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Channel: Andre Barcinski
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Feliz aniversário, R7!

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Hoje é aniversário do R7. Parabéns a todos os colegas. Estou prestes a completar um ano de casa, e a experiência tem sido das melhores.

Quando fui convidado a vir para o R7, o portal me prometeu liberdade total. Eu poderia escrever sobre o que quisesse, da forma que quisesse. E a promessa está sendo cumprida. Nunca recebi nenhum tipo de censura ou “orientação”. Quem vive de escrever não pode pedir mais que isso.

Claro que, vez por outra, as editorias solicitam textos sobre determinados assuntos, de acordo com os acontecimentos. Morreu Garcia Márquez? Vai rolar a entrega do Oscar? Começou a Copa do Mundo? É normal que editores peçam textos que completem a cobertura do portal. Mas apenas os assuntos são sugeridos, nunca a abordagem.

Quem acompanha o blog sabe que me esforço para responder ao maior número possível de comentários dos leitores. Muitas vezes, acabo escrevendo mais nas respostas aos comentários do que no próprio texto.

Acho muito bom esse intercâmbio com o leitor. Não é exagero dizer que pelo menos metade das pautas do blog são sugeridas ou inspiradas por comentários de leitores. E cansei de descobrir filmes, discos ou livros por dicas dos leitores.

Mas nem sempre a relação com o leitor é tão amistosa. Na série que fiz sobre a Copa do Mundo, em que malhei a selecinha da CBF, a chucrice do Felipão e a pachequice que dominou o país, fui bastante xingado por leitores que não concordaram com a abordagem.

Um dos textos mais polêmicos foi este, publicado imediatamente após os gloriosos 7 a 1 da Alemanha. Foram 230 comentários, além de dezenas de outros que não foram ao ar por conter palavrões e palavras pouco elogiosas à minha progenitora. Democracia é isso aí. Como diria o saudoso Vicente Matheus, quem está na chuva é pra se queimar.

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ALTERNATIVO, PORÉM LIMPINHO…

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manson ALTERNATIVO, PORÉM LIMPINHO...

Enquanto a maioria reclama da vida, alguns poucos trabalham. Sempre foi assim. E aqui no Brasilzão, onde o sonho de boa parte da cena cultural dita “alternativa” é ser funcionário público e ganhar uma bolsa vitalícia do SESC ou de alguma estatal, a coisa é ainda pior.

Mas existem alguns que enfrentam a burocracia oficial, os impostos extorsivos e a indiferença da maioria absoluta do público, e teimam em lançar produtos culturais de qualidade. Eles sabem que apelam a um nicho de mercado e que não vão ficar ricos, mas continuam mesmo assim. Esses loucos precisam ser valorizados.

De vez em quando, tenho de me policiar para não escrever de novo sobre a mesma editora, gravadora ou selo de DVDs que citei dias antes. É o caso, por exemplo, da Ideal, uma editora de livros especializada em música e que tem lançado muita coisa boa.

Do livro novo de Fábio Massari (“Mondo Massari”) à biografia de Ian Curtis escrita por sua viúva, Deborah Curtis, passando por volumes sobre Motörhead, Pantera, Dead Kennedys, Rage Against the Machine, Pitty e Ramones, a Ideal vem montando um catálogo muito consistente.

Acabo de receber o mais recente lançamento deles, “Nós Somos a Tempestade”, de Luiz Mazetto, coletânea de entrevistas com expoentes do metal alternativo americano como Mastodon, Neurosis, Melvins, Kylesa, Corrosion of Conformity e uma penca de outros. Está na fila de leitura e será tema aqui do blog daqui a alguns dias.

Outra editora bacana é a Lote 42, que lançou o muito interessante “Indiscotíveis” (leia minha resenha aqui)além de um livro de quadrinhos de Bruno Maron, da revista “Xula”, dois volumes de tiras do personagem “O Pintinho”, de Alexandra Moraes, e uma coletânea de textos do blog “Já Matei por Menos”, de Juliana Cunha.

Para quem gosta de cinema de horror e assuntos sanguinolentos em geral, vale conferir o catálogo da Darkside Books, que lançou a sensacional biografia de Charles Manson escrita por JeffGuinn (leia aqui um texto que fiz sobre o livro), além de bios de Stephen King e Black Sabbath e livros sobre as filmagens de clássicos do Cinema Nojo como “Evil Dead”, “O Massacre da Serra Elétrica” e “A Noite dos Mortos-Vivos”.

E quem tem alegrado muito as noites aqui em casa é a Versátil, um selo de DVDs com um catálogo extraordinário. A empresa acaba de lançar dois filmaços: “Um Lance no Escuro” (“Night Moves”), policial dos anos 70 dirigido por Arthur Penn (“Bonnie e Clyde”) e estrelado por Gene Hackman, que eu não via há mais de 20 anos, e o inesquecível “A Tortura do Medo” (“Peeping Tom”, 1960), “cult” do terror psicológico, fetichista e voyeurista e que destruiu a carreira de Michael Powell (“Os Sapatinhos Vermelhos”).

 

 

Esses dias, comprei a caixa “Filme Noir”, da Versátil, com seis pérolas do cinema B dos anos 40 e 50, incluindo filmes de Joseph Losey, Jacques Tourneur, Sam Fuller, Robert Aldrich, Otto Preminger e Anthony Mann. Em breve, aqui no blog.

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25 ANOS DE ELEIÇÕES E NÃO APRENDEMOS NADA

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debate 25 ANOS DE ELEIÇÕES E NÃO APRENDEMOS NADA

Não lembro exatamente o mês, mas deve ter sido outubro ou novembro de 1989. Eu estava no Posto Seis, em Copacabana, onde fui encontrar minha avó, que batia papo com algumas amigas. O assunto, claro, era a eleição presidencial, a primeira depois do fim da ditadura, que confrontava Fernando Collor (PRN) e Lula (PT).

As senhorinhas haviam decidido, quase que por unanimidade, votar em Collor. “Eu não quero uma família de sem-terra morando na minha casa”, dizia uma. “Imagina, a gente trabalha a vida toda pra ter um lugarzinho, e agora vai ter de dividir nossa casa com uns cubanos?”, dizia outra.

Elas não estavam brincando. Havia boatos fortes de que, se Lula fosse eleito, o comunismo se instalaria imediatamente no país e todos os cidadãos seriam obrigados a compartilhar seus bens com os pobres.

Há meses, panfletos apócrifos eram distribuídos pela cidade, contando como a vitória do PT significaria o fim da propriedade privada. Lembro um que trazia um desenho mostrando uma família de classe média dormindo no chão, enquanto estranhos ocupavam suas camas.

O clima era de apreensão, especialmente entre idosos, que dependiam de suas minguadas aposentadorias e temiam ter de dividi-las com camponeses de foice na mão.

Outro boato espalhado na época pela campanha de Collor dizia que, se eleito, Lula confiscaria a poupança dos brasileiros.  Eleito presidente, Collor fez exatamente isso: sequestrou as economias de todo o país.

Teve mais: Miriam Cordeiro, uma ex-namorada de Lula, apareceu no horário eleitoral de Collor, acusando Lula de tentar forçá-la a praticar um aborto. Como ela se negara, disse Miriam, Lula teria repudiado a filha dos dois, Lurian. Foi um escândalo.

Outro escândalo foi a edição do último debate entre os dois candidatos, veiculada na TV Globo, e que claramente favoreceu a Collor.  O candidato do PRN havia se saído melhor que Lula no debate, mas a edição dos "melhores momentos" foi um acinte.

Muita coisa mudou desde aquela época. Para começar, três dos principais candidatos à Presidência, então rivais de morte e que se xingavam em debates e entrevistas, hoje são aliados: Lula, Collor e Maluf. Marina Silva era filiada ao PT e Dilma, ao PDT de Leonel Brizola. Aécio Neves era deputado federal pelo PMDB.

Naqueles tempos, havia uma distinção mais clara entre direita e esquerda, entre governo e oposição. Hoje, esses conceitos se fundiram numa massa amorfa e desbotada. Rivais históricos se juntam em alianças cuja única finalidade é se perpetuar no poder.

Mas uma coisa não mudou: a noção de que uma mentira, se repetida muitas vezes, pode virar “verdade”. E tome acusações falsas, suspeitas que viram crimes e boatos alçados à condição de fatos. Para piorar, hoje temos as redes sociais para ajudar a disseminar a desinformação.

Assisti ao debate da Record domingo à noite. Não foi muito diferente dos debates daquela eleição de 1989. Pareceu mais uma briga que uma discussão, em que os candidatos, em vez de falar de plataformas, preferiam desqualificar os rivais, apontando incongruências em suas declarações. Parecia um show de “pegadinhas”. Isso podia até fazer sentido em 1989, quando o país tinha sua primeira eleição presidencial em quase três décadas e vivia um momento político e ideológico de conflito intenso, onde alguns candidatos claramente representavam o “continuísmo” e outros, a “mudança”. Hoje, as propostas dos principais candidatos são tão parecidas, que é difícil distingui-las.

Era de se esperar que, sete eleições presidenciais depois, o país já tivesse superado essa fase e as propostas tivessem mais peso que o marketing. Mas algumas características discutíveis de nosso modelo eleitoral – voto obrigatório, diferença de tempo de TV – continuam tornando nossas eleições um parque de diversões para marqueteiros. Em 25 anos, não aprendemos nada.

