho de 150 mil mãos aplaudindo.

“CSNY 1974” é o registro perfeito daquela época pós-hippie, em que os sonhos de paz, amor e liberdade tinham virado case de marketing e as gravadoras já vendiam nostalgia.

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O CACHORRO MAIS TAPADO DO MUNDO

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Animais aprendem com os erros, certo?

Digamos que você é um cão. Num final de tarde qualquer, andando pelo jardim, você dá de cara com esse indivíduo:

foto1 ouriço O CACHORRO MAIS TAPADO DO MUNDO

É um Coendou prehensilis, popularmente conhecido por ouriço-cacheiro. Mas você não sabe disso, nunca viu o tal Coendou mais magro, e reage instintivamente, como reagiria qualquer cão. Você ataca o bicho.

O que você não sabe é que o Coendou tem centenas de espinhos pontiagudos, que solta ao menor sinal de perigo. Se, de longe, a pelagem preta e amarela é bonita, de perto é assustadora: os espinhos têm ranhuras nas laterais, que dificultam sua retirada. Em questão de segundos, você está assim:

foto 2 cão1 O CACHORRO MAIS TAPADO DO MUNDO

Esta foto é de Jorge, nosso boxer. E não foi a primeira ou a segunda vez que Jorge atacou um ouriço-cacheiro, mas a terceira. Em quinze dias. E este ataque foi, de longe, o menos doloroso dos três. No primeiro, o cão ficou com o corpo inteiramente coberto de espinhos, parecia que tinha lutado MMA com o ouriço. Lembrava o Pinhead do filme “Hellraiser”. Achei uma foto de outro cachorro, que dá uma ideia do estrago:

foto3 cao O CACHORRO MAIS TAPADO DO MUNDO

O que leva um animal a cometer o mesmo erro estúpido três vezes seguidas? De acordo com este  artigo, de um site científico americano, ratos aprendem com os erros. Por que não boxers?

A imagem não dá ideia de como os espinhos penetram profundamente na pele. Para ter uma ideia, nas três vezes, nosso boxer teve de ser levado ao veterinário, onde tomou anestesia geral. Só com ele desacordado foi possível retirar, com alicate, os espinhos, alguns cravados no céu da boca. Não dá para imaginar a dor.

O veterinário disse que o ouriço, ao caminhar, provoca ondulações na pelagem, e o tom amarelado dos espinhos dá a impressão de que ele está brilhando. “Não tem cachorro que resista”.

Aparentemente, os ouriços gostam de sair mais nessa época, quando o tempo está esquentando. E com a abundância de ouriços e a teimosia dos cachorros, a única coisa a fazer é torcer para que eles não se esbarrem por aí.

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QUEM INVENTOU O ADOLESCENTE?

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Acabo de ver um dos documentários mais inventivos e surpreendentes dos últimos tempos: “Teenage”, de Matt Wolf.

Na verdade, não é um documentário comum, mas um filme-ensaio, uma alegoria lúdica sobre um assunto fascinante: a invenção do adolescente.

Baseado no livro “Teenage: The Creation of Youth Culture, 1875-1945”, de Jon Savage – o mesmo Jon Savage que escreveu “England’s Dreaming” (1991), um dos melhores livros sobre a história do punk – o filme conta como o adolescente foi uma criação americana do pós-Segunda Guerra.

Usando apenas imagens de arquivo – cada uma mais espetacular que a outra – recriações de cenas de época e uma trilha sonora atmosférica e marcante de Bradford Cox (Deerhunter), “Teenage” mostra como os jovens passaram de mão de obra barata na época da Revolução Industrial a maior legião de consumidores do planeta.

Antes da Segunda Guerra havia apenas duas distinções de idade: crianças e adultos. Os jovens ajudavam os pais em trabalhos braçais e nas fábricas. Há cenas inacreditáveis de 1904, mostrando crianças de cinco ou seis anos trabalhando em máquinas industriais. O mundo das crianças era um pesadelo dickensiano de cidades cinzas e longas horas de trabalho. No future for you.

