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“JOGOS VORAZES” E ROCK IN RIO: O TRIUNFO DO “EVENTO-MANADA”

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jaredleto JOGOS VORAZES E ROCK IN RIO: O TRIUNFO DO EVENTO MANADA

O Brasil tem pouco mais de 2800 salas de cinema. Dessas, 1310, ou 46%, estão exibindo "Jogos Vorazes".

No mesmo dia em que estreou o filme, terça-feira, ocorreu outro fenômeno comercial de proporções impressionantes: em menos de duas horas, o primeiro lote de 100 mil ingressos do Rock in Rio foi inteiramente vendido.

Os sucessos de "Jogos Vorazes"  e do Rock in Rio simbolizam o triunfo de um estilo de promoção de eventos que vem se consolidando no mundo. Não sei se alguém sugeriu um nome para esse tipo de ação, então ofereço uma sugestão: "evento-manada".

O conceito do "evento-manada" é simples: use todo seu poder de fogo — corporativo, midiático e financeiro — e ocupe todos os espaços possíveis, não deixando nada para a concorrência; transforme seu evento em algo tão desejado, mas tão desejado, que desperte no consumidor a sensação de que, se ele não for, será uma derrota pessoal, uma humilhação reservada a fracassados. Incentive, de todas as formas, a "manada".

As distribuidoras de cinema, tendo nas mãos uma arma poderosa como "Jogos Vorazes", sabem fazer isso como ninguém, e promovem uma blitzkrieg nas salas de todo o país, cientes de que o fã desse tipo de filme — aventura mágica para adolescentes — costuma madrugar nas filas para ser o primeiro a ver e assim poder gabar-se para os colegas e dar seus pitacos nas redes sociais.

Não tenho nada contra quem assiste a "Jogos Vorazes" ou quem vai ao Rock in Rio. Acho que o consumidor é esperto e sabe escolher o que o agrada.

Pessoalmente, só verei "Jogos Vorazes" a trabalho, e achei o Rock in Rio de 2013 o pior evento musical que presenciei, uma Disneylândia corporativa em que as pessoas pareciam mais preocupadas em pular de tirolesa ou ganhar brindes de uma marca de carros do que em ouvir música.

O próprio "dono" do Rock in Rio, Roberto Medina, admite que a música não é o foco principal de seu evento. Questionado sobre a diferença entre o Rock in Rio e outros festivais, Medina disse: "Somos um projeto de comunicação, enquanto os outros são eventos com bandas."

Nem o fato de o festival só ter anunciado três atrações — Katy Perry, John Legend e System of a Down, convenhamos, nenhuma de cair o queixo — esfriou o ânimo dos compradores.

O Rock in Rio não é o único festival do mundo que vende ingressos antes de anunciar o line-up. Esses dias, meu festival favorito, o Austin Psych Fest, festival da música psicodélica de Austin, no Texas (evento que em 2015 vai mudar de nome para "Levitation") anunciou o início das vendas, sem ter divulgado um artista sequer.

Da mesma forma, quem quiser assistir ao festival All Tomorrow's Parties na Islândia, em julho de 2015, já pode comprar o ingresso, mesmo que só uma atração — o Belle & Sebastian — tenha sido anunciada.

Nos dois casos, aposto que as vendas antes do anúncio do line-up serão significativas. O público desses festivais confia na curadoria e sabe que a seleção de artistas será boa e surpreendente. Já o público do Rock in Rio espera exatamente o oposto: que não haja nenhuma grande surpresa. É mais do mesmo, e viva a mesmice!

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MENSAGEM NA GARRAFA

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bottle message MENSAGEM NA GARRAFA

 

Não sei como o assunto começou, se ela ouviu em alguma história ou viu em algum filme, mas o fato é que, há algumas semanas, nossa filha perguntou o que era uma "mensagem na garrafa".

Expliquei o conceito: você escreve uma carta, põe dentro de uma garrafa, tampa a garrafa e a joga no mar, na esperança de que alguém a encontre e responda à mensagem. Ela ficou fascinada.

Decidimos testar esse método antiquado de comunicação: nossa filha, que tem seis anos e ainda não é alfabetizada, ditou uma cartinha em que se apresentava, falava de sua vida, do que gostava de fazer ("colecionar conchas, pescar e brincar com as amigas") e pedia à pessoa que encontrasse a garrafa que respondesse para nosso e-mail. Para finalizar, juntou à carta um bonito desenho, mostrando ela própria jogando a garrafa ao mar. Achamos uma rolha, tampamos a garrafa e a lançamos no mar. Isso foi há seis semanas.

Depois, pegamos uma tábua de marés e estudamos os possíveis trajetos da garrafa, para tentar calcular onde ela poderia parar. A primeira pergunta de nossa filha foi: "Mas e se a pessoa que achar a garrafa não falar português? Ela não vai entender a carta, né?"

As semanas passaram, e acabamos esquecendo a mensagem na garrafa. De vez em quando, ela lembrava e perguntava onde a garrafa estaria. Na África? Nos Estados Unidos? No Japão? "Ninguém respondeu à mensagem ainda, mamãe?"

Nas últimas duas ou três semanas, o assunto foi completamente esquecido em casa.  A garrafa certamente estaria boiando em algum canto perdido do mar, sem ter sido encontrada por ninguém.

Há três dias, minha mulher abriu o e-mail e deu um grito de espanto: "Não é possível! Olha isso!"

Era uma mensagem de Paulo Rogério, um ambientalista do Inea. Ele havia encontrado a garrafa e mandou uma bonita mensagem para nossa filha, elogiando o desenho dela e sugerindo que ela se juntasse com as amiguinhas para fazer mutirões de limpeza nas praias.

Nossa filha ficou extasiada. Mesmo sem saber ler, passou um tempão olhando para o e-mail de Paulo, e pediu que o repetíssemos umas vinte vezes. Tão emocionada e surpresa estava, que esqueceu de perguntar onde a garrafa havia sido encontrada. Na verdade, Paulo achou a garrafa em um mangue, a menos de um quilômetro de nossa casa.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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“RELATOS SELVAGENS”: ARGENTINA 7 X 1 BRASIL

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Após a sessão, na mesa do restaurante, a questão era uma só: por que o cinema brasileiro não consegue fazer um “Relatos Selvagens”?

Na teoria, o filme poderia tranquilamente se passar no Brasil. Afinal, os temas são nossos velhos conhecidos: tensão social, preconceito de classe, burocracia, corrupção, violência, rivalidade entre pobres e ricos...

Mas “Relatos Selvagens” é o tipo de filme que raramente vemos por aqui: aquele que consegue respeito da crítica e sucesso de público.

Não acho que nosso problema seja falta de talento. Apesar de considerar o cinema argentino, na média, mais bem escrito e bem acabado que o nosso, temos muita gente talentosa fazendo cinema e TV no Brasil. Acho que o que nos impede de ter filmes bons e populares é a forma esquizofrênica como nosso cinema é financiado.

Digamos que um cineasta ousado tivesse uma ideia genial para fazer uma comédia negra como “Relatos Selvagens”. Quem iria financiá-lo? Mais importante: quem iria assistir ao filme?

A primeira pergunta é fácil responder: ninguém.

Hoje, quem manda no cinema brasileiro são diretores de marketing de grandes empresas privadas, que usam o nosso dinheiro para divulgar suas marcas. É uma situação ridícula e revoltante.

Para quem não sabe como funcionam as leis de incentivo, aqui vai uma rápida explicação: o governo permite que empresas usem uma parte do imposto devido – ou seja, dinheiro público - em projetos culturais. Só que as empresas podem escolher os projetos em que desejam colocar o nosso dinheiro. Resumindo: O financiamento é público, mas a seleção de projetos é privada.

E que empresa vai querer associar sua marca a um filme perverso e sombrio como “Relatos Selvagens”? Nenhuma. Até porque muitas delas já produzem seus próprios projetos – shows, festivais, concursos, filmes, etc. – usando essa boiada. E tome Rock in Rio, Cirque de Soleil, Claudia Leitte e Maria Bethânia recebendo verba pública para projetos privados.

A segunda pergunta – “Quem vai assistir ao filme?” – também é crucial.

Na Argentina, que tem uma população cinco vezes menor que a do Brasil, “Relatos Selvagens” vendeu 3,4 milhões de ingressos. Foi o filme mais visto de 2014 e é, junto com “Titanic”, o único filme que não é desenho animado a superar os 3 milhões de espectadores.

