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CINEMA “NOIR” EM SEIS LIÇÕES

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Finalmente terminei de assistir à caixa “Filme Noir”, lançada pela Versátil. Mesmo com títulos variando muito de qualidade, é um ótimo lançamento e vale cada centavo.

São seis títulos, lançados entre 1947 e 1955, todos produções “B”, filmes baratos, geralmente produzidos para exibição em sessões duplas.

A Morte Num Beijo / Kiss Me Deadly (Robert Aldrich, 1955)

Mais conhecido como o filme que inspirou a célebre “mala misteriosa” de “Pulp Fiction” (o que tem dentro daquela valise?), esta produção de Aldrich, típico filme B do cinema anticomunista e paranoico da Guerra Fria, é na verdade uma tosquice sem tamanho, com atores péssimos - começando pelo ator principal, o canastríssimo Ralph Meeker  - coadjuvantes caricatos (o que é aquele irritante mecânico grego?), uma trama sem sentido, brigas à Trapalhões e diálogos piores que os de “Garota Exemplar”. Apesar de tanta ruindade, virou cult e vale pela única cena realmente memorável, a última, numa praia.

Fuga do Passado / Out of the Past (Jacques Tourneur, 1947)

As coisas melhoram bastante com esse filmão de Tourneur (se você não viu “Cat People”, de 1942, assista AGORA), em que Robert Mitchum faz um bandido contratado por um gângster (Kirk Douglas) para encontrar sua amante (Jane Greer). A trilha o leva a Acapulco, onde ele não só encontra a deusa, como cai de amores por ela. “Fuga do Passado” traz alguns dos ingredientes típicos do “noir” – um homem tentando apagar seu passado, um amor impossível, a mulher fatal – e ver Robert Mitchum enfrentando Kirk Douglas é inesquecível.

O Cúmplice das Sombras / The Prowler (Joseph Losey, 1951)

A primeira metade desse filme é sensacional, uma pérola de luxúria e voyeurismo: um policial (Van Heflin) seduz uma mulher (Evelyn Keyes), casada com um famoso apresentador de rádio. Os dois se encontram à noite, enquanto ouvem o programa do marido traído. Infelizmente, a segunda metade do filme não é tão inspirada, envolvendo uma complicada trama para liquidar o corno. Tanto Losey quanto o roteirista, Hugo Butler, tiveram de deixar os Estados Unidos nos anos 50 depois de entrarem para a “Lista Negra” de Hollywood por se recusarem a colaborar com a perseguição a supostas comunistas e radicais. O roteiro também teve a participação – não-creditada - de Dalton Trumbo, outro roteirista perseguido em Hollywood.

Anjo do Mal / Pickup on South Street (Samuel Fuller, 1953)

Na minha opinião, o maior filme “noir” de todos. Fuller é incapaz de fazer um minuto de cinema tedioso, e aqui ele está em sua melhor forma. A trama, os diálogos, as atuações, tudo é soberbo. A cena inicial é uma aula de cinema: num vagão de metrô lotado, um bandido (Richard Widmark, antológico) rouba a carteira de uma mulher linda (Jean Peters). O que ele não sabe é que acaba levando um microfilme com segredos de um grupo de espiões comunistas infiltrados em Nova York. Thelma Ritter faz Moe, uma informante da polícia e uma das personagens secundárias mais fascinantes do cinema criminal. “Anjo do Mal” é “pulp” de primeira, uma bomba atômica recheada de paranoia anticomunista e estética de tabloide sensacionalista.

Passos na Noite / Where the Sidewalk Ends (Otto Preminger, 1950)

Escrito por Ben Hecht (pesquise, ele escreveu só “Scarface”, “Quanto Mais Quente Melhor” e “Interlúdio”, entre mais de 70 filmes), este drama policial tem um começo dos mais inusitados: um detetive, Mark Dixon (Dana Andrews), repreendido por seus superiores por conduta violenta, vai investigar um crime que ele desconfia ter sido cometido por um famoso gângster (Gary Merrill), mas acaba matando, por acidente, a principal testemunha. Dixon bola então um plano para incriminar o gângster. “Passos na Noite” tem um final moralista e não é o “noir” mais inspirado de Preminger, que dirigiu “Laura”.

Entre Dois Fogos / Raw Deal (Anthony Mann, 1948)

Outro filme que não merece a fama “cult” que tem. Dennis O’Keefe faz Joe Sullivan, um bandido que foge da cadeia e vai cobrar uma dívida do antigo patrão, Rick Coyle, um gângster sádico interpretado por Raymond Burr. Coyle planeja matá-lo e manda capangas atrás dele. Enquanto isso, Sullivan se divide entre duas mulheres. O roteiro é cheio de furos, as cenas de ação são quase amadoras e a história, no fim, não empolga.

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STYX: O SHOW MAIS ENGRAÇADO DO ROCK

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Se você quiser dar boas gargalhadas e desopilar nesse fim de semana de tensão eleitoral, aí vai uma boa dica: o canal MGM HD exibe sábado, às 16h15, o filme-concerto “The Grand Illusion / Pieces of Eight”, do Styx.

Quão engraçado é o filme? Posso dizer que minha mulher, que nunca tinha ouvido falar da banda, estava chorando de rir em menos de cinco minutos.

Gravado em 2010, o concerto mostra o grupo tocando seus dois discos de maior sucesso, “The Grand Illusion” (1977) e “Pieces of Eight” (1978).

Famosíssimo nos Estados Unidos, o Styx felizmente não fez tanto sucesso assim no resto do planeta, onde sua nauseabunda mistura de progressivo, soft rock, pop de arena, hard farofa e discos conceituais não venderam tanto quanto nos rincões brancos de classe média da América.

Este DVD, gravado mais de 30 anos depois da fase de maior sucesso do grupo, mostra que o tempo foi cruel, tanto com a música dos caras, que hoje parece relíquia de uma época de trevas, quanto com a forma dos integrantes, todos mais deformados de botox que a Renée Zellwegger.

O show parece uma versão teatral de “Spinal Tap”, com direito aos clichês mais hilariantes do rock de arena: dancinhas coreografadas, coroas com cabeleiras artificiais, um teclado giratório que possibilita ao músico ficar rodopiando pelo palco, uma bateria maior que um apartamento de três quartos, trocas de roupa, saídas estratégicas do palco para retoque de maquiagem e um figurino à Vegas, com jaquetas de couro branco e franjas, camisas compridas e brilhantes de motivos leopardos e calças justíssimas com berinjelas enfiadas na cueca para impressionar as coroas da primeira fila.

A captação em HD é tão boa que dá para ver o delineador nos olhos do guitarrista Tommy Shaw e a dentadura de James Young, cujo sorriso é tão branco, imenso e perfeito que parece que ele engoliu um teclado de piano. Demais.

Mas o destaque do show é o tecladista Lawrence Gowan, com seu mullet artificial com mechas vermelhas e sua propensão a subir no teclado para balançar a pança na direção das fãs, simulando um coito. That's rock and roll, baby.

Pensando bem, temos muito a agradecer ao Styx:  Joey Ramone cansou de dizer que formou os Ramones porque não aguentava mais ouvir Styx no rádio. E ouvindo “Come Sail Away”, “Aku Aku” e “Lords of the Ring”, dá para entender perfeitamente porque o punk rock nasceu. Obrigado, Styx!

Só lembrando que, logo depois do show do Styx, o canal exibe “Billy Joel – Live at Shea Stadium”. Juro.

E bom fim de semana a todos.

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ADEUS, JACK BRUCE!

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Morreu sábado, aos 71, Jack Bruce, um dos maiores baixistas que o rock já conheceu.

Na verdade, Bruce não gostaria nada de ser definido como um “músico de rock”. Ele era um músico, e ponto final. O rock foi só um dos gêneros em que se destacou.

Mais famoso por sua atuação com o Cream, a banda mitológica que montou com Eric Clapton e Ginger Baker, Bruce tocou com uma penca de grandes instrumentistas, de John McLaughlin a Frank Zappa, de Leslie West a Robin Trower, de Mitch Mitchell a John Mayall, de Mick Taylor a Gary Moore. Um currículo embasbacante.

Aos 17 anos, Jack Bruce era um prodígio do violoncelo. Ganhou uma bolsa da Royal Scottish Academy of Music para estudar cello e composição, mas largou tudo para tocar jazz e blues, suas verdadeiras paixões.

Em 1966, depois de rodar por inúmeras bandas e fazer nome como instrumentista, Bruce montou o Cream. É difícil acreditar que o Cream durou só dois anos, tamanha sua influência. Nesse tempo, a banda gravou quatro álbuns de estúdio e deu ao rock um upgrade gigantesco de qualidade técnica (o grupo se reuniria brevemente em 2005).

O Cream foi um dos primeiros – talvez o primeiro – supergrupo da história do rock. Não se formou como as bandas 'normais', com amigos de escola ou de bairro trocando ideias e fazendo música, mas foi um projeto reunindo três músicos fora de série e que já se conheciam de outros carnavais (Bruce havia tocado com Baker no Graham Bond Organisation e com Clapton no John Mayall’s Bluesbreakers). O próprio nome escolhido – “Creme” – mostra que eles sabiam que aquele trio era parada dura.