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O ÚLTIMO SUSPIRO DE MILES DAVIS

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O canal BIS está apresentando, esses dias, o show “Miles Davis & Quincy Jones Live at Montreux”.

Até o mais fanático admirador de Miles vai concordar que o concerto, gravado em 8 de julho de 1991 no festival de jazz de Montreux, na Suíça, não está entre os melhores momentos do músico. Mas é um dos mais emocionantes. Foi uma das últimas apresentações de Miles, que morreria menos de três meses depois.

O concerto foi um tributo de Quincy a Miles e a Gil Evans. Quincy juntou duas orquestras – a Jazz Band de George Gruntz (1932-2013) e a orquestra de Gil Evans (1912-1988), o lendário músico e arranjador que trabalhara em discos de Miles entre 1957 e 1968, incluindo clássicos como “Miles Ahead” e “Sketches of Spain” – e recriou os arranjos de Evans para algumas das músicas mais conhecidas do repertório de Miles.

O show tem um clima de reverência, como se a plateia estivesse se despedindo de Miles. À época, ele estava doente e muito magro, e há pelo menos três anos circulavam rumores de que estivesse com Aids.

O concerto começa com uma apresentação de Claude Nobs, o criador do Festival de Jazz de Montreux e célebre por ser citado em “Smoke on the Water”, do Deep Purple (a letra fala de um incêndio ocorrido em Montreux em 1971, quando o Deep Purple gravava o álbum “Machine Head”; durante o fogo, Nobs salvou várias pessoas das chamas; ele morreu ano passado, em um acidente de esqui).

Nobs chama ao palco Quincy Jones, e Quincy apresenta Miles: “O artista mais inovador e um de meus grandes heróis musicais; um homem que vem revolucionando a música há quase meio século e com quem terei a chance de me apresentar hoje pela primeira vez.” Miles sobe ao palco, muito magro e abatido, é ovacionado pelo público e abraçado por Quincy Jones. Um momento muito bonito e emocionante.

Durante o concerto, fica clara a fragilidade física de Miles. O trompetista Wallace Roney, então com 31 anos e que há seis era aluno de Miles, ajuda o mestre, virando páginas das partituras e, em certo momento, indicando a Miles o momento de iniciar um solo. É outra imagem linda de respeito e afeto.

Em 28 de setembro de 1991, Miles Davis morreu de pneumonia, após sofrer um derrame. O LP “Miles & Quincy Live at Montreux” foi lançado dois anos depois. Mas a gravação em vídeo do concerto é muito melhor que o disco. Percebe-se, nos olhares de admiração dos músicos no palco, que eles sabiam que testemunhavam um dos últimos suspiros de Miles.

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O ÚLTIMO BAD BOY DOS GRAMADOS

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jobson carro instagran jpg 62 O ÚLTIMO BAD BOY DOS GRAMADOS

O que alguém está esperando para fazer uma biografia ou um documentário sobre Jobson?

Quem acompanha o noticiário de futebol certamente já ouviu falar dos problemas e das peripécias do atleta. Revelado pelo Brasiliense, em 2007, o atacante logo se destacou pela habilidade e velocidade, e começou a ser disputado por times grandes do Brasil.

Sete anos depois, Jobson já acumulava passagens por pelo menos dez clubes, incluindo várias pelo Botafogo, que tem sido uma mãe para ele. A cada novo time, os problemas se repetiam: quando não faltava a treinos, o jogador sumia do clube ou se metia em encrencas com meninas de vida fácil. Num dos casos mais estrambólicos, um grupo de raparigas foi à sede do Botafogo cobrar da diretoria a conta que o atleta havia pendurado.

Bem mais graves foram os casos de doping em que se meteu. Na última rodada do Brasileirão de 2009, Jobson teve uma atuação de gala na vitória do Botafogo contra o Palmeiras por 2 a 1, resultado que livrou o time carioca do rebaixamento e eliminou o Palmeiras da Taça Libertadores. Depois, descobriu-se que o atacante havia fumado crack antes do jogo. Suspenso por dois anos, perdeu um contrato com o Cruzeiro, mas viu sua pena ser reduzida para seis meses.

Seguiram-se passagens curtas e conturbadas por Atlético Mineiro, Bahia, Grêmio Barueri (de onde saiu dizendo que não aguentava jogar em “time sem torcida”), Avaí, São Caetano (quando foi preso por supostamente agredir a esposa e, posteriormente, por desacatar policiais em uma blitz de trânsito) e Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Todas essas passagens, claro, intercaladas por umas 75 voltas ao Botafogo. Numa delas, foi bem sincero: “Chega de fazer merda!”

Na Arábia Saudita, Jobson começou bem, e suas ótimas atuações lhe valeram um presentinho do time: uma reluzente Ferrari. Mas logo a situação azedou. Depois de se recusar a fazer um exame antidoping, o jogador foi suspenso por quatro anos e teve seu contrato rescindido. Seu advogado acusou o clube saudita de segurar o passaporte de Jobson e chegou a apelar ao Itamaraty para intervir no que considerava a “situação desumana” por que passava o atleta.

Há pouco mais de uma semana, Jobson, reintegrado pela milionésima vez ao elenco do Botafogo, ficaria no banco de reservas na partida contra o Goiás, pelo Brasileirão, quando um telefonema da CBF convenceu o clube carioca a retirá-lo da partida. O Al-Ittihad teria avisado a CBF sobre a suspensão do jogador da Arábia Saudita e o Botafogo, por precaução, preferiu não escalá-lo.

Ninguém acha bonita ou louvável a barafunda que virou a carreira de Jobson ou pode defender as atitudes que ele vem tomando, há anos, contra os clubes que pagam seu salário. Mas que é divertido acompanhar sua saga, isso é. Numa época em que jogadores de futebol viraram santinhos e querem ser vistos como modelos de cidadão, é até reconfortante saber que ainda existem uns bad boys por aí.

Põe o cara pra jogar, Botafogo!

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FRANKENSTEIN PARA CRIANÇAS

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O que oito décadas não fazem com um filme, não é mesmo?

Nos anos 1930, não havia nada mais aterrorizante no cinema do que Boris Karloff. “Frankenstein” (1931) e “A Múmia” (1932) causavam calafrios em plateias.  Hoje, não assustam nem criança.

Será?

Assustam sim. Pelo menos nossa filha de seis anos, que tem curtido demais esses clássicos do horror.

Quando mostramos a primeira dessas velharias – “Drácula” (1931), com Bela Lugosi – achamos que ela não gostaria. Os efeitos especiais , convenhamos, são mais toscos do que os de qualquer programa infantil da TV. Achávamos que uma criança acostumada a ver desenhos animados modernos não se impressionaria com morceguinhos pendurados por fios ou explosões de fumaça branca escondendo a transformação de Lugosi em morcego. E pior: em preto e branco.

Felizmente, nos enganamos: ela ficou fascinada pela estética dos filmes. Achou tudo lindo. Nas imagens mais impactantes – o castelo de Drácula, o laboratório do Doutor Frankenstein, as pirâmides do Egito – nem piscava.

De todos os filmes, o que menos a cativou foi “A Múmia”, certamente por não ter dublagem em português. Passei o filme todo explicando a história, que não é lá muito fácil para uma criança, já que envolve ressurreições e romances passados em diferentes séculos.

O filme preferido dela foi “Frankenstein”. Para nossa surpresa, ela não se assustou com a criatura, mas ficou com pena dela e até chorou quando o monstrão morreu queimado na torre, incendiada por uma turba de moradores do vilarejo. Ela percebeu que o morto-vivo era, na verdade, uma vítima.

Assistir a “Frankenstein” com uma criança é uma experiência sensacional. As cenas mais violentas não chocam e há sequências engraçadíssimas, como a famosa cena em que a criatura encontra uma menina na beira de um lago, ganha uma flor de presente e fica tão feliz que joga a criança na água.

Para melhorar, a dublagem é um espetáculo. Compramos a caixa “Monstros”, da Classic Line, e o Barão Frankenstein, pai do cientista, é dublado por Orlando Drummond, o “Seu Peru”, um dos maiores dubladores do Brasil, voz de Scooby-Doo, Alf, Popeye, Bionicão, Frajola e Patolino. E a tal menina arremessada na água pela criatura é dublada por uma carioca da gema: “Voxê quer ver minhax florexxx?”

Próxima atração: “O Lobisomem” (1941), com Lon Chaney Jr.

 

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DICAS PARA O BLOGUEIRO PRINCIPIANTE

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Semana passada, fiz um texto aqui no blog indicando livros e filmes lançados por editoras e selos independentes (leia aqui). Muitos leitores escreveram agradecendo as dicas. Mas nem todo mundo gostou: duas pessoas escreveram para meu e-mail pessoal insinuando que eu havia favorecido determinadas empresas. "Fazendo propaganda dos amigos?" dizia uma das mensagens.

Ontem, publiquei outro texto, falando da experiência de ter assistido ao filme "Frankenstein" com minha filha pequena (leia aqui). E vi um comentário nas redes sociais: "Olha o André Barcinski fingindo que não faz propaganda de caixa de filmes. Vou fingir que acredito tb". O autor do comentário se dizia "blogueiro". É, portanto, meu companheiro de profissão.