No Brasil, dos dez filmes nacionais mais vistos de 2013, oito eram comédias deprimentes como “Minha Mãe é uma Peça”, com Paulo Gustavo, “Meu Passado me Condena”, com Fábio Porchat, e “De Pernas Pro Ar 2”, com Ingrid Guimarães. Os outros dois eram filmes da grife Legião Urbana: “Somos Tão Jovens” e “Faroeste Caboclo”. Não é lá uma situação muito otimista.

Dos 20 filmes mais vistos no país no primeiro semestre de 2014, o único que não era feito para crianças e adolescentes, uma comédia estilo “Zorra Total” ou filme de tema religioso foi “O Lobo de Wall Street”, em 20º lugar.

Ou seja: mesmo que algum brasileiro fizesse um filme adulto e importante como “Relatos Selvagens”, haveria alguém para assisti-lo?

Ano passado, Kleber Mendonça Filho dirigiu o elogiadíssimo “O Som ao Redor”, um filme que, estilisticamente, não tem nada a ver com “Relatos Selvagens”, mas trata de temas semelhantes e tem uma abordagem igualmente crítica. Não estou comparando os filmes - aliás, gostei dos dois - mas acho que vale colocar os números de bilheteria lado a lado para termos uma ideia do abismo que parece existir entre os públicos argentino e brasileiro.

Os 3,4 milhões de ingressos vendidos na Argentina equivaleriam, numa população de 200 milhões como a brasileira, a 17 milhões de ingressos. E “O Som ao Redor” fez pouco mais de 94 mil ingressos, ou seja, 0,55% da bilheteria de “Relatos Selvagens”. Uia.

“Relatos Selvagens” não foi concebido para ser um “blockbuster”. Não é um filme de ação, como "Cidade de Deus" ou "Tropa de Elite" - só para citar dois filmes brasileiros adultos e de muito sucesso - e poderia muito bem ter atraído só um pequeno público ligado em filmes mais alternativos. Mas o público argentino abraçou o filme de tal maneira que o tornou um fenômeno.

No Brasil, filmes menos comerciais são relegados a poucas salas e quase sempre morrem no parto. O que leva à pergunta: o que aconteceria com “Relatos Selvagens” se fosse uma produção brasileira?

Posso estar enganado, mas acho que faria 100 mil espectadores e sairia de cartaz para abrir espaço para as 1300 cópias de “Jogos Vorazes”.

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PETROBRAS: FINALMENTE, UMA BOA NOTÍCIA

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ds PETROBRAS: FINALMENTE, UMA BOA NOTÍCIA

No meio do lamaçal de denúncias e revelações sobre a corrupção na Petrobras, uma boa notícia: O dono da empreiteira UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, disse à PF que mantinha "contato mais próximo" com arrecadadores de doações para campanhas eleitorais do PT, representado pelo tesoureiro João Vaccari Neto, e do PSDB, por meio de um certo "doutor Freitas".

Pessoa, é bom lembrar, foi apontado por outros donos de empreiteiras como coordenador do “clube” de empreiteiras que mantinha negócios escusos com a Petrobras.

Torço muito para que novas revelações sobre a Petrobras mencionem tanto o governo quanto a oposição. Assim, com TODO MUNDO coberto de lama, talvez a discussão deixe de ser tão partidarizada.

O que vem acontecendo nas últimas semanas é que o tema da corrupção na Petrobras tem ficado em segundo plano. O que importa, tanto para petistas quanto para tucanos, é usar as denúncias para atacar o outro.

Tucanos querem nos fazer acreditar que a roubalheira na empresa começou em janeiro de 2003, com a posse de Lula. E petistas fingem viver num mundo de faz de conta, em que Lula e Dilma são dois Noviços Rebeldes que não sabiam de nada e foram pegos completamente de surpresa pelas denúncias de corrupção.

Quer dizer que ninguém achou estranho uma refinaria em Pernambuco quintuplicar de valor? E agora que um ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, aceitou devolver 252 milhões de reais que afanou, Dilma não vai assumir, no mínimo, que foi negligente e incompetente em sua passagem de sete anos pelo Conselho da Petrobras?

A partidarização do tema tem criado situações ridículas. Vi gente que costumava chamar Paulo Francis de reacionário louvando o jornalista como um gênio visionário por ter dito, em 1997, que diretores da Petrobras mantinham contas secretas na Suíça (a empresa processou Francis em 100 milhões de dólares, e o jornalista morreu de um ataque cardíaco, em Nova York). Reveja:

Também tenho lido declarações delirantes sobre o papel das empreiteiras no atual governo, que dão a entender que as bandalheiras de licitações forjadas, superfaturamentos e desvios começaram com Lula. E as megaobras da época da ditadura, ninguém lembra?

De minha parte, vou ficar quietinho aqui no canto, torcendo para que novas denúncias emporcalhem todo mundo. Mas não me empolgo: esses dias, deve ser confirmado no TCU o senador Vital do Rego (PMDB) no lugar aberto pela aposentadoria de José Jorge. Está pintando uma imensa pizza. De lama.

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A RESSURREIÇÃO DE NICK DRAKE

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Há 40 anos, Nick Drake dormiu e não acordou mais.

Em 25 de novembro de 1974, a mãe de Nick, Mary, foi despertar o filho e o encontrou morto na cama. Nick tinha 26 anos.

Na verdade, Nick havia desistido da vida uns dois anos antes, deprimido pelo fracasso comercial de seu terceiro disco, “Pink Moon”, e por sua total incapacidade de amar e sentir-se amado. Para escapar, fumava quantidades surreais de maconha e tomava montanhas de antidepressivos. Foi uma overdose de antidepressivos que o matou. Ninguém sabe se acidentalmente ou não.

Tirando parentes e alguns poucos admiradores, a morte de Nick Drake passou em branco. Tanto que seu obituário só foi publicado pelo semanário “New Musical Express” mais de dois meses depois, em fevereiro de 1975.

Também, que obituário: “Réquiem para um Homem Solitário” (leia aqui) de Nick Kent, é um dos textos mais bonitos escritos sobre a carreira breve e silenciosa de Nick Drake. A eulogia de Kent – o primeiro artigo mais profundo sobre a música de Drake – fez com que muita gente descobrisse o cantor após sua morte.

Entre os jovens que leram o artigo estava um certo Robert James Smith, então prestes a completar 16 anos. Robert ficou obcecado pela música de Nick Drake, especialmente pela canção “Time Has Told Me”, que abria o disco de estreia do cantor, “Five Leaves Left” (1969). Anos depois, quando montou a própria banda, Robert inspirou-se na letra da canção (“O tempo me disse / que você é um achado raro / uma cura confusa / para uma alma confusa”) para batizar seu grupo: The Cure.

Ainda na Inglaterra, uma jovem Siouxsie Sioux caiu de amores pelas letras dilacerantes de Drake. Nos Estados Unidos, Peter Buck, que anos depois montaria o REM, também se fascinou, mas pela técnica de Drake ao violão, inspirada por mestres do folk britânico como Bert Jansch e John Martyn.

Desde sua morte, há 40 anos, a fama de Nick Drake só aumentou. Fãs visitam seu túmulo e a casa onde viveu; bandas fazem covers e estudiosos pesquisam sua vida breve.

Enquanto viveu, Nick Drake foi um mistério. Seus três discos – “Five Leaves Left” (1969), “Bryter Layter” (1970) e “Pink Moon” (1972)” – foram fracassos. Parou de tocar ao vivo logo no início da carreira, assombrado por uma timidez doentia e medo de rejeição. Deu uma única entrevista na vida, e esta foi tão constrangedora, com longas passagens de silêncio e respostas monossilábicas e evasivas, que ele jurou nunca mais se abrir para ninguém.

Não existe uma imagem de Nick Drake tocando num palco. Na verdade, não há uma imagem em movimento de Drake, com exceção de poucos filmes familiares, feitos quando ele era criança. Fãs obsessivos ainda discutem se o homem alto que aparece de costas nessa cena, capturada em um festival de música na Inglaterra no início dos anos 70, é Nick Drake:

No obituário escrito por Nick Kent, ele cita uma declaração de Robert Kirby, amigo e arranjador de Drake, que talvez seja a melhor definição da música etérea, triste e arrebatadora do artista:

“Vejo o trabalho de Nick, primordialmente, como uma série de observações completas e vívidas, e não apenas exercícios de introspecção, como muitos acham. Elas são quase pequenos provérbios epigramáticos. A música e a letra se fundem de maneira a tornar a atmosfera das canções mais importante do que qualquer outra coisa. Eu sei que isso era o objetivo principal de Nick – não acredito, por exemplo, que ele achasse suas letras ‘grande poesia’ ou algo semelhante. Elas estão lá para complementar... para criar uma atmosfera ditada, em primeiro lugar, pela melodia”.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

 

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NICK NOLTE, MALUCO-BELEZA

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Está difícil assistir a qualquer outro canal na TV que não seja o Sundance Channel. Só esta semana, o canal, recentemente incluído na programação, exibe documentários sobre o ator Nick Nolte, o produtor dos Beatles, George Martin, e o produtor de cinema Harvey Weinstein, fundador da Miramax.