Outro dia, o canal BIS exibiu “The Farewell Concert”, o show de despedida do Cream no Royal Albert Hall, em Londres, em 28 de novembro de 1968. Se não viu, assista. É um documentário sobre o tal show, intercalado por uma narração que tenta explicar porque o Cream é diferente do pop que dominava as paradas (no trecho abaixo, o locutor começa elogiando a capacidade de improviso jazzístico da banda e diz que Bruce é fã de música indiana e levou essa influência pro Cream):

 

 

É revelador perceber como, em 1968, o rock era visto como música de quinta categoria. Jack, Ginger e Eric passam o documentário todo se explicando, dizendo que o rock tem qualidade e músicos muito bons. O filme é uma relíquia de uma época em que a música jovem ainda metia medo.

Se você se interessa pelo Cream, procure também o documentário “Beware of Mister Baker”, sobre o genial e demente baterista Ginger Baker, em que relata as brigas de ego - e socos - entre ele e Bruce pelo controle da banda.

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BEM-VINDO DE VOLTA, WILKO JOHNSON!

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Que história sensacional: depois de anunciar, em 2013, que tinha um câncer terminal no pâncreas, Wilko Johnson, 67, guitarrista do grupo Dr. Feelgood, se diz "curado".

Em um emocionante discurso durante a entrega de um prêmio musical em Londres (veja aqui ), Wilko disse que os médicos retiraram um tumor de 3 kg - "do tamanho de um bebê" - de seu pâncreas.

"E eu não tenho mais câncer. É tão estranho que agora eu tenho que entrar em acordo com minha mente e me acostumar à idéia de que minha morte não é iminente e que eu vou sobreviver", disse o músico, também conhecido como ator da série de TV "Game of Thrones".

Assim que anunciou sua doença, o guitarrista, que em 2004 perdeu para o câncer a esposa, Irene, com quem estava desde a adolescência, decidiu que não faria tratamento e que se despediria dos fãs com uma turnê e um "último disco" gravado com Roger Daltrey, do The Who. Mas os deuses do rock tinham outros planos para Wilko.

Se esse "quase" encontro de Wilko com a morte serviu para alguma coisa, foi para chamar a atenção das novas gerações para a música explosiva e empolgante do Dr. Feelgood, uma das bandas mais importantes do pré-punk inglês, cujo blues-rock do inferno era adorado por Joe Strummer (The Clash), Andy Gill (Gang of Four) e John Lydon (Sex Pistols).

Se puder, assista a "Oil City Confidential", o ótimo documentário de Julian Temple sobre o Dr. Feelgood. Em 2011, escrevi o seguinte sobre o filme:

 

 

"O Dr. Feelgood foi o maior expoente do “pub rock”, um movimento efêmero, porém muito influente, que surgiu na Inglaterra no início dos anos 70.

Em reação ao virtuosismo do rock progressivo e ao exibicionismo do glam rock, diversas bandas adotaram uma postura de “volta às raízes”, tocando rock primal, influenciado pelos pioneiros do blues americano.

Essas bandas encontraram seu público em pequenos pubs enfumaçados, onde multidões de espremiam para tomar cerveja, suar e dançar ao som de Kilburn & The High Roads, Eddie and the Hot Rods, Ducks Deluxe, Stranglers, Nick Lowe, e, claro, Dr. Feelgood.

O grupo foi formado na Ilha de Canvey, sudeste da Inglaterra. “Aqui é realmente o fim da linha”, diz um entrevistado. “Tanto que a parada seguinte, se houvesse uma, seria na Bélgica.”

Chamar Canvey Island de “fim de mundo” é um insulto ao mundo. A ilha parece um cenário de filme do Mad Max, com praias rochosas, quarteirões inteiros em ruínas e o espectro cinzento de uma gigantesca indústria petroquímica no horizonte (daí o nome “Oil City”).

O filme passa um bom tempo em Canvey Island. Fica claro que o isolamento e a desolação do local foram fatores que influenciaram demais o som agressivo e saudosista do Dr. Feelgood.

O Dr. Feelgood era liderado por uma dupla carismática e talentosa: o vocalista Lee Brilleaux e o guitarrista Wilko Johnson.

Ao vivo, a banda era imbatível. Brilleaux era uma presença fortíssima no palco, e nem precisava se mexer muito para comandar o público. Wilko, ao contrário, corria de um lado para o outro como um alucinado, fitando a platéia com o semblante de um assassino serial. O grupo parecia quatro neandertais no meio de uma overdose de anfetaminas.

O Dr. Feelgood caiu nas graças de muita gente que viria a formar a nata do punk e pós-punk inglês. Mick Jones e Joe Strummer (cuja banda, The 101’ers, era da mesma cena de pub rock), eram fãs. John Lydon também. Os Ramones abriram shows do grupo. E não dá para negar que Andy Gill, do Gang of Four, tirou muito de sua presença de palco e do estilo “staccato” de sua guitarra vendo Wilko Jonhson em ação.

Por dois ou três anos, o Dr. Feelgood foi uma sensação na Europa. Lotava ginásios e vendia muitos discos. Mas os egos gigantes de Brilleaux e Wilko eram demais para uma banda só, e eles acabaram rachando. Daí, em 1976, veio o punk, soterrando o pub rock e tornando aquele saudosismo obsoleto do dia para a noite."

Resta agora ver o que Wilko planeja para o futuro. Depois da "turnê de adeus", ele bem que poderia armar uma "turnê de ressurreição".

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QUE FALTA FAZ GORE VIDAL…

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O Netflix gringo disponibilizou o documentário “Gore Vidal – The United States of Amnesia”, de Nicholas Wrathall.

Assistir ao filme nos dias finais da eleição brasileira foi uma experiência e tanto. Fiquei o tempo todo me perguntando o que diria Gore Vidal sobre os debates entre Dilma e Aécio.

Vidal (1925-2012) foi um escritor, dramaturgo, ensaísta, político e polemista dos mais importantes do século 20. Falou de política, religião e sexualidade com uma franqueza que chocou a muitos. Foi um caso raro de intelectual popstar.

O filme não faz muito além de mostrar cenas de arquivo e entrevistas com Vidal, mas a verdade é que não precisava de mais nada. O sujeito tinha um carisma impressionante, uma verve bombástica, e foi um dos grandes frasistas de todos os tempos.

Filho de um milionário atleta olímpico e pioneiro da aviação civil – e amante da aviadora Amelia Earhart – Vidal diz ter aprendido tudo que sabe com o avô, Thomas Pryor Gore (1870-1949), um intelectual que ficou cego aos 10 anos de idade em um acidente e acabou senador, conhecido por defender a neutralidade do país na Primeira Guerra (em uma cena de arquivo, Pryor Gore diz : “Eu nunca roubaria crianças de berços para saciar os cães de guerra”).

Aos 19 anos, Gore Vidal escreveu seu primeiro romance, “Williwaw”, drama inspirado em sua experiência na Segunda Guerra. Em 1948, chocou o mundo literário com “The City and the Pilar”, um romance sobre homossexualidade. “O New York Times passou anos sem escrever sobre meus livros”, diz Vidal, que tornou-se amigo de escritores e dramaturgos como F. Scott Fitzgerald, William Faulkner, Truman Capote (com quem brigaria depois) e Tennessee Williams.

Nos anos 50,  trabalhou como roteirista em Hollywood e reescreveu parte do roteiro de “Ben Hur”, assinado por Karl Tunberg. Mas Vidal tinha um plano: “Decidi que iria trabalhar em Hollywood por dez anos e ganhar dinheiro suficiente para nunca mais escrever algo que não queria”. Foi o que fez.

A partir do início dos anos 60, começou a escrever ensaios sobre a política e sociedade norte-americanas, e não parou mais. Foi um opositor violento da política externa americana, criticando as inúmeras invasões a outros países e o aumento dos gastos militares.

Virou uma celebridade televisiva, especialmente depois de suas antológicas brigas com o conservador William F. Buckley na TV, em 1968. Na mais quente delas, Buckley o chamou de “viado” e o ameaçou com um soco na cara em cadeia nacional. Veja:

 

[youtube nYymnxoQnf8]

 

Depois, Vidal travou duelos ácidos com outro escritor que não levava desaforo pra casa: Norman Mailer (que época, não, em que um “talk show” reunia pesos-pesados como Vidal e Mailer?).

Vidal ficou tão famoso que Fellini o chamou para aparecer em “Roma” (1972) interpretando seu melhor papel, o de Gore Vidal. Nos anos 60, mudou-se com o companheiro Howard Austen para uma casa à beira-mar em Ravello, na Costa Amalfitana. Viveram na Itália por mais de 40 anos, até a morte de Austen.

A casa virou ponto turístico do jet set americano: toda celebridade que passava pela Itália dava um jeito de visitar Gore Vidal. Passaram por lá Jack Nicholson, Peter Fonda e o casal Paul Newman e Joanne Woodward. No filme, o ator Tim Robbins conta que foi a Ravello com a então esposa, Susan Sarandon, e ficou surpreso ao descobrir que o autor estava recebendo outros convidados: Bruce Springsteen e Sting.

Mesmo no fim da vida, Gore Vidal continuou perdendo amigos por causa de divergências. O caso mais célebre é o de Christopher Hitchens, que Vidal chegou a anunciar como seu “sucessor intelectual”, mas voltou atrás depois de Hitchens apoiar a invasão americana ao Iraque e criticar Vidal por culpar a política externa americana por colocar o país contra o mundo islâmico.

