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Conheça os verdadeiros “Warriors – os selvagens da noite”

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Em 1979, Walter Hill dirigiu “Warriors – Os Selvagens da Noite”, um filme violento e sombrio sobre a guerra de gangues em Nova York. O filme mostrava uma cidade dividida em pequenos grupos de delinquentes que protegiam seus quarteirões e lutavam contra gangues rivais. Cada grupo tinha visual e estilo próprios: um usava maquiagem de palhaço, outro andava de patins, um terceiro se fantasiava de jogadores de beisebol. Era tudo tão caricato e exagerado que parecia ficção.

Mas um documentário, recém-lançado e disponível no Netflix brasileiro, mostra que a inspiração para o filme era real. “Rubble Kings”, de Shan Nicholson, conta a história do Bronx na virada das décadas de 1960 e 1970 e o surgimento da cultura de gangues em Nova York. É um filme revelador e com imagens de arquivo impressionantes.

Para entender as circunstâncias que geraram o surgimento de centenas de gangues, é preciso lembrar que, no fim dos anos 1960, Nova York estava falida. Soldados voltavam do Vietnã só para encontrar seus bairros abandonados e tomados por traficantes de cocaína e heroína. Os conflitos raciais e os assassinatos de Malcolm X (1965), Martin Luther King (1968) e Bobby Kennedy (1968) transformaram os bairros negros e hispânicos da cidade num caldeirão de ódio e ressentimento.

O filme conta que, num período de dez anos, mais de 30 mil imóveis foram incendiados pelos próprios donos para receberem o dinheiro do seguro. Nova York era um inferno em chamas.

Desse cenário de escombros (“Rubble”), grupos de jovens começaram a se organizar para proteger seus quarteirões. Dividiram-se por nacionalidade (porto-riquenhos, cubanos, mexicanos, italianos, irlandeses) e cor de pele. Havia gangues de negros, de brancos e de orientais. Algumas usavam armas de fogo, outras lutavam caratê. Muitas emulavam o visual de grupos de motociclistas como os Hell’s Angels, o que explica as imagens chocantes de jovens negros usando jaquetas com suásticas.

A violência era constante: linchamentos, assaltos e brigas aconteciam todos os dias e em todos os lugares. A polícia tinha medo de ir a certos bairros e não investigava boa parte dos assassinatos.

A situação chegou a um nível tão brutal que uma gangue de porto-riquenhos chamada Ghetto Brothers, liderada por dois adolescentes carismáticos, Benjy Melendez e Carlos “Karate Charlie” Suarez, sugeriu um tratado de paz entre as gangues. Em dezembro de 1971, centenas de integrantes de gangues se reuniram em um clube do Bronx e assinaram um documento histórico, que iniciou um período de paz e colaboração entre os grupos.

Além de diminuir a violência na cidade, o tratado teve um efeito incrível na cultura musical nova-iorquina – e, por consequência, mundial: foi a partir dali que as gangues passaram a não brigar mais com os punhos, mas com a música. Cada uma virou um grupo de DJs, MCs, dançarinos e grafiteiros, que “enfrentava” grupos rivais em batalhas de rimas e dança. Foi a partir dos escombros da cultura de gangues de Nova York que nasceu o hip hop.

Um dos entrevistados do filme é Kevin Donovan, mais conhecido por Afrika Bambaataa, um DJ, músico e ativista que transformou a gangue de rua do Bronx do qual era membro, a Black Spades, no Zulu Nation, um grupo de jovens que organizou incontáveis shows e festas e ajudou a criar a base da cultura hip hop.

Os próprios Ghetto Brothers formaram sua própria banda, com Benjy Melendez nos vocais, e faziam uma empolgante mistura de rock, funk e música latina. Ouça:

E aqui, os Ghetto Brothers tocando numa rua de Nova York:

“Rubble Kings” merece ser visto. O documentário – coproduzido por Jim Carrey! - mostra como um período violento e cinza de uma cidade criou a base de uma revolução sonora, estética e comportamental que tomou o mundo.