O filme sobre Nolte, “No Exit”, não é grande coisa, mas traz algumas histórias muito boas. Nolte é um ex-modelo que foi preso e condenado a 45 anos de prisão, aos 24 anos de idade, por vender documentos forjados, mas teve a pena suspensa, trabalhou com alguns dos maiores diretores de cinema (Scorsese, Schrader, Lumet, Malick, etc.) e é capaz de fazer um “blockbuster” como “Hulk” para logo depois aceitar um papel em um filminho barato de Olivier Assayas (“Clean”). Também teve sérios problemas com álcool, cocaína e, mais recentemente, GHB, foi escolhido o “Homem mais Sexy do Mundo” pela revista “Time” e é considerado, até pelos amigos mais próximos, um sujeito instável e imprevisível.

Aqui vão algumas declarações de Nick Nolte no filme:

48 Horas (1982) – Nolte conta como essa comédia, em que estrelou junto a Eddie Murphy, foi quase totalmente improvisada pelos dois atores. “Walter (Hill, diretor) tinha um roteiro, mas ele sabia que não era um diretor de comédia, e nos incentivou a improvisar. E não é tão difícil assim improvisar com Eddie, o cara é fora do comum. Eu diria que a maioria dos diálogos que acabaram na tela não estava no roteiro.”

Um Vagabundo na Alta Roda (1986) – Nessa refilmagem de “Boudu Salvo das Águas” (1932), clássico de Jean Renoir, Nolte faz um mendigo que é salvo por um casal de milionários de Beverly Hills (Bette Midler e Richard Dreyfuss). Para compor o personagem, Nolte passou semanas sem tomar banho – o que, segundo sua amiga Patricia Arquette, entrevistada no filme, Nolte faz de vez em quando. “Bette (Midler) não estava aguentando meu cheiro. Cada vez que tinha de contracenar comigo, ficava furiosa e reclamava pra Paul (Mazursky, diretor): ‘Paul, eu sou uma atriz, eu posso fingir que não estou aguentando o fedor desse cara!’ Mas isso só me incentivava a chegar no set ainda mais sujo no dia seguinte.”

Q&A (1990) – Nesse grande – e esquecido – filme policial de Sidney Lumet, Nolte interpreta um policial violento e corrupto, que é investigado por um jovem e ambicioso promotor (Timothy Hutton). “Um dia eu estava em casa, quando tocou o telefone. ‘Alô, é o Nick? Aqui é o Marlon!’ Era Marlon Brando. Ele perguntou: ‘Nick, por favor, me responda: como você interpretou esse personagem? Vi o filme várias vezes e não consigo entender como você fez. Pode me contar?’ Marlon realmente gostou do filme!”

Temporada de Caça (1997) – Nessa obra-prima de Paul Schrader, baseado no livro de Russel Banks, Nolte tem sua maior atuação no cinema, interpretando um policial de uma pequena cidade americana obcecado em desvendar um acidente que ele acredita ter sido um crime. O policial é assombrado pelo pai (James Coburn, fantástico), um homem sádico e violento. O elenco é inacreditável: Willem Dafoe faz o irmão de Nolte e Sissy Spacek, sua namorada. “Foi o melhor filme que eu fiz”, diz Nolte no documentário. “Ali, Nolte, pela primeira vez, tomou conta completamente de um filme”, opina o crítico de cinema F.X. Feeney.

Mas a melhor história que já ouvi sobre Nick Nolte não está no filme, e foi contado por seu amigo, o escritor James Ellroy. Ellroy diz que Nolte morava em uma mansão em Hollywood, quando achou um vira-lata na rua e o adotou. Ficou tão emocionado que resolveu pegar todos os cachorros que achava na rua e levar para sua casa, onde eram tratados a pão de ló. Só que Nick não tinha saco para dar banho nos bichos ou recolher as fezes dos animais, que ficavam espalhadas dentro da casa. A solução foi deixar a casa para os cachorros e se mudar para uma barraca no quintal.

 

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QUEM QUER JOGAR XADREZ COM BERGMAN?

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A quem pergunta por que não me empolgo com o cinema atual, sugiro: ligue no Telecine Cult sábado, 22h, e assista a “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman.

Lembro quando vi o filme pela primeira vez: foi numa mostra de Bergman no Cineclube Estação Botafogo, há quase 30 anos. Ver “O Sétimo Selo” numa tela grande é uma experiência de entortar a cabeça de qualquer um.

Max Von Sydow faz um cavaleiro que, voltando das Cruzadas, vê sua terra dizimada pela peste. Numa praia, encontra a Morte e a desafia para um jogo de xadrez. A partida ressurge, pelo menos na imaginação do cavaleiro, em vários momentos ao longo da história, que vira um “road movie”, com o personagem de Von Sydow andando pela Suécia acompanhado de um escudeiro.

Para quem acha Bergman “difícil” – e quantos, sem conhecer, dizem isso, não? - “O Sétimo Selo” é a melhor introdução ao trabalho do cineasta. É IMPOSSÍVEL ver esse filme e não sair correndo para ver todos os outros (aliás, o Telecine Cult está exibindo vários: “Gritos e Sussurros”, “Quando Duas Mulheres Pecam”, “Cenas de Um Casamento”, etc.).

Vejo muita gente reclamando da falta de cineclubes e da programação de filmes clássicos em nossos cinemas, o que é verdade. Por outro lado, a oferta de clássicos em locadoras, Netflixes e afins, nunca foi tão grande. Ninguém que gosta de cinema tem desculpa para não conhecer Bergman, Kurosawa, Buñuel, Eisenstein, Dreyer, Pasolini e tantos outros.

Quando comecei a frequentar cinemas alternativos, precisávamos ficar de olho na programação, porque perder uma sessão poderia significar nunca mais ter a chance de ver o filme. Lembro quando o Estação Botafogo exibiu “Os Homens Que Pisaram na Cauda do Tigre”, um Kurosawa raro, e muita gente fez fila para assistir, na certeza de que nunca mais seria exibido por aqui (lembro claramente José Lewgoy, de bengalinha, sentado numa nas primeiras filas).

Assistir a esses clássicos na TV não é o mesmo que ver numa tela grande, claro, mas é melhor que nada. Sempre que revemos um desses filmes em casa, mesmo os que já vimos várias vezes, como “O Anjo Exterminador” (Buñuel), “Os Incompreendidos” (Truffaut) ou qualquer filme de Kurosawa com Toshiro Mifune, a sensação é a mesma: a vida é muito curta, e é melhor ver filmes que prestam.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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QUEM TEM CHAVES NÃO PRECISA DE FREUD

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chaves2 hg QUEM TEM CHAVES NÃO PRECISA DE FREUD

Nunca vi um episódio de “Chaves” e não saberia nem por onde começar um texto sobre a morte de Roberto Bolanõs.

Mas um amigo é obcecado pelo programa e concedeu um depoimento emocionado: o grande rocker Marcelo Nova, que interrompeu a passagem de som em Belém, onde se apresenta hoje, para falar ao blog. Com a palavra, Marceleza:

“Depois que eu conheci ‘Chaves’, esqueci Nietzsche, Kant, Freud, Jung, nunca mais precisei deles... A grande filósofa do mundo é Dona Florinda, quando ela diz: ‘Venha, tesouro, não se misture com essa gentalha!’

nova1 QUEM TEM CHAVES NÃO PRECISA DE FREUD

‘Chaves’ era um humor circense, uma coisa ingênua e bonita que não tem nada a ver com esse humor babaca de hoje, que só sabe agredir. E os personagens são sensacionais. Seu Madruga é um grande personagem. E o Kiko então? Ele tem uma riqueza de expressões, uma multiplicidade facial impressionante, uma coisa de gênio. Quando eu vejo ‘Chaves’, me sinto num cirquinho numa cidade do interior, me divertindo até não poder mais.

E tem mais: a dublagem é primorosa, feita por atores extraordinários. Se você não prestar muita atenção nos movimentos labiais, nem percebe que é dublado, e as vozes encaixam perfeitamente nos personagens.

