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QUEM TEM TEMPO PRA TANTA MÚSICA?

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elvispack270814w QUEM TEM TEMPO PRA TANTA MÚSICA?

Que “That’s the Way It Is”, o álbum ao vivo gravado por Elvis Presley em 1970, é um clássico do pop, ninguém questiona. Mas alguém precisa de DEZ discos com as mesmas músicas?

A versão “deluxe” de “That’s the Way It Is” acaba de sair no exterior, trazendo, além do disco original, seis CDs com outros shows da mesma turnê, um CD de ensaios e dois DVDs com versões diferentes do documentário gravado naquela excursão. Ufa.

E que tal seis CDs e um DVD celebrando “Adore”, o disco que o Smashing Pumpkins gravou em 1998, incluindo a versão mono, demos, ensaios e versões ao vivo (tem até faixas gravadas em São Paulo!), além de um DVD com a íntegra de um show? Exagero?

E “The Velvet Underground”, terceiro disco do Velvet e o primeiro sem John Cale? O LP original é uma maravilha – “Pale Blue Eyes”, “Candy Says”, “I Can’t Stand it” – e você certamente o tem em sua coleção. Mas agora pode comprar a versão “Super Deluxe de 45º Aniversário”, com nada menos de seis discos.

Se preferir, pode ter os quatro discos da versão ultra-super-fodona de “Setting Sons”, do The Jam, ou três CDs celebrando um disco que nem é lá grandes coisas, "Defenders of the Faith”, do Judas Priest. Os deuses da indústria musical devem estar loucos.

Ou não. Se você é uma gravadora, relançar discos velhos é a coisa mais lucrativa a fazer.

Para começar, não há custos de gravação ou cachês para os artistas. A divulgação é fácil: esses discos já contam com um fã-clube consolidado, que vai adorar comprar novas versões de discos que já possuem.

Os números são impressionantes: em 2010, pela primeira vez, consumidores norte-americanos compraram mais discos de catálogo do que novidades.

Segundo o site Wondering Sound, dos 450 títulos lançados para o “Record Store Day” de 2014, nada menos de 243, ou 54%, eram relançamentos.

As versões remasterizadas dos discos do Led Zeppelin, lançadas recentemente por Jimmy Page, venderam 90 mil cópias cada, sendo que “Led Zeppelin 4” chegou a número 7 na parada da “Billboard”, 43 anos depois de seu lançamento original.

Pessoalmente, abomino essas versões “deluxe” cheias de extras. Ninguém precisa ouvir os demos de “Doolittle”, do Pixies, a menos que você seja tão fanático pela banda que não consiga dormir sem saber se Black Francis mudou a letra de “Wave of Mutilation”. Existe uma razão pela qual essas versões continuaram demos: o artista não quis lançá-las no disco oficial.

Os relançamentos que me interessam são as caixas que reúnem discos do catálogo de certos artistas, e que estão sendo vendidas a preços muito bons. Que tal pagar 170 dólares pela caixa com os dez discos do Roxy Music? Ou a bagatela de 50 doletas na caixa com os 11 primeiros discos de Leonard Cohen?

Recentemente, saíram caixas de Sly and the Family Stone, Sleater-Kinney, Bruce Springsteen, Captain Beefheart, e uma reunindo todos os discos solo de George Harrison de 1968 a 75. Isso sim é música para os ouvidos.

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OSCAR: JAKE GYLLENHALL FORA, ROSAMUND PIKE DENTRO – ALGUÉM EXPLICA?

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oscar1 OSCAR: JAKE GYLLENHALL FORA, ROSAMUND PIKE DENTRO   ALGUÉM EXPLICA?
Aconteceram algumas surpresas no anúncio dos indicados ao Oscar (veja lista completa na cobertura do Oscar do R7, aqui).

Para começar, “Foxcatcher”, um dos filmes mais elogiados pelos críticos norte-americanos (não vi ainda, então não posso opinar sobre o filme) não ficou nem entre os oito indicados ao prêmio de melhor filme.

Também achei estranhas as ausências de Jake Gyllenhall (“O Abutre”) e Ralph Fiennes (“O Grande Hotel Budapeste”) na categoria “melhor ator”. Não consegui ver “Mr. Turner”, mas parece que Timothy Spall está fabuloso.

Não vou fazer previsões agora, até porque não vi alguns dos principais indicados. Mas fiquei feliz ao ver três ótimos cineastas - Alejandro González Iñárritu (“Birdman”), Richard Linklater (“Boyhood”) e Wes Anderson (“O Grande Hotel Budapeste”) como os favoritos na categoria de “melhor diretor”.

Alegria incomensurável foi ver os abacaxis “Interestelar” e “Garota Exemplar” praticamente alijados das disputas principais, com exceção da inexplicável indicação da Cigana Igor Rosamund Pike pelo papel da criminosa mais burra do mundo em “Garota Exemplar”.

A lista de indicados este ano reforça uma tendência que vem ganhando força na última década: desde 2003, quando “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei” venceu, nenhum filme ganhador do Oscar foi um grande sucesso de bilheteria.

Dos favoritos da safra 2014, o mais bem colocado nas bilheterias americanas no ano é “O Grande Hotel Budapeste”, em 54º lugar. “Birdman” está em 94º e “Boyhood”, em 100º.

A explicação é simples: com Hollywood cada vez mais interessada em atrair adolescentes para filmes baseados em gibis e que rendam infinitas sequências, filmes para adultos tem sofrido nas bilheterias. Hollywood, cada vez mais, é da molecada.

A cerimônia de entrega do Oscar acontece domingo, 22 de fevereiro. Alguns dias antes, publico aqui minha lista de favoritos. Até lá.

P.S.: Estarei fora até a noite e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado e respondido, peço desculpas e um pouco de paciência. Só devo conseguir responder aos comentários sexta de manhã. Obrigado.

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NOVA YORK OU CALIFÓRNIA?

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nysf NOVA YORK OU CALIFÓRNIA?
Muitos leitores escrevem para o blog perguntando sobre a experiência de viver no exterior. Fui correspondente de jornais nos Estados Unidos por oito anos, primeiro em Los Angeles e depois em Nova York, além de ter morado no país por um bom tempo quando adolescente, e posso falar um pouco sobre isso.

Pra começo de conversa, acho que qualquer experiência fora do Brasil é válida. Morar em outro lugar nos dá uma perspectiva diferente sobre nosso próprio país. Nada como a distância para fazer enxergar com mais clareza o que o Brasil tem de bom e de ruim.

Conheço bem algumas cidades norte-americanas – Nova York, Los Angeles, São Francisco, Washington, Chicago e Boston – além de ter passado algum tempo em Seattle, Vancouver e Portland. Recentemente, estive em Austin e gostei demais. Voltarei lá este ano.

Meus lugares prediletos na América do Norte são, disparado, Nova York e São Francisco. A primeira é uma megalópole fervilhante, com 8,5 milhões de pessoas espremidas em 789 km2 (ou 10.700 habitantes por km2, densidade populacional mais de três vezes superior a de Los Angeles), enquanto São Francisco é uma “grande pequena cidade”, com uma população - 837 mil habitantes - menor que a de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas uma vida cultural absurdamente rica.

Nos Estados Unidos sempre existiu uma rixa entre as costas leste e oeste. Os nova-iorquinos zombam de uma suposta falta de cultura da Califórnia (quem não lembra a famosa esculhambada que Woody Allen dá em Los Angeles em “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”: “Não quero viver numa cidade onde a única vantagem cultural é poder entrar à direita no farol vermelho”)? Já os californianos criticam o esnobismo nova-iorquino. Numa recente pesquisa feita no país (veja aqui), os americanos votaram em Nova York como a cidade mais rude a arrogante dos Estados Unidos. São clichês, claro, mas que possuem um fundo de verdade. De fato, Los Angeles é uma cidade muito ligada ao culto a celebridades, e Nova York não é exatamente conhecida pela gentileza de seus cidadãos.

Se eu pudesse escolher uma cidade para morar nos Estados Unidos, hoje, com dois filhos pequenos, iria para São Francisco. Nova York tem uma oferta muito maior de atividades culturais (é impossível passar um dia na cidade sem achar um show, uma exposição, uma peça ou uma palestra bacana para ir) e de restaurantes, mas gosto demais do tamanho de São Francisco e da oferta de atividades ao ar livre. O sistema de ciclovias é uma beleza, e basta sair um pouco da cidade para achar parques lindos para caminhar e pedalar.

Outra vantagem da costa oeste é o clima. Quem mora no Brasil pode achar São Francisco, com suas rajadas de vento, um tanto fria, mas nada que se compare ao inverno em Nova York. Conheço gente que adora a neve e as temperaturas abaixo de zero, mas eu não me incluo nesse grupo. Acho neve linda por meia hora. Mas experimente passar dois meses trancado em casa por causa de nevascas, como já aconteceu comigo em Nova York, e dá para entender porque Jack Nicholson terminou daquele jeito em “O Iluminado”.

Não é nada barato morar em Nova York ou São Francisco. Numa recente lista publicada pelo site da rede de TV CBS (veja aqui), a região metropolitana de Nova York ficou com três posições entre as cinco cidades mais caras do país: Manhattan em 1º, Brooklyn em 2º e Queens em 5º. São Francisco ficou na quarta posição, enquanto Honolulu, no Havaí, ficou em terceiro.

Mas uma coisa precisa ser levada em conta: a imensa quantidade de coisas que você pode fazer de graça ou quase de graça.

Quando morei em Nova York, nos anos 90, quase não precisava alugar filmes em locadoras, já que a oferta do acervo da Donnell Library, parte do sistema da New York Public Library, era descomunal. A Donnell tinha um acervo fantástico de filmes de arte, inclusive em película. Você podia reservar uma cabine particular e assistir a filmes antigos em 16mm. Passei uns cinco anos indo à Donnell pelo menos três vezes por semana. Infelizmente, a biblioteca fechou em 2008, quando o prédio foi vendido para um hotel.

Talvez uma boa saída para morar em um lugar legal sem gastar os tubos seja procurar uma cidade menor e menos falada. Tenho amigos que moram em Portland, Seattle e Austin, e adoram (se bem que os aluguéis em Austin estão subindo absurdamente).