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Clássicos do techno – parte 1

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Parei de acompanhar techno há uns seis ou sete anos, quando a música ficou um tanto desanimada e bunda mole pro meu gosto. Sei que posso estar perdendo muita coisa boa, mas ainda prefiro ouvir os vinis e CDs empoeirados da minha estante.

Dia desses, estava ouvindo este set lindo do inglês Billy Nasty, gravado no festival Awakenings de 2011, só com clássicos do techno “old school”, e tive a ideia de fazer uma lista das minhas faixas prediletas do gênero. Escolher só dez seria impossível, então selecionei vinte e dividi a lista em duas. A segunda parte será publicada amanhã.

Essa é uma lista pessoal. Meu gosto tende ao techno mais rápido e pesado, e qualquer conhecedor do gênero vai dar falta de clássicos de monstros como Jeff Mills, Laurent Garnier e Kevin Saunderson. Quem quiser, por favor mande sugestões.

Aqui vão, sem ordem cronológica ou de preferência, as primeiras dez de minhas faixas prediletas de techno:

DJ ESP (Woody McBride) – Basketball Heroes (1996)
Clássico do acid techno, cortesia desse norte-americano que foi um dos pioneiros das raves nos Estados Unidos desde o fim dos anos 80.

Josh Wink – Higher State of Consciousness (1995)
Por falar em acid techno norte-americano, não poderia faltar esse hino de Josh Wink, que chegou ao topo das paradas de dance music na Europa há 20 anos. Aqui vai a faixa original:

E aqui, um remix, mas que acompanha um clipe muito legal com imagens de festas dos anos 90:

Dave Clarke – Wisdom to the Wise (Red 2) (1994)
O britânico Dave Clarke é um dos maiores DJs da música eletrônica, um prodígio de técnica e que já fez remixes para Depeche Mode, New Order e Underworld. No início dos anos 90 ele lançou uma série de EPs da série “Red”, que se tornaram clássicos do gênero. Meu favorito é “Red 2 – Wisdom to the Wise”:

Zeta Reticula – EP 2 (2000)
Nos anos 90, a Eslovênia produziu dois DJs extraordinários e que fazem um grande trabalho até hoje: Umek e Valentino Kanzyani. Zeta Reticula era um projeto de Umek com influências de electro, e essa faixa entortou a cabeça de muita gente:

Speedy J – Ping Pong (1995)
O holandês Jochem Papp, mais conhecido por Speedy J, é um dos grandes inovadores do techno dos últimos 20 anos. Essa faixa é um de seus primeiros hits e foi muito tocada por DJs.

Glenn Wilson - Enemies (A. Kowalski remix, 2003)
O inglês Glenn Wilson foi um dos pioneiros do hard techno, vertente mais pesada do gênero. Sua gravadora Heroes era a escolha óbvia de DJs que gostavam de seu techno sujo, rápido e brutal. Esse remix do alemão Alexander Kowalski é simplesmente matador.

Chris Liebing – Analogon (Speedy J remix, 2001)
Se alguém diz que “não entende” techno, sugiro levar a pessoa para ver Chris Liebing em ação. Esse DJ alemão é um dos maiores que já vi, tanto em técnica quanto em repertório. Também é um grande produtor. Esse remix de Speedy J para “Analogon” tem um dos breaks mais cabulosos que já ouvi na vida (começa a 01:00). Vi Liebing soltando essa bomba num clube em Stuttgart, em 2002, e o lugar quase desabou.

Surgeon – Death Before Surrender (2001)
O inglês Anthony Child, mais conhecido por Surgeon, não é só um de meus DJs de techno prediletos, mas um dos artistas que mais admiro e sigo. Seu bom gosto musical não tem paralelo, seus sets são verdadeiras aulas e suas produções estão entre os momentos sublimes do techno mental e minimalista. Um gênio.

The Advent – Bad Boy (1995)
The Advent começou como uma dupla formada pelo português Cisco Ferreira e o inglês Colin McBean. Em 1995, lançaram um disco seminal do techno, “Elements of Life”, que trazia a faixa “Bad Boy”. McBean sairia em 1999 e Cisco continua usando o nome The Advent até hoje. “Bad Boy” tem 20 anos e ainda levanta qualquer pista.