A maior homenagem que fiz a ‘Chaves’ aconteceu há uns 20 anos: eu estava com minha mulher num shopping e vimos uma multidão em frente a uma loja de sapatos. Dentro da loja, acredite, estava o senhor Paulo Maluf, cercado por vários seguranças, todos de terno preto e óculos Ray-Ban. Tinha gente pedindo autógrafo pra ele, vê se pode? Quando fui passar, o corredor do shopping estava congestionado de gente. Minha mulher me pegou pelo braço e disse: “Venha, tesouro, não se misture com essa gentalha!”, aí eu fiz o Kiko: ‘Gentalha, gentalha, brrrrrrrrr...!!!’”

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WILCO: A MELHOR BANDA DO SÉCULO 21?

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Que carreira admirável a de Jeff Tweedy, não?

O cara fundou dois grupos sensacionais – Uncle Tupelo e Wilco – produziu discos de Mavis Staple e White Denim, faz shows acústicos lindos, acaba de lançar um disco com o filho de 18 anos, tem sua própria gravadora e organiza um festival de música.

Tudo isso enquanto transformou o Wilco numa das bandas americanas mais interessantes e ousadas dos últimos 20 anos.

O Wilco acaba de lançar dois discos. O primeiro é indicado para quem ainda não é fã: trata-se de uma coletânea dupla, “What’s Your 20?”, com 38 das melhores canções de Tweedy e cia.

O segundo é uma caixa com quatro CDs, “Alpha Mike Foxtrot”, reunindo 77 faixas, entre versões ao vivo, demos, lados B de compactos, covers de Gram Parsons, Daniel Johnston e outros e faixas raras em geral.

Em 17 de novembro, a banda completou o 20º aniversário de seu primeiro show. O disco de estreia, “A.M.”, saiu em 1995, e o oitavo LP de estúdio, “The Whole Love”, em 2011.

O Wilco nasceu da cisão do Uncle Tupelo, celebrado grupo de alt-country liderado por Tweedy e outro cara talentoso e temperamental, Jay Farrar. Tweedy e Farrar tinham gostos musicais parecidos: adoravam punk e pós-punk, ouviam Ramones, Talking Heads e Smiths, mas também idolatravam Gram Parsons, Hank Williams, Woody Guthrie, Neil Young, Willie Nelson e toda a história da música folk e country.

Depois da briga, Tweedy fundou o Wilco, e Farrar, o Son Volt. Os dois primeiros discos do Wilco, “A.M.” (1995) e “Being There” (1996), traziam uma enorme influência do power-pop de Big Star e Replacements. Foi só no terceiro LP, o maravilhoso “Summerteeth” (1999), que Tweedy começou a experimentar mais, arriscando-se em composições mais ambiciosas e diferentes do que havia feito até então.

Depois de “Summerteeth”, o Wilco lançou mais dois discos que compõem o auge criativo da banda: “Yankee Hotel Foxtrot” (2002) e “A Ghost is Born” (2004). Se puder, assista ao documentário “I Am Trying to Break Your Heart”, sobre a gravação de “Yankee Hotel Foxtrot”, um disco excelente, mas que quase acabou com o Wilco. Considerado experimental e pouco comercial pela gravadora Reprise, selo ligado à Warner, o disco foi rejeitado e a banda, despedida. Mas, num caso emblemático da insanidade corporativa da indústria musical, o disco acabou comprado pela gravadora Nonesuch, outra empresa da Warner. Ou seja: a Warner acabou pagando duas vezes pelo mesmo produto.

Entre 2003 e 2005, Tweedy reuniu no Wilco um grupo de músicos extraordinários, que está com ele até hoje e forma uma das bandas mais coesas e criativas do pop atual. O grupo inclui o guitarrista Nels Cline, o baterista Glenn Kotche, o tecladista Mikael Jorgensen e o multi-instrumentista Pat Sansone, além do baixista John Stirratt, que está com Tweedy há mais de 20 anos, desde a época do Uncle Tupelo. Veja que beleza:

 

 

O Wilco só fez uma apresentação no Brasil, em 2005, no Tim Festival, no Rio, depois do Arcade Fire. A grande maioria da plateia foi embora depois do Arcade Fire e perdeu um dos melhores shows que já passaram pelo país. Que voltem logo.

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OLÁ, FUNDO DO POÇO!

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poço OLÁ, FUNDO DO POÇO!

 

Independentemente de sua opção partidária, é impossível que você não tenha ficado estarrecido com a notícia que veio ontem de Brasília.

O governo publicou no “Diário Oficial” um decreto aumentando em 444 milhões de reais a liberação de verba que os congressistas podem indicar no Orçamento da União, as chamadas emendas individuais.

O aumento será de quase 750 mil reais para cada um dos 594 congressistas (513 deputados e 81 senadores), que terão, no total, 11,6 milhões de reais cada. Essa verba é usada, geralmente, para obras e investimentos nos redutos eleitorais dos congressistas.

Mas a aprovação do decreto foi condicionada à aprovação, pelos parlamentares, da manobra fiscal que muda a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e permitirá ao governo descumprir a meta de superávit primário. Em bom português, a manobra muda as regras para que o governo não seja acusado de crime de responsabilidade.

O texto publicado no “Diário Oficial” é surreal:

“A distribuição e a utilização do valor da ampliação [...] ficam condicionadas à publicação da lei resultante da aprovação do PLN no 36, de 2014, em tramitação no Congresso Nacional".

Como se a troca de favores não fosse clara o suficiente, há ainda uma ameaça:

"Não aprovado o PLN de que trata o caput, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Ministério da Fazenda elaborarão novo relatório de receitas e despesas e encaminharão nova proposta de decreto".

Ou seja: ou aprovam, ou nada de grana.

Isso é legal? Um decreto oficial pode ser condicionado a uma ação futura? Pode ter seu texto mudado de acordo com a ocasião? Pergunto porque não lembro ter visto nada semelhante.

De novo: independentemente de sua opinião sobre a manobra para mudar a LDO – e tenho visto muita gente quebrando a cabeça para tentar justificar, de alguma forma, o que considero um escárnio – não é possível alguém achar normal a publicação, no “Diário Oficial”, de um toma lá dá cá desses.

A votação da manobra na LDO deve acontecer hoje, às 18h. Estarei que nem geraldino no antigo Maracanã: com o ouvido colado no radinho.

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70 VEZES NELSON MOTTA (E TCU TEM NOVO MEMBRO, O RÊGO)

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nelsonmotta RODOLPHO MACHADO 70 VEZES NELSON MOTTA (E TCU TEM NOVO MEMBRO, O RÊGO)

Há uma piada corrente entre jornalistas e pesquisadores de música brasileira: quando algum deles lança um livro ou documentário, outro pergunta: “E aí, conseguiu não entrevistar o Nelson Motta?”.

Há alguns meses, no lançamento de meu livro “Pavões Misteriosos”, ouvi a piada pelo menos duas vezes. E a resposta foi: não, não consegui não entrevistar Nelson Motta. Afinal, o tema de “Pavões Misteriosos” era a música pop brasileira dos anos 70 e 80, e é impossível falar desse período sem citar o homem.

Na verdade, qualquer brasileiro com 50 anos ou menos e que goste de música e TV teve Nelson Motta, que acaba de completar 70 anos, como uma influência inescapável em sua vida. Desde a época dos festivais, no fim dos anos 60, até hoje, ele é uma espécie de Zelig do pop nacional, sempre na linha de frente.

Durante minha pesquisa para o “Pavões”, tive a chance de pesquisar sobre o trabalho de Nelson nos bastidores da música brasileira. Ele foi um dos primeiros produtores de trilhas sonoras para a Globo, criou os programas “Som Livre Exportação” e “Sábado Som” e ajudou a fundar o “Jornal Hoje”, onde apresentava matérias sobre música, cinema, TV e literatura.

Nasci em 68 e não lembro essas reportagens, que só veria anos depois, em cenas de arquivo. Mas devia ser fantástico ligar a TV na hora do almoço e ver aqueles papos com Raul Seixas, Tim Maia, Novos Baianos e Ney Matogrosso.

Também não tive idade para ir ao festival Hollywood Rock, em 75 (Mutantes, Rita Lee & Tutti Frutti, Raul Seixas, Erasmo Carlos) ou para frequentar a Frenetic Dancin’ Days, a casa noturna que Nelson abriu na Gávea e onde revelou as Frenéticas.

Mas outra criação de Nelson fez minha cabeça nos anos 70: a trilha do “Globo Cor Especial”, que ele compôs com Marcos Valle e Paulo Sergio Valle: “Não existe nada mais antigo / do que caubói que dá cem tiros de uma vez”.