Mas cada cidade tem seus prós e contras. Experimente achar um restaurante aberto às 10 da noite em Portland. Impossível. Um conhecido mudou de Los Angeles para Seattle e durou quatro meses na cidade. Ele contou que choveu por quase cem dias seguidos e lhe bateu uma depressão desesperadora.

De qualquer forma, acho que a experiência de morar no exterior é não só válida, mas necessária. E não só nos EUA, claro: eu moraria tranquilamente em Buenos Aires ou Madri (adoro Berlim, mas o inverno é de lascar, e fiquei alucinado com Budapeste, mas enfrentar os meses de gelo também não deve ser mole). Quero muito conhecer a Austrália, que parece, por relatos, uma mistura ideal de natureza linda e organização. A ver.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado e respondido, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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MACONHA MEDICINAL NÃO É CRIME

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Uma excelente notícia: depois de anos protelando uma decisão, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou semana passada a liberação do uso medicinal do canabidiol, um dos princípios ativos da maconha (veja aqui). Com isso, o canabidiol sai de uma lista de substâncias proibidas no país e passa para uma lista de substâncias controladas. O canabidiol tem sido muito eficaz no tratamento de pacientes com epilepsia.

No fim do ano passado, estreou no Brasil o documentário “Ilegal”, de Raphael Erichsen e Tarso Araújo, que mostra a luta de pacientes para obter o medicamento. Vale muito a pena ver o filme e perceber como a burocracia, a ignorância e a incompetência do Estado praticamente condenaram um grande número de brasileiros a um sofrimento abjeto.

Uma das personagens principais do filme é Katiele Fischer, mãe de Anny, uma menina de cinco anos que sofre de um tipo incurável de epilepsia. Anny sofre oito a dez convulsões por dia, e o único remédio que alivia os ataques é o canabidiol. Katiele e o marido passam meses brigando para conseguir a liberação de carregamentos do remédio, que compraram nos Estados Unidos e estão retidos nos Correios.

O filme conta casos escabrosos: uma mulher usa maconha medicinal para aliviar dores causadas pela arrasadora quimioterapia a que teve de se submeter depois de um câncer, e acaba acusada de tráfico internacional de drogas; médicos temem prescrever canabidiol com medo de serem proibidos de trabalhar; mães agem como traficantes, recebendo os remédios do exterior escondidos em caixas de presentes.

No filme, Katiele vai ao Congresso Nacional pedir a deputados a retirada do canabidiol da lista de remédios proibidos. Os nobres parlamentares fazem promessa em cima de promessa. "Agora vai!", diz ela, cheia de esperança. Numa reunião marcada pela Anvisa para discutir o tema, o balde de água fria: a agência nega a liberação do medicamento.

Felizmente, a Anvisa voltou atrás e viu a besteira que fez. Pacientes e parentes de pessoas com epilepsia e outras doenças agradecem.

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A MORTE DE UMA COELHINHA DA “PLAYBOY”

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O coreógrafo, dançarino, ator e roteirista Bob Fosse (1927-1987) dirigiu cinco filmes. E pelo menos quatro são espetaculares: “Cabaret” (1972), “Lenny” (1974), “All That Jazz” (1979) e “Star 80” (1983).

Este último é uma raridade na TV brasileira e foi exibido recentemente no canal Max, que promete uma reapresentação para 2 de fevereiro, às 4h30 da manhã. Tome café, tome remédios, faça qualquer coisa, mas fique acordado para assistir.

O filme é baseado numa famosa reportagem do jornal “Village Voice”, vencedora do prêmio Pulitzer de jornalismo em 1981, sobre o assassinato de Dorothy Stratten, uma “coelhinha” da revista “Playboy” que foi morta pelo marido, Paul Snider.

A história de Dorothy envolve figurões do high society de Hollywood. Descoberta por Paul Snider quando trabalhava em uma lanchonete em Vancouver, no Canadá, Dorothy acabou nas páginas da “Playboy”. O dono da revista, Hugh Hefner, odiava Snider e o achava um aproveitador, que usava Dorothy para se aproximar de agentes e astros do cinema.

Hefner encorajava Dorothy a largar Snider e a apresentou ao cineasta Peter Bogdanovich (“A Última Sessão de Cinema”). Bogdanovich caiu de paixão pela moça. Dorothy pediu divórcio a Snider, que a chamou para uma conversa em sua casa e a matou a tiros. Dorothy tinha 20 anos.

Para tornar a história ainda mais escabrosa, Bogdanovich não só escreveu um livro sobre Dorothy (“The Killing of the Unicorn”, 1984), como acabou casando com a irmã caçula dela, Louise. Os tabloides fizeram a festa.

No filme, Fosse trocou o nome do cineasta, poupando Bogdanovich. Dorothy é interpretada pela neta de Ernest Hemignway, Mariel Hemingway (“Manhattan”, de Woody Allen), mas o destaque é Eric Roberts no papel de Paul Snider.

Irmão mais velho da atriz Julia Roberts, Eric é um ator extraordinário que despontou no início dos anos 80 com grandes atuações em “The Pope of Greenwich Vilage” (Stuart Rosenberg, 1984) e “The Coca-Cola Kid” (Dusan Makavejev, 1985), mas teve sérios problemas com drogas e viu sua carreira no cinema declinar. Nos últimos 20 anos, Roberts tem se dedicado mais a trabalhos para TV.

Na verdade, o personagem mais interessante e complexo de “Star 80” não é Dorothy Stratten, mas Paul Snider, um trambiqueiro que alimenta ilusões de grandeza e um ressentimento profundo contra o “sistema”, que não enxerga sua genialidade. Na pele de Snider, Roberts consegue ser ao mesmo tempo assustador e frágil.

Veja esse trecho de “Star 80”, com a fenomenal coreografia e montagem de Bob Fosse, e diga se Paul Thomas Anderson não se “inspirou” bastante nele para fazer “Boogie Nights”:

E se você gostar de “Star 80”, assista a outra cinebiografia genial e trágica dirigida por Bob Fosse: “Lenny”, sobre o comediante Lenny Bruce (1925-1966), um iconoclasta que chocou os Estados Unidos com suas piadas sobre raça, drogas e a caretice reinante no país. Para mim, é a maior atuação da carreira de Dustin Hoffman . Achei esse trecho no Youtube, com uma das cenas mais impactantes do filme (as legendas são ruins, mas dá para ter uma ideia do tom)...

Bem que alguma emissora poderia programar um “Especial Bob Fosse”. Seus filmes andam sumidos da TV e precisam ser vistos.

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AFINAL, JIMMY PAGE TOCOU NO THE WHO? E NO KINKS?

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Há meio século era lançado o compacto de estreia do The Who, “I Can’t Explain”. Para comemorar os 50 anos a banda lançou uma nova coletânea, “The Who Hits 50”, e anunciou uma grande turnê na Europa e América do Norte. O Bananão, pra variar, ficou de fora.

A banda de Roger Daltrey (vocal), Pete Townshend (guitarra), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) já havia gravado um compacto, “Zoot Suit”, em 1964, sob o nome The High Numbers. Mas “I Can’t Explain” foi a primeira gravação dos quatro com o nome The Who.

“I Can’t Explain” é uma jóia pop: dois minutos de um riff de guitarra memorável e uma letra espertíssima de Townshend, inspirada numa cena que viu na plateia de um dos primeiros shows da banda: rapazes “mods” tão inseguros e tímidos que não tinham coragem de atravessar o salão e convidar uma menina para dançar. Townshend fez uma letra que captava a insegurança adolescente e o sentimento de inadequação de muitos jovens da época. Foi uma das primeiras canções do pop a tratar da angústia teen.

Em “I Can't Explain”, Townshend copiou o riff de guitarra de “All Day and All of the Night”, do Kinks, grande sucesso na época. Seu objetivo era atrair a atenção de Shel Talmy, produtor do Kinks. E deu resultado: Talmy ouviu a canção e aceitou produzir o compacto, gravado no fim de 1964.

Além de ser um famoso produtor, Shel Talmy entrou para a história do rock por outro motivo: foi ele que contratou Jimmy Page, então um músico de estúdio de 20 anos de idade, para tocar em faixas que se tornariam clássicas como “All Day and All of the Night” e a própria “I Can’t Explain”.

Vale lembrar que o uso de músicos de estúdio era comum na época. Produtores usavam instrumentistas mais gabaritados para suprir deficiências técnicas de alguns integrantes das bandas. No primeiro compacto dos Beatles, "Love Me Do", de 1962, Ringo Starr foi substituído por um baterista de estúdio, Andy White. Antes de se tornar um astro do rock com o Led Zeppelin, Jimmy Page foi um dos mais requisitados músicos de estúdio da Inglaterra. Calcula-se que tenha tocado em pelo menos 60% dos discos de pop-rock gravados no país no início da década de 1960, incluindo hits de Tom Jones (“It’s Not Unusual”), Shirley Bassey (“Goldfinger”) e Them (“Gloria”), além das já citadas faixas de Kinks e Who.

Veja essa inacreditável entrevista com Page, em 1963, aos 19 anos, em que ele diz que trabalha como músico de estúdio “há 18 meses” e que planeja ganhar dinheiro com música para se tornar um artista plástico!

Voltando à gravação de "I Can't Explain": quando Talmy chegou ao estúdio acompanhado de Page, Townshend não gostou nem um pouco e exigiu tocar a guitarra principal. A participação de Page se restringiu a uma guitarra de apoio.

Outra gravação em que a presença de Jimmy Page causou atritos foi a de “You Really Got Me”, grande sucesso do Kinks. Talmy e o tecladista Jon Lord, que depois ficaria famoso no Deep Purple e tocou teclados em “You Really Got Me”, garantiam que Page havia gravado o famoso solo de guitarra, mas os irmãos Ray e Dave Davies sempre negaram.

Para irritar Page, Ray disse que ele havia tocado pandeiro na gravação. Page não quis botar lenha na fogueira e disse que não lembrava o que tinha gravado em “You Really Got Me”, "mas certamente não toquei pandeiro!". No entanto, pesquisadores garantem que a gravadora do Kinks, a Pye, ainda tem nos arquivos um take da canção com um solo do guitarrista do Led Zeppelin.