Numa das cenas mais emocionantes do filme, o próprio Hitchens, fragilizado pelo tratamento contra o câncer que o mataria, em 2011, conta a história da ruptura com seu "mentor".

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HULK vs. MAINARDI: SEM CAÇA ÀS BRUXAS, POR FAVOR

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ok HULK vs. MAINARDI: SEM CAÇA ÀS BRUXAS, POR FAVOR

 

Na rede social, esse túmulo da sensatez, não se fala em outra coisa: o jogador de futebol Hulk, paraibano, acusou o jornalista Diogo Mainardi, paulistano, de desrespeitar o Nordeste em declarações sobre os eleitores nordestinos feitas durante o programa de TV “Manhattan Connection”, da Globonews (leia aqui). 

A declaração de Mainardi sobre os nordestinos é a seguinte:

“Essa eleição é a prova de que o Brasil ficou no passado. Não é Bolsa-Família, não é marquetagem. O Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno em relação ao poder, durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT. É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem uma grande dificuldade para se modernizar na linguagem. A imprensa livre, a liberdade de imprensa, é um valor que só existe da metade do Brasil para baixo.”

No Instagram, Hulk respondeu:

“Infelizmente o Mainardi demonstra ignorância e arrogância quando critica o Nordeste. Nossa população tem dificuldades e luta com humildade para melhorar sua condição de vida. As maiores dificuldades foram impostas pelos diversos Governos ao longo dos anos. Mainardi, respeite o Nordeste!

Morando tanto tempo fora do Brasil, o jornalista Diogo Mainardi não demonstra conhecimento pela importância do Nordeste ao País e principalmente respeito com a população nordestina. Já que ele fala também de cultura, será que ele sabe a importância destes homens para o Brasil: Graciliano Ramos, Rui Barbosa, Glauber Rocha, Jorge Amado, Suassuna, Renato Aragão, Caetano Veloso, Gilberto Gil, José Wilker e Chico Anisio? Cito 10 importantes nomes nascidos no Nordeste em vários períodos que contribuíram para a evolução do Brasil. São escritores, poetas, pensadores, atores e compositores que ajudaram e são referências do Brasil no exterior”.

Sei que é difícil pedir isso com os ânimos ainda tão exaltados pela eleição, mas é preciso saber diferenciar opinião de insulto.

As palavras de Mainardi foram fortes, mas não insultuosas. Dizer que os eleitores nordestinos são “bovinos”, no sentido de "facilmente manipuláveis", não é desrespeito ou xingamento. Você pode discordar, julgar a frase generalizante ou achar o mesmo dos eleitores de outras regiões do país, mas não dá para dizer que é um insulto. Ou então vamos parar de usar expressões como "voto de cabresto", "curral eleitoral" e "arrebanhar eleitores".

Em um ponto, Mainardi e Hulk parecem concordar: o Nordeste vem sendo sistematicamente prejudicado pelos governos brasileiros, que nunca deram à região a educação e instrução que ela merece.

De tudo que foi dito, o mais preocupante é uma frase de Hulk: “Morando tanto tempo fora do Brasil, o jornalista não demonstra conhecimento pela importância do Nordeste ao país e, principalmente, respeito com a população nordestina”.

A frase dá a entender que uma pessoa só tem autoridade para criticar o país se morar nele. A afirmação torna-se ainda mais ridícula quando proferida por alguém que saiu do Brasil há dez anos e vive na Rússia.

Infelizmente, o Brasil é um país infantilizado, onde não se discute opiniões sem tentar desqualificar o autor ou apelar para o populismo mais rastaquera. O linchamento virtual virou esporte nacional.

Vi muito preconceito nessa eleição. Vi pessoas supostamente educadas chamando eleitores do Aécio de “playbas” e eleitores de Dilma de “burros”. Cheguei a ponto de não discutir a eleição com familiares e amigos para não criar atritos desnecessários. Isso sim é um insulto à civilidade.

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SETE DISCOS MEDONHOS DE ARTISTAS GRANDIOSOS

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Acaba de sair “Storytone”, 35º disco de estúdio de Neil Young, em que ele é acompanhado por uma orquestra de 92 músicos, coral e uma “big band” de metais e percussão. É um dos piores discos que ele lançou na vida, um abacaxi indigesto que seria cômico se não fosse triste.

Ouvir Neil tentando cantar por cima de uma orquestra, com aquele fiapo de voz desafinada, é como Frank Sinatra cantando no Dead Kennedys. Não faz o menor sentido.

E as letras são de doer. Para quem escreveu “Pocahontas”, “The Needle and the Damage Done”, “Thrasher” e tantas outras belezas, deve ser brabo cantar “Vamos enfrentar o petróleo / e salvar a água” ou “Pegue minha mão / vamos caminhar até a terra prometida”.

Daqui a alguns anos, “Storytone” será visto como uma dessas armadilhas de ego em que grandes artistas se metem quando o bom senso e a autocrítica são obnubilados por uma confiança absoluta na própria genialidade.

Dá para imaginar Neil sentado em seu rancho, pensando: “Eu sou um gênio... O que posso fazer agora para presentear a humanidade? Um livro de poesias? Uma exposição de quadros pintados com meu pé esquerdo? Já sei! Um disco orquestral!”

Veja se dá para acreditar nisso:

 

 

Aqui vão outros seis exemplos de discos patéticos lançados por artistas respeitáveis.

 

The Clash – Cut the Crap (1985)

Joe Strummer e Paulo Simonon despediram Mick Jones e lançaram essa aberração, que soa como uma banda cover do próprio Clash. Veja esse vídeo de “Three Card Trick”, gravado ao vivo em Copenhagen, e diga se não lembra “Ilariê”, da Xuxa:

 

Lou Reed e Metallica – Lulu (2011)

Que medinho: o Godfather sombrio do punk encontra os quatro cavaleiros do Apocalipse do metal. O resultado é um disco sem nenhuma música que preste e videoclipes em que cinco coroas fazem pose de adolescentes rebeldes. Parece reunião daqueles clubes de motoqueiros no Frango Assado.

 

David Bowie – Never Let Me Down (1987)

Se os anos 70 foram o auge de Bowie, com LPs transgressores e revolucionários, os 80 foram uma tragédia. Ele parecia um fantoche perdido em meio à indústria pop que havia criticado com tanta aspereza nos 70. E o ponto mais baixo é “Never Let Me Down”, em que o Camaleão soa como um sub-Duran Duran – curiosamente, uma banda que só existe por causa de Bowie.

 

Duran Duran – Thank You (1995)

E por falar em Duran Duran, que tal esse disco de covers? Ninguém sabe o que é pior, a versão de “I Wanna Take You Higher”, do Sly & the Family Stone, “911 is a Joke”, do Public Enemy, ou “Crystal Ship”, do Doors. Eu fico com “Perfect Day”, de Lou Reed, com sua sonoridade de churrascaria, que você pode conferir aqui na versão francesa do “Almoço com as Estrelas”:

 

Peter Frampton e Bee Gees – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1978)

No fim dos 70, Peter Frampton e Bee Gees tinham outra coisa explodindo, além das contas bancárias: seus descomunais egos. O primeiro saía do sucesso de “Frampton Comes Alive”, um dos discos ao vivo mais vendidos da história, enquanto os Bee Gees surfavam na onda da discoteca. O resultado foi esse LP de covers dos Beatles, sempre lembrado em votações dos piores álbuns de todos os tempos. É tão ruim que separei dois clipes, incluindo o inesquecível trecho em que George Burns canta “Fixing a Hole”. Parece um pesadelo:

 

Paul McCartney & Wings – Back to the Egg (1979)

Os anos 70 chegavam ao fim e Paul McCartney passava por uma crise existencial: “Ainda sou relevante?” “Ainda sou fabuloso?” A solução foi gravar um disco new wave, inspirado pelos sons que Macca ouvia na TV e no rádio. Mas a vingança viria a cavalo: no fim da turnê, ele foi preso no Japão por porte de drogas mais pesadas que esse disco, e o Wings acabou logo depois.

 

Lembra outro disco horrível lançado por um grande artista? Mande sua lista, por favor.

E bom fim de semana a todos.

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CUIDADO COM O PIXIES, GAROTA!

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pixes CUIDADO COM O PIXIES, GAROTA!

O último número da revista inglesa “Mojo” traz uma entrevista com Kim Shattuck, ex-baixista do Pixies, que é reveladora sobre a política interna, a inveja e as briguinhas que costumam rolar dentro de bandas.

Shattuck era conhecida no circuito indie como guitarrista e cantora de duas ótimas bandas, The Muffs e Pandora. Em janeiro de 2013, foi convidada pelo Pixies a substituir a baixista Kim Deal, que havia deixado o grupo em condições nada amistosas.

Shattuck era fã do Pixies e ficou exultante com a oportunidade. Mas o sonho durou pouco mais de dez meses. Logo, ela começou a perceber que Black Francis, o líder da banda, parecia não se sentir confortável com o fato de ela se chamar “Kim”, o que possivelmente estaria provocando memórias desconfortáveis em relação a Kim Deal.