Depois, comecei a ler a coluna diária sobre música que ele assinava no “Globo”, fui à Praia do Pepino, em 85, ver Raul Seixas tocando no “Mixto Quente”, programa que Nelson criou, e lembro o choque de ver “Armação Ilimitada”, com sua estética new wave e modernex, parecendo uma ovelha negra – ou melhor, colorida – na programação ultracareta da Globo.

Sempre fui admirador do trabalho eclético de Nelson Motta, mas nunca o conheci pessoalmente. Meu encontro mais marcante com ele – e o primeiro em pessoa, embora ele certamente não lembre – aconteceu em Nova York, em 8 de dezembro de 1994. Naquele dia, morreu Tom Jobim, e fui correndo ao hospital cobrir a chegada de amigos e parentes do compositor.

Dezenas de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas se amontoavam para entrevistar todo mundo que chegava. Nelson desceu de um carro e andou em direção à porta do hospital, onde foi cercado por uma multidão. Os jornalistas gritavam: “Nelson, fala com a gente!”, enquanto fotógrafos disputavam um ângulo melhor para fotografá-lo. Lembro que achei a cena constrangedora: profissionais de imprensa gritando e quase saindo no tapa por uma declaração, sem a menor consideração pela gravidade da situação e pelos sentimentos dos amigos e familiares que chegavam.

Nelson parecia atordoado. Ficou sem reação diante dos gritos e empurra-empurra dos fotógrafos, e nada falou. Continuou andando em direção à porta. Quando passou ao meu lado, perguntei: “Senhor Motta, o senhor se importaria de dar uma declaração sobre seu amigo Tom Jobim?”. Como disse, eu não conhecia Nelson e não me senti à vontade para chamá-lo pelo primeiro nome – ou por “Nelsinho”, como faziam alguns. Acho que ele nunca havia sido chamado de “Senhor Motta” antes, e talvez essa deferência o tenha feito parar e dar um depoimento muito bonito e comovente sobre o amigo e ídolo que acabara de perder. Nunca esqueci a cena.

Hoje, às 20h30, o Canal Brasil exibe mais um episódio da série “Nelson 70”, sobre a trajetória musical de Nelson Motta. Vale a pena assistir.

RÊGO NO TCU

Para quem vê enormes diferenças entre governo e oposição, vale lembrar que os dois vibraram com a chegada do senador Vital do Rêgo (PMDB) ao TCU, onde certamente irá atravancar o quanto pode as investigações sobre o Petrolão.

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LOLLAPALOOZA UMA PINÓIA

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Nunca achei que iria chorar ao ver o line-up de um festival de música, mas foi o que aconteceu agora há pouco, quando abri o site do Austin Psych Fest. Não fui só eu: minha mulher também ficou com os olhos cheios d’água.

Preparados? Então sentem, que a lista é longa e praticamente inacreditável: Flaming Lips, Tame Impala, Jesus and Mary Chain tocando na íntegra seu clássico noise "Psychocandy", Spiritualized, Black Angels, Primal Scream, Thee Oh Sees, Lightining Bolt, Earth (verei Dylan Carlson, finalmente!), The Sword, Fuzz (projeto de Ty Segall), Metz (a banda que destruiu abrindo pro Mudhoney em SP), White Fence, Fat White Family, Night Beats e Black Ryder. Parece mentira.

E esses são só os nomes que eu conheço. A lista tem pelo menos 20 de que nunca ouvi falar: Indian Jewelry, Rose Windows, Vaadat Charigim, ZZZ’s, L.A. With, Krakatau, Chui Wan. O line-up completo está aqui.

Levando em conta que conheci Kadavar, Bombino, Mono, White Hills, Woods e Graveyard na edição de 2014 do festival e hoje são artistas que não saem do nosso CD player, a edição de 2015 promete.

Para quem não lembra, fiz dois textos sobre o Austin Psych Fest (leia aqui).

É um festival pequeno – 6 ou 7 mil pessoas – e com três palcos. O cenário é um rancho, à beira do rio Colorado. Em 2014, o lugar estava sequíssimo, já que não chovia em Austin há meses e a poeira era realmente um incômodo. Mas os shows foram tão absurdamente bons que logo esquecemos a secura do ar.

Em 2015, o festival mudou de nome – agora chama Levitation, tributo aos heróis locais 13th Floor Elevators – e espero que continue pequeno e com o mesmo clima de camaradagem e simpatia. O festival não tem apoio corporativo. Não havia um único logotipo de patrocinadores no palco. A comida era toda oferecida em food trucks de pequenos restaurantes e marcas locais. Crainças até 13 anos não pagam.

Na frente do palco, não se via ninguém fazendo selfies ou coraçãozinho para as câmeras. As pessoas estavam lá por causa da música.

Assim que vimos o line-up, compramos nossos ingressos. O passe para os três dias custou 187 dólares, incluindo taxas.

A contagem regressiva já começou aqui em casa.


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METAL SINFÔNICO É DE ESTOURAR O SACO

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otto METAL SINFÔNICO É DE ESTOURAR O SACO

Não existe  um gênero musical com fãs mais ardorosos que o heavy metal. Quem gosta de metal daria o próprio sangue por ele.

Mas nada que chegue perto do sacrifício que fez Otto Schimmelpenninck, baixista do grupo de metal sinfônico holandês Delain: por muito pouco, Otto não sacrificou um dos testículos em nome do metal.

Dias atrás, o Delain tocava em Birmingham, na Inglaterra. No meio da canção “The Gathering”, uma das prediletas dos fãs, o baixista se empolgou e foi para a frente do palco bater palmas fazendo polichinelo. Ficou tão extasiado que esqueceu os canhões de confete que a banda costuma soltar no auge dessa belíssima canção.

Resultado: um dos morteiros acertou Otto bem nos países baixos.

Apesar da dor, o bravo Otto continuou o show como se nada houvesse acontecido, certamente anestesiado pela adrenalina que só o metal sinfônico proporciona. Vejam o vídeo e reparem que o herói nem parece ter sido atingido:

Assim que terminou a épica apresentação, no entanto, o baixista caiu desmaiado no backstage e foi levado para o hospital. No dia seguinte, publicou um comovente relato em sua página no Facebook:

“Meu saco ficou do tamanho de um pomelo e eu estava sentindo muita dor (e põe muita nisso, yeah!). Fui levado para o hospital mais próximo, onde, depois de horas e horas de espera, finalmente fui operado (...) Meu testículo esquerdo rompeu, assim como algumas artérias. Mais de meio litro de sangue foi retirado de meu escroto e meu testículo foi costurado (...) Por muito pouco, não perdi meu testículo, mas agora ele está bem. Ainda sinto muita dor, mas devo estar OK a tempo de nossa turnê europeia com o Sabaton.”

Por favor, fãs de metal sinfônico, avisem quando o Delain tocar no Brasil. Todos têm a obrigação de saudar Schimmelpenninck, esse mártir do rock pesado.

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OS LIVROS DE CABECEIRA DE BRUCE SPRINGSTEEN

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Bruce Springsteen OS LIVROS DE CABECEIRA DE BRUCE SPRINGSTEEN

 

Um amigo mandou o link de uma entrevista de Bruce Springsteen para a seção de livros do “The New York Times”.

O papo revela bastante das influências literárias de Bruce e sobre como certos autores ajudaram a moldar suas letras. Gostei especialmente de saber que Cormac McCarthy e Jim Thompson fazem a cabeça do “Boss”.

Para quem lê inglês, a entrevista está aqui, na íntegra. E aqui vão os melhores momentos, traduzidos:

 

Que livros estão atualmente em sua cabeceira?

Acabei de ler “Moby Dick”, que me assustou por um bom tempo por causa do hype sobre sua complexidade. Mas achei o livro uma linda história de aventura, e nada difícil de ler. Um aviso: você terminará o livro sabendo mais sobre baleias do que sempre quis saber. Por outro lado, eu não queria que o livro acabasse. Também li “O Amor nos Tempos do Cólera”, de Gabriel García Márquez, que simplesmente toca em tantos aspectos do amor humano.

 

Qual o seu romancista favorito de todos os tempos, e o escritor favorito em atividade?

Gosto dos russos, das histórias curtas de Chekhov, de Tolstoy e Dostoyevsky. Nunca li nenhum deles até quatro anos atrás, e os achei psicologicamente modernos. Meus favoritos são “Os Irmãos Karamazov” e, claro, “Anna Karenina”.

Meus favoritos atuais: Philip Roth, Cormac McCarthy e Richard Ford. É difícil superar “Pastoral Americana”, “Casei Com um Comunista” e “O Teatro de Sabbath”. “Meridiano de Sangue”, de  Cormac McCarthy, é um marco de minha vida de leitor. Para mim, é a combinação de Faulker com os faroestes spaghetti de Sergio Leone que dão vida ao livro. E adoro a maneira como Richard Ford escreve sobre New Jersey.