Nas duas guerras mundiais, os jovens foram explorados, tanto na produção de armas e materiais de guerra – carros, uniformes, equipamentos – quanto nos campos de batalha. Alguns se rebelaram, e nos locais mais improváveis: há a história dos jovens alemães que cultuavam o jazz americano de Duke Ellington e Louis Armstrong e arriscaram a vida dançando sons negros na Alemanha nazista. Uma foto mostra dezenas deles, enforcados pelos próprios alemães.

Uma das sequências mais espetaculares mostra um festival de jazz ao ar livre nos Estados Unidos, nos anos 20, em que jovens brancos e negros dançavam juntos o swing. A música ajudava a integrar racialmente um país que, ainda era dividido por um racismo profundo. A expressão de alegria e felicidade na cara dos adolescentes negros e brancos é uma das imagens mais marcantes que já vi.

O filme não tem entrevistas, apenas narrações feitas por jovens de diferentes nacionalidades. Uma alemã narra as cenas da juventude de seu país às voltas com o surgimento de Hitler; uma menina inglesa conta a experiência de viver num país arrasado pela guerra; um americano narra como o fim da Segunda Guerra trouxe ao país um progresso nunca visto até então.

Foi nessa época que a indústria pop percebeu que havia uma legião de consumidores de 16 a 20 anos, velhos demais para serem considerados crianças e novos demais para a vida adulta, e que formariam a base da indústria cultural a partir dali. É quando surge Frank Sinatra, o primeiro ídolo pop em escala mundial.

Mesmo que você não fale inglês perfeitamente, dá para acompanhar o filme numa boa, com legendas em inglês. As cenas de arquivo são impressionantes e dizem mais que qualquer narração. Você pode acessar o site do filme (aqui) e vê-lo no Netflix gringo (o Netflix nacional, essa porcaria que não tem uma fração do catálogo gringo, ainda não oferece o filme).

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JANTANDO A VACA SAGRADA: FEDERICO FELLINI

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fellini and masina on the set of la strada JANTANDO A VACA SAGRADA: FEDERICO FELLINI

O canal Arte1 exibe hoje, às 21h30, “Oito e Meio”, de Federico Fellini. É um grande filme. Na minha opinião, o único grande filme da carreira do diretor e um dos poucos que revejo sem ter um ataque de diabetes.

Fellini dirigiu 20 longas, além de episódios em filmes colaborativos. Gosto de “La Dolce Vita” (1960) e das comédias que ele fez no início da carreira,“Abismo de um Sonho” (1952) e “Os Boas-Vidas” (1953), mas não compartilho do entusiasmo por alguns de seus filmes mais celebrados, como “A Estrada da Vida” (1954), “Noites de Cabíria” (1957) e “Amarcord” (1973).

Fellini adorava três coisas que eu abomino: circo, palhaços e Giulieta Masina. E em “A Estrada da Vida”, ele junta as três: Giulieta faz uma coitadinha que é obrigada a trabalhar num espetáculo circense mambembe e itinerante (a fórmula seria copiada, com resultados igualmente insuportáveis, em “Bye Bye Brasil”, de Cacá Diegues).

“Noites de Cabíria” é outro festival de pieguice, em que Giulietinha faz uma prostituta de coração de ouro que é maltratada pela vida, mas reage sempre com um sorriso e esperança no coração, snif, snif, buá, buá.

E “Amarcord”, a “delirante” homenagem de Fellini à sua infância e aos personagens excêntricos que a marcaram, é uma “Saramandaia” com grife, com direito a Dona Gorda e a sequências nauseabundas de realismo mágico. Tem quem goste.

Já eu gosto de “Oito e Meio” justamente porque não sofre do excesso de sacarina e barroco que costuma acompanhar a marca Fellini (e não vou nem começar a falar de “Julieta dos Espíritos”, “E La Nave Va” ou “Ginger e Fred”).

“Oito e Meio” traz o estilo visual típico do diretor e os mesmos personagens bizarros - palhaços, a gordinha sexy - mas os delírios não parecem colocados ali apenas como bijuteria ou decoração. Veja o trailer:

 

 

Na minha seleção italiana, Federico não fica nem no banco. O time - no 4-3-3 clássico - é Pasolini, Antonioni, Risi, Scola e Monicelli; Rosselini, De Sica e Visconti; Leone, Bertolucci e Argento. Os reservas são Petri, Bolognini, Steno, Ferreri, Zurlini e os irmãos Taviani; o técnico é Dino De Laurentiis e os auxiliares, Age & Scarpelli. Timaço.