Antes de qualquer coisa, respostas rápidas pros dois reclamões: não conheço pessoalmente e não sou amigo de nenhum dos donos dos selos e editoras que elogiei; e não faço propaganda; paguei pela caixa de filmes com meu próprio dinheiro e ficaria feliz em mandar para o "blogueiro" uma cópia do recibo, acompanhado de uma foto de meu dedo médio em riste.

Pensando bem, toma aí um presentinho pra você:

carta1 DICAS PARA O BLOGUEIRO PRINCIPIANTE

É  frustrante ler comentários desses. Nem tanto pela cretinice e má-fé dos reclamantes, que, em vez de elogiar a iniciativa de divulgar produtos legais, preferem pôr em dúvida a idoneidade do autor, mas pela imagem que muita gente tem de jornalistas em geral.

Escrevo este blog - primeiro na "Folha", e agora no R7 - há quase cinco anos. Quem acompanha o blog sabe que indico muitos filmes, livros e discos. Se eu tiver de fazer um adendo a todos os textos, dizendo que não são propaganda, que o espaço não foi comprado e que não recebi nenhum tipo de vantagem pelas recomendações, prefiro desistir. Seria triste demais.

No meu lugar, o que faria o blogueiro que insinuou que fiz propaganda de "Frankenstein"?

Foi pensando nele - e em todas as pessoas que gostariam de ter um blog de jornalismo cultural - que decidi fazer uma listinha de dicas para blogueiros principiantes. Não é um manual, que não tenho essa pretensão. São apenas dicas, baseadas em minha experiência profissional. E quero deixar claro que não estou criticando quem age de forma diferente. Cada um sabe o que faz.

Então vamos às dicas:

1 - Não faça propaganda de nada: se o seu blog tiver muitos acessos e for bem comentado, acredite: você receberá convites para fazer comerciais. Já recebi inúmeros: de carro, banco, aparelho de som, cartão de crédito e outros. Os cachês costumam ser salivantes, mas não ceda à tentação.

2 - Não faça matéria paga.

3 - Não faça release de imprensa.

4 - Não aceite convites para participar de júris ou comissões, especialmente se o evento envolver uma empresa. Um dia, você pode ser obrigado a escrever sobre outro evento dessa mesma empresa, e há uma chance enorme de você se ver num dilema ético.

5 - Não faça promoções de livros, discos ou DVDs em seu blog. Se uma empresa quiser anunciar no blog, que procure o departamento comercial do portal. Mas não se meta nisso.

6 - E o mais importante: guarde os recibos de discos, DVDs e livros comprados. Assim, quando um mané insinuar que você está fazendo propaganda, pode esfregar o recibo nas fuças dele.

Bom fim de semana a todos.

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JOBSON: O ÚLTIMO BAD BOY DOS GRAMADOS

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jobson carro instagran jpg 621 JOBSON: O ÚLTIMO BAD BOY DOS GRAMADOS

O que alguém está esperando para fazer uma biografia ou um documentário sobre Jobson?

Quem acompanha o noticiário de futebol certamente já ouviu falar dos problemas e das peripécias do atleta. Revelado pelo Brasiliense, em 2007, o atacante logo se destacou pela habilidade e velocidade, e começou a ser disputado por times grandes do Brasil.

Sete anos depois, Jobson já acumulava passagens por pelo menos dez clubes, incluindo várias pelo Botafogo, que tem sido uma mãe para ele. A cada novo time, os problemas se repetiam: quando não faltava a treinos, o jogador sumia do clube ou se metia em encrencas com meninas de vida fácil. Num dos casos mais estrambólicos, um grupo de raparigas foi à sede do Botafogo cobrar da diretoria a conta que o atleta havia pendurado.

Bem mais graves foram os casos de doping em que se meteu. Na última rodada do Brasileirão de 2009, Jobson teve uma atuação de gala na vitória do Botafogo contra o Palmeiras por 2 a 1, resultado que livrou o time carioca do rebaixamento e eliminou o Palmeiras da Taça Libertadores. Depois, descobriu-se que o atacante havia fumado crack antes do jogo. Suspenso por dois anos, perdeu um contrato com o Cruzeiro, mas viu sua pena ser reduzida para seis meses.

Seguiram-se passagens curtas e conturbadas por Atlético Mineiro, Bahia, Grêmio Barueri (de onde saiu dizendo que não aguentava jogar em “time sem torcida”), Avaí, São Caetano (quando foi preso por supostamente agredir a esposa e, posteriormente, por desacatar policiais em uma blitz de trânsito) e Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Todas essas passagens, claro, intercaladas por umas 75 voltas ao Botafogo. Numa delas, foi bem sincero: “Chega de fazer merda!”

Na Arábia Saudita, Jobson começou bem, e suas ótimas atuações lhe valeram um presentinho do time: uma reluzente Ferrari. Mas logo a situação azedou. Depois de se recusar a fazer um exame antidoping, o jogador foi suspenso por quatro anos e teve seu contrato rescindido. Seu advogado acusou o clube saudita de segurar o passaporte de Jobson e chegou a apelar ao Itamaraty para intervir no que considerava a “situação desumana” por que passava o atleta.

Há pouco mais de uma semana, Jobson, reintegrado pela milionésima vez ao elenco do Botafogo, ficaria no banco de reservas na partida contra o Goiás, pelo Brasileirão, quando um telefonema da CBF convenceu o clube carioca a retirá-lo da partida. O Al-Ittihad teria avisado a CBF sobre a suspensão do jogador da Arábia Saudita e o Botafogo, por precaução, preferiu não escalá-lo.

Ninguém acha bonita ou louvável a barafunda que virou a carreira de Jobson ou pode defender as atitudes que ele vem tomando, há anos, contra os clubes que pagam seu salário. Mas que é divertido acompanhar sua saga, isso é. Numa época em que jogadores de futebol viraram santinhos e querem ser vistos como modelos de cidadão, é até reconfortante saber que ainda existem uns bad boys por aí.

Põe o cara pra jogar, Botafogo!

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e, portanto, impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

 

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DILMA X AÉCIO: SE ESPREMER, SAI SANGUE

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aecio x dilma tucano criticou com veemencia recessao tecnica DILMA X AÉCIO: SE ESPREMER, SAI SANGUE

Não importa se você é petista, tucano ou eleitor do Tiririca: pelas próximas três semanas, ninguém vai falar em outra coisa senão o segundo turno. A eleição se configura como uma batalha feroz, a ser decidida no photochart. Ou não? Vai saber: já aconteceram tantas reviravoltas nessa corrida, que tudo que sabemos é que não sabemos de nada.

Depois de Dilma navegar em mares tranquilos antes do acidente de Eduardo Campos, e Marina surgir como um foguete e pinta de vencedora, o momento parece ser favorável a Aécio. E digo "parece" com o maior cuidado do mundo.

De todas as estatísticas e resultados de pesquisas, a mais surpreendente foi a subida de cerca de 14 pontos de Aécio nos últimos seis dias da campanha. Este periga ser o ponto chave da eleição.

A uma semana do primeiro turno, tanto Ibope quanto Datafolha davam Dilma na frente com cerca de 40%, Marina em segundo com 25%, e Aécio em terceiro com 19% a 20%.

O resultado final foi Dilma com 41,5%, Aécio com 33,5% e Marina com 21,3%. Ou seja: Aécio cresceu 14%, mas tirou apenas 3% de Marina. De onde vieram os outros 11%?

Acho que Aécio subiu devido a dois fatores: em primeiro lugar, por seu bom desempenho nos debates, especialmente no último, da TV Globo, e em segundo, pela desinflada da candidatura de Marina, causada pelos ataques virulentos do marketing do PT e pela pavorosa atuação da candidata nos debates e na campanha.

Tenho ouvido muita gente dizer que o tempo de TV vale mais que debate. Discordo. Acho que o eleitor dá muito mais valor ao debate do que a comerciais. Não vi o último debate para governador do Rio, mas pelos menos três amigos que viram se disseram bem impressionados com o desempenho do candidato Tarcisio Motta, do PSOL. Resultado:  Motta teve mais de 700 mil votos, ou 9% do eleitorado fluminense. Na véspera da eleição, aparecia com 6% nas pesquisas.

Da mesma forma que o debate ajudou Motta, arrasou Marina. Ela foi insegura e fraca. Não se mostrou enérgica contra os ataques do PT e foi incapaz de responder a uma pergunta com objetividade, preferindo tergiversar com sua irritante retórica "paz e amor": "Vamos governar junto com a sociedade..." Não, Marina, as pessoas não querem governar, elas querem alguém que governe.

Em bom português, Marina pipocou. E parte do eleitorado anti-Dilma correu para Aécio. Mas só isso não explica a subida de 14% de Aécio na última semana. Aécio claramente conseguiu atrair um eleitor que, até então, se dizia indeciso.

O que vai acontecer agora? Será que os votos de Marina no Nordeste, onde Aécio patina, vão migrar para Dilma? E os votos de Marina em São Paulo, vão todos para Aécio? A ver.

Mesmo nesse cenário inconclusivo, algumas coisas não mudam: há uma massa - cerca de 40% dos eleitores - que vota no PT, mesmo que o dólar chegue a 15 reais, a Petrobras comece a traficar crianças escravas dentro de barris, e o partido faça alianças políticas com Saddam Hussein e o Maníaco do Parque. E há uma gigantesca fatia do eleitorado paulista - uns 60% - que vota no PSDB, mesmo que o crime aumente, bilhões sumam no escândalo do metrô, e ninguém tenha água nem pra escovar os dentes. A culpa será de São Pedro, não de Geraldo Alckmin.