 

Que livros influenciaram sua decisão de se tornar um compositor ou contribuíram para seu desenvolvimento artístico?

Larguei a faculdade para virar músico, então não comecei a ler seriamente até os 28 ou 29 anos. Dali, comecei a ler Flannery O’Connor, James M. Cain, John Cheever, Sherwood Anderson e Jim Thompson, o grande autor noir. Esses autores contribuíram muito para mudar minha música entre 1978 e 82. Eles deram um senso de geografia e uma aura escura à minha escrita, ampliaram meus horizontes sobre o que se poderia fazer com uma canção pop e ainda são o modelo que tento seguir hoje.

 

Quem são seus músicos-autores favoritos?

No caso de livro de memórias, é difícil superar o amor pela música que brilha em “Vida”, de Keith Richards. Também achei a autobiografia de Eric Clapton surpreendentemente reveladora e tocante. E, claro, amei “Chronicles”, de Bob Dylan. Me fez orgulhoso de ser músico.

 

Quais os melhores livros sobre música que você leu?

No topo da minha lista permanecem “Mystery Train”, de Greil Marcus, seguido de perto por “Last Train to Memphis”, de Peter Guralnick. Também incluiria “Chronicles”, de Dylan, e um livro recente de Daniel Lanois, “Soul Mining”, que tem revelações sobre a produção de música que achei diferentes de qualquer outro livro.

 

Qual o último livro que te fez rir?

“The Lay of the Land”, de Richard Ford;

 

E o último livro que te fez chorar?

“A Estrada”, de Cormac McCarthy.

 

Se você tivesse de escolher um livro que te fez o que você é hoje, qual seria?

Escolher um só seria difícil, mas acho que as histórias de Flannery O’Connor caíram como uma bomba em cima de mim. Dá para sentir nelas a incapacidade de conhecer Deus, os mistérios intangíveis da vida que encontro todos os dias. Elas contêm o gótico sombrio de minha infância, mas me deixaram feliz por estar no centro desse quebra-cabeça negro, estrelas brilhando no céu, a Terra embaixo de nós – ou quase.

 

Você organiza um jantar para três escritores. Quem seria convidado?

Philip Roth, Keith Richards e Tolstoy — e um extra, Bob Dylan. Muita experiência de vida ali, e o papo em diferentes idiomas seria maravilhoso.

 

Que livros você relê de vez em quando?

Não costumo ler livros mais de uma vez, mas os romances de Jim Thompson, devido à concisão, força, violência e pureza, são capazes de me atrair de novo. São alguns dos melhores livros sobre crime já escritos. Amo James M. Cain e Elmore Leonard, mas Jim Thompson tem um lugar especial no meu coração.

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FOO FIGHTERS É UM MAL NECESSÁRIO

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Em 1989, o grupo brasileiro de hardcore Ratos de Porão tocou num squat em Amsterdã chamado Van Hall. Durante um almoço vegetariano comunitário, João Gordo, o cantor do Ratos, fez amizade com o baterista do grupo punk americano Scream, que também se apresentava no lugar. João comprou até discos da mão do cara.

Pouco menos de dois anos depois, João viu o clipe de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, na MTV. “Pera aí, eu conheço esse baterista”, pensou João. Era, claro, Dave Grohl.

A historinha mostra que Grohl, em pouco tempo, deixou de tocar em pocilgas para 30 pessoas para ser baterista da banda de rock mais popular e influente do início dos anos 90. E ajuda a entender como ele virou uma ponte entre o underground e o mainstream.

Hoje, Grohl é um dos artistas mais poderosos do pop. Amigo de Paul McCartney, Elton John e David Bowie, lota estádios com o Foo Fighters e tem carta branca de gravadoras e TVs para fazer o que quiser. Mesmo assim, não esquece as raízes.

Prova disso é a série documental “Sonic Highways”, que dirigiu para a HBO. Na série, ele viaja para oito cidades importantes da música norte-americana – Chicago, Washington D.C., Nashville, Austin, Los Angeles, New Orleans, Seattle e Nova York – entrevista músicos locais e conta a história da cena musical de cada uma. No fim de cada episódio, o Foo Fighters grava uma canção em um estúdio famoso da cidade.

O canal BIS está apresentando a série, todo domingo, às 20h30. Hoje, às 17h, será reapresentado o segundo episódio, sobre Washington D.C..

No primeiro episódio, Grohl foi a Chicago e entrevistou artistas importantes da cena local, como o bluesman Buddy Guy, o guitarrista do Cheap Trick, Rick Nielsen, e a cantora Bonnie Raitt. Mas boa parte do episódio foi dedicado ao polêmico, amado e odiado Steve Albini, líder do Big Black e um dos produtores mais requisitados do rock (Nirvana, Pixies, PJ Harvey, Jesus Lizard, etc.).

No segundo capítulo, em Washington D.C., Grohl falou com Pharrell Williams (The Neptunes) e integrantes do Trouble Funk, heróis da cena de Go-go funk dos anos 70, mas também usou o programa para encher a bola de seus heróis de adolescência, como o grupo de hardcore Bad Brains e Ian MacKaye (Minor Threat, Fugazi), criador da mitológica gravadora Dischord.

Que outro programa na TV, hoje, mostra cenas do Bad Brains em ação? Ou trechos de apresentações do Fugazi? Ou uma longa entrevista com Steve Albini? Ou depoimentos de integrantes de Jesus Lizard, Naked Raygun e Scream? Não consigo pensar em nenhum.

Claro que Dave Grohl não está fazendo isso por caridade. Ele sabe que ninguém mais vende discos e que um projeto audiovisual desses pode render uma ótima divulgação para o Foo Fighters. Tanto que a banda acaba de lançar um CD que leva o mesmo nome da série, “Sonic Highways”, reunindo as oito canções gravadas em diferentes cidades.

Acho o som do Foo Fighters chatíssimo. É rock de arena genérico, com refrão pra cantar junto, uma pouco de distorção pra apelar à molecada e sempre – mas sempre mesmo – usando a fórmula parte lenta-barulho-parte lenta, que o Nirvana aprendeu com o Pixies.

Mas vejo o Foo Fighters como um mal necessário. A gente até atura os discos, se continuarem dando grana e poder para Dave Grohl fazer projetos legais como esse “Sonic Highways” e o documentário “Sound City”, sobre o famoso estúdio onde boa parte do melhor pop-rock dos anos 70 – Fleetwood Mac, Neil Young, Elton John, Cheap Trick, Santana – foi gravado.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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EIKE E O BRASIL-OSTENTAÇÃO

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eike lamborghini EIKE E O BRASIL OSTENTAÇÃO

Quem pega o táxi no Santos Dumont em direção à zona sul do Rio é presenteado com uma das paisagens urbanas mais bonitas do mundo: à direita, o Outeiro da Glória; à esquerda, a Marina da Glória; ao fundo, o Pão de Açúcar emoldurando os barquinhos que repousam na enseada de Botafogo. Um cenário deslumbrante.

Mas há uma imagem que destoa dessa maravilha toda: o Hotel Glória. Construído em 1922, o Glória foi comprado em 2008 pelo então bilionário Eike Batista, que recebeu uma bolada do BNDES – 50 milhões, de um total de 190 milhões aprovados - para deixá-lo pronto para a Copa do Mundo. Hoje, do velho hotel, só resta a fachada. Por dentro, o lugar está em ruínas. É uma analogia perfeita do próprio Eike: por fora, beleza e fleuma; por dentro, decrepitude.

hotel gloria obras 234x300 EIKE E O BRASIL OSTENTAÇÃO

Acabo de ler “Tudo ou Nada – Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X”, de Malu Gaspar, um relato detalhado da ascensão e queda de “Magic Eike”, como ele próprio gostava de se chamar.

São 545 páginas de falcatruas, números inventados, uso de informações privilegiadas, manipulações, relações escusas com o poder, falta de ética e muita, mas muita ostentação. A autora calcula o rombo deixado por Eike em 65 bilhões de dólares – “um colapso equivalente ao provocado no mercado financeiro americano pela quebra do Lehman Brothers ou pelo esquema fraudulento do banqueiro Bernard Madoff”.

Eike Batista é um dos maiores símbolos do Brasil-ostentação. O empresário surfou na ótima imagem do país na época da capa da “Economist”, da escolha do Brasil como sede de Copa e Olimpíadas e em Obama chamando Lula de “o cara”, e encarnou a imagem do brasileiro arrojado e vitorioso.