Bom fim de semana a todos.

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FELIZ ANIVERSÁRIO, LEONARD COHEN!

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leonardcohen 1 FELIZ ANIVERSÁRIO, LEONARD COHEN!

Ontem, Leonard Cohen completou oitenta anos. E amanhã sai seu 13º álbum de estúdio, “Popular Problems”.

Como bem escreveu Alexis Petridis, do “The Guardian”, os fãs de Cohen têm muito a agradecer a Kelley Lynch, a ex-agente e secretária pessoal do cantor. Se não fosse por ela, boa parte de nós bateria as botas sem ver Leonard Cohen em cima de um palco.

Explico: Cohen nunca foi de excursionar muito, e tinha feito sua última turnê no meio da década de 90. Continuou gravando, mas seus pensamentos estavam em um monastério budista na Califórnia, onde sonhava se aposentar.

Em 2004, gravou o que seria seu último disco, “Dear Heather”, um trabalho preguiçoso e abaixo de sua capacidade. Parecia o canto do cisne. Os monges o esperavam.

Foi aí que a filha de Cohen percebeu algo estranho na conta bancária do pai: Kelley havia surrupiado todas as economias dele, algo em torno de oito milhões de dólares. Subitamente falido, Cohen só teve uma alternativa: voltar à música.

Sorte nossa. Desde então, ele lançou um antológico disco ao vivo, “Live in London”, excursionou pelo mundo três vezes, tocando para os maiores e mais entusiasmados públicos de sua carreira, e gravou dois excelentes discos de estúdio, “Old Ideas” (2012) e “Popular Problems” (você pode ouvir este aqui no site da National Public Radio, o sistema de rádios públicas dos Estados Unidos).

- Leia aqui um texto que fiz sobre um show de Cohen em Madri, em 2012.

- E aqui uma entrevista com Sylvie Simmons, autora de uma sensacional biografia do cantor.

Diferentemente de vários artistas veteranos que só lançam novos trabalhos para ter a desculpa de excursionar, Leonard Cohen ainda parece ter muito o que dizer. Seus dois últimos discos são marcados por letras irônicas e mordazes sobre a finitude e a proximidade da morte.

Ele sempre conseguiu falar de temas sombrios sem parecer lúgubre ou apelar à autocomiseração, e o novo disco não é diferente. Quem mais poderia escrever versos como “Há tortura, há morte... e também minhas críticas ruins” (“Almost Like the Blues”)? Ou de relatar uma noite de amor com uma amante bem mais nova, em que pede que ela desacelere o ritmo para que possa acompanhá-la: “Deixe-me recuperar o fôlego / Achei que tínhamos a noite toda” (“Slow”)?

Aqui vau um clipe de “Almost Got the Blues”, aparentemente feito por um fã. Tem a letra completa da canção:

[youtube Quus1kcrbPk] 

Não posso esperar pelo anúncio da próxima turnê. Sugestão? Comece a economizar agora, e não perca o velhinho em ação.

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O MAIOR CINEASTA QUE O BRASIL NÃO CONHECE

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Nos últimos 20 anos, algum documentarista fez mais filmes interessantes do que Joe Berlinger? Só consigo pensar em dois: Errol Morris e Eduardo Coutinho.

Berlinger tem 52 anos e um currículo excepcional. Estreou no cinema em 1992, em parceria com Bruce Sinofsky, com “Brother’s Keeper”, história de três irmãos miseráveis de uma área rural no estado de Nova York que são acusados de matar o quarto irmão. O filme é um drama gótico bizarro e cheio de personagens inesquecíveis. Mais estranho que ficção.

 

 

Depois, Berlinger e Sinofsky dirigiram três filmes da série “Paradise Lost”, em que acompanharam, por 15 anos, o desenrolar do famoso caso ocorrido em West Memphis, no estado de Arkansas, quando três adolescentes foram presos injustamente pelo assassinato de três crianças em um suposto ritual de magia negra.