Jimmy Page sempre odiou falar sobre sua carreira de músico contratado, até para não causar brigas com outros artistas. Mas acabou revelando à revista “Uncut” uma história curiosa: “Outro dia eu estava ouvindo a BBC e eles tocaram uma canção. Eu disse: ‘Meu Deus, sou eu que estou tocando!’ Era ‘I’ve Got Everything You Need, Babe’, de Bern Elliot & the Fenmen’. Então eu certamente gravei essa canção, porque sou eu sem sombra de dúvida.”

Continua Page: “Naquela época a gente gravava e nem sabia de quem era a música. As sessões eram ininterruptas, uma depois da outra, sem intervalo. Nem eu tenho a lista de tudo que gravei e, sinceramente, não lembro muita coisa. Posso estimar quantas são. São muitas, posso garantir. Fiz isso por três anos seguidos, três sessões de gravação por dia.”

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“MERDA” PRA VOCÊ, BIRDMAN

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Há alguns meses, fui com minha mulher a um restaurante. Sentamos ao lado de uma mesa que reunia quatro atores. Eles agiam como se estivessem num palco: falavam alto, faziam gestos exagerados e carregavam as frases de dramaticidade. Em certo momento, dois deles levantaram e interpretaram uma cena de alguma peça ou filme, sei lá. Foi um espetáculo vergonhoso de egos inflados e autoimportância. Só faltou o facho de luz iluminando a mesa dos quatro magnânimos enquanto a patuleia assistia ao espetáculo, embevecida de tanto talento e genialidade.

Contei esse caso porque vi “Birdman (ou a Inesperada Virtude da ignorância)”, de Alejandro González Iñárritu, e tive a mesma sensação constrangedora de ver atores se divertindo mais que o público.

Há muito tempo não assisto a um filme tão ególatra, pomposo e arrogante. Foram duas horas de absoluto vácuo, embaladas como grande fábula moral. Preferiria passar a noite toda no restaurante ouvindo os malas fazendo piadas internas e jogando confete uns nos outros. Pelo menos a comida era boa.

Até o nome é pretensioso: “Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância”). Os personagens são pessimamente escritos e desprovidos de qualquer humanidade. São arquétipos, clichês ambulantes, sem nuance ou mistério. Que esse roteiro pestilento tenha sido indicado a um Oscar (foram nove indicações no total!) mostra o nível rastaquera do cinema “adulto” de Hollywood.

A história gira em torno de Riggan Thomson (Michael Keaton), um ex-herói de blockbusters de ação e ator principal de uma franquia chamada “Birdman” (“Homem-Pássaro”, captou? Keaton fez o “Homem-Morcego”, uau, que sacada!), que decide dirigir e atuar na Broadway em uma adaptação teatral de uma história de Raymond Carver. O objetivo de Riggan é receber a aprovação crítica que nunca teve na época de “Birdman”. Ele – a exemplo de Iñárritu - quer ser relevante.

Em sua cachola perturbada, Riggan tem visões e ouve vozes – na verdade, o próprio personagem Birdman – que lhe orienta sobre a vida. Ao mesmo tempo, o ator tem poderes de poltergeist, movendo objetos e causando acidentes no palco, incluindo uma luz que cai na cabeça de um ator que não está rendendo bem nos ensaios.

O tal ator é substituído por Mike Shiner (Edward Norton), um enfant terrible da Broadway, tão talentoso quanto intempestivo e que nunca “se vendeu” ao comercialismo de Hollywood. Shiner passa 24 horas por dia emulando James Dean, com uma atitude punk de “foda-se o mundo” e um cigarro no canto da boca enquanto trombeteia a própria genialidade. Resumindo: um babaca completo.

Riggan tem uma filha, Sam (Emma Stone, atriz cuja ideia de intensidade dramática é abrir os olhos até atingirem o tamanho de dois pires e quase saltarem das órbitas), uma junkie que acaba de sair de uma clínica de reabilitação e é contratada pelo pai para ser sua assistente pessoal.

Os outros personagens são igualmente caricaturais: temos as atrizes Lesley (Naomi Watts), namorada de Mike, e Laura (Andrea Riseborough), namorada de Riggan, que só aparecem na história como figurantes das idiossincrasias dos respectivos amantes; Jake (Zach Galifianakis), agente de Riggan e que passa o filme todo aos berros ou às lágrimas; e, no fundo do poço, Tabitha Dickinson (Lindsay Duncan), uma temida crítica e último bastião da “resistência” anticomercial do teatro. Tabitha escreve suas resenhas ácidas do balcão de um bar e despreza Riggan como produto do culto a celebridades. Mais clichê, impossível.

“Birdman” acompanha os ensaios que antecedem à estreia da peça. Riggan e Shiner se digladiam para superar ao outro, mesmo que, à vista da equipe, digam “break a leg” (no Brasil, “merda”, expressão usada para desejar boa sorte a um ator). Riggan é extremamente inseguro e não se acha à altura de encarar um palco da Broadway. Já Shiner é um poço de ressentimento contra o sucesso comercial de Riggan e faz de tudo para humilhá-lo.

O filme trata de temas que poderiam ser interessantes, se não fossem mostrados de forma tão maniqueísta e simplória. Iñárritu tem a mão pesada para a sátira e suas piadas sobre a idiotice do cinema comercial hollywoodiano soam óbvias e redundantes.

Pior: ele parece acreditar na própria genialidade e encena todas as sequências do filme com a pompa da abertura de “A Marca da Maldade”. Não há um movimento de câmera que não tenha sido pensado para surpreender pela ousadia ou um diálogo que não termine com algum ator gritando, chorando ou sendo incomodamente histriônico. Não é à toa que Keaton, Norton e Emma Stone foram indicados ao Oscar: a Academia ama atores que dão chilique.

“Birdman” é cheio de cenas claramente inventadas para dar ao filme um verniz de ousadia: Mike Shiner entra no palco com uma ereção de meio metro; Laura e Lesley se beijam; Riggan Thomson fica preso de cuecas fora do teatro e precisa andar por Times Square seminu; e – acredite! – Riggan fuma um baseado enquanto olha para os lados, paranoico, certificando-se de que ninguém o está flagrando nesse crime hediondo. A caretice não tem limites.

Mas nada é mais irritante que a forma como Iñárritu escolheu para filmar “Birdman”. O filme é quase todo composto de longos planos-sequências, cenas sem cortes em que a câmera se move o tempo todo e persegue os atores.

O plano-sequência é uma das ferramentas mais bonitas e complexas do cinema. Os cineastas que sabem usá-la – Hitchcock, Ophuls, Godard, De Palma, Scorsese, Kalatozov, Tarkovsky – a utilizam para destacar grandes sequências de seus filmes. Hitchcock fez um filme inteiro – “Festim Diabólico” - formado por dez longos planos-sequência, mas havia uma razão: ele queria narrar a história em tempo real e no mesmo cenário para dar uma ideia de claustrofobia e suspense. Nesse caso, a técnica foi usada a favor da história.

Já Iñárritu usa o plano-sequência para se mostrar. Não há uma razão plausível para contar o filme todo dessa forma, a não ser uma necessidade patológica de exibir destreza técnica. Iñarritu criou o cinema-ostentação.

Vendo o filme, lembrei na hora uma declaração de Lux Interior, cantor de minha banda predileta, o Cramps, em que esculhambava o grupo new wave B-52s: “Eu até gostava deles, até descobrir que eles tiravam aquelas perucas engraçadas quando saíam do palco.” O que Lux queria dizer é que nada é mais repugnante que a falsidade e que não devemos aceitar o fake.

Se alguém quer comparar essa baba de “Birdman” com um filme verdadeiramente ousado, sugiro ver “Mapas para as Estrelas”, de David Cronenberg, que deve estrear em 19 de fevereiro. O filme traz alguns dos mesmos temas de “Birdman” – egos mastodônticos de astros do cinema, culto a celebridades, uma estrela decadente tentando reerguer a carreira, uma filha junkie – mostrados com um bilhão de vezes mais talento e coragem. Cronenberg não posa de louco, ele é louco de verdade e mostra isso em seu trabalho, sempre pessoal e único. Já Iñárritu é um rebelde poseur que fez um filme calculadamente “muito doido, bitcho”. Periga levar o Oscar.

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O LADO B DOS ANOS 70 EM HOLLYWOOD

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O CCBB de São Paulo está exibindo, até o dia 9 de fevereiro, a mostra “Easy Riders: O Novo Cinema de Hollywood” (veja a programação aqui), com uma ótima seleção de filmes produzidos entre o fim dos anos 60 e o fim dos 70, um dos períodos mais criativos do cinema norte-americano.

A mostra inclui “O Poderoso Chefão”, “Tubarão”, “Taxi Driver”, "Sem Destino", “M.A.S.H.”, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “A Última Sessão de Cinema”, todos clássicos, que não vou perder tempo indicando.

Listei dez filmes bem menos conhecidos que estão na mostra e merecem ser vistos. Quem não mora em São Paulo pode ver a maioria em DVD, Blu-Ray ou nos Cines Torrents da vida. Lembrando que publiquei, há alguns meses, um texto sobre “O Comboio do medo”, de William Friedkin, que também está na mostra (leia aqui).

 

A Última Missão (The Last Detail, Hal Ashby, 1973)

Adoro esse filme. Jack Nicholson e Otis Young são dois oficiais da Marinha que recebem a missão de escoltar um jovem marinheiro (o ótimo Randy Quaid) para a prisão. Uma pérola anti-establishment do genial Hal Ashby (1929-1988).

 

Amargo Reencontro (Big Wednesday, John Milius, 1978)

Não foi só Coppola em “Apocalypse Now” que juntou surfe e a Guerra do Vietnã no mesmo filme. Esse drama de Milius conta a vida de três amigos surfistas (Gary Busey, Jan-Michael Vincent e William Katt) que tentam escapar da guerra. Há um ótimo documentário sobre Milius passando na HBO, que vale muito a pena assistir.

 

Cada um Vive Como Quer (Five Easy Pieces, Bob Rafelson, 1970)

Que ator era Jack Nicholson nos anos 70, não? Nesse drama, um filme triste sobre a falta de perspectiva e ideais da América nos anos 70, Nicholson faz um trabalhador de perfuração de petróleo que esconde o fato de vir de uma família rica e excêntrica. Quando o pai fica à beira da morte depois de um derrame, Nicholson pega a namorada - a extraordinária Karen Black - e cruza o país para se despedir. Bonito demais.