Mas era tudo fumaça. As empresas de Eike valiam muito menos do que ele apregoava. A comoção era tanta, e o otimismo cegou tanta gente, que poucos se deram ao trabalho de checar se as informações bombásticas sobre jazidas inesgotáveis de petróleo e montanhas de ouro eram verdadeiras ou pura invenção de um marqueteiro esperto e carismático.

Os políticos deram uma forcinha, claro: Sergio Cabral fartou-se de viajar nos jatinhos particulares de Eike e retribuiu conseguindo permissões e alvarás para obras; Lula tentou ajudá-lo como pôde, mesmo depois que o Império de Magic Eike começou a ruir.

O empresário contou também com a conivência, incompetência e falta de atitude das comissões que deveriam zelar pela lisura do mercado de ações. Todo mundo passou a mão na cabeça de Eikezinho e o deixou brincar à vontade – com o dinheiro dos outros.

tudo ou nada1 195x300 EIKE E O BRASIL OSTENTAÇÃOTão chocante quanto a descrição dos desmandos que botaram Eike abaixo é o perfil que Malu Gaspar faz do sujeito: vaidoso, egocêntrico, cafona – tinha Ferraris e Lamborghinis decorando a sala – e vítima de um intenso complexo de inferioridade do pai, o empresário Eliezer Batista. Eike é o estereótipo do novo-rico, elevado à enésima potência.

Em nenhuma das 545 páginas do livro se vê Eike fazendo uma coisa sequer que não tenha sido motivada pela obsessão em tornar-se o homem mais rico do mundo. Enquanto nos acostumamos a ver magnatas estrangeiros doando dinheiro para as ciências, as artes e a cultura, o brasileiro só dispensava sua grana em doações para puxar o saco de Madonna ou ganhar favores com políticos.

Se eu fosse acionista das empresas X e tivesse perdido as economias da vida inteira com os desmandos do ex-bilionário, não conseguiria terminar o livro, de ódio. E enquanto não sai o resultado do julgamento de Eike por manipulação de mercado e uso indevido de informação privilegiada, sugiro que os escombros do Hotel Glória sejam rebatizados de Hotel Magic Eike. Seria uma homenagem apropriada ao sujeito que fez a mágica de transformar um cartão-postal do Rio em ruína.

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NICK CAVE FAZ O FILME DO ANO

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A chance de ver esse filme em circuito comercial no Bananão é quase nula. Por isso, recomendo: baixe, compre na gringa, faça o que precisar, mas assista a “20,000 Days on Earth”, sobre Nick Cave. É um dos melhores filmes do ano. Talvez o melhor.

Chamá-lo de “documentário” não é correto. “Filme-ensaio biográfico” chega mais perto da verdade.

Dirigido por Jane Pollard e Iain Forsyth, um casal talentoso que já colaborou em projetos audiovisuais com Gill Scott-Heron, Scott Walker e Jason Pierce (Spiritualized), o filme tenta captar a essência do que é ser Nick Cave. O resultado é fascinante - e aterrador.

Nem sinal daquelas entrevistas posadas em que amigos, parentes e especialistas falam, com voz de Deus, sobre Nick Cave e sua obra. As conversas do filme são realizadas em ambientes inusitados: o próprio Cave é mostrado em sessões com um psicanalista, em que lembra a infância, fala das inspirações para suas músicas, de seus problemas com heroína, da família e de suas mulheres.

Cave conta ao doutor que um de seus passatempos prediletos de infância em Wangaratta, sudeste da Austrália, era correr com amiguinhos em uma ponte sobre um rio e pular segundos antes de ser atropelado por um trem. “As crianças de hoje não experimentam mais o perigo, e acho isso muito ruim.” Logo depois, Cave aparece com os dois filhos pequenos assistindo a “Scarface”, de Brian De Palma.

O próprio cantor “entrevista” alguns amigos e colaboradores, como o ator Ray Winstone, a popstar Kylie Minogue e o músico Blixa Bargeld (Einstürzende Neubauten), seu ex-parceiro por 20 anos no Bad Seeds. Esses papos são antológicos. Cave aproveita a conversa com Blixa para resolver uma questão que o atormenta há anos: “Blixa, por que você deixou o Bad Seeds?” Blixa responde que não se sentia capaz de manter o “casamento” com duas bandas e optou pelo Neubauten, mas aproveita para dar uma cutucada em Cave: “No último disco que fiz com vocês (“Nocturama”, 2003), senti que já não havia aquela colaboração intensa de antes. Você chegou com ideias pré-definidas sobre como seria o álbum.” Cave faz um mea culpa e depois diz: “Sabe, às vezes ouço os discos que fizemos juntos (foram 12) e penso como teria sido bom ter alguém para editar as músicas, que cortasse as canções de seis para quatro minutos, alguém que editasse nosso trabalho. Hoje em dia, sou obcecado por edição e concisão.” É muito raro ver dois grandes artistas se expondo dessa maneira.

Visualmente, “20,000 Days on Earth” não poderia ser mais bonito. Uma sequência que mostra Cave visitando seu parceiro musical Warren Ellis em uma mansão à beira de um penhasco no sul da França é impressionante, assim como imagens dos Bad Seeds gravando o disco “Push The Sky Away” e algumas cenas de shows, incluindo uma arrebatadora versão de “Jubilee Street” filmada na Austrália. Veja e chore:

"No fim das contas, não me interesso por aquilo que compreendo totalmente". Lindo.

Nossa única esperança de ver esse filme por aqui é em algum festival como o In-Edit. Enquanto isso não acontece, dê um jeito de assistir, mesmo que você não conheça a obra de Nick Cave. O filme é inventivo, informativo, e mostra como o cinema documental pode surpreender, sem apelar a clichês televisivos.

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TÁ ESTRESSADO? NÃO VÁ PESCAR!

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peixe1 TÁ ESTRESSADO? NÃO VÁ PESCAR!

O verão está chegando. Para aproveitar a estação mais agitada do ano, decidimos comprar um bote para pesca e passeio. Depois de pesquisar bastante, optamos por um modelo dos mais simples, de fibra, com cinco metros de comprimento e um motorzinho de popa.

Nada melhor que passar horas jogando o anzol ao mar apreciando o crepúsculo, não é mesmo? Difícil imaginar algo tão relaxante e agradável.

Quer dizer, isso se você não for idiota como nós e decidir seguir a lei, registrando seu barco na Capitania dos Portos. Caso você opte por essa insanidade, seus dias se tornarão trevas, as noites, insones, você perderá enorme quantidade de cabelos – metade por queda, metade arrancado – e seu stress atingirá o nível de um controlador de voo em Congonhas.

Um breve resumo de nossa saga:

Quatro ou cinco meses atrás, fui à Capitania dos Portos pedir informações sobre registro de embarcações. Dei de cara com a porta. A Capitania só funcionava até 13h30.

Na segunda visita, o lugar estava sem luz. Na terceira, o “sistema” estava fora do ar. Pelo menos consegui pegar a lista de documentos necessários.

Fui ao banco, paguei as taxas, anexei o recibo de compra do barco, autentiquei os documentos pedidos e voltei, todo pimpão, à Capitania. Faltavam diversos documentos. “Não te deram a lista completa?” perguntou um funcionário. Quando respondi que aquela lista fora passada por alguém da própria Capitania, veio a resposta de sempre: “Ah, mas então a pessoa se enganou”.

A nova lista tinha cinco ou seis itens a mais, vários deles autenticados. Como estava sem paciência para voltar à Capitania pela QUINTA vez e certo de que achariam algum documento preenchido erradamente, optei pela saída covarde: contratei um despachante naval.

Sim, eles existem. Despachantes navais. São iguaizinhos aos despachantes de carros, alvarás, passaportes, foguetes interplanetários, etc.: os mesmos dedos amarelos de nicotina, falando em três celulares ao mesmo tempo, alternando tom de voz forte e impositivo a cochichos quando o assunto chega à resolução dos meandros delicados de nossa burocracia kafkiana.

O despachante disse para eu não me preocupar, que o registro ficaria pronto em uma semana. Dois dias depois, entregou um protocolo, que permite que usemos o barco enquanto o processo está tramitando. “Mas cuidado, que isso só vale por um mês; se demorar mais que isso tem que renovar o protocolo”, alertou. Li o documento de cabo a rabo e não achei prazo de validade. “Não tá escrito, mas vai por mim, só vale um mês”.

