Finalmente terminei de assistir à caixa “Filme Noir”, lançada pela Versátil. Mesmo com títulos variando muito de qualidade, é um ótimo lançamento e vale cada centavo.
São seis títulos, lançados entre 1947 e 1955, todos produções “B”, filmes baratos, geralmente produzidos para exibição em sessões duplas.
A Morte Num Beijo / Kiss Me Deadly (Robert Aldrich, 1955)
Mais conhecido como o filme que inspirou a célebre “mala misteriosa” de “Pulp Fiction” (o que tem dentro daquela valise?), esta produção de Aldrich, típico filme B do cinema anticomunista e paranoico da Guerra Fria, é na verdade uma tosquice sem tamanho, com atores péssimos - começando pelo ator principal, o canastríssimo Ralph Meeker - coadjuvantes caricatos (o que é aquele irritante mecânico grego?), uma trama sem sentido, brigas à Trapalhões e diálogos piores que os de “Garota Exemplar”. Apesar de tanta ruindade, virou cult e vale pela única cena realmente memorável, a última, numa praia.
Fuga do Passado / Out of the Past (Jacques Tourneur, 1947)
As coisas melhoram bastante com esse filmão de Tourneur (se você não viu “Cat People”, de 1942, assista AGORA), em que Robert Mitchum faz um bandido contratado por um gângster (Kirk Douglas) para encontrar sua amante (Jane Greer). A trilha o leva a Acapulco, onde ele não só encontra a deusa, como cai de amores por ela. “Fuga do Passado” traz alguns dos ingredientes típicos do “noir” – um homem tentando apagar seu passado, um amor impossível, a mulher fatal – e ver Robert Mitchum enfrentando Kirk Douglas é inesquecível.
O Cúmplice das Sombras / The Prowler (Joseph Losey, 1951)
A primeira metade desse filme é sensacional, uma pérola de luxúria e voyeurismo: um policial (Van Heflin) seduz uma mulher (Evelyn Keyes), casada com um famoso apresentador de rádio. Os dois se encontram à noite, enquanto ouvem o programa do marido traído. Infelizmente, a segunda metade do filme não é tão inspirada, envolvendo uma complicada trama para liquidar o corno. Tanto Losey quanto o roteirista, Hugo Butler, tiveram de deixar os Estados Unidos nos anos 50 depois de entrarem para a “Lista Negra” de Hollywood por se recusarem a colaborar com a perseguição a supostas comunistas e radicais. O roteiro também teve a participação – não-creditada - de Dalton Trumbo, outro roteirista perseguido em Hollywood.
Anjo do Mal / Pickup on South Street (Samuel Fuller, 1953)
Na minha opinião, o maior filme “noir” de todos. Fuller é incapaz de fazer um minuto de cinema tedioso, e aqui ele está em sua melhor forma. A trama, os diálogos, as atuações, tudo é soberbo. A cena inicial é uma aula de cinema: num vagão de metrô lotado, um bandido (Richard Widmark, antológico) rouba a carteira de uma mulher linda (Jean Peters). O que ele não sabe é que acaba levando um microfilme com segredos de um grupo de espiões comunistas infiltrados em Nova York. Thelma Ritter faz Moe, uma informante da polícia e uma das personagens secundárias mais fascinantes do cinema criminal. “Anjo do Mal” é “pulp” de primeira, uma bomba atômica recheada de paranoia anticomunista e estética de tabloide sensacionalista.
Passos na Noite / Where the Sidewalk Ends (Otto Preminger, 1950)
Escrito por Ben Hecht (pesquise, ele escreveu só “Scarface”, “Quanto Mais Quente Melhor” e “Interlúdio”, entre mais de 70 filmes), este drama policial tem um começo dos mais inusitados: um detetive, Mark Dixon (Dana Andrews), repreendido por seus superiores por conduta violenta, vai investigar um crime que ele desconfia ter sido cometido por um famoso gângster (Gary Merrill), mas acaba matando, por acidente, a principal testemunha. Dixon bola então um plano para incriminar o gângster. “Passos na Noite” tem um final moralista e não é o “noir” mais inspirado de Preminger, que dirigiu “Laura”.
Entre Dois Fogos / Raw Deal (Anthony Mann, 1948)
Outro filme que não merece a fama “cult” que tem. Dennis O’Keefe faz Joe Sullivan, um bandido que foge da cadeia e vai cobrar uma dívida do antigo patrão, Rick Coyle, um gângster sádico interpretado por Raymond Burr. Coyle planeja matá-lo e manda capangas atrás dele. Enquanto isso, Sullivan se divide entre duas mulheres. O roteiro é cheio de furos, as cenas de ação são quase amadoras e a história, no fim, não empolga.
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