 

A Outra Face da Violência (Rolling Thunder, John Flynn, 1977)

Um dos filmes mais brutais do período, conta a história de Charles Rane (William Devane), um soldado americano que passa oito anos sequestrado por tropas vietnamitas e sofrendo torturas inimagináveis. Após ser solto, ele volta aos Estados Unidos só para descobrir que a violência em casa é até pior. Tarantino gosta tanto desse filme que batizou sua produtora de Rolling Thunder. O roteiro é de Paul Schrader.

 

Na Mira da Morte (Targets, Peter Bogdanovich, 1968)

Inspirado pelo caso real de um homem que subiu numa torre e matou diversas pessoas a tiros, Bogdanovich fez esse filme B para Roger Corman, inclusive utilizando Boris Karloff de coadjuvante (Karloff devia a Corman dois dias de filmagem). Lançado logo após os assassinatos de Robert Kennedy e Martin Luther King, o filme foi um fracasso de bilheteria, mas depois virou “cult”, sendo inclusive homenageado por Elvis Costello na faixa “Big Tears”.

 

Os Maridos (Husbands, John Cassavettes, 1970)

O cinema de Cassavettes explorou o vazio da vida de classe média americana, e “Husbands” é um de seus melhores filmes: uma história melancólica sobre três amigos (interpretados pelo próprio Cassavettes, além de dois membros constantes de sua trupe, Ben Gazarra e Peter Falk), que saem para uma noitada de bebedeira após saberem da morte de um amigo. Sempre achei que Pietro Germi se inspirou nesse filme para escrever “Meus Caros Amigos” (1975), que acabaria dirigido por Mario Monicelli depois que Germi morreu.

 

Nasce um Monstro (It´s Alive, Larry Cohen, 1974)

“Trashão” da melhor qualidade: um casal vai ao hospital para o nascimento de seu filho, mas o que sai da barriga da mamãe é um monstro mutante que mata tudo que vê pela frente. Os Ramones adoravam esse filme e batizaram seu primeiro disco ao vivo de “It´s Alive” em homenagem a ele.

 

Warriors – Os Selvagens da Noite (Warriors, Walter Hill, 1979)

Vi essa beleza num drive-in na Ilha do Governador e minha vida nunca mais foi a mesma. Numa Nova York dominada pela violência, gangues defendem seus bairros e enfrentam as outras em brigas até a morte.

 

Hardcore – No Submundo do Sexo (Hardcore, Paul Schrader, 1979)

Paul Schrader é um herói. Escreveu “Taxi Driver”, “Touro Indomável” e “A Costa do Mosquito”, dirigiu “Vivendo na Corda Bamba”, “Mishima”, “Affliction” e este “Hardcore”, um dos grandes filmes desconhecidos da “Nova Hollywood”. George C. Scott faz um pai que procura a filha desaparecida e descobre que ela atuou em um filme pornô. Joel Schumacher copiou 90% desse filme em “8mm”.

 

Terra de Ninguém (Badlands, Terrence Malick, 1973)

Martin Sheen e Sissy Spacek saem sem destino pelo meio-oeste americano nesse “road movie” violento e lírico, o primeiro longa dirigido por Malick – e seu melhor. Se você achar parecido com “Assassinos por Natureza”, de Oliver Stone, não é mera coincidência.

 

Corrida sem Fim (Two Lane Blacktop, Monte Hellman, 1971)

O cinema americano do fim dos 60 e início dos 70 abusou do automóvel como metáfora da vida sem limites e  símbolo da contracultura. É só lembrar “Sem Destino”, “Vanishing Point”, “Death Race 2000” e tantos filmes em que a estrada é uma analogia daqueles tempos caóticos em que ninguém conseguia saber o que aconteceria na próxima curva. “Two Lane Blacktop” é um grande “road movie”, uma parábola existencialista sobre a sociedade americana e que tinha no elenco dois músicos famosos: o baterista dos Beach Boys, Dennis Wilson, e o cantor folk James Taylor.

Bom fim de semana a todos.

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“FOXCATCHER” DESPERDIÇA UMA GRANDE HISTÓRIA

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Tirando o mentiroso subtítulo que a distribuidora brasileira incluiu no filme – “Uma História que Chocou o Mundo” - não há nada errado com “Foxcatcher”.

Mas quem já leu um pouco sobre a vida do personagem principal, o bilionário John Eleuthère Du Pont, percebe que o diretor Bennett Miller ("Capote") não escolheu a melhor abordagem para o filme. Se tivesse contado a história de Du Pont e não penas sua relação com a luta livre e os irmãos Schultz, poderia ter realizado um grande filme.

John Du Pont, interpretado no filme por Steve Carell, irreconhecível sob uma montanha de maquiagem, foi um personagem misterioso e fascinante. Herdeiro da família Du Pont, que enriqueceu no início do século 19 fabricando pólvora e até hoje tem uma das maiores empresas químicas do mundo, John foi ornitólogo, colecionador de selos e fanático por esportes.

John tornou-se mecenas de vários atletas e doou dinheiro para equipes de luta livre, natação e atletismo. Mas sua grande paixão era mesmo a luta livre. No fim dos anos 80, montou uma academia super equipada em sua fazenda na Pensilvânia e investiu na montagem de uma equipe vencedora, que incluía o campeão olímpico Mark Schultz e seu irmão mais velho, Dave, um herói do esporte, seis vezes medalhista em campeonatos mundiais e também campeão olímpico. No filme, Mark é interpretado por Channing Tatum (“Magic Mike”) e Dave, por Mark Ruffalo (“Zodíaco”).

“Foxcatcher” se concentra na relação de John com os irmãos Schultz. Infelizmente, o filme pouco explora a psique de John Du Pont. Ele é mostrado como um homem claramente perturbado, que odeia a mãe, Jean (Vanessa Redgrave), e tem uma obsessão por armas de fogo (obsessão que, no fim, provoca a “História que Chocou o Mundo”, que não revelarei aqui para não estragar a surpresa de quem não viu o filme).

“Foxcatcher” optou por suprimir algumas passagens interessantes da vida de Du Pont, talvez para dar ritmo à narrativa. Mas isso tornou a história fragmentada e tirou muito do que o personagem tinha de mais interessante. O fim, especialmente, é muito abrupto e mal resolvido. Em vez de simplesmente relatar o que aconteceu, Bennet Miller poderia ter explorado melhor o personagem de Du Pont e tentar explicar o que o levou a fazer o que fez.

Na vida real, ele foi bem mais complexo do que aparenta no filme: teve um casamento de menos de seis meses que acabou depois que ele apontou uma arma para a esposa; dizia que era a reencarnação de Jesus Cristo e doou 80% de sua fortuna de bilhões para um lutador búlgaro. Taí um filme que eu queria ver.

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NASCERAM OS ELEFANTES BRANCOS DA COPA – E AGORA, PACHECADA?

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090314manaus 8089pm 1024x683 NASCERAM OS ELEFANTES BRANCOS DA COPA – E AGORA, PACHECADA?

Sinto voltar a esse tema espinhoso e desagradável, mas meu bolso está doendo e não vai me deixar ficar quieto.

Semana passada, a FIFA – ela mesma – apresentou um relatório no qual afirma que quatro estádios construídos para sediar jogos da Copa do Mundo – Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal – já dão prejuízos a seus Estados.

O secretário-geral da FIFA, o simpaticíssimo Jerôme Valcke, anunciou um projeto de R$ 100 milhões para “revitalização dos estádios”: “É claro que dá para criticar alguns dos estádios, mas haverá tempo para o uso desses estádios. Isso leva tempo".

Valcke tem razão. Leva tempo. No caso de Brasília, cerca de mil anos, tempo necessário para recuperar o 1,7 bilhão de reais de dinheiro público gastos na obra.

A Arena das Dunas, em Natal, construída ao custo de R$ 423 milhões, tem recebido uma programação extensa de jogos e eventos, mas a média de público nas partidas de futebol não passa de 9 mil pessoas, para uma capacidade de 31 mil (a capacidade era de 42 mil na Copa com as arquibancadas móveis, que foram erguidas para receber quatro jogos da Copa e, posteriormente, foram desmontadas).

A Arena Amazônia, que custou aos contribuintes R$ 757 milhões, recebeu em 2014 impressionantes QUATRO jogos depois da Copa do Mundo: Vasco da Gama x Oeste, Botafogo x Corinthians, Botafogo x Flamengo e Flamengo x Vitória (BA). Os jogos renderam ao governo local R$ 823 mil, ou 27,45% do custo de manutenção mensal da Arena Amazônia.

Somado ao faturamento com shows e eventos - como um show da cantora Ivete Sangalo e o festival de música gospel "Louvarei 2014" - o estádio teve uma receita de R$ 1,6 milhão desde a Copa, contra um custo de manutenção de R$ 3 milhões, o que significa um prejuízo acumulado de R$ 1,4 milhão - além dos 757 milhões gastos na obra, claro.

Vale lembrar que nosso então Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo (hoje na pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação, onde certamente ajudará a difundir sua tese de que o aquecimento global é uma farsa imperialista), defendeu as construções dos estádios para incentivar o futebol local: “Eu acho que esse estádio de Manaus é importante, como o de Cuiabá também é, para o futebol local”, disse Rebelo.

Infelizmente, os times locais não concordaram com ele. Nenhum time amazonense jogou na Arena Amazônia após a Copa devido ao alto custo de manutenção do elefante branco.

A situação da Arena Pantanal é ainda mais triste: menos de sete meses após ser inaugurada, já foi interditada para reparos emergenciais. Segundo o noticiário, o estádio, que nos custou R$ 626 milhões, apresenta problemas na rede elétrica, infiltrações e alagamentos. No fim do ano passado, Andrômeda, uma égua da cavalaria da Polícia Militar, morreu eletrocutada enquanto passeava no gramado da área externa do estádio.

Após a Copa, a Arena Pantanal recebeu outros 15 jogos das Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro, além da Copa do Brasil. O público total foi de 191.453 pagantes, com média de 12,7 mil torcedores. A capacidade total do estádio é de 44 mil torcedores. Nas partidas dos times locais não foi cobrado aluguel. Já em jogos da Série A e Copa do Brasil, o valor do aluguel foi de R$ 50 mil.