Alguns dias depois, o despachante ligou. Achei que era para avisar que o registro estava pronto. “Você não vai acreditar, mas a Capitania está pedindo uma carta do fabricante do barco com as especificações, dimensões, capacidade de passageiros, etc.” Argumentei que essas informações já constavam do recibo do barco, mas o despachante disse que a Capitania exigia a tal carta.

O fabricante do barco ficava a 200 km de casa. Levei mais de duas semanas para conseguir a carta.

Dias depois, novo telefonema do despachante: “Olha, você vai achar que estou de sacanagem, mas agora estão pedindo um laudo de um engenheiro naval atestando as dimensões do barco”. Surreal: a Capitania já tinha dois documentos com as medidas e agora exigia que eu pagasse um engenheiro naval para medir o barco e atestar que os números estavam corretos.

Isso atrasou o processo em mais duas ou três semanas. Para piorar, “a pessoa que estava com o processo entrou de férias”, como explicou a secretária do despachante.

A essa altura, os gastos com despachante, xerox, cartório e engenheiro naval chegavam a quase 25% do valor do bote.

Depois de anexar à papelada o maldito laudo do engenheiro naval, recebi novo protocolo – o terceiro. Isso foi há mais de um mês. Já estamos no fim da validade do quarto protocolo, e nada do registro.

Tomara que saia antes do derretimento das calotas polares, para dar tempo de pegar uns bagrinhos.

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QUANDO MEL BROOKS ERA REI

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Há exatos 40 anos, era lançado “O Jovem Frankenstein”, de Mel Brooks. Foi o segundo arrasa-quarteirão de Brooks em 1974: meses antes, estreara "Banzé no Oeste” (“Blazing Saddles”), que terminou o ano liderando as bilheterias norte-americanas, batendo “Inferno na Torre”. "O Jovem Frankenstein” ficou em quarto lugar, à frente de “Terremoto” e “O Poderoso Chefão 2”.

O Netflix gringo está exibindo "Make a Noise", um documentário careta, mas informativo, sobre a vida e carreira de Brooks. O filme traz uma longa entrevista com o cineasta e depoimentos de parceiros e amigos como Carl Reiner, Sid Caesar, Gene Wilder, Joan Rivers, Madeline Kahn, Marty Feldman e outros.

A atriz Anne Bancroft (1931-2005), com quem Brooks foi casado por quase 40 anos, aparece numa entrevista antiga contando como foi seduzida por ele: “Foi pura insistência. Ele ficou me perseguindo até eu não poder mais recusar”.

As imagens de arquivo são inacreditáveis: quando Brooks conta que ficou emocionado ao assistir pela primeira vez a uma peça na Broadway, “Anything Goes”, com Ethel Merman, em 1934, o filme exibe uma cena da peça. Surreal.

Há imagens incríveis de Brooks no exército, tocando bateria (ele era músico antes de tornar-se roteirista) e de suas primeiras apresentações como comediante. Trechos de programas de TV estrelados por Sid Caesar dão uma pequena ideia da genialidade cômica de Caesar e da altíssima qualidade dos textos de Brooks.

O que muita gente não lembra é que Mel Brooks, além de ter dirigido algumas das comédias mais populares dos anos 70, ganhou um Oscar em 1968 pelo roteiro de “Primavera para Hitler”, criou com Buck Henry o “Agente 86” e depois virou produtor de sucesso, lançando filmes como “O Homem Elefante”, de David Lynch, e “A Mosca”, de David Cronenberg.

Mas o grande momento da carreira de Brooks foi mesmo “Banzé no Oeste”, que a rede HBO está reprisando nesse fim de semana (veja horários aqui).

Para quem ainda não viu, um breve resumo: “Banzé no Oeste” é uma paródia aos faroestes. O engraçadíssimo Harvey Korman, colaborador frequente de Brooks, faz Hedley Lamarr, um político corrupto que pretende criar caos numa pequena cidade para afugentar os moradores e vender a terra para uma ferrovia. Ele tem uma ideia genial: contratar, para a cidade, um xerife negro, Bart (Cleavon Little), o que certamente causará revolta na população branca e racista do lugar.

Lamarr convence o prefeito local, uma besta quadrada interpretada pelo próprio Brooks, a contratar Bart para o cargo. Bart é ameaçado por uma gangue de bandidos enviada por Lamarr, mas acaba recendo ajuda do pistoleiro Jim “The Waco Kid” (Gene Wilder) na luta contra os meliantes.

Revi o filme há alguns dias e continuo achando uma obra-prima. Impossível não perceber a influência que teve no humor sacana de Zucker-Abrahams-Zucker (“Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu”).

Hoje, seria impossível fazer um filme como “Banzé no Oeste”. O público sairia horrorizado e os estúdios nunca poriam um centavo. Brooks esculhambou o racismo inerente ao gênero “western” e fez um faroeste sobre preconceito racial, que consegue ser incisivo sem parecer panfletário ou "edificante". E, de quebra, tem a melhor cena de refeição em volta da fogueira de todos os tempos.

Bom fim de semana a todos.

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PROJETO DE LEI COMBATE A “ESPANHOLIZAÇÃO” DO FUTEBOL BRASILEIRO

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Torcedores de futebol de todo o país, mesmo rivais históricos, têm uma boa razão para torcer juntos: se a proposta do deputado federal Raul Henry (PMDB-PE) passar, será corrigida uma injustiça absurda, que periga transformar o Campeonato Brasileiro em uma disputa de dois ou três times.

A proposta do deputado revê a distribuição de recursos pagos aos times de futebol pela transmissão de jogos na TV.

Atualmente, as cotas são distribuídas de acordo com acertos individuais de cada clube com a Rede Globo, e os números são revoltantes. Aqui vai a tabela de pagamentos prevista para 2016:

- Grupo 1 – Flamengo e Corinthians: R$ 170 milhões
- Grupo 2 – São Paulo: R$ 110 milhões
- Grupo 3 – Vasco e Palmeiras: R$ 100 milhões
- Grupo 4 – Santos: R$ 80 milhões
- Grupo 5 – Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Internacional, Fluminense e Botafogo: R$ 60 milhões.
- Grupo 6 – Coritiba, Goiás, Sport, Vitória, Bahia e Atlético-PR: R$ 35 milhões

Ou seja: o bicampeão brasileiro, Cruzeiro, receberá, todo ano, R$ 40 milhões de reais a menos que o Palmeiras, que quase foi rebaixado em 2014, e pouco mais de um terço do Flamengo, décimo colocado em 2014 e 16º em 2013. O Santos, 17º colocado em média de público em 2014, receberá 33% a mais que o Internacional, quinto colocado em público.

Nem a desculpa da audiência cola mais. Este ano, os jogos do Corinthians na Globo no Campeonato Brasileiro tiveram média de 16,9 pontos na Grande São Paulo, abaixo de Palmeiras (17,1), São Paulo (17) e Santos (17).

Esse sistema de cotas tende a desequilibrar cada vez mais os campeonatos e dá aos times de maior torcida vantagens financeiras injustas.

Logo, o Brasileirão periga virar o campeonato espanhol, onde dois times – Barcelona e Real Madrid – ganham cotas de TV quase três vezes maiores que o terceiro na lista, o Valencia, e vêm dominando quase todas as disputas.

A proposta do deputado Henry, que já está em fase de conclusão na Câmara dos Deputados, prevê uma distribuição semelhante à da Premier League inglesa, em que 50% da receita são divididos igualmente entre os times, 25% são distribuídos de acordo com a classificação da equipe na última temporada do campeonato em questão, e 25% são repassados proporcionalmente à média do número de jogos transmitidos no ano anterior.

Segundo o projeto de lei (veja a íntegra aqui), “esse modelo permitiu, por exemplo, que o Manchester United, campeão em 2008/09, tenha recebido 66 milhões de euros, enquanto o Middlesbrough, penúltimo colocado, tenha encaixado 40 milhões de euros.”

Ninguém está pedindo que os últimos colocados e times menos populares ganhem a mesma coisa que os times que dão mais audiência de TV. Mas não é possível uma distribuição tão sem vergonha. A médio prazo, isso restringirá as chances de título a pouquíssimos clubes e tornará todos os outros coadjuvantes.

Lembrando que os clubes de maior torcida ainda podem faturar mais que os rivais em bilheteria de jogos, venda de merchandise e patrocínios.

O campeonato brasileiro de 2014 acabou, mas está em jogo agora uma disputa bem mais importante, que vai decidir o futuro do futebol brasileiro.

Os gênios que comandam nosso futebol já acabaram com jogos de duas torcidas, afugentaram o torcedor com partidas às 10 da noite e destruíram o Maracanã e o Mineirão. Agora querem acabar com o Campeonato Brasileiro. Vão pro inferno.

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