Depois, a baixista passou a receber olhares tortos quando agitava muito no palco (e quem já viu The Muffs e Pandoras ao vivo sabe que a mulher é carismática demais e não fica parada). Veja The Muffs em ação:

 

 

A carreira de Kim Shattuck no Pixies começou a ruir mesmo depois de um show em Los Angeles, quando ela se jogou no público depois do bis. “Pulei no pit e comecei a abraçar e cumprimentar o público, foi doce e bonito. Quando terminei, percebi que a banda já tinha saído do palco. Me senti uma idiota. O agente da banda veio correndo e gritou comigo: ‘Não pule na plateia! O Pixies não faz isso!’ Percebi que havia ultrapassado o meu limite e pedi desculpas à banda”.

Mas não adiantou. Segundo Shattuck, o baterista Dave Lovering parou de falar com ela e começou a tratá-la mal. “Um dia, no fim da turnê, estávamos no avião e Dave estava um amor comigo. Achei que ele estava doidão. Aquilo foi um aviso pra mim: sabia que iriam me despedir”.

Depois do último show da turnê, na Inglaterra, ninguém falou com Shattuck. Dias depois, o agente ligou para ela e disse que a banda iria procurar outro baixista.

A argentina Paz Lenchantin, conhecida por trabalhos com A Perfect Circle e Zwan (banda de Billy Corgan), foi contratada. Lanchentin tocou inclusive no Brasil, quando o grupo se apresentou no Lollapalooza (o site do festival continua informando, erradamente, que foi Shattuck quem tocou no Brasil). Vamos ver quanto tempo dura a moça.

 

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A AMAZÔNIA JÁ ERA

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area destruida pelo fogo no sudoeste do para op hefesto  ibama divulgacao ok A AMAZÔNIA JÁ ERA

O desgaste da floresta Amazônica está chegando a um “ponto de não retorno”, em que a floresta começa a falhar em seu papel de regulação do clima da América do Sul. A consequência disso será um “efeito dominó”, o início de uma reação em cadeia que terminará com o sistema da região “brutalmente desequilibrado”.

Quem diz isso não é nenhum milenialista alucinado ou ambientalista fanático que vive numa caverna e abraça tartarugas, mas o biogeoquímico Antonio Donato Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Nobre acaba de publicar um relatório, “O Futuro Climático da Amazônia”, em que reúne dados de mais de 200 estudos sobre a região. O documento é curto – 40 páginas – mais assustador que qualquer filme-catástrofe de Michael Bay, e pode ser baixado de graça aqui.Deveria ser leitura obrigatória em casas, repartições públicas, igrejas e escolas. E no Planalto também, claro (mas ninguém ali pareceu se interessar pelo assunto nas últimas décadas, e não vai ser agora).

Segundo o estudo, 20% da floresta foram desmatadas e outros 20% estariam degradadas. O total – 40% - é o limite, segundo alguns pesquisadores, para que a floresta não consiga garantir a própria umidade.

“A floresta oceano-verde é muito úmida para queimar, mesmo durante a época ‘seca’. No entanto, quando nenhuma chuva cai na estação seca – algo que não costumava acontecer, mas agora está se tornando cada vez mais comum – o material orgânico no chão da floresta acaba secando além do limite em que se torna inflamável. O fogo entra na mata, queima raízes superficiais e mata árvores grandes. Todos esses efeitos do desmatamento potencializam-se.”

Segundo Nobre, o desmatamento acumulado chega a 762.979 km2, equivalente a duas Alemanhas ou três estados de São Paulo. A área desmatada corresponderia a 184 milhões de campos de futebol.

“Até 2013, a área total degradada por ter alcançado 1.255.100 km2. Somando com a área mensurada de corte raso, o impacto cumulativo no bioma pela ocupação humana pode ter atingido 2.018.079 km2. Dentre mais de 200 países no mundo, somente 13 têm área maior que essa.”

O estudo sugere que a seca no Sudeste já pode ser resultado desse processo de “savanização” da Amazônia. Para reverter a situação, a solução seria parar o desmatamento – não reduzir, parar mesmo -  e iniciar um amplo processo de reflorestamento.

Levante o braço quem acredita que o governo vai fazer alguma coisa. Eu não. Nem os dados sobre o desmatamento o governo divulga mais. O último relatório foi divulgado em agosto. O próximo foi convenientemente empurrado com a barriga para depois das eleições e está prometido para o meio de novembro.

Ano passado, publiquei no blog uma reportagem sobre as condições de trabalho de vigilantes ambientais em todo o país (leia aqui) e concluí que o governo cortou a verba de vigilância em 38% desde 2010.

Um exemplo das humilhantes condições de trabalho de nossos ambientalistas: a Unidade de Conservação (UC) da Floresta Nacional de Tefé, no interior do Amazonas, é responsável pela vigilância de uma área de mais de um milhão de hectares, ou 10 mil km2, quase sete vezes o tamanho da cidade de São Paulo. E para fiscalizar toda essa região, a UC de Tefé conta com o assombroso quadro de dois analistas ambientais e três técnicos.

Em seu relatório, Nobre afirma:

“Em 2008, quando estourou a bolha financeira de Wall Street, governos mundo afora precisarem de apenas 15 dias para decidir usar trilhões de dólares de recursos públicos na salvação de bancos privados e evitar o que ameaçava tornar-se um colapso do sistema financeiro. A crise climática tem o potencial de ser incomensuravelmente mais grave do que a crise financeira, não obstante, as elites governantes vêm procrastinando por mais de 15 anos tomar decisões efetivas que desviem a humanidade do desastre climático.”

Minha sugestão? Declarar a Amazônia área de interesse mundial e doá-la para quem tiver a competência de preservá-la, já que nós não temos.

 

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“BOYHOOD”: A VIDA COMO ELA É

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O cinema moderno vive numa bolha, onde o risco é proibido e a palavra de ordem é dar ao público exatamente o que ele quer. E tome roteiros formulaicos, tramas repetitivas e histórias sem nenhuma surpresa. O público cinéfilo é tão complacente que aceita qualquer coisa que vê na tela (poder-se-ia chamá-lo de "bovino", se o adjetivo não causasse tamanha comoção hoje em dia).

Por isso, é uma surpresa quando pinta um filme como “Boyhood”, de Richard Linklater, que vai contra essa mesmice.

Na teoria, o filme é parecido com muitos outros que vimos: um filme coming of age, sobre a transformação de um menino em adulto. Mas a forma como foi realizado e a qualidade de sua realização o separam da manada.

“Boyhood” foi filmado num período de mais de 11 anos - de maio de 2002 a outubro de 2013 - com os mesmos atores. Você vê as crianças virando adultos e os adultos virando velhos.

O personagem central é Mason (Ellas Coltrane), um menino de seis anos que mora em Houston, no Texas, com a mãe, Olivia (Patricia Arquette) e a irmã, Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor). O pai das crianças é Mason Sr. (Ethan Hawke), um sujeito irresponsável, que some por longos períodos para trabalhar em outras cidades e tenta compensar a ausência com passeios e saídas esporádicas com os filhos.

“Boyhood” acompanha 11 anos da vida da família. Nesse período, Olivia casa e descasa algumas vezes e se mete com amantes alcoólatras e violentos, sempre arrastando os filhos para outras cidades e outras realidades.

Mason é uma criança tímida e sonhadora, um menino sensível que não gosta de esportes e tem uma alma lúdica. No filme, ele se torna adulto, passando por todas as fases da vida de uma criança: o senso de deslocamento e inadequação na escola, o bullying, os primeiros amores, o sexo, as drogas e a insegurança quanto ao futuro.

“Boyhood” é longo – tem 2h45 – e, em certas partes, muito lento. Mas se a ideia de Linklater era justamente tirar o espectador desse torpor estético a que ele se acostumou, nada mais inteligente do que desacelerar a narrativa, por mais paradoxal que isso possa parecer. É como se o diretor dissesse: “A vida não é um filme e não precisa ser corrida. Permita-se apreciar essa história de uma maneira calma e contemplativa”. E quem embarcar na ideia vai sair recompensado.

Usar os mesmos atores por um longo período de tempo não é novidade no cinema. O francês François Truffaut fez, num período de 20 anos, cinco filmes autobiográficos com o personagem Antoine Doinel, começando com “Os Incompreendidos” (1959) e terminando com “O Amor em Fuga” (1979). Em todos, Antoine foi interpretado pelo mesmo ator, Jean-Pierre Léaud.

Outro caso marcante de repetição de personagens é o da série “Up”, do britânico Michael Apted. Mas “Up” é diferente: os personagens são reais. Começando em 1964, a BBC entrevistou um grupo de crianças de sete anos de idade sobre suas vidas e sonhos. A cada sete anos, Apted voltou a entrevistar as mesmas pessoas. Em 2012, a série já estava no oitavo capítulo, “56 Up”, em que as “crianças” eram cinquentões.

Se você vão viu a série “Up”, dê um jeito de assistir. É um marco do cinema documental e um dos trabalhos mais bonitos e emocionantes da história do cinema. Veja um trailer:

 

 

Voltando a “Boyhood”: o que é inédito no filme – pelo menos eu não consigo lembrar nada parecido - é que a transformação dos personagens se dá na mesma história e, por isso, é ainda mais impressionante. Ver Mason passando de uma criança a um adolescente e, por fim, a quase um adulto, é uma experiência e tanto.

Richard Linklater sempre foi interessado em dois temas: os ritos de passagem geracional, como em “Jovens, Loucos e Rebeldes” (1993), e a ação do tempo sobre personagens, como experimentou tão bem na série “Antes do Amanhecer”, em que acompanhou, por 18 anos e três longas, o romance de Ethan Hawke E Julie Delpy.