Amanhã tem mais: Joey Beltram, Marco Carola, Vitalic, Oxia, Renato Cohen e outros...

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Clássicos do techno – parte 2

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Ah, se toda festa fosse assim...

Continuando minha lista de clássicos do techno, aqui vão mais dez (aliás, onze) jóias que tornaram minhas noites bem mais felizes.

Joey Beltram – Energy Flash (1990)
Qualquer lista de clássicos do techno estaria incompleta sem “Energy Flash”, uma espécie de “Satisfaction” da geração raver. O norte-americano Joey Beltram lançou esse monstro pesado e abrasivo há 25 anos e levou o techno a um novo patamar.

Marco Carola – Avalanche (2001)
A Itália – mais especificamente, Napoli - deu ao mundo uma grande geração de DJs e produtores, como Carola, Rino Cerrone, Gaetano Parisio e Markantonio. Em 2001, Carola lançou o LP “Open System”, um clássico absoluto do techno e que trazia músicas como “Playboy” e “Avalanche”, que continuam sendo tocadas até hoje.

Elektrochemie LK – Schall (1996)
Um dos projetos do produtor alemão Thomas Schumacher, o Elektrochemie LK existia desde o fim dos anos 90, mas foi só em 2001, cinco anos depois de lançada originalmente, que a faixa “Schall” explodiu em pistas da Europa. Ainda é uma bomba de alta potência, com uma linha de grave cabulosa.

Zombie Nation – Kernkraft 400 (1999)
Incrível como essa música envelheceu mal. Quando lançada, em 1999, tocou nos clubes mais bacanas de Berlim e Nova York e marcou a explosão do electro-rock da gravadora alemã International Deejay Gigolos, do DJ Hell, casa de Miss Kittin, Hacker, David Carretta e outros. Mas uma lista imensa de remixes vagabundos e versões de poperô (o tal “efeito Seven Nation Army”) transformou “Kernkraft 400” numa relíquia brega de outra era. Incluí a faixa aqui porque a original é muito boa e o clipe é um dos mais engraçados que já vi. Quase morri de rir com um comentário no Youtube: “Vastas quantidades de cocaína foram usadas na produção desse vídeo”. O dono do Zombie Nation, Florian Senfter, assinou algumas faixas clássicas de techno com o pseudônimo John Starlight (ouça a bomba “Blood Angels”, de 92)

Oxia – Bouni (2002)
O francês Olivier Raymond, conhecido pelo nome artístico Oxia, foi parceiro de The Hacker na gravadora Goodlife e produziu diversas faixas lindas de techno atmosférico e viajandão. Um de seus grandes hits foi “Domino”, mas minha preferida é “Bouni”.

Alexander Kowalski - Speaker Attack (2002)
O trabalho do alemão Alexander Kowalski é bem eclético, variando de remixes para faixas absurdamente pesadas e agressivas de Glenn Wilson a um techno mais soft e mental como este clássico, “Speaker Attack”. Achei esse vídeo de Kowalski tocando a faixa no festival I Love Techno, na Bélgica, em 2003. Bons tempos.

Vitalic – La Rock 01 (2001)
“La Rock” é uma espécie de “Song 2” da música eletrônica: se a pista está desanimada, é só colocar essa bomba atômica de Vitalic para levantar a festa. Vitalic – nome artístico do francês Pascal Arbez – é um dos grandes criadores do techno e electro dos últimos 15 anos, autor de faixas épicas como “You Prefer Cocaine”, “Poney – Part 1”, “Juliet India” e “My Friend Dario”.

Mr. Sliff – Rippin and Dippin (2001)
Ah, o techno sueco: Adam Beyer, Cari Lekebusch, Aril Brihka, Henrik B, Hardcell… só coisa fina. Essa faixa é de Beyer, sob o pseudônimo Mr. Sliff, e tem uma das linhas de baixo mais perversamente chiclezentas do techno.