Em 2004, a dupla de cineastas lançou “Some Kind of Monster”, documentário que acompanhava a gravação do disco “St. Anger”, do Metallica, e,  em 2009, Berlinger dirigiu “Crude”, sobre a luta de uma tribo de índios do Equador para processar a Texaco por crimes ambientais que causaram o nascimento de dezenas de crianças com defeitos de nascença e problemas mentais.

 

 

Berlinger acaba de lançar seu novo filme: “Whitey – The United States vs. James Bulger”, história do gângster James “Whitey” Bulger, um assassino sádico que reinou na região de Boston do início dos anos 1970 a 1994, quando sumiu de circulação e só foi capturado 17 anos depois. Bulger foi a inspiração para o personagem de Jack Nicholson em “Os Infiltrados”, de Martin Scorsese.

O tema central do filme é o relacionamento de Bulger com o FBI. Há fortes indícios de que o criminoso era informante do FBI e que teria ajudado a polícia local a acabar com a máfia italiana na região de Boston, em troca de imunidade.  Sua fuga, em 1994, teria sido facilitada por agentes do governo americano.

Mas o filme de Berlinger levanta outra hipótese, ainda mais estarrecedora: Bulger não era informante, mas parceiro do FBI e da polícia local em todo tipo de crime: tráfico de drogas, extorsão, exploração de prostituição e jogos ilegais. Segundo alguns dos entrevistados, foi o próprio FBI que divulgou a suspeita de que Bulger era informante. Se ficasse comprovado seu relacionamento criminoso com o FBI, as famílias das 19 pessoas que ele matou, além das dezenas de comerciantes que extorquiu, poderiam processar o governo.

“Whitey” traz entrevistas com policiais, jornalistas, parentes das vítimas e com ex-parceiros de Bulger na gangue de Winter Hill, o grupo brutal que chefiou o crime organizado em Boston. O filme tem personagens fascinantes, como Bob Fitzpatrick, o lendário agente do FBI que participou de algumas das investigações mais importantes da agência (foi Fitzpatrick que achou o rifle que matou Martin Luther King e levou à prisão de James Earl Ray, além de ter chefiado o caso dos jovens ativistas mortos, contado no filme “Mississipi em Chamas”, e o caso de espionagem “Abscam”, contado no recente “A Trapaça”).

Assim como todos os outros filmes de Berlinger, “Whitey” não deve ser lançado no Brasil. A esperança é esbarrar no filme em algum canal a cabo durante uma noite insone, daqui a uns dois ou três anos. Juro que tentei assistir de maneira “oficial”: procurei no Netflix, mas não tinha; a Amazon Prime tem, mas não oferece para nós, moradores do Bananão. A solução foi achar no Cine Torrent. De novo.

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TOP 5: PIORES REFILMAGENS DO CINEMA

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Dia 20, morreu, aos 82 anos, o cineasta holandês George Sluizer. Em 1988, Sluizer dirigiu “Spoorloos”, um “thriller” de suspense sobre um casal holandês que viaja pela França de carro e a mulher desaparece misteriosamente num posto de gasolina. Se puder, assista. É um filme estranho e aterrorizante, e fez bastante sucesso no circuito alternativo.

Cinco anos depois, Sluizer ganhou uma bolada da Fox para ir aos Estados Unidos dirigir uma refilmagem de “Spoorloos”, chamada “O Silêncio do Lago”, com Sandra Bullock e Kiefer Sutherland interpretando o casal e Jeff Bridges no papel de um homem misterioso, que poderia ser responsável pelo sumiço da moça.

Lembro que, na época, participei das entrevistas de lançamento do filme, em Los Angeles, e foi um constrangimento só. Sluizer claramente sabia que havia destruído seu próprio filme. “O Silêncio do Lago” era um abacaxi monstruoso.

 

Selecionei outros quatro casos de filmes clássicos destruídos por refilmagens pavorosas. Lembra mais algum? Mande sua lista, por favor.