Foram realizados ainda outros dois eventos: um show do Rappa e o lançamento de um condomínio. O faturamento total pós-Copa foi de R$ 200 mil, enquanto o custo mensal de manutenção é de R$ 300 mil.

E quem diz que a Arena Pantanal é um elefante branco não é nenhum derrotista, entreguista ou imperialista, mas o próprio governador de Mato Grosso, Pedro Taques: “O Maracanã, por exemplo, está renegociando sua concessão. Se um estádio como aquele não dá lucro, imagina a Arena Pantanal”, disse Taques, por meio de sua assessoria.

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MUTANTES COMO VOCÊ NUNCA VIU

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mutantes1 1024x682 MUTANTES COMO VOCÊ NUNCA VIU

Foi minha amiga Denise Bobadilha quem deu a dica: a fotógrafa Leila Lisboa Sznelwar, 64, está organizando um “crowdfunding” para financiar um projeto sensacional: um livro reunindo 130 fotos de seu acervo de imagens dos Mutantes (sabia mais aqui), muitas delas inéditas.

Leila era namorada do baixista Liminha e conviveu intensamente com os Mutantes entre 1969 e 1974, registrando o dia a dia da banda em centenas de fotos intimistas e reveladoras. As imagens são lindas.

Fiz uma entrevista com Leila para o blog. Aqui vai a íntegra do papo:

 

- Quando e como você conheceu os Mutantes? Quantos anos você tinha, e o que fazia?

- Conheci em um show que fui com a Lucinha Turnbull [no Teatro São Pedro, em São Paulo] e comecei a namorar o Liminha, baixista deles. Moramos juntos por alguns anos e assim se deu minha convivência com todos. Tínhamos 18, quase 19, os dois. Eu trabalhava como assistente de fotógrafa e estudava na USP.

 

- Quem mais, além da banda e você, frequentava os ensaios?

- O Toninho Peticov, Claudio Prado, Paulo Sri, Polé, Marcia Lancelotti, Gilberta, Lucia Turnbull, as namoradas Sabine do Serginho, Lilian Turnbull do Dinho, A Virgínia. irmã da Rita aparecia às vezes e eu sempre por ali tirando fotos... Era um grupo bem fechado nessa época. Eles preferiam ensaiar sem muita gente por perto, por isso alugaram outra casa que não a deles na serra da Cantareira. Até hoje, eu moro na Cantareira.

mutantes3 MUTANTES COMO VOCÊ NUNCA VIU

 

- Pelo que vi, muitas fotos foram tiradas na Cantareira. Como era a atmosfera da casa?

- Vou te dizer uma coisa: na época em que eu acompanhei os Mutantes, o clima era muito alto astral. Era muito engraçado, não havia dia ruim. Nos ensaios rolavam as discussões normais de qualquer grupo.

 

- Poderia descrever um dia típico na vida dos Mutantes?

- Nada era típico, cada dia era diferente do outro. Essa normalidade não existia. O que havia eram surpresas, fantasias, sustos, pegadinhas,  cobras aranhas e lagartos.

 

- Como era a relação da banda com a situação política e social do país? Eles eram preocupados com a situação da época, ou tinham se isolado justamente para tentar fugir um pouco da realidade tão dura?

- Obviamente, eles não eram a favor da ditadura, mas sabiam dar a volta por caminhos que ninguém entendia, tudo com muito humor e sarcasmo. Nossa realidade era mais leve, mas não menos triste, politicamente falando.

mutantes21 MUTANTES COMO VOCÊ NUNCA VIU

- O período compreendido no livro é marcado por cisões no grupo, primeiro com a saída de Arnaldo e, posteriormente, com o início da carreira solo da Rita. Como você sentiu essas mudanças na dinâmica e no relacionamento da banda?

- Tudo isso coincidiu com a minha separação do Liminha, o que tornou tudo mais pesado também para nós. Como eu me lembro dessa época: turbulenta, ansiosa, com cabeças já pensando no futuro. Tanto eles quanto a Rita queriam seguir seus caminhos, mas nada suavizou a separação no momento. Depois disso, continuei amiga de todos separadamente, tanto que fiz a capa do “Lóki” [primeiro disco solo de Arnaldo] em 74. Segui meu próprio caminho, também numa estrada paralela. Tenho fotos do primeiro show deles separados, quando a Rita se juntou com a Lucinha formando as Cilibrinas do Éden e eles tocando em seguida no mesmo show, o Phono 73. Chorei muito nesse show, o que foi uma bobagem porque foi lindo.

 

- Você poderia descrever seu relacionamento com os diferentes integrantes da banda? Você se dava bem com Sérgio, Arnaldo e Rita? Como eram as personalidades deles?

- Eu sempre fui a namorada, mas me dava muito bem com todos, Havia muito carinho entre nós, de forma que não havia diferenças no relacionamento. A Rita era muito engraçada, o Serginho todo paz, amor e guitarra, o Arnaldo a 300 por hora com tudo, o Dinho e o Liminha eram mais inocentes... Eu era uma menina deslumbrada pela magia da época, porém uma pessoa quase normal, que trabalhava e se divertia sempre com muitas lantejoulas bordadas.

mutantes42 199x300 MUTANTES COMO VOCÊ NUNCA VIU

- Como você avaliaria o balanço de poder criativo da banda? Havia alguém que “comandava” os ensaios, que trazia mais ideias para músicas novas? Ou era um trabalho mais coletivo?

- No geral era um trabalho coletivo, mas o Arnaldo era genial, ninguém pode negar. Todos criavam o tempo todo, era impressionante.

 

- Como foi, para você, o fim da banda e as saídas de Arnaldo e Rita?

- Como disse, foi um fim coletivo, tudo mudou, todos se separaram, mas é impossível esquecer os poucos anos que estivemos juntos. Não acredito que eu tenha vivido um tempo mais rico que esse em termos de formação de personalidade, de caráter. Ali, aprendi que o amor incondicional é o que realmente importa na vida, que ser do bem é muito bacana. Eu trouxe comigo esses conceitos até hoje e passei para minha filha, que captou totalmente. Dos outros, não posso falar...cada um que diga por si.

 

- Por que esse material ficou tanto tempo inédito?

Por falta de interesse geral. Não tive apoio nenhum de ninguém, de nenhum projeto cultural, as editoras nem olhavam minhas fotos ou queriam todos os direitos. Eu posso ser boa, mas não sou boba. As gravadoras nunca me pagaram e nem me devolveram os negativos. Imagine que dois ou três rolos das fotos do “Lóki” estão perdidos. Até hoje tento recuperar. Tenho uma carreira em outro setor porque ganhar dinheiro com fotos não foi possível. Aí apareceu o “crowdfunding” que é minha última esperança para lançar esse livro.

 

- Quantas fotos inéditas você tem dos Mutantes?

- Há muitas fotos que já foram publicadas e estarão no livro porque são belíssimas, mas a quantidade que eu tenho é ridiculamente maior, umas 300 que nunca saíram dos meus arquivos.

P.S.: Estarei fora até o início da tarde e não poderei moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado,l peço desculpas e um pouco de paciência.

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“MAIS AGOGÔ!”: 5 GRANDES MOMENTOS DE WILL FERRELL

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Há alguns dias, um leitor mencionou o quadro do “Saturday Night Live” que mostrava a gravação do Blue Oyster Cult para a canção “Don’t Fear (The Reaper)”. Nele, o comediante Will Ferrell toca um cowbell (agogô) para deleite do produtor musical Bruce Dickinson, interpretado por Christopher Walken.

Mostrei o “sketch” aqui em casa e agora todos estão obcecados por Will Ferrell. Minha filha pede para ver “o quadro do agogô” pelo menos cinco vezes por dia.

Resolvi listar cinco grandes momentos de Will Ferrell (infelizmente, não consegui legendas). Aqui vão eles:

MAIS AGOGÔ!

Exibido em 2000, virou um clássico do “Saturday Night Live”. Poucas coisas são mais engraçadas que Cristopher Walken dizendo “Eu tenho uma febre, e o único remédio capaz de curá-la é mais agogô!” Note que Jimmy Fallon, que interpreta o baterista, não resiste e começa a rir no meio do quadro.

More Cowbell - Saturday Night Live from Dee Three on Vimeo.

O quadro do “cowbell” ficou tão famoso que foi reencenado em outros países. Veja a versão exibida pelo “Saturday Night Live” espanhol, em que o produtor chama “Kristo Kristofferson”:

 

WILL FERRELL CONTRA CHAD SMITH

A semelhança física entre Ferrell e o baterista do Red Hot Chili Peppers, Chad Smith, é impressionante. O programa de Jimmy Fallon desafiou os dois para um concurso de bateria. Engraçado demais:

 

WILL ARREBENTA NA FLAUTA

O melhor filme de Ferrell é “O Âncora”, que já vi umas 15 vezes. E uma das cenas mais ridículas é a da “improvisação” de flauta num clube de jazz.

 

CRACK AO VIVO NA TV

“O Âncora 2” não chega aos pés do original, mas tem uma cena antológica que mostra Ron Burgundy e sua equipe de repórteres fumando crack ao vivo na TV.

 

QUEM É MARK TWAIN?

Ferrell ganhou o Prêmio Mark Twain de humor e seu discurso de agradecimento foi demais: “Por muitos anos recusei o prêmio, até por ter sérias dúvidas sobre esse Mark Twain. Por exemplo: quem é ele?”.

P.S.: Estarei fora até o início da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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VOLTA, LULA!

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Pescando lula VOLTA, LULA!

Se você passear de barco pelo litoral sul do Rio e vir 10, 20 ou até 50 barquinhos ancorados lado a lado em mar aberto, pode ter certeza: as lulas voltaram.

A pesca da lula começou tarde no litoral fluminense. Os primeiros grandes cardumes da temporada costumam aparecer no início de dezembro, mas este ano a pescaria pra valer só começou no meio de janeiro.

Na verdade, todas as temporadas de pesca parecem desreguladas. Segundo pescadores, 2014 foi um dos piores anos para a captura do camarão, por exemplo. Eles culpam a ação predatória de grandes barcos de pesca de arrasto. Essas embarcações são proibidas de trabalhar dentro da Baía de Paraty, mas agem livremente, aproveitando-se da falta de fiscalização.