As próximas três semanas serão tensas. Se o primeiro turno já foi aquela baixaria, o segundo deve ser uma carnificina. Certamente será a eleição mais apertada desde 1989, quando Collor bateu Lula por 53% a 47%., E com os dois candidatos tendo o mesmo tempo de TV, o que pode fazer a diferença, no fim, são os debates. Amanhã saem os resultados das primeiras pesquisas de segundo turno. Apertem os cintos.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o meio da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

 

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DAVID FINCHER FOI LOBOTOMIZADO – E O RESULTADO É “GAROTA EXEMPLAR”

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Garota Exemplar por danteoliveira7

Nos anos 80 e início dos 90, eu adorava matar tempo vendo filmes vagabundos no Cine Vitória, no centro do Rio. Nessas tardes desocupadas, me diverti a valer com Alexandre Frota enfrentando uma rede internacional de tráfico de pó em "A Rota do Brilho", quase caí da poltrona com Claudia Raia galopando pelada em cima de um cavalo branco em "Matou a Família e Foi ao Cinema", e passei mal de rir com Nuno Leal Maia comandando o jogo do bicho em "O Rei do Rio". Bons tempos.

Um quarto de século se foi, mas a alegria de ver um filme ruim - mas ruim mesmo - continua viva. Para tristeza de muitos, o cinema brasileiro não é mais aquele que amávamos, com dublagens atrasadas em meia hora, som que parecia gravado dentro de um bueiro, atores toscos e diálogos que não faziam o menor sentido.  Continua muito ruim e sem imaginação, mas foi tomado por publicitários e diretores de telenovela, que sabem fazer uma porcaria de qualidade técnica impecável.

Hollywood também não lança mais obras-primas do lixo como "Piranhas 2 - Assassinas Voadoras" ou "Tubarão 4", em que o bichão só faltava sair correndo atrás de Michael Caine. A computação gráfica matou a magia trash.

Por isso, fiquei tão feliz em ir ao cinema e ver um abacaxi de verdade como "Garota Exemplar", de David Fincher. Sim, é o cara que fez "Clube da Luta", "Zodíaco" e "A Rede Social". E o filme é baseado no best-seller da americana Gillian Flynn.

Não li o livro, mas dei uma busca nas críticas publicadas quando foi lançado e tive o desprazer de ler um coitado do "The New York Times" comparando Flynn a Patricia Highsmith, e uma aloprada da Salon dizendo que ela merecia o Pulitzer. Como diria o grande Silvio Brito, pare o mundo que eu quero descer.

"Garota Exemplar" é uma história de suspense sobre um casal descoladex, Nick (Ben Affleck) e Amy (Rosamund Pike), que tem a vida perfeita: são ricos, lindos, e trepam até dentro de uma livraria, lendo Jane Austen. Um belo dia, Amy desaparece. As suspeitas caem sobre Nick. Será que ele matou a loura e perfeita Amy para ficar com sua grana? Amy é um tesouro nacional: a moça inspirou os pais a escrever uma série  popular de livros infantis chamada - juro - "Amazing Amy" ("A Incrível Amy").

Não vou contar mais porque tentar fazer sentido de uma trama rocambolesca e montypythoniana como esta seria perda de tempo. Em três minutos, lembrei pelo menos uma dúzia de rombos de lógica na história. É ver para crer.

Nos papéis principais, Ben Affleck e Rosamund Pike, dois discípulos da escola de arte dramática Nicolas Cage, que expressam tristeza com olhar de bovino rumo ao abate e simulam dor, medo, angústia e desespero com a mesma expressão de crise de pedra na vesícula, disputam para ver quem consegue ser mais canastra (na entrada do cinema vi este cartaz, que deveria ter tomado como um presságio):

left behind cage poster DAVID FINCHER FOI LOBOTOMIZADO   E O RESULTADO É GAROTA EXEMPLAR

O roteiro, regurgitado pela própria Flynn, tem alguns dos piores diálogos que ouvi desde "O Guarani", de Norma Benguell, e personagens tão caricatos quanto os de "Rio Babilônia" e "Menino do Rio". Só faltou o Sergio Mallandro fazendo Ieié.

"Garota Exemplar" é uma ópera trash de primeira categoria, melhor apreciada numa sessão com os amigos, regada a cerveja e chips com salsa. Diversão garantida.

E te cuida, Nicolas Cage, que Ben Affleck periga tomar seu trono.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o início da noite e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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“GAROTA EXEMPLAR”: 15 PECADOS DE UM ROTEIRO PAVOROSO

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Gone Girl Ben Affleck Rosamund Pike Entertainment Weekly cover GAROTA EXEMPLAR: 15 PECADOS DE UM ROTEIRO PAVOROSO

O texto sobre "Garota Exemplar", de David Fincher, deu o que falar. Bastante gente escreveu elogiando o filme e questionando os "rombos de lógica" que mencionei. Decidi aprofundar o assunto e listar 15 buracos que achei no roteiro de Gillian Flynn.

E olha que não sou obcecado por razão e lógica. Gosto de filmes que não fazem tanto sentido e que deixam questões no ar. Mas licença poética é uma coisa, personagens que se comportam como jumentos é outra.

Só avisando que o texto a seguir traz vários spoilers. se você não viu o filme, assista antes de ler. Se já viu, mande a sua lista de erros e absurdos. Garanto que você lembrará de vários que não percebi.

1 - Pra começar: o roteiro brilhante de Gillian Flynn nos diz que Nick é um duro, enquanto Amy é dona de todo o dinheiro do casal, inclusive do bar gerenciado pelo marido. E mais: os dois assinaram um acordo pré-nupcial, o que não dá a Nick um centavo em caso de divórcio. Ora, se o marido não tem onde cair morto, não seria mais sensato Amy simplesmente divorciá-lo, em vez de forjar o próprio sumiço, sair de casa com alguns milhares de dólares numa pochete e viver o resto da vida escondida e com uma identidade falsa?

2 - Quando Nick chega em casa e descobre o sumiço da mulher, dá um grito: "Amyyyy!!!". O vizinho ouve tão claramente que chega a se assustar. No entanto, não ouviu a mesa de vidro da sala sendo quebrada ou a luta de Amy e seu sequestrador. Será que a polícia não achou estranho a surdez temporária do vizinho?

3 - Policiais descobrem que uma poça de sangue de Amy havia sido lavada do chão da cozinha, indicando um grande corte, possivelmente na cabeça. Mas quando ela retorna do suposto sequestro, não parece ter nenhum machucado. O que houve? O dodói sarou?

4 - Em sua fuga, a genial, maquiavélica e detalhista Amy acaba conhecendo um casal de caipiras barra pesada. Estranhamente, ela não evita os dois, o que seria esperado de alguém que está sendo procurada em todo o país e precisa manter sua identidade oculta. Pelo contrário: vai jogar minigolfe com a dupla e, pior, passa noites vendo TV com a caipira, inclusive assistindo a programas sobre seu próprio sumiço. Vade retro.

5 - Mais uma envolvendo os caipiras from hell: numa cena das mais patéticas, Amy dá um pulo de alegria quando emburaca uma bolinha no minigolfe, e deixa cair da cintura uma pochete cheia de dinheiro. Os caipiras veem. E o que faz a Einstein Amy? Se pirulita dali? Claro que não: ela fica em casa, esperando ser roubada pela dupla.

6 - Depois de ser assaltada pelos caipiras, Amy, desesperada, marca um encontro com o ex-namorado, Desi. Ela precisa ficar anônima e não pode dar pista de que está viva. Por isso, marca o encontro num lugar tranquilo, vazio e que quase não tem câmeras de segurança: um cassino.

7 - Nick e Amy moram numa cidade pequena do Missouri, onde todo mundo se conhece. Ele faz de tudo para esconder de Amy o affair que está tendo com Andie, sua aluna. Mas acha super normal agarrar a gata na porta do bar, onde poderia ser visto por qualquer um que passasse na rua (inclusive pela esposa, que o flagra, a 20 metros de distância).

8 - A policial diz a Nick que sua dívida de cartão de crédito está em mais de 117 mil dólares e pergunta onde estão todos os objetos de luxo que ele comprou - TVs de 65 polegadas, caríssimos tacos de golfe, etc. Nick diz não ter feito as tais compras. Depois, ele encontra uma pilha de objetos de luxos num pequeno depósito colado à casa de sua irmã, Margo. A policial não achou estranho alguém comprar uma TV de 65 polegadas e não usá-la? Por que Nick compraria produtos e os deixaria num depósito, sem uso? Alguma tara consumista esquisita?

9 - Ainda as "compras" de Nick: naquele bairro tranquilo e ordeiro, ninguém viu Amy entrando e saindo com caminhões de produtos e escondendo-os no pequeno depósito? E a irmã, Margo, não percebeu? Distraída a moça, não?

10 - A policial encontra, dentro de um incinerador na casa do pai de Nick, a pista mais incriminadora possível: o diário de Amy, em que ela diz temer ser morta pelo marido. O diário foi colocado no incinerador para ser destruído, mas  foi apenas parcialmente queimado e pôde ser lido de cabo a rabo pelos policiais. Agora, responda: se você matou alguém e precisa destruir a maior prova do crime, não se certificaria de que o diário estivesse em cinzas?