Em “Boyhood”, ele junta os dois temas e faz um filme diferente de tudo que o cinema tem oferecido ultimamente. Vá e veja.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o meio da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

 

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JUDAS PRIEST: O METAL É NOSSO

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Se alguém perguntar que banda inventou o heavy metal, digo que foi o Black Sabbath. O grupo de Ozzy, Iommi, Butler e Ward juntou temas sobrenaturais ao blues e criou a base de quase todo o rock pesado que viria depois.

Mas se tivesse de escolher um grupo que encarna o gênero e que sacramentou as bases sonoras e estéticas do heavy metal, não pensaria duas vezes: foi o Judas Priest.

As duas bandas vêm do mesmo lugar: a cinzenta, feia e industrial cidade de Birmingham, um lugar onde o metal pesado estava em toda parte. Mas o Priest tem uma diferença crucial em relação ao Sabbath: foi a primeira banda que admitiu fazer heavy metal. O Sabbath sempre disse que tocava blues; até hoje, Bill Ward jura que o som deles era jazz amplificado. O Priest não; batiam no peito e se orgulhavam de dizer que tocavam metal.

“Nós sempre voltamos à região de Birmingham para ensaiar”, disse o vocalista Rob Halford à revista “Mojo”. “Aquela região é a que nos fez existir – e a que fez o metal”.

Em 1991, fiz uma entrevista inesquecível – pelo menos para mim – com Rob Halford. Foi na piscina de um hotel de luxo no Rio, um dia antes de a banda subir ao palco do Rock in Rio. Halford tomava sol numa espreguiçadeira, trajando uma sunga fio dental de couro preto. Ao fundo, integrantes do Megadeth davam “bombas” na piscina e faziam “fiu fiu” para sacanear Halford (o vocalista do Priest só sairia do armário em 1998, mas sua homossexualidade era o segredo mais mal guardado da música pop).

Na ocasião, Halford disse que o heavy metal era a “verdadeira música proletária da Inglaterra”. E ele tinha razão.

Há exatos 40 anos, saía o disco de estreia do Judas Priest, “Rocka Rolla”. Mas foi só no segundo LP, “Sad Wings of Destiny” (1976), que o grupo consolidaria as bases de seu som e visual. Para mim, “Sad Wings” é um marco do metal, talvez o primeiro disco pesado em que o blues havia sido completamente extirpado da equação.

Por favor, não venham dizer que eu não gosto de blues, não é esse o ponto. Só estou tentando explicar que o heavy metal, como o conhecemos, nasceu em “Sad Wings of Destiny”: o duplo ataque das guitarras de Glenn Tipton e K.K. Downing, os temas distópicos das letras, o vocal agudíssimo de Halford, os solos longos e a ausência absoluta de grooves blueseiros. Era uma música polida e, ao mesmo tempo, agressiva e épica; metal em toda sua brancura, que só poderia ter nascido num lugar horrendo e barra pesada como Birmingham.

E a estética era nova: um visual sadomasoquista de couro preto e tachas, inspirado em gangues de bikers e clubes gays frequentados por Halford (na “Mojo” há uma descrição hilariante de um encontro dele com Freddie Mercury em uma boate na Grécia); as coreografias dos guitarristas tocando lado a lado; o senso de drama e teatralidade de Halford.

Minha cópia em vinil de "Sad Wings of Destiny" descansa na estante, autografada por Rob Halford, o mais perto que o metal já teve de uma Maria Callas.

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LUSA ADMITE CORRUPÇÃO; E AGORA, IMPRENSA? E AGORA, MP?

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portuguesachora7dramalho LUSA ADMITE CORRUPÇÃO; E AGORA, IMPRENSA? E AGORA, MP?

Jornalista Jorge Nicola, do portal Yahoo: “O senhor já sabe por que o Héverton foi utilizado irregularmente na última rodada do Brasileirão de 2013?”

Ilidio Lico, presidente da Lusa: “Foi coisa premeditada. Não dá para falar muito, porque eu não tenho como provar e ainda vou acabar processado, mas sabemos da participação do departamento jurídico. E agora estamos tentando eliminar o Manuel da Lupa”.

Pela primeira vez, a Lusa admitiu que vendeu a escalação irregular de Héverton em 2013.

Para quem não lembra o caso, aqui vai um breve resumo:

Na última rodada do Brasileirão de 2013, o Flamengo jogou contra o Cruzeiro, num sábado, uma partida que já não valia nada em termos de classificação. Mas o time carioca escalou irregularmente o jogador André Santos e, pelo regulamento, perdeu quatro pontos. A perda desses pontos deixou o time com 45 e acarretaria no rebaixamento do Flamengo, que ficaria um ponto atrás do Fluminense, que tinha 46 e era, até então, o primeiro time dentro da zona de rebaixamento.

No dia seguinte, domingo, a Lusa, que tinha 48 pontos e estava garantida na Série A do ano seguinte, disputava uma partida contra o Grêmio. O time paulistano também escalou um jogador irregularmente – Héverton – foi punido com a perda de quatro pontos e terminou o campeonato com 44, livrando o Flamengo do rebaixamento.

A classificação final do campeonato ficou: Lusa em 17º com 44 pontos, Flamengo em 16º, com 45, e Fluminense em 15º, com 46 pontos.

A imprensa, em peso, defendeu a Lusa, dizendo que a escalação de Héverton havia sido um engano e que não interferira no resultado da partida. A Lusa disse que não havia sido avisada da suspensão do jogador, o que foi desmentido depois pelo Ministério Público, que garantiu que pelo menos seis funcionários do clube sabiam da suspensão.

A perda de pontos e o consequente rebaixamento da Lusa causaram uma comoção. Torcedores fizeram passeata de protesto e diretores do clube reclamaram de uma suposta “perseguição” contra o clube.

Agora, com a confissão de Ilidio Lico – o mesmo que, meses atrás, jurava a inocência do clube - acabou o “coitadismo”. A Lusa não foi vítima de nada, ela simplesmente vendeu sua vaga na Série A, como admite seu presidente.

A reportagem do Yahoo saiu há uma semana. Desde então, venho procurando na imprensa esportiva brasileira a repercussão dessa entrevista, mas não achei quase nada. Ingenuamente, achei que a confissão seria manchete em todos os jornais e noticiários.

Então o presidente de um clube admite a corrupção e fica por isso mesmo? Cadê a torcida da Lusa para protestar? Os torcedores foram prejudicados por uma diretoria desonesta, e não há um protesto sequer?

Mais importante: cadê o Ministério Público, que estava investigando o caso, mas sumiu de repente? Uma confissão dessas não é suficiente para deflagrar uma devassa nas contas de dirigentes?

Quem comprou a diretoria da Lusa? Quanto foi pago? Quem da diretoria se beneficiou?

Será que nossos comentaristas esportivos, que adoram fazer proselitismo e discurso pela moralidade, admitirão que erraram ao defender a Lusa? Cadê a indignação geral?

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o meio da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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DIDI, DEDÉ, MUSSUM E CHRISTOPHER NOLAN

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Esse Christopher Nolan é um fanfarrão. Um poseur.

Seus filmes são todos iguais: besteiróis vendidos com embalagem de profunda divagação existencial. A fórmula é eficiente: empilhe uma cena sem sentido em cima da outra, adicione diálogos supostamente complexos e eruditos, exclua qualquer traço de humor e estenda a gororoba para umas três horas de duração, simulando conteúdo. Depois de algum tempo, nada faz sentido, mas o público confunde tédio com profundidade e acaba achando tudo genial.

“Interestelar” se passa num futuro próximo. Ficamos sabendo que ocorreu uma guerra e que não existem mais exércitos no mundo. Quase todos os cidadãos viraram fazendeiros e plantam milho para abastecer a população.

Coop (Matthew McConaughey) é um ex-piloto da NASA e mora numa fazenda com a filha, Murph, o filho, Tom, e o sogro, vivido por John Lithgow. Por coincidências ridículas demais para detalhar aqui, Coop acaba chefiando uma missão espacial a três planetas desconhecidos, em busca de um novo lugar para abrigar a humanidade.

O mentor da missão é um físico genial, Dr. Brand (Michael Caine), pai de Amelia, uma das companheiras de Coop na empreitada. Amelia (de Amelia Earhart, sacou?) é interpretada - na falta de uma palavra mais adequada - por Anne Hathaway. Ela é um caso raro de cientista que acredita mais no amor – sim, no amor – que na razão, e deve ter passado boa parte de sua formação lendo “Sabrina” em vez de livros didáticos.

Só há um problema: os tais planetas ficam em outras galáxias. Longe pacas. Para chegar lá, Coop, Amelia e amiguinhos precisam penetrar no “Buraco de Minhoca”, uma espécie de atalho no espaço, colocado lá por seres misteriosos chamados apenas de “Eles” (Eles quem? Alienígenas? Deuses? Os roteiristas?).

Fui ver “Interestelar” num cinema de shopping em São Paulo. Lá pela primeira hora de filme, metade da fila estava dormindo ou em vias de. Cogitei ir embora da sessão. De repente, uma coisa fantástica aconteceu: uma cena tão marcante que mudou toda minha perspectiva sobre o filme.