Umek – Gatex (2002)
Só o pianinho que abre essa faixa clássica do esloveno Umek era capaz de deixar pistas inteiras urrando. Vi Umek soltar essa faixa no festival Sónar, em 2001 (devia ser um “white label”, já que a música só sairia oficialmente no ano seguinte), e o efeito foi impressionante.

Thomas Krome – Bitches from Hell (1998)
Outro produtor sueco de muito talento era Thomas Krome, mais chegado num techno sujo e abrasivo. “Bitches from Hell” marcou a vida de muita gente, incluindo a minha. Este é um remix de Mike Humphries, acompanhado de um vídeo bacana.

Mas minha versão preferida é a “Ressurrection Edit”, feita pelo próprio Thomas Krome:

Renato Cohen – Pontapé (2002)
Pra finalizar, uma faixa-bônus e homenagem ao techno brasileiro: a clássica “Pontapé”, de Renato Cohen, tocada pelo próprio, na festa Techno Route em 2012.

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“Beasts of No Nation”: bom, porém brutal

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Há uma semana, o Netflix estreou o longa “Beasts of No Nation” numa inédita campanha de lançamento simultâneo aos cinemas nos Estados Unidos. O resultado não foi dos melhores: boicotado por grandes redes de exibidores, que consideraram a concorrência do Netflix desleal, o filme estreou em apenas 31 salas norte-americanas e fracassou na bilheteria. O público preferiu ver o filme em casa a desembolsar pelo ingresso nos cinemas.

“Beasts” foi dirigido por Cary Fukunaga, 38, um sujeito talentoso que havia feito a primeira temporada da série “True Detective”. Rodado em Gana, o filme relata a vida de Agu (Abraham Atta), um menino de um país africano não identificado que se junta a uma milícia de rebeldes depois que parte de sua família é assassinada.

O chefe da milícia é um sádico carismático chamado apenas de Commandant (Idris Elba), que treina seus comandados, inclusive meninos, a matar sem piedade e com requintes de sadismo.

Filmes sobre crianças na guerra são quase sempre comoventes, e o cinema cansou de mostrar o choque entre a pureza infantil e a realidade da violência (um de meus prediletos é o russo “Vá e Veja”, que Elen Klimov dirigiu em 1985). A transformação de crianças em assassinos é um tema recorrente do cinema.

“Beasts” é um excelente filme, mas confesso que foi difícil assisti-lo até o fim, por causa da extrema brutalidade de algumas cenas. Não sei se é a idade ou a paternidade, mas não tenho mais estômago para ver crianças sendo brutalizadas – ou brutalizando outros. Uma longa sequência envolvendo um prisioneiro de guerra e um machete quase me fez desistir do filme.

Cada vez mais, acredito que a sugestão da violência pode ser tão ou mais eficaz do que mostrá-la em closes escabrosos. Há uma cena em que um menino entra à noite no quarto do Commandant, e fica óbvio o horror que acontece ali dentro, mesmo que a cena tenha sido apenas sugerida à nossa imaginação.

Claro que é difícil relatar a realidade de guerras, com suas execuções, estupros e decapitações, sem apelar à tática do choque. A questão é como fazer isso de forma a não repelir totalmente o espectador. Achei que Fukunaga passou do ponto. E tenho curiosidade em rever “Vá e Veja” para saber se aguentaria ver o filme hoje.

De qualquer forma, “Beasts” é um filme muito acima da média, assim como Fukunaga é um cineasta que merece ser visto.

Bom fim de semana a todos.

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O telecatch, assim como a Múmia, é eterno

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Não suporto ver cinco segundos de UFC, mas adoro passar uma tarde inteira numa esquina da Mooca vendo um sujeito vestido de Múmia se engalfinhar com outro fantasiado de caipira. Sim, a luta livre, ou telecatch, ainda acontece em subúrbios Brasil afora. É só procurar.

Hoje às 17h45 no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 6, a Mostra de Cinema de SP exibe “Monstros do Ringue”, documentário de Marc Dourdin sobre a história da luta livre brasileira. O filme terá reapresentação na quinta, dia 29, às 19h, no Centro Cultural São Paulo.