11 - Depois de matar Desi, o suposto maníaco que supostamente a violentou por semanas, Amy, completamente banhada  no sangue de Desi, pega o carro e dirige até sua casa, onde se joga nos braços de Nick. Segundo relatos, ela está em choque e completamente transtornada. Amy é levada ao hospital. Logo depois, ela dá um depoimento para uma dúzia de policiais, onde cai em mil contradições. Nenhum tira percebe. Detalhe: ela dá o depoimento ainda coberta com o sangue do suposto sequestrador. Mas a coisa fica pior: Amy recebe alta e sai do hospital ainda coberta de sangue e chega em casa toda vermelha. Será que ninguém no hospital lembrou de limpar a coitada? Ou foi só outro rombo de lógica de Gillian Flynn para poder escrever a cena em que ela limpa o sangue no chuveiro de casa, às vistas de Nick?

12 - Com tantas câmeras de segurança na casa de campo de Desi, nenhuma pegou ele e Amy chegando na mansão ou se tratando cordialmente? Ou será que Amy é tamanha "gênia" que conseguiu apagar TODAS as imagens que provariam que ele não a violentara? Se este foi o caso, a polícia não achou estranho o sumiço das imagens?

13 - Na cena mais sangrenta do filme, Amy, que supostamente passou semanas amarrada na cama de Desi, o degola com um estilete. Ora, se ela achou um estilete para cortar a garganta dele, por que não o usou para cortar as cordas e chamar a polícia? Ou ela achou o estilete na cama, enquanto estava sendo estuprada?

14 - A policia aceita a tese de que o ex-namorado era o sequestrador, sem checar nenhum álibi dele para o dia do sequestro. Quer dizer que Amy deu sorte de ele não ter ido ao trabalho ou conversado com ninguém naquele dia?

15 - Pra encerrar: como diabos Amy engravidou de Nick? Será que ela foi à clínica de fertilidade, pegou a amostra de sêmen dele e usou? Ninguém da clínica achou esquisito? Mas a amostra não tinha sido destruída, como o próprio Nick disse?

Como diria o grande Dalto, muito estranho...

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ENFIM, MINISTRY NO BRASIL!

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Se nada der errado nos próximos cinco meses, o grupo americano Ministry fará sua estreia em palcos brasileiros no dia 6 de março, no Audio, em São Paulo. Torço muito para que isso aconteça. Pelo menos quatro vezes nas últimas duas décadas, esse show bateu na trave por aqui. Sei porque estive envolvido em diversas negociações para trazê-los, e todas caíram por terra na última hora. Agora, parece que vai. Dedos cruzados.

Em 1992, o líder do Ministry, Al Jourgensen, deveria ter vindo ao Brasil para o lançamento de meu livro "Barulho". Passagem comprada, visto tirado, hotel reservado, e Al deu pra trás no último momento. Vieram seu parceiro na banda, Paul Barker, e Jello Biafra, ex-Dead Kennedys.

Depois disso, surgiram inúmeras propostas, reuniões, telefonemas e faxes - época pré-Internet - mas, na última hora, algo sempre acontecia: ou Al era internado em alguma clínica, ou sofrera algum acidente, ou alguém da banda morria. A turnê brasileira do Ministry parecia amaldiçoada.

Dia 6 de março estarei no Audio. Não perco isso por nada. Vi meu último show do Ministry há uns 20 anos e não conheço a nova formação, mas os cinco ou seis que assisti foram dos mais intensos e memoráveis.

Para quem não conhece, o Ministry é uma banda de som industrial-metal surgida em 1981. No início, era um grupo de synthpop dançante, na linha New Order e Depeche Mode. Mas, na segunda metade dos anos 80, Jourgensen se juntou a Paul Barker, do grupo Blackouts, e descobriu que podia misturar guitarras pesadas com batidas dançantes. O Ministry virou um Godzilla eletrônico e lançou três discos clássicos: "The Land of Rape and Honey" (1988), "The Mind is a Terrible Thing to Taste" (1989) e "Psalm 69" (1992).

Nas turnês, o palco tinha uma grade separando banda e plateia. Ninguém sabe se para proteger o grupo dos fãs, ou os fãs de Al Jourgensen.  O laserdisc "In Case You Didn't Feel Like Showing Up" é o filme-concerto que mais vi na vida. Aí vai uma palhinha:

Que Jourgensen tenha sobrevivido até 2014 é um milagre. Perto dele, Lemmy parece o apresentador do "Bem Estar". Se duvida, leia a autobiografia de Al, “Ministry: The Lost Gospels According to Al Jourgensen”, uma sucessão impressionante de histórias escabrosas.

Vários de seus companheiros de Ministry e de projetos paralelos - Lard, Revolting Cocks, 1000 Homo DJs - não tiveram a mesma sorte: Jeff Ward (Lard) e William Tucker (Ministry) cometeram suicídio; Mike Scaccia e Paul Raven, ambos do Ministry, morreram de ataques cardíacos antes de completarem 50 anos; o amigo e colaborador El Duce (Mentors) morreu atropelado por um trem enquanto fazia saudações nazistas para o condutor.

Faltam pouco menos de cinco meses para Al Jourgensen pisar no Brasil. Estamos na contagem regressiva.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Amanhã, às 11h, participo, com o crítico gastronômico Josimar Mello e o chef Marcelo Bastos, de um debate sobre comida boa e barata. O evento é gratuito e rola no teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073), e terá transmissão ao vivo pela rádio CBN em São Paulo (90,5 FM).

P.S. 2: Estarei sem acesso à Internet até o início da noite e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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OS PEQUENOS CRÍTICOS NÃO PERDOAM

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kids reading OS PEQUENOS CRÍTICOS NÃO PERDOAM

Dia desses, fui convidado a participar do júri de um concurso de resenhas de livros escritas por crianças. Os candidatos – de 6 a 12 anos - tinham de escolher um livro e escrever um texto sobre ele. Foi uma experiência sensacional ler as resenhas da molecada.

O que me impressionou, para começo de conversa, foi o alto nível dos textos. Como não se emocionar com uma resenha que começa assim: “Admito: sou uma viciada em livros. Muitas pessoas falam que quem lê são sós os nerds ou sem vida social. Um aviso: estão enganados! Muitos não sabem, mas quem lê escolheu ter várias vidas ao invés de uma”.

Várias resenhas traziam frases curiosas e surpreendentes. Uma menina descrevia um livro como “um ótimo acompanhamento para uma tarde de frio e um chocolate quente”; outra elogiava um título por não terminar com o tradicional “Felizes para sempre”: “Ele nos faz refletir sobre a questão do desconhecido (...) você se surpreenderá com a visão sobre o mundo completamente diferente”.

Alguns “críticos” se arriscavam a dar dicas aos escritores. Um menino de 10 anos deu nota 9,5 ao famoso livro “Diário de um Banana”, do americano Jeff Kinney, e terminava a resenha com uma sugestão: “O livro perde meio ponto porque só conta a vida de Greg na escola. Poderia contar da amizade dele ou algo assim. Se eu fosse Jeff Kinney, contaria como ele convivia com os amigos e não só tentando ser popular”.  Demais.

Nem todos os textos eram elogiosos. Uma menina de 12 anos, fã da série “Percy Jackson”, de Rick Riordan, malhou outro livro do autor, “A Pirâmide Vermelha”. O texto começa elogiando Riordan: “Duas coisas que aprecio muito em Rick: ele consegue encaixar a mitologia para o mundo atual e é o tipo de autor que faz você querer entrar no livro, você participa da história”. Mas, no fim, a menina chega à conclusão de que o livro é decepcionante: “Ele tem pontos negativos: são ideias que juntas não combinariam, o livro se torna cansativo e previsível (...) Tinha tudo para ser bom, um bom escritor, a ideia de mitologia e a proposta da narrativa, só não juntos. Por isso: não recomendo”.

Um dos textos mais ácidos e engraçados é o de uma garota de 11 anos, que malha sem dó o livro “Tem um Fantasma na Minha Calça”, de Jim Benton: “Só quis jogar o livro no chão e botar fogo! Calma, pessoal, foi apenas uma vontade. Nada de botar fogo no livro, hein? Mas já aviso que você poderá sentir essa vontade quando começar a ler o livro”.

Algumas coisas me chamaram a atenção nas resenhas. Em primeiro lugar, a maioria absoluta de meninas. Li cerca de 80 resenhas e 90% tinham sido mandadas por meninas. O que está rolando com os garotos? Não leem tanto? Muito videogame?

Outro fato curioso: vários textos comentam, mesmo que de passagem, como a leitura é uma opção à televisão.  Num texto sobre “O Caso do Bolinho”, de Tatiana Belinky, uma menina de 10 anos escreve: “O livro é um bom estímulo à leitura e uma sugestão para sair da frente da televisão”.  Espero, daqui a alguns anos, acompanhar essa menina escrevendo em algum jornal.

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ISSO SIM É UM “THRILLER”!