 

Straw Dogs / Sob o Domínio do Medo

Se você não viu “Straw Dogs” (1971), de Sam Peckinpah, com Dustin Hoffman no papel de um pacato professor de matemática que se refugia com a esposa, uma coisa de louco chamada Susan George, numa vilinha na Cornualha (não, não é a terra dos chifrudos, mas um condado no sudoeste de uma península na Inglaterra), onde é atormentado por caipiras sádicos, assista. É um dos melhores filmes de Peckinpah. Infelizmente, nunca passa na TV, ao contrário de seu nauseabundo “remake”, dirigido em 2011 por Rod Lurie, que passa quase todo dia.

 

Bad Lieutenant / Vício Frenético

Se Nicolas Cage se preocupasse apenas em estragar os próprios filmes, a gente até aceitava. O problema é quando ele se mete a refazer filmes dos outros. O Cigano Igor de Hollywood atuou em três ou quatro dos piores “remakes” do mundo (“Cidade dos Anjos”, “O Sacrifício”), mas nenhum tão engraçado quanto “Vício Frenético”, em que pegou o personagem do policial fora de controle vivido por Harvey Keitel no original de Abel Ferrara, de 1992, e o interpretou como se fosse o Sargento Pincel depois de cheirar um quilo de metanfetamina. O pior é saber que essa tosquice foi dirigida por Werner Herzog. Ferrara resumiu bem: “Espero que todos os envolvidos com este filme queimem no inferno”.

 

Diabolique

Em 1955, o francês Henri-Georges Clouzot dirigiu “Les Diaboliques”, uma obra-prima do terror psicológico. Quarenta e um anos depois, Hollywood destruiu a bagaça com uma das refilmagens mais vagabundas de todos os tempos, estrelado por Sharon Stone (indicada, com méritos, ao Framboesa de Ouro), Isabelle Adjani e Chazz Palminteri. O final merece ser visto, de tão grotesco.

 

The Ladykillers / Matadores de Velhinha

Onde os Irmãos Coen estavam com a cabeça em 2004, quando decidiram refilmar essa comédia negra clássica de 1955, com Alec Guiness no papel do chefe de uma quadrilha de ladrões? Aliás, que diretor Alexandre MacKendrick, não? Só por este e “Sweet Smell of Success”/ “Embriaguez doSucesso” (1957), obra-prima da velhacaria jornalística com Burt Lancaster e Tony Curtis, merecia entrar no panteão. Já os Coen vão esperar mais um pouco, especialmente depois de cometer uma das comédias mais insossas dos últimos anos.

 

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LEONARD COHEN NO BRASIL: UM DELÍRIO

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leonard cohen 1 LEONARD COHEN NO BRASIL: UM DELÍRIO

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou situações reais é mera coincidência.

Depois de 80 anos, Leonard Cohen finalmente desembarca no Brasil. O cantor e compositor canadense fará dois shows em São Paulo. O primeiro será num megafestival no Autódromo de Interlagos, e o segundo, numa casa de shows que leva o nome de um cartão de crédito.

No festival, Cohen se apresentará por 45 minutos, entre Capital Inicial e Bruno Mars.

O show será interrompido algumas vezes, ora pelo próprio Cohen, assustado com a proximidade de pessoas que passam zunindo pelo palco de tirolesa gritando “Uhuuuuu!”, ora por gigantescas bolas infláveis de patrocinadores, que o público arremessará nos músicos para dirimir o tédio da apresentação.

A massa aproveitará o ritmo lento e medidativo das músicas para entreter-se cantando “Sou brasileiro, com muito orgulho...” e tirando selfies. A profusão de flashes atrapalhará Cohen, que sofrerá crises de cegueira momentânea e será levado às pressas para um neurologista.

A apresentação na casa de shows será ainda mais problemática. As primeiras oito músicas do concerto serão interrompidas pelo barulho do público, que chega atrasado às mesas da área Mega-Premium-Vip em frente ao palco. Leonard Cohen pede silêncio e um retardatário não gosta: “Não fode, coroa, paguei três paus nesse ingresso e chego na hora que quiser!”.

Logo depois, irrompe uma briga feia entre um grupo de bem-nascidos vestidos de jogadores de pólo e meia dúzia de fortões de chapéus de caubói. Um berrante de chifre de boi é lançado ao palco e atinge a cantora Sharon Robinson.