Coop, Amelia e outro Zé Ruela precisavam desembarcar num planeta para ver se o lugar era propício à vida humana. Mas o tal planeta ficava próximo a um buraco negro chamado Gargantua, onde a gravidade faz com quem cada hora fosse equivalente a sete anos de vida na Terra.

O trio deixa a nave-mãe e usa uma navezinha para chegar ao planeta, um lugar coberto de água (Guilherme Arantes já previa!) e onde acontecem mil aventuras. Amelia, em total mode "Perdidos no Espaço", fica presa debaixo de destroços de uma nave e é salva poucos segundos antes de ser varrida por uma onda da altura de um país. O Zé Ruela morre, como é de praxe com coadjuvantes de filmes de ficção-científica, sempre eliminados em ordem crescente de cachês.

Quando voltam à nave-mãe, Coop e Amelia são recebidos por um tripulante, já corcunda e de cabelo branco: “Eu esperei vocês por 23 anos, cinco meses e quatro dias”, diz o neo-velhinho. Parecia um quadro do "Saturday Night Live". Nesse momento, tive um  incontrolável acesso de riso, que durou pelas duas horas seguintes e acordou toda a fileira.

Foi ali que percebi que “Interestelar” é melhor apreciado como filme cômico futurista-trash, na linha de “O Dorminhoco”, de Woody Allen, e “S.O.S. – Tem um Louco Solto no Espaço”, de Mel Brooks. Eureca.

Dali em diante, foi só alegria: frases como “Se o buraco negro é uma ostra, a singularidade é a pérola dentro dela”, “Vamos usar a cúspide como estilingue” e, a melhor de todas,  “Eles criaram um mundo tridimensional dentro da pentadimensionalidade” assumiram novos significados – ou a total ausência deles.

Um parêntese: certa vez, fui entrevistar James Cameron. Eu havia acabado de assistir ao péssimo “Velocidade Máxima 2” e disse a Cameron que o filme todo parecia uma desculpa para o diretor filmar a cena final, em que um navio gigantesco destrói um cais. Cameron disse que era comum cineastas começarem a pensar um filme pelo final. “Só há um problema nisso”, afirmou. “É quando você escreve o filme todo sem fazer muito sentido, só para justificar a cena final”.

Vendo “Interestelar”, lembrei a frase de Cameron. Há várias sequências espetaculosas, claramente pensadas antes de se criar um contexto para elas. A "solução" para a questão central do filme - quem são "Eles" e como atraíram a missão de Coop - é uma delas. Claro que ninguém espera muita lógica de um filme desses - o gênero não é chamado ficção-científica à toa- mas o drama precisa fazer algum sentido, sem apelar a soluções milagrosas para "amarrar" tudo no final.

O roteiro parece um FAQ corporativo: toda frase explica uma pergunta ou charada colocada na frase anterior. E a trama é tão óbvia que todas as “surpresas” são percebidas pelo menos uma hora antes. Vejamos: o filme começa com cenas de entrevistas com velhinhos, que falam de suas vidas no passado. Pouco depois, Coop conversa com a filha e explica como o tempo demora mais a passar nos lugares longínquos que ele vai explorar. “Isso quer dizer que, quando você voltar, você e eu podemos ter a mesma idade?” pergunta a menina.

O resto é com vocês.

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CASA DE FESTEIRO, ESPETO DE PAU

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drunk guy passed out CASA DE FESTEIRO, ESPETO DE PAU

 

Durante quase dez anos, trabalhei com produção de eventos, organizando shows de rock e festas de música eletrônica. E um dos maiores problemas de qualquer produtor é a convivência com vizinhos dos eventos.

Em cidades grandes, achar um local onde o som não atrapalhe ninguém, mesmo em áreas mais afastadas dos centros urbanos, é quase impossível. A solução pode passar pelo pagamento de um hotel para os vizinhos ou a contratação deles para trabalhar nos eventos. Em casos mais “amigáveis”, um convite para o show e umas fichas de vodca com energético costumam resolver a parada.

Parei de trabalhar com eventos há cinco anos, mas continuo sofrendo com barulho de festas. Agora, no papel de vizinho.

Até um ano atrás, morávamos numa casa colada a uma chácara, e o dono da chácara começou a alugar o local para eventos. A maioria eram festinhas tranquilas – pequenos casamentos e aniversários – mas alguns foram duros de aguentar, incluindo um show do Calcinha Preta e uma rave que durou até 9 da manhã.

Nunca reclamamos ou ligamos para a polícia. Conheço os dois lados – o do produtor e o do vizinho – e acredito que possa haver uma solução tranquila. Só pedi ao sujeito que nos avisasse sobre as festas com antecedência, para que pudéssemos nos preparar, quem sabe dormindo na casa de algum amigo. Mas nem isso ele fez. Certa noite, estávamos tranquilos em casa, quando começou um bate-estacas altíssimo, um poperô infernal de “technejo”, mistura diabólica de sertanejo universitário com música eletrônica.

O som era pavoroso, mas o pior era o mestre de cerimônias, que ficava urrando coisas como “Uhuuuuuuu! Vamos botar pra f....!” e passando singelos recados de “correio elegante”, como “Alô, Renatinha da Patitiba, um recadinho do Pepeu: ele quer te comer todinha!”

Lá pelas três da manhã, decidimos ligar para a polícia e pedir que baixassem o som. Mas desistimos assim que o MC anunciou: “Queremos agradecer a presença de uma pessoa muito especial... O PREFEITOOOOOO!!!!! Palmas pra ele!”

Pouco tempo depois, mudamos para nossa atual casa, num lugar bem mais afastado. Nosso vizinho é a pequena pousada de uma amiga, cujo quintal é contíguo ao nosso. A paz reinava.

Digo “reinava” porque, há algumas semanas, o lugar foi alugado para o casamento de uma brasileira com um gringo. Desconfiamos que a festa ia ser de arromba quando um dos organizadores veio até nossa casa, nos presenteou com um espumante e disse que a noiva estava muito preocupada em não atrapalhar os vizinhos. Agradecemos, desejamos feliz casamento pra eles e só pedimos que o som fosse diminuído depois de uma da manhã.

Claro que isso não aconteceu. Foi o contrário: depois de duas da manhã, o lugar entrou em erupção, com um techno altíssimo e gritos de júbilo emanando da pista, que ficava a menos de 20 metros da nossa sala.

De manhã, pudemos comprovar que a festa tinha sido, de fato, muito boa: um sujeito estava desmaiado na areia da praia, com uma fileira de baba seca escorrendo pela boca. Meus filhos riram muito. O som não parara um minuto sequer.

Encontrei o zelador da pousada, um sexagenário matuto que mora no meio da roça e vive contando histórias envolvendo onças, cobras e outros animais selvagens que habitam seu quintal. O sujeito estava impressionado: “Menino, vi coisas que não sabia nem que existiam! Foi um tal de homem com homem, mulher com mulher, gente saindo de arbusto... Vi até a noiva entrando no mato com umas amigas!”

Por volta do meio-dia, como o som continuava ensurdecedor, fui até a pista pedir ao DJ que diminuísse o volume. O sujeito estava de sarongue e com um turbante na cabeça. Não havia ninguém na pista. Os festeiros se espalhavam pela praia. Reconheci várias pessoas de festas em São Paulo. O DJ, um mala que deve se achar o Tiesto, disse que não podia diminuir o som, mesmo que ninguém estivesse dançando, e chamou o noivo. O gringo chegou, com um olho no Oiapoque e outro no Chuí: “Desculpe, mate, nós perdemos o controle”, disse, antes de prometer que diminuiria o som assim que caísse a noite (detalhe: a festa já se arrastava há 14 horas e continuaria por mais dez). E cumpriu a promessa.

Que seja muito feliz com sua esposa.

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GALO E CRUZEIRO PERDEM A CHANCE DE FAZER HISTÓRIA

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dasdsa GALO E CRUZEIRO PERDEM A CHANCE DE FAZER HISTÓRIA

Atlético Mineiro e Cruzeiro entram em campo hoje, no Estádio Independência, para a primeira partida da final da Copa do Brasil. Nada mais justo: são os dois melhores times do país nos últimos dois anos e devem fazer uma final maravilhosa.

Quer dizer, farão uma final maravilhosa dentro do campo, porque, nas arquibancadas, será uma tristeza só. Os times resolveram dar ao adversário apenas 10% dos ingressos de cada jogo. Como a polícia reduziu ainda mais a lotação máxima do estádio para o jogo de hoje, o Cruzeiro, que teria pouco mais de 1800 ingressos, abriu mão de sua cota. Ou seja: a partida só terá torcedores do Atlético.

Galo e Cruzeiro perderam uma chance de ouro: poderiam celebrar sua rivalidade histórica com um show de civilidade e diplomacia e dar ao país uma demonstração do espírito festivo que o futebol brasileiro vem perdendo nas últimas décadas.

Imagine uma final em dois jogos, com torcidas divididas? Seria um espetáculo lindo, possivelmente o mais bonito da história desse clássico, já que os times nunca disputaram entre eles uma final de campeonato de nível nacional.

Seria, principalmente, uma reação forte à covardia e incompetência que tem acometido o futebol brasileiro nos últimos tempos, em que a solução para diminuir a violência nos estádios passa pela proibição da presença de torcedores.