“Seu” Gilmar, pescador da Barra do Corumbê, pesca na região há três décadas e nunca pegou tão pouco camarão. Segundo ele, os camarões graúdos, que costumam aparecer até novembro, tinham desaparecido quase dois meses antes.

Voltando às lulas: se você nunca as pescou, não sabe o que está perdendo. É uma das pescarias mais simples e divertidas. Não requer grandes conhecimentos ou equipamento sofisticado. Pelo contrário: tudo que você precisa é um pedaço de linha e um zangarilho, uma isca artificial para lula. Veja a belezinha:

zangarilho2 300x300 VOLTA, LULA!Quando o cardume “bate”, é só jogar o zangarilho na água, esperar até sentir um peso, e puxar a linha. A maioria dos barcos deixa várias linhas penduradas ao mesmo tempo e só vai recolhendo as bichinhas. Semana passada, um amigo pegou 20 quilos. Como as lulas costumam sumir de repente por volta de março, muita gente congela o estoque para o resto do ano.

É um tipo de pescaria ideal para fazer com a família: pode ser realizada de dia e não oferece grandes riscos de expor crianças pequenas a anzóis ou a peixes potencialmente perigosos como espadas, arraias e baiacus (alguém já levou um ferrão de arraia na perna? Não recomendo...).

Mas o divertido mesmo é ver a lula cuspindo sua tinta na cara do pescador. No fim do dia, TODOS estarão, inevitavelmente, imundos, assim como o barco. É recomendável usar sua camisa mais velha e esfarrapada. Achei esse vídeo no Youtube, em que um pescador leva um jato de tinta no olho:

 

 

Pescadores mais experientes têm uma técnica para não serem alvejados pela gosma preta: quando sentem o peso de uma lula na linha, puxam rapidamente até que ela saia da água, mas dão uma brecada pouco antes de embarcar a lula, que acaba soltando a tinta antes do que deveria. Para nós, amadores e que pescam com a molecada, o legal mesmo é apostar quem será o sortudo a ser atingido. Faz parte da brincadeira.

Bom fim de semana todos.

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OSCAR É O BURACO NEGRO DO CINEMA

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Segundo a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, “ATeoria de Tudo” é um dos oito melhores filmes lançados nos Estados Unidos em 2014. Esta cinebiografia do físico inglês Stephen Hawking foi indicada a cinco Oscars, incluindo melhor filme, ator (Eddie Redmayne) e Atriz (Felicity Jones).

Isso só pode ser explicado por três coisas: ou os votantes da Academia foram lobotomizados, ou nenhum dos votantes viu esse troço e votou nele só porque mostra a luta de um gênio contra uma doença terrível, ou “A Teoria de Tudo” é, de fato, um dos oito melhores filmes do ano, o que significaria que todos nós que gostamos de cinema deveríamos desistir dele e procurar coisas mais instigantes pra fazer.

“A Teoria de Tudo” não parece um filme, mas um capítulo de novela das oito. Poderia tranquilamente ter sido dirigido por Wolf Maya e estrelado por Rodrigo Hilbert no papel de Stephen Hawking, Mel Lisboa como sua esposa, Jane, e Caio Blat fazendo Jonathan Jones, assistente da família Hawking e caso amoroso de Jane.

barcinski OSCAR É O BURACO NEGRO DO CINEMA

Tudo lembra novela: a iluminação, os diálogos empostados, a cafonice da trilha sonora (o que é aquele pianinho melancólico nos momentos tristes?), o texto escrito para ser compreendido por uma criança de seis anos e as frases manjadas (“Vamos lutar juntos contra essa doença, meu amor!”; “Você conseguiu, Stephen! Provou que o tempo teve um início!”).

O diretor James Marsh não tem vergonha sequer de apelar ao velho, surrado e esfarrapado clichê de usar cenas em Super-8 para mostrar a intimidade da família. Sessão da Tarde, aí vamos nós!

O filme é tão ruim que não vou perder muito tempo com ele – e recomendo que você também não perca. O mais importante é discutir se essa safra de 2014 é a pior da história do Oscar.

Já tivemos anos miseráveis, como 1995, com “Coração Valente”, “Apollo 13”, “Babe – O Porquinho Atrapalhado”, “O Carteiro e o Poeta” e “Razão e Sensibilidade”, e 2008, com “Quem Quer Ser um Milionário?”, “Benjamin Button”, “Milk”, “Frost/Nixon” e “O Leitor”. Mas 2014 periga levar o ouro. É muito filme ruim junto. E isso porque ainda não estreou no Brasil “Sniper Americano”, de Clint Eastwood, um abacaxi atômico de fazer corar o Ron Howard.

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O GÊNIO MACABRO DE “A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE”

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dahl O GÊNIO MACABRO DE “A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE”

Há alguns meses, começamos a ler para nossa filha histórias do galês Roald Dahl (1916-1990), autor de clássicos juvenis como “Matilda”, “O Fantástico Sr. Raposo” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.

Fiquei impressionado com o humor negro e sarcasmo das histórias e resolvi conferir alguns dos contos que Dahl escreveu para adultos. Minha primeira reação ao terminar o mais conhecido deles – “Man from the South” (1948) – foi: por que diabos demorei tanto a ler essa obra-prima?

A história é tão boa que foi adaptada várias vezes para TV e cinema, incluindo um episódio clássico da série “Alfred Hitchcock Presents” e o segmento de Quentin Tarantino no filme “Four Rooms”: num hotel, um jovem encontra um milionário excêntrico. O ricaço propõe um desafio: se o rapaz conseguir acender um isqueiro dez vezes seguidas, ganha um Cadillac; se não conseguir, perde o dedo mindinho da mão esquerda. O conto tem dez páginas e é aterrorizante.

Li alguns outros contos e fiquei obcecado por Dahl. Comprei os dois volumes das “Complete Short Stories”, com as 59 histórias curtas que ele escreveu entre 1944 e 1988. Estou no final do segundo volume e posso dizer que algumas estão entre as melhores histórias de suspense, terror e humor negro que já li. Se a sua praia é Poe, Ambrose Bierce, Joseph Heller e os contos fantásticos de Maupassant e Monteiro Lobato, você vai se refestelar.

As histórias de Dahl são perversas, estranhas e carregadas de sarcasmo. Seus personagens são pessoas aparentemente comuns, mas que escondem segredos terríveis. Em “Galloping Foxley”, um cavaleiro distinto reconhece, num vagão de trem, o sádico companheiro de escola que o torturava meio século antes; em “Skin”, um mendigo é “disputado” por colecionadores de arte quando descobrem que ele tem tatuada nas costas uma obra de um famoso pintor.

Nem todas as histórias são violentas: em “Parson’s Pleasures”, um colecionador de móveis antigos descobre uma cadeira raríssima na casa de um caipira e tenta enganar o matuto, oferecendo uma ninharia pela peça. O final é dos mais surpreendentes e engraçados.

A vida de Dahl foi tão peculiar quanto seus contos. Ele foi piloto da força aérea britânica na Segunda Guerra e participou de combates na África e Grécia. Alguns anos depois do fim da guerra, o escritor C.S. Forester foi entrevistá-lo para uma reportagem sobre combate aéreo e pediu que Dahl escrevesse algumas linhas sobre suas experiências. Forester ficou tão impressionado pela qualidade do texto que pediu aos editores que o publicassem sem mudanças. Foi assim que Roald Dahl virou escritor.

Seus contos são narrados em linguagem econômica e sem floreios, mas absolutamente perfeitos em sua simplicidade. Não há uma vírgula a mais do que deveria e nenhum adjetivo em excesso ou fora de lugar. Escrever tão bem e de forma tão simples deve dar um trabalho medonho. Não é à toa que Dahl costumava levar seis meses para terminar um conto.

Fiz uma busca no site Estante Virtual e achei só um volume de contos de Roald Dahl disponível no Brasil: “Beijo”, lançado em 2007 pela editora Barracuda (infelizmente, a editora não concretizou os planos de lançar outros três volumes).

“Beijo” traz onze histórias, incluindo algumas das melhores do autor, como “O Caminho para o Céu”, sobre uma mulher atormentada pelo risco de chegar atrasada a qualquer compromisso; “William e Mary”, sobre um cientista que convence um amigo, condenado à morte por uma doença fulminante, a doar seu cérebro para um experimento, e “Porcos”, considerada por muitos a obra-prima de Dahl, uma trama macabra sobre um menino criado pela tia, uma vegetariana radical.

Mesmo que seu inglês não seja perfeito, recomendo tentar ler os outros 48 contos de Dahl não incluídos em “Beijo”. A linguagem, como disse, é simples, e as histórias, inesquecíveis.

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“GLORIA”: UMA MULHER CONTRA A MÁFIA

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O que seria de nós sem a Versátil?

Enquanto a temporada do Oscar despeja nos cinemas estrupícios como “A Teoria de Tudo”, a distribuidora de DVD e Blu-Ray continua lançando ótimos filmes.

Entre os últimos lançamentos estão uma caixa com quatro filmes de Samuel Fuller, que comprarei esses dias e comentarei aqui no blog, e a versão restaurada do clássico udigrudi “O Bandido da Luz Vermelha”, de Sganzerla.

Sem contar que a empresa anuncia para breve o relançamento de “A Longa Caminhada” (“Walkabout”), de Nicholas Roeg, um dos filmes mais bonitos e estranhos já feitos.

Há algumas semanas, a Versátil lançou “Gloria” (1980), de John Cassavettes.

Cassavettes (1929-1989) foi o verdadeiro pai do cinema independente americano. Tudo que hoje chamamos de “indie”, ele inventou sozinho. Foi um dos primeiros cineastas a ter sua própria produtora e a financiar e distribuir os próprios filmes, em que utilizava uma trupe de ótimos atores que incluía Ben Gazarra, Peter Falk, Seymour Cassell e Gena Rowlands, sua esposa.

Cassavettes teve uma carreira de sucesso como ator e diretor no cinema comercial e na TV – atuou em “O Bebê de Rosemary” e “Os Doze Condenados” - e usava a grana que ganhava para financiar seus filmes, que traziam pessoas comuns em meio a conflitos amorosos e crises existenciais.