No meio de “Tower of Song”, uma equipe de TV acende uma luz fortíssima na frente do palco, que cega Cohen e toda a banda. A equipe está entrevistando a atriz-sensação da novela das duas da manhã, uma “grande fã” de Cohen e que “ama de paixão” suas músicas chiques e sofisticadas.

Vendo a celebridade ali, dando sopa, várias acompanhantes das turmas dos jogadores de pólo e caubóis aproveitam e posam para fotos com a estrela. Os fotógrafos da “Caras” se regozijam e pedem para que as meninas façam coraçõezinhos para Leonard Cohen.

No dia seguinte, o cantor embarca para a Escandinávia, onde fará 17 apresentações para 12 mil pessoas cada. No saguão do aeroporto, deixa uma última mensagem Aos fãs locais: “Daqui a 80 anos eu volto pro Brasil. Podem esperar.”

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A babá que fotografava

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vivianmaier1 A babá que fotografava

Vivian Maier morreu sozinha e miserável, em 2009, aos 83 anos. Passou os últimos anos de vida catando lixo na rua e vivendo da caridade de amigos, que pagavam seu aluguel e lhe davam dinheiro para comer. Era conhecida como uma mulher excêntrica, que vivia tirando fotos na rua.

Cinco anos depois, Vivian Maier é considerada uma das grandes fotógrafas da segunda metade do século 20 e tem sua obra comparada a pesos-pesados como Robert Frank, Diane Arbus, Helen Levitt e Weegee. Suas fotografias de pessoas comuns, quase sempre capturadas na rua, trazem uma mistura de humor negro e drama, sempre com uma pitada de grotesco. São imagens sublimes.

A história da descoberta da genialidade de Vivian Maier parece obra de ficção. Em 2007, um sujeito de 26 anos chamado John Maloof, rato de leilões de antiguidades, comprou uma caixa de negativos. Eram cerca de 30 mil fotos de Maier. Empolgado pela qualidade do material, ele fez um pequeno site sobre a fotógrafa e publicou 200 imagens na Internet. A reação foi impressionante: centenas e centenas de comentários empolgados. Muitos diziam não acreditar que um trabalho tão bom fosse tão desconhecido.

vivianmaier2 A babá que fotografava

Maloof começou a pesquisar sobre a vida de Vivian Maier e descobriu que ela ganhava a vida como babá.

Durante mais de 40 anos, Vivian Maier saiu todo dia com uma Rolleiflex para passear com as crianças de quem tomava conta. Não era incomum levar os pequenos a áreas barra pesada, só para fotografar mendigos e velhinhos. Vivian também fotografava as crianças e fazia autorretratos.

Ela fotografava todo dia, mas nunca mostrava as fotos para ninguém. O trabalho era meticulosamente guardado em caixas e lá permanecia. Vivian era obcecada por colecionar qualquer coisa – jornais, botões, moedas – e por guardar registros de tudo que acontecia em sua vida. Além de fotografar, ela fazia filmes em Super-8 e gravava fitas cassete em que falava sobre assuntos do dia.

A história da babá-fotógrafa começou a se espalhar, e logo Maloof estava viajando pelos Estados Unidos organizando exposições das fotos de Vivian Maier. Ele dirigiu, em parceria com Charlie Siskel, um bom documentário sobre a artista, “Finding Vivian Maier”, e editou alguns livros com as fotos. Um deles, "Vivian Maier: Uma Fotógrafa de Rua", acaba de sair no Brasil, pela editora Autêntica.

 

 

Vale muito a pena comprar o livro e conhecer o trabalho de Maier. No site oficial da fotógrafa (clique aqui) há uma grande galeria de suas imagens.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: O grande fotógrafo J.R. Duran, leitor do blog, mandou o link de um artigo do "The New York Times" (leia aqui) sobre recentes complicações judiciais envolvendo o espólio de Vivian Maier. Aparentemente, um parente distante de Vivian - tão distante que nem a conhecia - agora quer receber seus "direitos" pelo trabalho da artista. 

 

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