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Atenção, fãzocas de “Garota Exemplar”: se vocês quiserem ver um “thriller” realmente bem escrito, com ótimos personagens, diálogos afiados, um elenco extraordinário e uma história surpreendente, corram ao cinema e assistam a “O Homem Mais Procurado”, de Anton Corbijn. Foi o último filme da carreira de Philip Seymour Hoffman e uma despedida à altura do talento do ator.

O filme se passa em Hamburgo, na Alemanha, cidade onde os ataques de 11 de setembro foram planejados. Hoffman interpreta Günther Bachmann, chefe de uma unidade antiterrorista alemã, tão secreta que nem a polícia local sabe de sua existência.

Um dia, chega a Hamburgo um refugiado checheno, Issa Karpov (o ator russo Grigoriy Dobrygin), que vaga pela cidade procurando por um banqueiro local, Thomas Brue (o sempre ótimo Willem Dafoe). Issa é acolhido por uma família turca, que o apresenta a Annabel Richter (Rachel McAdams, uma coisinha de louco), advogada especializada em defender exilados políticos. A equipe de Günther localiza Issa e, acreditando tratar-se de um terrorista, começa a seguir seus passos.

Adaptado de um romance escrito em 2008 por John Le Carré, o filme vira um sombrio “thriller” de espionagem, envolvendo altos escalões do governo alemão, uma agente norte-americana enviada pela CIA (Robin Wright, cada vez melhor) e um milionário saudita suspeito de ligações com a Al-Qaeda. Contar mais seria maldade. Assista.

Philip Seymour Hoffman está, como sempre, extraordinário. Seu Günther Bachmann é um homem melancólico, atormentado por uma experiência traumática em Beirute, onde sua rede de espiões foi descoberta e aniquilada. Ele vê em Issa Karpov a chance de se redimir e desbaratar uma grande rede terrorista.

“O Homem Mais Procurado”, como todas as histórias de John Le Carré, é um “thriller” cerebral. Não espere grandes tiroteios à “Missão Impossível” ou Jason Bournes saltando de prédios. Isso não existe no mundo cinza e traiçoeiro do escritor britânico, onde frases matam mais que tiros e ninguém é o que parece.

E Anton Corbijn faz um trabalho sensacional com essa trama dark. Famoso por fotos e videoclipes icônicos de artistas como U2, Tom Waits, Johnny Cash, Nirvana, Depeche Mode, Joy Division e tantos outros, Corbijn vem se firmando como um cineasta talentoso desde que estreou, em 2007, com “Control”, a ótima cinebiografia de Ian Curtis, líder suicida do Joy Division, e fez também um estranho e marcante filme policial à Wim Wenders, “Um Homem Misterioso”, com George Clooney.

Esses dias, a TV a cabo tem exibido um documentário sobre o fotógrafo holandês, “Retrato de Anton Corbijn”. Se puder, assista.

 

 

Corbijn é um personagem fascinante. Sempre trabalhou com superastros pop, mas odeia o culto a celebridades, vive sozinho e parece não ter amigos. Filho de um pastor, foi uma criança solitária, e essa solidão é transmitida para o seu trabalho. Em certo ponto do filme, ele diz: “Acho que fracassei como ser humano”.

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O PULITZER NÃO É MAIS AQUELE…

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De todos os prêmios literários internacionais de ficção, o que mais me impele a comprar um livro vencedor é o Pulitzer. Dos últimos dez títulos vencedores do prêmio, li seis, incluindo o mais recente, “O Pintassilgo”, de Donna Tartt, que acaba de sair no Brasil.

pintassilgo O PULITZER NÃO É MAIS AQUELE...

Vendo a lista dos vencedores dos últimos 11 anos (não houve premiação de ficção em 2012), percebo que o único dos seis livros que realmente me marcou e que pretendo reler é “A Estrada”, de Cormac McCarthy (2007).

Dos últimos três vencedores, penei para terminar dois: “A Visita Cruel do Tempo” (2011), de Jennifer Egan, e “The Orphan Master’s Son” (2013), de Adam Johnson. Gostei de “O Pintassilgo”, apesar de achá-lo longo demais – 728 páginas - e um tanto prolixo.

A história é curiosa – muito resumidamente, um menino de 13 anos perde a mãe em um atentado terrorista em um museu em Nova York e acaba se envolvendo com uma rede internacional de falsificadores de obras de arte – mas poderia ter sido contada em metade das páginas. Estilisticamente, o romance não trouxe nada de novo ou surpreendente.

A maior parte da crítica literária elogiou o livro, mas algumas publicações importantes, como "The New Yorker" e "The Paris Review", o desancaram. James Wood, crítico da "New Yorker" (e autor de um fabuloso livro sobre teoria literária, "How Fiction Works", lançado por aqui com o título “Como Funciona a Ficção”), disse à revista "Vanity Fair": "O sucesso do livro é prova da infantilização de nossa cultura literária, um mundo em que adultos andam por aí lendo Harry Potter'”.

Será que, em alguma outra época, um crítico respeitado comparou um livro vencedor do Pulitzer a um “best seller” de livraria de aeroporto como “Harry Potter”? O que está em crise, a literatura ou o Pulitzer?

Se você pensar nos autores que já mereceram o prêmio – Hemingway, Faulkner, Edith Wharton, Pynchon, Saul Bellow, Philip Roth, Norman Mailer, John Kennedy Toole, etc., – realmente dá pena da seleção dos últimos anos.

Mas quando você lembra que, em 1975, os candidatos ao Oscar foram “Um Dia de Cão”, “Barry Lyndon”, “Um Estranho no Ninho”, “Nashville” e “Tubarão”, e os discos que concorreram ao Grammy foram gravados por Stevie Wonder, Paul McCartney, Joni Mitchell, Elton John e John Denver, percebe que não é só a literatura que já viu dias melhores.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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VOCÊ NUNCA VIU UM FILME COMO “O ATO DE MATAR”

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Essa semana, a HBO começou a exibir “O Ato de Matar” (“The Act of Killing”), de Joshua Oppenheimer (veja horários aqui). Foi o melhor filme que vi em 2013. Para dizer a verdade, não vi outro filme melhor desde então.

Uma maneira simplória de resumir “O Ato de Matar” seria dizer que é um documentário sobre os esquadrões da morte indonésios que aniquilaram cerca de um milhão de pessoas depois do golpe de Estado de 1965, que pôs na Presidência o sádico Suharto.

Mas o filme é bem mais que isso. A maneira que Oppenheimer imaginou para relatar a barbárie foi das mais inventivas: ele convenceu alguns dos membros desses esquadrões da morte a reencenar, em forma de musical, faroeste e filme de aventura, algumas das atrocidades que cometeram. Não há uma cena de arquivo ou violência real no filme; tudo é estilizado.

O resultado é um delírio tecnicolor sobre a banalidade do mal, um filme em que a ficção consegue ser mais chocante que a realidade, ao deixar os personagens mitificarem suas próprias “façanhas”.

“O Ato de Matar” acompanha dois velhinhos simpáticos, Anwar Congo e Ady Zulkadry. Eles aparecem brincando com os netos, dançando e passeando por um shopping com a família. É só quando começam a contar suas trajetórias que descobrimos que são dois assassinos em massa. Anwar diz ter matado mais de mil pessoas, a maioria por estrangulamento com uma forca de arame.

Os dois eram bandidinhos comuns e viviam de pequenos golpes, quando Suharto tomou o poder e começou a arregimentar grupos paramilitares para exterminar comunistas – na verdade, qualquer um que se opunha ao regime. Anwar e Ady viraram astros da nova máquina de matar do Estado indonésio, liderando ataques a aldeias, escolas, fazendas, universidades, enfim, a qualquer lugar sob “ameaça” comunista. Até hoje, dão autógrafos na rua e entrevistas na TV.

Oppenheimer não julga nenhum dos entrevistados, mas simplesmente mostra como “o ato de matar” tornou-se tão corriqueiro para essas pessoas. É assustador ver amigos sessentões se reunindo para jogar conversa fora, relembrar os bons tempos e reencenar estupros e chacinas.

Os “filmes” que resultam desses encontros são bizarros ao extremo: coloridíssimos, exagerados e com atuações grotescas. Parecem obra de colegiais refilmando cenas de zumbis de George Romero. As imagens são mais assustadoras que qualquer “thriller”, porque refletem a visão de monstros reais e dão forma aos delírios psicopatas de cidadãos comuns que, amparados pelo Estado, puderam liberar seus instintos selvagens. Que filme!

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O FILME QUE “PSICOSE” DESTRUIU

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Já escrevi bastante aqui no blog sobre filmes que quase acabaram com as carreiras de seus respectivos diretores, como “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia” (Sam Peckinpah), “Comboio do Medo” (William Friedkin) e “Cão Branco” (Samuel Fuller).

Foram filmes ousados demais e populares de menos, que prejudicaram as carreiras dos cineastas e dificultaram o financiamento de projetos posteriores, mas que acabaram redescobertos depois e hoje são clássicos.

Pode somar a essa lista “A Tortura do Medo” (“Peeping Tom”), de Michael Powell, que acaba de sair em DVD no Brasil.

Quando fez "A Tortura do Medo", em 1960, Michael Powell (1905-1990) era um dos diretores mais respeitados do cinema inglês, graças a sucessos como "The Life and Death of Colonel Blimp" (1943), "Os Sapatinhos Vermelhos" (1948) e "Os Contos de Hoffman" (1951), feitos em parceria com Emeric Pressburger (aliás, se você não viu “Os Sapatinhos Vermelhos”, assista de qualquer maneira, é um desses filmes inesquecíveis).