Qualquer um que já tenha visto um clássico com torcida dividida, seja no Rio, em São Paulo ou eu Minas, sabe que não há nada igual.

Infelizmente, as novas gerações de torcedores já se acostumaram com essa barbaridade de jogos de torcida única ou desigualmente divididas, e nunca sentiram a emoção de torcer num estádio lotado e dividido. O futebol virou refém da violência das organizadas. A solução, como sempre, é a mais fácil para a polícia e autoridades: em vez de prender os delinquentes, proíbe-se a torcida.

Há alguns dias, 87 torcedores de organizadas foram presos antes do jogo Galo x Flamengo, em Belo Horizonte, por causa de brigas. Quantos ainda estão presos? Quantos foram fichados e não poderão assistir mais a jogos de seus times?

Enquanto isso ocorrer, a solução mais fácil e conveniente é mesmo fazer jogos de uma torcida só. Estamos criando uma geração de torcedores que não sabem torcer e que não gostam de ir ao estádio.

E, por favor, não venham me dizer que jogo de torcida dividida é perigoso. É só contar o número de mortos e feridos em jogos de torcida 90/10 para ver que os bandidos que tomaram as organizadas agem independentemente da divisão de público. A solução é prender esses caras e deixar os estádios para quem gosta de futebol. Funcionou por uns 70 anos e pode funcionar de novo. Basta competência e boa vontade do poder público.

 

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E AÍ, HADDAD, QUANDO VAI DESPEDIR SEU SECRETÁRIO DE ESPORTES?

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ok E AÍ, HADDAD, QUANDO VAI DESPEDIR SEU SECRETÁRIO DE ESPORTES?

O noticiário e as redes sociais estão lotados de comentários estúpidos, frases sem sentido, boatos e bravatas. O tsunami de bobagens é tão grande, que quando uma frase realmente importante é dita, poucos percebem.

Veja, por exemplo, a declaração do Secretário de Esportes de São Paulo, Celso Jatene, citada em reportagem de Camila Mattoso, da ESPN. Segundo o Secretário – que é vereador e foi indicado à Secretaria pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad - jogos de futebol deveriam ter uma torcida só:

“Eu defendo a torcida do mandante. A torcida do adversário tem que assistir ao jogo em casa, na televisão. O primeiro jogo do Palmeiras na Arena do Corinthians levou 2200 torcedores do Palmeiras, nenhum santo, porque santo não vai nesse jogo. Foram mobilizados 550 policiais militares para acompanhar esse grupo. Isso não existe", disse Jatene, em evento no clube Monte Líbano, em São Paulo, sobre o legado da Copa do Mundo.

"A gente mora em uma cidade que tem gente que não sai de casa com medo de ser assaltado, que tem gente que usa carro blindado, e a gente mobiliza 550 policiais para ter torcida adversária no campo do mandante? Vai assistir ao jogo em casa. Hoje em dia, é uma ilusão achar que o torcedor do Corinthians vai sentar ao lado do torcedor do São Paulo, que eles vão no mesmo metrô juntos. Não vão. O futebol de clube tomou outro rumo. Não vai fazer a menor diferença três mil caras no estádio. Os profissionais estão lá, vão jogar do mesmo jeito. Até que as torcidas voltem a se comportar, tem de ser assim".

Deixa ver se entendi: um funcionário público, cuja missão é incentivar a prática esportiva na cidade, recomenda aos torcedores que fiquem em casa? É isso?

Fôssemos um país mais sério, Jatene teria sido demitido no ato.

Sua declaração é emblemática do modus operandi de nossos políticos: diante de um problema, tome sempre a saída mais fácil: proíba qualquer coisa que atrapalhe, mesmo que isso impeça torcedores de usufruir o direito de acompanhar o seu time.

É revoltante saber que a autoridade máxima do esporte da cidade de São Paulo disse uma barbaridade dessas. Mostra que o dinheiro de nossos impostos não vale nada. Não temos capacidade de fazer um jogo de futebol e ainda temos de ouvir, da boca da pessoa que deveria promover o esporte na cidade, que a  saída é "ficar em casa". É um escárnio.

Jatene acaba de decretar diversas falências: em primeiro lugar, a falência do próprio governo que representa, incapaz de garantir ao cidadão o direito de ir e vir; em segundo lugar, a falência da civilidade, já que, segundo o Secretário, torcedores não têm sequer a capacidade de tomar o metrô juntos; e, finalmente, a falência de nosso futebol, dominado por torcedores profissionais e políticos amadores.

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UM FILME QUE DEIXA “INTERESTELAR” COMENDO POEIRA CÓSMICA

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Que “Interestelar” que nada. O Telecine Cult exibe hoje, às 22h, um filme com um roteiro bem mais inteligente, atores menos caricatos e uma visão mais humana e profunda sobre a exploração espacial: “S.O.S.: Tem um Louco Solto no Espaço” (1987), de Mel Brooks.

 

 

Uma “homenagem” a “Guerra nas Estrelas” e a vários outros clássicos da ficção espacial, “S.O.S.” tem Bill Pullman no papel de Luke Skywalker (Capitão Lone Star”), o saudoso John Candy fazendo Chewbacca (chamado “Barfolomew”) e o sumido Rick Moranis, um metro e meio de pura travessura, como Darth Vader (“Dark Helmet”).

Sem contar Dom De Luise como Jabba (“Pizza the Hutt”), a recém-falecida Joan Rivers dando voz à máquina Dot Matrix, e o próprio Mel Brooks como Yoda (“Yogurt”). E sem esquecer a gatíssima Daphne Zuniga como a Princesa Vespa.

Não revejo “S.O.S.” há uns 20 anos, mas algumas cenas são inesquecíveis: a abertura, com a nave tão imensa que nunca termina, é demais, assim como a participação de John Hurt (o que é aquele bicho saindo de sua barriga, Alien-style?) e a batalha final de espadas de luz entre Lone Starr e Dark Helmet, um dos momentos mais patéticos da história da ficção-científica, superado apenas pela astronauta Anne Hathaway defendendo a superioridade do amor sobre a razão em “Interestelar”.

Vale a pena ver o filme também para lembrar Rick Moranis, sumido das telas desde o fim dos anos 90, depois que a esposa morreu de câncer.

“S.O.S.” é estúpido? Claro que é. É ridículo? Com certeza. Mas “Interestelar” também é, com o agravante de se levar a sério.

Bom fim de semana a todos.

 

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PINK FLOYD: FOI BOM ENQUANTO DUROU

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Chegou às lojas “The Endless River”, o 15º - e, segundo relatos, último - disco de estúdio do Pink Floyd. Ou melhor: do que restou do Pink Floyd.

Na verdade, o disco é um apanhado de sobras de estúdio de “The Division Bell” (1994), o último LP em que integrantes do Floyd efetivamente se juntaram para gravar.

David Gilmour (guitarra/voz) e Nick Mason (bateria) vasculharam mais de 20 horas de gravações e contaram com a ajuda dos produtores Phil Manzanera (ex-Roxy Music), Youth (Killing Joke) e Andy Jackson para chegar às 18 canções – 17 delas instrumentais – que compõem o novo disco, uma homenagem ao tecladista da banda, Rick Wright, morto em 2008. Veja o clipe da única canção com vocais, “Louder than Words”:

 

 

“The Endless River” é bonito e etéreo, uma coleção de sons “ambient” que não faria feio na trilha sonora de um filme de Sofia Coppola. Mas será que alguém vai ouvir o disco daqui a um ou dois anos? Aposto que não. Porque o Pink Floyd, de verdade, acabou há muito tempo.

Quando alguém me pergunta se gosto do Floyd, sempre respondo: “Depende. De qual deles?”

Para mim, a banda teve quatro encarnações distintas. A primeira durou de 1965 a 1968, quando Syd Barrett reinava e o Floyd lançou uma obra-prima da lisergia, “The Piper at the Gates of Dawn” (1967), gravado no mesmo estúdio em que outra bandinha talentosa criava um tal de “Sgt. Pepper’s” (Macca até dividiu um baseado com Syd enquanto ouvia, maravilhado, “Astronomy Domine” e “Lucifer Sam”).

Mas Syd não segurou a onda, e sua psique frágil despedaçou sob montanhas de ácido e pilhas de Mandrax (o nosso Mandrix) que ele esmagava, misturava a creme capilar e besuntava na cabeça para ser mais rapidamente absorvida pelo cérebro sob a luz forte dos refletores dos shows (só para ter uma ideia da loucura, é um remédio semelhante ao que deixa Leonardo DiCaprio catatônico em "O Lobo de Wall Street"),

Sem Barrett, o Floyd perdeu qualquer traço de humor, alegria e concisão. Dali em diante, o mundo deles foi uma escuridão só. E nenhuma banda foi tão grande cantando sobre temas tão lúgubres como paranoia, ganância, isolamento, esquizofrenia, alienação, solidão e morte.

A segunda fase do Floyd durou até mais ou menos 1975 e é, para mim, o auge deles. A sequência de “Meddle” (1971), “The Dark Side of the Moon” (1973) e “Wish You Were Here” (1975)  é matadora. Foi a única fase em que o Floyd foi,  de fato, uma “banda”, dividindo créditos, deixando os egos de lado e trabalhando em conjunto.