A narrativa dos filmes era “solta”, com câmera na mão e improvisação. Muita gente foi influenciada pela maneira livre com que Cassavettes contava suas histórias. Peter Bogdanovich, Scorsese, Hal Ashby, todos eram fãs de Cassavettes. Veja Scorsese falando sobre o cineasta:

Entre os melhores filmes do diretor estão “Faces” (1968), a comédia “Minnie and Moskowitz” (1971) - meu filme predileto de Cassavettes - e “A Woman Under the Influence” (1974), com atuações inesquecíveis de Gena Rowlands e Peter Falk.

Os filmes de Cassavettes sempre foram sucesso de crítica, mas não atingiam o grande público. Na virada dos 70 para os 80, ele começou a pensar em fazer filmes mais comerciais e escreveu o roteiro de “Gloria”, uma história sobre a máfia. Sua intenção era vender o roteiro para a Columbia, mas acabou convencido a dirigir depois que Gena Rowlands foi contratada para o papel principal.

“Gloria” é bem diferente dos filmes anteriores do cineasta. Conta a história de uma mulher solitária, Gloria, vizinha de um contador da máfia (interpretado por Buck Henry, roteirista de “A Primeira Noite de um Homem”) que deu um desfalque nos chefões. Quando gângsteres matam toda a família do contador, o filho pequeno do casal acaba sob os cuidados de Gloria, que precisa protegê-lo dos mafiosos.

“Gloria” ficou longe de ser um grande sucesso de bilheteria, mas pelo menos teve uma distribuição razoável nos Estados Unidos e foi visto por um público mais eclético, não só por estudantes de cinema ou fãs de Cassavettes.

Cassavettes faria mais dois filmes para grandes estúdios, o lindo “Love Streams” (1984) e a fracassada comédia “Big Trouble” (1986), antes de morrer de cirrose, em 1989. Seus três filhos com Gena Rowlands – Alexandra, Zoe e Nick - são cineastas. Nick dirigiu o ótimo “thriller” “Alpha Dog”, com Emile Hirsch e Justin Timberlake.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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A MALDIÇÃO DE WHITNEY HOUSTON

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whitney A MALDIÇÃO DE WHITNEY HOUSTON

Na saga da família Houston, a realidade é muito mais estranha que a ficção. Se alguém fizesse um filme sobre as tragédias, trapaças, dramas e vinganças que vêm amaldiçoando o clã, muitos diriam que a história era absurda, feia e improvável demais. Nem Janete Clair conseguiria criar personagens tão imorais quanto as pessoas de carne e osso que povoaram a vida da popstar Whitney Houston.

Há alguns dias, Bobbi Kristina Brown, 21, única filha de Whitney  do rapper Bobby Brown, foi encontrada inconsciente dentro de uma banheira cheia d'água em sua casa num subúrbio de Atlanta. Segundo jornais americanos, Bobbi estaria em coma induzido. Já se fala que a jovem teria sofrido morte cerebral.

O incidente ocorreu quase três anos depois da morte de Whitney, em circunstâncias idênticas - encontrada numa banheira em um luxuoso hotel de Beverly Hills. Whitney tinha 48 anos e uma história de 25 anos de abuso de drogas e álcool, além de uma vida pessoal marcada por violência e tortura psicológica.

Cria de uma família de virtuosos musicais - sua mãe era a cantora gospel Cissy Houston, a prima, a cantora Dionne Warwick, e a madrinha, ninguém menos que Aretha Franklin - Whitney foi descoberta em 1983 pelo executivo de gravadora Clive Davis, um dos homens mais poderosos da indústria da música, presidente das gravadoras Columbia, Arista e J Records e que trabalhou com Bob Dylan, Janis Joplin, Santana, Bruce Springsteen, Chicago, Grateful Dead, Simon & Garfunkel, Alicia Keys, Usher, Outkast, Toni Braxton e Puffy Combs, entre dezenas de outros.

Clive Davis pegou a menina de 19 anos e a transformou num fenômeno pop. Ele decidia tudo: repertório, figurino, banda de apoio e até o que Whitney deveria dizer em entrevistas. Dez anos depois, ela havia lançado a trilha sonora de "O Guarda-Costas" e era a cantora mais popular do planeta.

Mas havia algo errado em Houstonlândia. Em 1992, Whitney se casou com o rapper Bobby Brown, com quem ficaria por 15 anos. Depois disso, nunca mais sairia dos tablóides sensacionalistas - e das páginas policiais.

Whitney admitiria depois que, durante os anos 90, fumou crack e cheirou cocaína "todos os dias". Bobby Brown aproveitava a fama da esposa para levantar a própria carreira e lançou uma autobiografia em que dizia que Whitney era bissexual e só havia casado com ele para "limpar sua imagem". Brown também participou de um "reality show", "The Houstons", em que revelava detalhes pouco elogiosos da vida conjugal. O jornal "Hollywood Reporter" definiu a série como "a mais nojenta e execrável jamais exibida na TV".

O resto da família também não era lá grande coisa: uma cunhada de Whitney vendeu a tablóides fotos do camarim da atriz, cheio de parafernália de crack e farinha.

No início dos anos 2000, Whitney estava falida e tinha perdido cerca de 300 milhões de dólares com as drogas. Clive Davis a colocou num programa severo de desintoxicação chefiado por um especialista em ajudar celebridades, indicado por Courtney Love, viúva de Kurt Cobain, ao custo de 1300 dólares por dia, que Davis pagava do próprio bolso. O cara era tão bom, dizia Courtney, que conseguiu fazer até o ator Robert Downey Jr. parar de cheirar.

Whitney melhorou, mas depois iniciou um romance com outro rapper, Ray J, mais conhecido por estrelar um famoso vídeo caseiro de sexo com Kim Kardashian. Ray é primo de Snoop Dogg, o que não o qualifica como par ideal para uma mulher fragilizada e que estava tentando se livrar dos vícios. A cantora entrou em outra espiral descendente, que culminou em sua morte.

Um dia antes de Whitney ser encontrada numa banheira, a filha, Bobbi, teria sido achada inconsciente na mesma banheira. A jovem tinha impulsos suicidas e sofria de depressão. Há duas semanas, Bobbi irritou a família ao anunciar que tinha se casado com Nick Gordon, 24, seu irmão adotivo, que Whitney Houston criava desde que Nick era um bebê. Ontem, Bobby Brown afirmou que o casamento tinha sido "uma farsa" e que Bobbi e Nick nunca foram casados.

Se Bobbi morrer, pelo menos uma briga da família Houston estará resolvida: a disputa pelo espólio de Whitney Houston. Ao morrer, a cantora deixou tudo que tinha para Bobbi. Mas a mãe de Whitney, Cissy, entrou na Justiça alegando que a neta era nova demais para gerenciar tanta coisa. Vade retro.

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FUJA DO OSCAR COM ESSAS 11 GRANDES CINEBIOGRAFIAS

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Estreou ontem “O Jogo da Imitação”, cinebiografia do matemático britânico Alan Turing (1912-1954), o gênio que decodificou as mensagens de rádio criptografadas pelos nazistas e ajudou os aliados a vencerem a Segunda Guerra.

A história de Turing é fascinante. O filme, nem tanto. Que tenha recebido OITO indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, diretor (Morten Tyldum), ator (Benedict Cumberbatch) e atriz coadjuvante (Keira Knightley), é mais uma prova da fraqueza da safra atual de Hollywood.

Este ano, metade dos oito indicados a melhor filme abordam a vida de alguma personalidade, seja da ciência (Stephen Hawking, no pavoroso “A Teoria de Tudo”), da matemática (Alan Turing), das lutas pelos direitos civis (Martin Luther King, em “Selma”) e da guerra (Chris Kyle em “Sniper Americano”, de Clint Eastwood).

Em vez de perder tempo escrevendo pela enésima vez sobre a incapacidade de Hollywood de produzir cinebiografias que saiam do lugar comum, resolvi listar, sem ordem de preferência e em ordem cronológica, 11 grandes filmes que conseguiram contar, de forma ousada e criativa, histórias de pessoas fascinantes. Mande sua lista...

 

A Paixão de Joana d’Arc (Carl Dreyer, 1928)

Direção, fotografia, atuações, iluminação, cenários, direção de arte... Tudo é perfeito no filme de Dreyer, uma obra-prima expressionista que chocou o público quando lançado e continua poderoso quase 90 anos depois. Um close no rosto de Renée Falconetti vale por um milhão de palavras.

 

Salvatore Giuliano (Francesco Rosi, 1962)

Que tal um filme biográfico em que o biografado quase não aparece, a não ser morto? O italiano Rosi, morto recentemente, aos 92 anos, fez justamente isso em “Salvatore Giuliano”, seu estudo neorrealista e violento sobre o bandido que aterrorizou a Sicília nos anos 40. A ideia de Rosi não era apenas contar a vida de Giuliano, mas mostrar como suas façanhas e crimes se eternizaram pela boca e memórias de quem conviveu com ele.

 

Andrei Rublev (Andrei Tarkovsky, 1966)

Tarkovsky dividiu o filme - possivelmente seu experimento narrativo mais ousado - em capítulos, mas é impossível saber se eles foram ordenados de acordo com os acontecimentos da vida do pintor Andrei Rublev (1370-1430) ou simplesmente obedecendo a uma lógica interna imaginada pelo cineasta. De qualquer forma, não é uma cinebiografia convencional, mas uma longa, linda e densa divagação sobre arte, religião e fé, que Tarkovsky raramente conseguiu exibir como queria. Primeiro, o filme foi censurado pelo governo russo, que não gostou da religiosidade da história; depois, foi cortado em 20 minutos pela distribuidora norte-americana, a Columbia. Achei esse vídeo com imagens raras – e coloridas! – de Tarkosvky no set do fillme.

 

O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968)

O personagem, um bandido metido a popstar que aterrorizou São Paulo nos anos 60, é sensacional, mas o filme só virou a obra-prima udigrudi da Boca do Lixo porque Sganzerla a filmou como uma ópera pop, cheia de referências a quadrinhos, radionovelas e jornais sensacionalistas. A cena em que o meliante cai de um muro ao tentar entrar numa casa foi inspirada em “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”, de José Mojica Marins. Sei porque Sganzerla me contou.