"A Tortura do Medo" conta a história de Mark Lewis (Carl Boehm), um aspirante a cineasta e membro de uma equipe de filmagem. Lewis é um sujeito tímido e calado, que vive sozinho e não tem amigos. Na verdade, é um poço de repressão sexual e neuroses, um assassino serial cuja obsessão é filmar as expressões de horror no rosto de suas vítimas.

Dizer que o filme foi mal recebido pela crítica não é justo; ele foi escorraçado. Os adjetivos eram de “nojento” pra baixo: um famoso crítico sugeriu jogar os negativos no esgoto; outro disse que era “mais nauseabundo e deprimente que colônias de leprosos no Paquistão”. Powell foi chamado de pervertido e doente. O filme saiu rapidamente de cartaz na Inglaterra e foi lançado nos Estados Unidos em pouquíssimas salas e cópias cortadas e em preto e branco.

Dois meses depois do lançamento de “A Tortura do Medo” na Inglaterra, Alfred Hitchcock lançaria outro filme sobre um assassino atormentado por neuroses de infância: “Psicose”. O sucesso deste acabou jogando ainda mais terra na cova do filme de Powell.

No início da década de 70, no entanto, uma cópia completa – e colorida - de “A Tortura do Medo” começou a circular nas escolas de cinema de Nova York. Um jovem Martin Scorsese assistiu, boquiaberto, e começou a falar sem parar sobre o filme. “Tudo que você precisa saber sobre a arte do cinema está em dois filmes: ‘Oito e Meio’, de Fellini, e ‘A Tortura do Medo’, de Michael Powell”. Anos depois, Scorsese iniciaria uma longa parceria com a editora Thelma Schoonmaker, que em 1984 casaria com Powell.

Hoje, “A Tortura do Medo” é considerado um clássico do terror psicológico. É um daqueles filmes - como “O Despertar da Besta”, de José Mojica Marins - em que você não sabe onde começa a loucura voyeur do personagem e termina a do diretor. Um pesadelo neurótico e atormentado, inundado de obsessões freudianas e tão perturbador quanto um “snuff movie” (filme de violência real), mesmo filmado em um tecnicolor saturado e artificial. De entortar a cabeça.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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DAVID BOWIE, MÚSICA A MÚSICA

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Há dois anos, implorei que alguma editora lançasse no Brasil “The Man Who Sold the World – David Bowie and the 70s”, de Peter Doggett, um estudo, música a música, de toda a obra de Bowie nos anos 70. Felizmente, a Editora Nossa Cultura ouviu o apelo e lançou a versão nacional: “O Homem Que Vendeu o Mundo”.

 

bowielivro DAVID BOWIE, MÚSICA A MÚSICA

 

O livro é inspirado em “Revolution in the Head” (1994), volume fundamental de Ian MacDonald sobre os discos dos Beatles (MacDonald, um dos grandes críticos musicais ingleses, foi convidado a escrever um livro semelhante sobre Bowie, mas cometeu suicídio em 2003). Doggett, autor do ótimo “A Batalha pela Alma dos Beatles”, assumiu o projeto e fez um livro brilhante, em que contextualiza a obra de Bowie nos anos 70 e ajuda o leitor a entender aquela época tão conturbada.

O autor chega a uma conclusão: ninguém, naquela década, foi tão ousado e genial quanto Bowie. Que outro artista pop lançou uma sucessão de obras-primas como “Space Oddity” (1969), “The Man Who Sold the World” (1970), “Hunky Dory” (1971), “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972), “Aladdin Sane” (1973), “Pin Ups” (1973), “Diamond Dogs” (1974), “Young Americans” (1975), “Station to Station” (1976), “Low” (1977), “Heroes” (1977), “Lodger” (1979) e “Scary Monsters (and Super Creeps)” (1980)?

Ninguém.

Entrevistei Peter Doggett sobre o livro. Aqui vai a integra do papo:

Bowie sempre foi visto como um artista à frente de seu tempo. Você era adolescente nos anos 70, quando ele estava lançando seus maiores discos. Naquela época, você reconheceu a importância daqueles álbuns?

Você está certo, eu era um adolescente e, por isso, não tinha muito dinheiro e não pude comprar certos álbuns quando lançados. Por isso, ouvi muito do catálogo de Bowie fora da ordem. Eu conhecia os singles, claro, mas, por exemplo, não ouvi “Hunky Dory” até depois de comprar “Young Americans”, por exemplo. O que me impressionou não foi como os discos eram importantes, mas como eram variados e diferentes. Era difícil acreditar que todos haviam sido gravados pelo mesmo sujeito. Eu já era fã de Dylan e Beatles, então estava ciente de que grandes artistas podiam criar diferentes estilos e sons em cada disco (no caso de Dylan, ele chegava a mudar de voz de disco para disco). Bowie parecia estar trabalhando na mesma tradição – e talvez ele tenha sido o último artista capaz de fazer isso. Acho que o trabalho de Bowie nos anos 70 foi tão brilhante que sua relevância cultural só foi percebida depois que a década terminou. Foi uma década confusa e cheia de grandes acontecimentos, e seus temas mais relevantes não foram percebidos facilmente na época (especialmente para um teenager!). Foi só depois que eu pude apreciar o gênio de Bowie para capturar todos os temas e obsessões da era.

 

peter Doggett entrevista DAVID BOWIE, MÚSICA A MÚSICA

 

Você acha que existe outro artista pop que tenha refletido, em seu trabalho, o caos e confusão dos anos 70 tão bem quanto Bowie? Stevie Wonder, talvez?

A comparação com Stevie Wonder é interessante, porque seu trabalho nos anos 70 foi eclético, abrangente, e um comentário sobre a sociedade e sobre ele mesmo. Mas a música de Stevie era, claramente, o trabalho de um mesmo homem. A mudança de um álbum para outro não foi tão dramática. Bowie, por sua vez, parecia mudar completamente entre discos. Ele estava desesperado para explorar tudo, descobrir tudo, experimentar tudo. Seu trabalho também era muito fragmentário, incluindo a forma como usou a técnica “corte e cole” de William Burroughs para escrever letras [Burroughs costumava recortar seus textos e rearranjá-los aleatoriamente, dando-lhes novos significados]. Quanto mais eu analisava os anos 70, mais fragmentada a época parecia. Ela não tinha o senso de progressão que você via na cultura dos anos 60. Era uma época de caos e confusão, e acho que Bowie refletiu essas qualidades melhor e com mais imaginação do que qualquer artista de qualquer meio, seja música, literatura, pintura ou filme.

Como você acha que o trabalho de Bowie nos anos 70 é visto hoje, analisado fora do contexto da época em que foi feito?

Virou um clichê dizer que Bowie, nos 70, era um “camaleão”, mudando de disfarce o tempo todo. Acho que havia muito mais do que só isso, mas esse aspecto de sua carreira tem sido uma grandes inspiração para muitos artistas que amam trabalhar na superfície, como Madonna e Lady Gaga. Em particular, Gaga parece um tributo a Bowie, embora não soe em nada como ele. O trabalho de Bowie nos 70 é tão rico e diversificado, que há algo para todo mundo se inspirar. Você pode encontrar a influência de Bowie no punk, na discoteca, no movimento New Romantic e no grunge. É quase impossível para um artista, hoje, NÃO ser influenciado por Bowie.

Eu estava revendo “Laranja Mecânica” outro dia, e mesmo sendo indubitavelmente uma obra-prima, pareceu um pouco datado, talvez por ter sido tão copiado.  Por outro lado, os discos de Bowie, lançados no mesmo período em que o filme, envelheceram muito bem e não parecem datados. Você concorda? Por que a obra de Bowie sobreviveu ao tempo?

 

É uma questão muito interessante. Talvez “Laranja Mecânica” pareça mais datado porque seu aspecto mais visionário é seu estilo visual,que é muito fácil imitar. O livro de Anthony Burgess foi provavelmente mais revolucionário no uso da linguagem do que o filme de Kubrick. Acho que o segredo da longevidade de Bowie é que ele usou a arma secreta de todo grande artista: instinto. E essa é uma qualidade perene. Ele não estava, conscientemente, tentando capturar um momento (ou uma série de momentos) na história cultural. Ele simplesmente o fez, naturalmente, instintivamente, e você ainda pode perceber esse instinto ao ouvir os discos hoje. Talvez você só possa trabalhar assim quando é jovem, empolgado e, no caso de Bowie, sob forte stress químico e psicológico. Quando se é mais velho, você sabe demais e tende a correr menos riscos.

Qual sua opinião sobre o caráter de “mimetismo” da obra de Bowie? Ele sempre “tomou emprestado” de outros artistas, não?

Você conhece a frase que diz “Todos os grandes artistas roubam”, e Bowie não é exceção. Ele foi quase um pioneiro do pós-modernismo nos anos 70, trabalhando com empréstimo de fragmentos de ideias, melodias, letras e conceitos de outros artistas em uma grande variedade de estilos e criando algo inteiramente novo com isso. Ele nunca escondeu o uso do “mimetismo”, mas foi brilhante a ponto de transformar os fragmentos de outras pessoas em algo inteiramente seu. Quando escrevi o livro, tentei fazer uma imersão em tudo que inspirava Bowie em cada fase de sua carreira. Ele sempre foi muito aberto sobre o que estava ouvindo e lendo e que filmes estava assistindo. Então fiz o mesmo e tentei me colocar na cabeça de Bowie quando ele estava criando cada projeto, para tentar entender como ele foi inspirado por Andy Warhol, ou Marc Bolan, ou pelo autor oculto Colin Wilson ou o pintor Egon Schiele.