Hoje, “The Dark Side of the Moon” é um ícone do rock de arena, um disco tão marcante e poderoso que simboliza o gigantismo e a pretensão do pop, contra os quais o punk se insurgiria logo depois. Mas é preciso lembrar que, em 1973, ninguém achava que um disco tão sombrio e triste poderia ser um sucesso. Concebido como um experimento temático, sonoro e estético, TDSOTM surpreendeu até a própria banda, que não esperava um colosso daqueles.

O álbum seguinte, “Wish You Were Here”, foi o momento sublime do Floyd. É um disco atípico de uma banda que nunca tinha aberto seu coração daquela maneira. O LP é um tributo a Barrett e tem as duas peças mais comoventes gravadas pela banda, “Shine On You Crazy Diamond” e “Wish You Were Here” – esta acaba com meu dia toda vez que ouço, e está no meu top 5 da música pop em todos os tempos...

 

 

Durante a gravação de “Shine on You Crazy Diamond”, um sujeito gordo, careca e sem sobrancelhas entrou no estúdio de Abbey Road, onde o Floyd gravava. O tecladista Rick Wright perguntou quem era. “Sou o Syd!”. Ninguém o reconhecera. Syd passou alguns minutos no estúdio, falando frases sem sentido, e foi embora. Nenhum dos integrantes do Pink Floyd o viu de novo. Syd Barrett morreu em 2006.

Logo depois do triunfo de “Wish You Were Here”, David Gilmour começou a perder interesse na banda e gravou um disco solo, deixando o terreno livre para que Roger Waters tomasse conta da bagaça. E Waters transformou a maior banda do mundo em seu projeto pessoal, lançando três discos ambiciosos, panfletários e autoindulgentes: “Animals” (1977), “The Wall (1979) e “The Final Cut” (1983), em que destilava uma visão orwelliana e cinza do Ocidente. As vendas foram monstruosas, os shows viraram Las Vegas, e o Floyd, “a” banda da contracultura londrina, se transformou no establishment, em mais um tijolo na parede. Foi a terceira encarnação do grupo: a do ditador Waters.

Mas a vingança de David Gilmour não tardaria: no meio dos anos 80, Waters deixou a banda e processou seus ex-companheiros para que não usassem o nome Pink Floyd. Não deu certo. Foi a vez de Gilmour tomar as rédeas e fazer do Floyd sua banda de apoio, lançando três discos nos últimos 30 anos – “A Momentary Lapse of Reason” (1987), “The Division Bell” (1994) e este “The Endless River”. Mas, a essa altura, o Pink Floyd, que sempre foi mais que a soma de suas partes, já estava morto e enterrado.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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“DÉBI E LÓIDE”: QUANDO A PIADA ENVELHECE

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Sou muito fã de Jim Carrey e sempre o achei melhor que seus filmes. Suas apresentações de "stand up" e aparições em cerimônias de premiação são antológicas (veja esta, entregando um prêmio a Clint Eastwood)

 

 

Estava torcendo muito para gostar de "Débi e Lóide 2". O primeiro filme, feito 20 anos atrás, é um besteirol irresistível, daqueles que revejo sempre. E a química entre Carrey e Jeff Daniels era perfeita.

Mas o filme novo é uma decepção. Claro, tem meia dúzia de piadas ótimas - a melhor, envolvendo uma confusão entre "remetente" e "destinatário" num envelope - mas, no geral, pareceu requentado e sem graça, com muitas cenas mortas e desanimadas.

Foi a primeira vez que achei Jim Carrey sem graça e sem "timing". Ele parece ter perdido um certo espírito anárquico e explosivo que caracteriza suas melhores atuações. Parecia cansado.

O filme me fez pensar em como a comédia tem prazo de validade. Não consegui lembrar um caso de ator cômico - especialmente os de comédia física, como Carrey - que melhorou com o tempo. Também não lembrei um comediante sequer que fez seus melhores filmes depois dos 50 anos de idade.

Todos os meus prediletos - Keaton, Totò, Groucho, Pryor, Sellers, Eddie Murphy, Jerry Lewis, Steve Martin - fizeram seus grandes filmes até os 40 (Groucho talvez um pouco mais tarde, mas sempre foi mais um cômico do verbo do que da ação).

Todo comediante diz que fazer comédia é extenuante. Na autobiografia de Steve Martin, "Born Standing Up" (saiu no Brasil com o título "Nascido para Matar... de Rir"), ele diz: “Fiz ‘stand up’ por 18 anos. Os dez primeiros , passei aprendendo, os quatro seguintes aperfeiçoando meu número, e os quatro últimos, ficando rico." Ou seja: Martin levou 14 anos para aperfeiçoar sua arte. Não é mole.

Vendo Carrey requentando suas caras e bocas em "Débi e Lóide 2", fiquei com a impressão de que ele nunca vai conseguir replicar a energia maníaca e anárquica de "O Mentiroso", por exemplo. Veja isso e compare:

 

 

Uma dica: se for ver o filme, evite, a todo custo, o buraco chamado Kinoplex São Luiz, no Rio. A projeção parecia de VHS e o projecionista conseguiu deixar a imagem fora de quadro por 15 minutos, até eu sair da sala e alertar um funcionário. Isso sem contar a família tirando fotos COM FLASH dentro da sessão e a fila toda fazendo "selfies" e batendo papo durante o filme. Infernal.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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QUEM QUER CANTAR NO JOURNEY?

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Alguns documentários musicais são tão bons que você não precisa nem gostar da música dos artistas para se interessar.

Acho que nunca ouvi um disco inteiro do grupo canadense de metal Anvil, mas o filme "The Story of Anvil" (2008), de Sacha Gervasi, é um dos melhores documentários que já vi. Perdi o interesse na música do Metallica no início dos anos 90, mas adoro "Some Kind of Monster" (2004), de Joe Berlingner e Bruce Sinofsky, sobre as gravações do disco "St. Anger" e a fricção interna da banda.

Dia desses, vi um filme sobre uma banda que nunca me interessou: "Don't Stop Believin': Everymans's Journey", de Ramona Diaz, sobre o grupo americano Journey. O filme está passando no canal Sundance (aliás, que ótima adição ao repertório de nossa TV a cabo, não?) e merece ser visto (sugiro checar a programação; a próxima exibição está marcada para quinta, mas não consegui descobrir o horário).

 

 

O documentário conta a história de Arnel Pineda, um cantor filipino que ganhava a vida se apresentando em boates vagabundas de Manila, quando foi visto no Youtube pelo guitarrista  do Journey, Neal Schon, e convidado a participar de uma audição para a banda. Pineda acaba contratado como novo vocalista do Journey.

O filme tinha tudo para virar um desses contos de fadas moderno - rapaz pobre do Terceiro Mundo realiza o sonho de virar popstar milionário - mas, felizmente, é muito mais que isso: é um relato informativo e bem feito sobre os bastidores de uma famosa banda pop e sua politicagem interna.

O Journey é um dos grandes expoentes do rock comercial da virada dos anos 70 para os 80 - chamado por alguns de soft rock - junto a nomes como Foreigner, Styx, REO Speedwagon, Chicago, Kansas, Toto e outros.

No filme, o próprio Neal Schon conta que o Journey - formado por alguns membros da banda de Santana - começou como um grupo de longas jams instrumentais, na linha do Grateful Dead, mas resolveu mudar de estilo por imposição da gravadora. "A CBS nos deu um ultimato: ou vocês começam a fazer música comercial, com ênfase nos vocais, temas 'pra cima' e apelo radiofônico, ou serão demitidos".

Schon e cia. não pensaram duas vezes: abandonaram qualquer pretensão artística mais séria e se dedicaram a fazer a música mais inócua, apelativa e inofensiva possível. E tome tecladinhos "futuristas", refrães bombásticos, a voz aguda e irritante de Steve Perry e letras sobre superação pessoal, que viraram hinos na América careta de Reagan. A definição imortal de Ezequiel Neves para o rock progressivo - "som de penteadeira de bicha" - cairia como uma luva no Journey.

E que ninguém pense que essa guinada ultracomercial do rock foi um fenômeno espontâneo. Na verdade, foi a culminação de um processo de "profissionalização" das gravadoras, iniciado em meados dos anos 70, que resultou no fenômeno da discoteca, do soft rock, e culminou nos superastros da "Era Michael Jackson". A música acompanhou a onda conservadora e corporativista que varreu os Estados Unidos e Europa no início dos 80.

Voltando ao filme, ele motra como a chegada de Pineda causou estranheza nos fãs do Journey - 99% brancos (aliás, não vi um negro sequer na plateia de nenhum dos shows mostrados). Uma fã, entrevistada na entrada de um concerto, diz que "preferia ver um americano cantando".

Também fica claro que a contratação dele foi uma estratégia de marketing para atrair novos fãs asiáticos. "É impressionante a quantidade de filipinos e asiáticos que têm vindo a nossos shows", diz Schon, empolgado. "Não sabia que havia tantos filipinos nos Estados Unidos".

Mas o melhor do filme são as cenas de bastidores: o tecladista Jonathan Cain e Pineda aquecendo as vozes na "sala de preparação vocal"; o empresário da banda contando como o Journey estava batendo as bilheterias de pesos-pesados como Jonas Brothers e The Police; Pineda quase chorando ao encontrar, nos camarins, Jason Scheff, baixista e cantor da banda Chicago.

São instantâneos da vida na estrada e que mostram um pouco dos bastidores de uma banda grande e comercial.

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