 

Lenny (Bob Fosse, 1974)

Escrevi recentemente sobre Bob Fosse aqui no blog, e este periga ser seu melhor filme, um mergulho na genialidade e vida atormentada do cômico Lenny Bruce (Dustin Hoffman, em sua melhor atuação no cinema). Posso apostar que as cenas de Bruce decadente, tentando voltar à velha forma em suas apresentações de “stand-up”, influenciaram demais Scorsese a criar o epílogo de “Touro Indomável”.

 

Dersu Uzala (Akira Kurosawa, 1975)

Depois de tentar o suicídio devido ao fracasso de “Dodeskaden” e ao declínio de sua carreira, Kurosawa foi convidado a filmar uma coprodução com a Rússia, baseada no livro de memórias em que o explorador russo Vladimir Arsenyev descrevia o convívio com Dersu Uzala, um caçador mongol. O resultado foi um imenso sucesso de bilheteria e um dos grandes filmes de Kurosawa, uma aventura emocionante sobre dois homens de culturas distintas que precisam unir-se para sobreviver no cenário gelado e mortal do leste da Rússia. Veja a cena do encontro de Arsenyev e Dersu – dublado em espanhol!

 

Touro Indomável (Martin Scorsese, 1980)

Difícil acreditar que Jake LaMotta, o pugilista eternizado por Robert de Niro em “Touro Indomável”, ainda esteja vivo, aos 93 anos. Mas é verdade. O que o filme tem de melhor? A direção de Scorsese? A fotografia de Michael Chapman? O roteiro de Paul Schrader? A atuação de de Niro? A montagem de Thelma Schoonmaker? Junte tudo e o resulatdo é o melhor filme de Scorsese, uma viagem pelos demônios pessoais de um maníaco autodestrutivo – e não falo de LaMotta, mas do próprio diretor.

 

Trinta e Dois Curtas Sobre Glenn Gould (François Girard, 1993)

O pianista canadense Glenn Gould (1932-1982) foi uma das figures mais enigmáticas e geniais da música. Era uma espécie de James Dean do piano, um galã misterioso e excêntrico, que abandonou os concertos aos 31 anos e morreu cedo demais. E um artista incomum como ele mereceu um filme incomum: 32 pequenos filmes, variando de entrevistas com admiradores e amigos a passagens de sua vida encenadas por atores. Bonito demais.

 

Ed Wood (Tim Burton, 1994)

Tributo de Burton ao cineasta mais inepto da história, um sujeito que, pelo menos na própria cabeça, era um gênio absoluto. O filme espertamente se concentra nos anos mais prolíficos da carreira de Wood, quando ele, acompanhado quixotescamente por sua trupe de alucinados, filmou “Plan Nine From Outer Space”. O elenco é imbatível, com Johnhy Depp, Bill Murray e Martin Landau impagável como Bela Lugosi.

 

Uma História Real (David Lynch, 1996)

Quem assiste a esse filme sem saber o nome do diretor nunca iria adivinhar que é de David Lynch. Conhecido pelo surrealismo e estranheza de suas obras, Lynch aqui optou pela simplicidade e fez um filme sóbrio, lindo e comovente sobre um septuagenário, Alvin Straight, que percorreu, em seis semanas, 400 km num pequeno trator para visitar o irmão, Henry, que havia sofrido um enfarte. É um “road movie” a oito quilômetros por hora. E o encontro de Alvin (Richard Farnsworth) com o irmão (Harry Dean Stanton) é de partir o coração.

 

O Povo Contra Larry Flynt (Milos Forman, 1996)

Mais que uma cinebiografia, Forman fez um filme importante sobre um assunto que ressuscitou fortemente agora, depois do ataque ao “Charlie Hebdo”: a liberdade de expressão. O ponto central do filme é simples: Larry Flynt, editor da revista pornô “Hustler”, é um escroque, mas até escroques devem ser livres para dizer o que pensam.

 

Bom fim de semana a todos.

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A POLARÓIDE MORREU, MAS PASSA BEM

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polaroids A POLARÓIDE MORREU, MAS PASSA BEM

Se você quer incentivar uma criança a explorar o mundo fascinante da fotografia, uma ótima opção é presenteá-la com uma das várias novas câmeras que ressuscitaram o antigo sistema de filme instantâneo da Polaroid (Veja aqui uma matéria - em inglês - com dicas de dez novas câmeras de filme instantâneo). É fascinante ver a reação da criança ao observar o papel fotográfico saindo de dentro da máquina e a imagem começando a aparecer, até ficar completa.

Minha filha tem seis anos e acaba de ganhar uma dessas câmeras - uma Instax Mini 8 - de presente do tio. É uma máquina barata – custa entre 60 e 80 dólares – e fácil de usar. Mais importante: não tem a “conveniência” e rapidez das câmeras digitais de hoje em dia, que fazem absolutamente tudo para o fotógrafo e o incentivam à preguiça.

Quem usa câmera digital sabe o que acontece: você tira 87 mil fotos, guarda tudo num cartão e nunca mais olha para as imagens. Fotografar é fácil: é só botar no automático e soltar o dedo. Não precisa se preocupar se a cena estiver em contraluz ou escura; a máquina faz tudo pra você.

Com a Mini 8, não: cada filme tem só dez papéis, o que obriga o fotógrafo a ser extremamente seletivo com o que vai fotografar. A câmera também tem um sistema simples de fotometragem (medição de luz), e é o fotógrafo que escolhe a abertura, de acordo com a luminosidade. Há quatro opções: escuro (com flash), nublado, pouco sol e muito sol.

Minha filha está obcecada com a câmera. Para tirar cada foto ela estuda o melhor ângulo, tenta se posicionar melhor para aproveitar a luz do sol e leva bem mais tempo para enquadrar a imagem do que quando usa a câmera digital. Resumindo: está aprendendo a fotografar.

Esse “revival” do sistema Polaroid – a Polaroid parou de fabricar seu filme instantâneo em 1998 – é uma realidade. No site Amazon, a Mini 8 é o segundo modelo mais vendido, atrás apenas da popularíssima Go Pro, uma câmera de alta definição pequena e resistente, muito usada para fotografar esportes (se você já viu um motoqueiro andando com uma câmera presa ao capacete, deve ser a Go Pro).

Na verdade, a Fuji, fabricante da Mini 8, lançou os primeiros modelos da série em 1998, mas eles só começaram a ficar populares de verdade há uns dois ou três anos.

Acho que a popularização da Mini 8 tem relação direta com o “revival” de toca-discos e da indústria do vinil. Talvez as pessoas estejam se cansando da “conveniência” do mundo digital, onde tudo é tão fácil e abundante que a experiência de ouvir um disco inteiro ou tirar uma fotografia tenham perdido muito da graça.

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GRAMMY: O POP AGONIZA

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Sem querer, os organizadores da cerimônia do Grammy deram uma ideia bem clara da decadência e má qualidade do pop contemporâneo: foi só colocar Ariana Grande pra cantar antes de Tom Jones.

Grande, 21 anos, interpretou “Just a Little Bit of Your Heart”, faixa de seu disco “My Everything” (o CD saiu em agosto de 2014 e liderou o Top 200 da “Billboard”). Foi uma cafonice só: acompanhada por DOZE violinistas, a cantora, que deve acordar todo dia ouvindo discos de Whitney Houston, gritou mais que um pequinês com cólicas.

 

 

Logo depois, o britânico Tom Jones, 74, fez um dueto com a cantora Jessie J, interpretando um clássico pop de 1964, “You’ve Lost That Loving Feeling”, composto por Phil Spector e pelo casal Barry Mann e Cynthia Weill (Mann e Weill estavam na plateia; Spector continua preso).

 

 

A diferença de qualidade das canções foi abissal. Quero ver se alguém ainda vai lembrar “Just a Little Bit of Your Heart” no Grammy de 2066. Quem aposta?

A supremacia do passado não parou por aí: Annie Lennox, cantora do Eurythmics, foi ovacionada pela interpretação, com o cantor irlandês Hozier, de uma música composta por Screaming Jay Hawkins em 1956 – “I Put a Spell On You”, famosa na voz de Nina Simone.

Tony Bennett, que num acesso de insanidade – e problemas financeiros, talvez? – gravou um disco inteiro de “standards” com Lady Gaga, subiu ao palco com a moça para interpretar “Cheek to Cheek”, composta em 1935 por Irving Berlin. E Beyoncé cantou uma música de mais de 100 anos, o hino gospel “Take My Hand, Precious Lord”.

Nem a música vencedora do prêmio de melhor canção de 2014 – “Stay With Me”, do xaropento Sam Smith, outra cria da escola Whitney Houston/”American Idol” de trilha pra embalar festa de debutante – escapou das comparações com o passado: é um plágio descarado de “I Won’t Back Down”, que Tom Petty gravou em 1989. As músicas são tão parecidas que Smith reconheceu “a coincidência” e acertou uma compensação para Petty. “Eu tenho só 22 anos, não conhecia essa música”, disse o cara de pau. Tá bom.

 

 

Outros artistas vencedores na noite, como Pharrell Willians e Beck, ganharam por músicas e discos que trazem sonoridades do passado. “Happy”, de Pharrell, poderia muito bem ter sido gravada por Stevie Wonder nos anos 70, e o mais recente disco de Beck, “Morning Phase”, traz influências claras da cena de folk de Laurel Canyon dos anos 70 – Crosby, Stills, Nash & Young, James Taylor, Carole King, etc.

Madonna reciclou o visual de toureira, que já havia utilizado no clipe de “Take a Bow”, de 1994, para a apresentação, estilo Cirque de Soleil, da ridícula “Living for Love”, um poperô de oitava categoria que traz a “material girl”, aos 170 anos de idade, fingindo ter 17, sendo agarrada por dançarinos musculosos e quase sufocando numa roupa três vezes menor do que o recomendável.

Mas triste mesmo foi ver Herbie Hancock de coadjuvante de Ed Sheeran na interpretação de “Thinking Out Loud”, canção de Sheeran que, em português, significa “Pensando em Voz Alta”. Se pensasse em voz alta naquele momento, Hancock certamente diria: “P... que pariu, já toquei com Miles, Ron Carter, Freddie Hubbard, revolucionei o jazz no último meio século, e agora estou aqui tocando pianinho nessa música chinfrim desse cabeça de cenoura. O que um coroa que nem eu não faz pra aparecer no Grammy?”

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