Por que você usou, no livro, o formato “canção a canção” que Ian MacDonald utilizou em “Revolution in the Head”?

A resposta simples é que fui contratado para escrever o livro que Ian não conseguiu, devido a seus problemas mentais. Mas eu não teria seguido o formato se não achasse que ele funcionava. Como disse, acho a cultura dos anos 70 muito fragmentada, e a obra de Bowie também foi feita de fragmentos. Eu expandi um pouco o formato criado por Ian, adicionando ensaios que me permitiram mergulhar mais profundamente em temas importantes do trabalho de Bowie, do glam rock à homossexualidade.

O que você achou do mais recente álbum de Bowie, “The Next Day”? Você ficou surpreso pela reaparição de Bowie, depois de anos de sumiço e especulações sobre sua saúde?

Fiquei surpreso como qualquer um quando ouvi que ele tinha reaparecido. Um dia, liguei o rádio às seis da manhã e fiquei maravilhado ao ouvir o locutor da BBC dizer que Bowie tinha lançado um novo single. Liguei a Internet, vi o vídeo, e continuei achando que estava sonhando! Gostei muito de “The Next Day”, mas não acho que some nada à obra de Bowie. Parece uma sequência previsível de “Scary Monsters” (1980), e não me surpreenderia se tivesse sido lançado em 1981. Gosto de ouvir o disco, mas não PRECISO ouvir, como os discos dos anos 70. Acho que o mais relevante dessa volta de Bowie foi o vídeo de “Where Are They Now?”, uma comovente exploração da nostalgia e do processo de envelhecimento. Talvez ele só devesse ter lançado essa música e ficado por isso mesmo.

Você sabe se Bowie leu seu livro? Você já o entrevistou?

As respostas a essas perguntas são “Não sei” e “Não”. Ele não dá entrevistas há mais de uma década, e não tentei contatá-lo. Ele sempre deu ótimas entrevistas, mas as histórias que contava variavam muito de uma entrevista a outra, então achei que não fazia sentido perguntar a ele sobre o que tinha feito 40 anos antes. Preferi ouvir muito atentamente os discos e deixar que eles “falassem”. Não tenho a menor ideia se Bowie lê o que é escrito sobre ele, embora algumas pessoas tenham me dito que ele tem várias cópias de meu livro em seu escritório em Nova York. Se ele ler o livro, espero que aprecie o cuidado que tive em explorar o seu mundo nos anos 70 e o respeito que tenho pela música extraordinária que fez no período.

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O DISCO MAIS PESADO DO ROCK FAZ 50 ANOS

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capa O DISCO MAIS PESADO DO ROCK FAZ 50 ANOS

Em maio de 1958, os deuses do rock’n’roll sorriam para Jerry Lee Lewis: seu compacto “Breathless” escalava as paradas; “High School Confidential”, lançado poucos dias antes, tinha pinta de hit monstruoso. Seu maior rival, Elvis, estava no exército. Aos 22 anos, Jerry Lee estava prestes a embarcar na turnê mais importante de sua carreira: 30 shows em 37 dias na Inglaterra.

Mas a história foi outra. Cinco dias depois de chegar a Londres, Jerry Lee foi despachado de volta aos Estados Unidos, humilhado e sem um centavo no bolso. A turnê fora cancelada, e sua carreira começaria a despencar mais rapidamente que as “Grandes Bolas de Fogo” que ele descrevera em sua canção mais famosa.

Tudo culpa dos repórteres que insistiram em perguntar quem era aquela criança que acompanhava Jerry à Inglaterra. “É minha esposa, Myra Gale”, respondeu o “Killer”. “Quantos anos ela tem?” indagaram os jornalistas. “Quinze”, respondeu Jerry. “É meu terceiro casamento”.

Não demorou para a imprensa britânica descobrir que Myra não tinha 15, mas 13 anos. Foi um escândalo. Editoriais foram publicados pedindo a deportação do cantor. Jerry Lee foi chamado de “Rouba-Nenê” e “Ladrão de Berços”. No aeroporto, antes de embarcar de volta a Memphis, foi perguntado se a polêmica poderia prejudicar sua carreira. Em seu típico estilo blasé, Jerry Lee ajeitou o cabelo, olhou nos olhos do repórter e disse: “Nos Estados Unidos, eu tenho duas casas, três Cadillacs e uma fazenda. Você acha que estou preocupado?”

Corta. Seis anos depois. 1964. A carreira de Jerry Lee Lewis, o performer mais incendiário do rock, está acabada. Seus discos não vendem. Seu cachê caiu de 10 mil para 250 dólares por show. Ele aceita qualquer gig: em puteiros, espeluncas, cassinos de quinta categoria. E pior: viu novatos como Beatles e Stones dominarem o mundo. Como escreveu Nick Tosches na antológica biografia de Jerry Lee, “Hellfire”: “Ele havia imaginado que os Beatles, que conhecera em sua última turnê na Europa, teriam desaparecido rapidamente. Mas não só eles continuavam por lá, como estavam maiores do que nunca – eles e os tais dos Rolling Stones, arrumadinhos como umas bichinhas no último dia do Mardi Gras – e ficando ricos. E ali estava ele, Jerry Lee Lewis, melhor que todos eles, melhor que todos eles juntos, sem conseguir um hit sequer.”

Nesse período pós-Myra Gale, uma coisa aconteceu com Jerry Lee Lewis: ele soltou os bichos de vez. Seus shows, que já eram explosivos, viraram festivais de pura insanidade e violência. Confrontado com o abismo, Jerry Lee não recuou, mas se jogou de cabeça.

Achei um clipe de Jerry Lee na Inglaterra, em 1964, que dá uma ideia de como eram suas apresentações. É uma das coisas mais lindas de todos os tempos:

 

 

O que nos leva a “Jerry Lee Lewis – Live at the Star Club, Hamburg”. Gravado em 1964, no meio de seu período de trevas, é o disco mais raivoso e virulento que o rock já conheceu. Trinta e sete minutos de barulho e caos.

Ouça a versão proto-heavy metal de Jerry para “Money”, de Gordy & Bradford, e compare com a gravada pelos Beatles, que parece uma canção de ninar; ouça o “Killer” fazendo a versão definitiva de “Your Cheatin’ Heart”, que põe no chinelo até a original de Hank Williams; ouça dois mil alemães bêbados gritando “Zerry, Zerry!”, enquanto um alucinado assobia tão alto no início de “Great Balls of Fire” que dá para ouvir o fiu-fiu do chucrute sobre o piano de Jerry.

“Live at the Star Club” é um disco tão demente que consegue acalmar bebês e cães. Aqui em casa sempre dá certo: é só a voz de Jerry Lee ecoar na sala, que todos ficam assustados e quietos. É o triunfo do instinto e da irracionalidade. Isso é rock. O resto é perfumaria.

 

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DEBATE SEM JORNALISMO VIRA BRIGA

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ok  DEBATE SEM JORNALISMO VIRA BRIGA

Assim como boa parte do país, tenho acompanhado os debates entre Dilma e Aécio na TV com exasperação. Se eles são prova da maturidade e qualidade de nosso embate político, estamos fritos.

Desde que anunciaram que os confrontos de segundo turno não teriam a presença de jornalistas e as perguntas seriam feitas somente pelos candidatos, suspeitei que os debates terminariam como briga de pátio de colégio.

Esse formato pode ser bom para a TV, já que rende faíscas entre os candidatos, mas é péssimo para a democracia. Até agora, o que se viu foram frases de efeito, acusações e mentiras a granel.

Não estou dizendo que a simples presença de jornalistas tornaria os debates melhores. Mas, com profissionais fazendo perguntas, pelo menos teríamos a chance de ouvir um candidato falar de suas propostas sem se preocupar apenas em atacar o outro. E os candidatos certamente teriam mais cuidado ao divulgar dados imprecisos.

No último debate, na Record, fiz um teste: a cada afirmação de um candidato, eu acessava a Internet e tentava confirmar a veracidade dos números e dados apresentados. Por várias vezes, achei informações discrepantes. Dos dois candidatos.

Acontece que o formato escolhido para os programas não privilegia a discussão, mas a briga. Não vence quem tem as melhores ideias, mas quem fala melhor ou escolhe a frase de mais impacto, mesmo que seja absolutamente mentirosa. Com tempo limitado e sem a possibilidade de apartes, um candidato sabe que pode falar o que quiser em sua última réplica, já que seu oponente não terá a chance de revidar.

Para aliviar um pouco a depressão desses últimos dias antes do segundo turno, veja esse clipe do programa de John Oliver na HBO, em que ele fala sobre os candidatos esdrúxulos da eleição brasileira.

 

 

O que mais me chamou a atenção foi a risada da plateia quando Oliver conta que, no Brasil, votar é uma obrigação, não um direito. Já estamos tão acostumados com esse fato que não percebemos como é absurdo. Mais uma distorção de nossa “democracia”.

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