O documentário fala do auge do telecatch no Brasil nas décadas de 70 e 80 e entrevista lutadores como Aquiles, Michel Serdan, Trovão e o galã Bob Júnior, além de trazer imagens de arquivo antológicas. Foi emocionante rever as cenas de Aquiles saindo da jaula e vencendo a batalha contra Michel Serdan em 1987.

Não perdia uma luta na TV. Adorava ver a Múmia, Mister X, Tigre Paraguaio, Ted Boy Marino e, principalmente, King Kong e seu filho Renê. Achei no Youtube uma entrevista recente e engraçadíssima com um dos astros do telecatch, Jóia, o Psicodélico, realizada na casa de um amigo dele chamado Lingüiça e atrapalhada por um cachorro:

Quem reclama que telecatch é “armação” não entendeu nada. É como reclamar que quadros do Monty Python não fazem sentido. A luta livre foi concebida como um teatro, uma apresentação circense de moralidade e de luta entre o bem e o mal.

O mais bonito no filme de Dourdin é ver cenas recentes de lutas e perceber que a molecada da geração UFC, que passa horas jogando games no celular, ainda é capaz de vibrar quando Michel Serdan passa limão na cara de um rival. O sonho não acabou.

Vejam que maravilha essa luta entre La Mumia e o Bárbaro Alex (irmão de ninguém menos que o cantor Ovelha!). É ou não uma maravilha?

Bom final de semana a todos.

P.S.: Essa semana, excepcionalmente, publicarei apenas três textos no blog – hoje, quarta e sexta – devido a compromissos profissionais. Até quarta.

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Iron Maiden, Bon Jovi, Milli Vanilli e os micos do playback

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O site Dangerous Minds, uma das melhores fontes para esquisitices em geral, divulgou um vídeo sensacional do Iron Maiden, de 1986, em que a banda zoa uma apresentação em playback na TV alemã.

Steve Harris canta, Bruce Dickinson toca guitarra e, em certo momento, há nada menos de três deles tocando a mesma bateria. Veja que beleza:

Achei também essa compilação de grandes momentos de constrangimentos em playback. A cara de espanto de Jon Bon Jovi ao perceber que esqueceu de cantar é impagável:

Nenhuma compilação de cenas de playbacks micados estaria completa sem o antológico "fail" do duo pop Milli Vanilli, em que a gravação travou e revelou ao mundo ao farsa que todo o meio musical já sabia: Rob Pilatus e Fab Morvan não cantavam! O duo teve de devolver o Grammy que havia recebido.

Mas o meu momento playback "descontrol" predileto é a aparição do Ratos de Porão no programa "Milk Shake", de Angélica, em 1991. Cercados pela Branca de Neve e os Sete Anões, João, Jão, Jabá e Boka trocaram de instrumentos e mostraram que eram músicos polivalentes.

Os momentos mais emocionantes são o do anãozinho fazendo "air guitar" com uma vassoura, a Branca de Neve cantando o refrão de "Sofrer" e João Gordo, do alto de seus quase 200 quilos na época, tocando a guitarra como se fosse um cavaquinho. Pura magia pop:

EXTRA: Meu colega de R7, Odair Braz Jr., mandou o link de um playback dos mais engraçados. Veja, a 5:51, o que acontece com Simon Le Bon durante a apresentação do Duran Duran no Festival de San Remo, na Itália.

P.S.: Estou em viagem e impossibilitado de moderar comentários até o fim da tarde. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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Mario Monicelli e a maior de todas as comédias

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A partir de sábado, a Mostra Internacional de Cinema de SP homenageia o cineasta italiano Mario Monicelli com a exibição de cinco de seus filmes em cópias restauradas.

Monicelli (1915-2010) foi um dos maiores diretores do cinema italiano, conhecido principalmente por comédias como “Totò Procura Casa” (1949), “O Incrível Exército de Brancaleone” (1966) e “Parente é Serpente” (1992), mas que também dirigiu grandes filmes dramáticos - embora sempre com um pé na comédia - como “A Grande Guerra” (1959) e “Os Companheiros” (1963).

Entre os cinco filmes programados na Mostra, não poderia faltar “Os Eternos Desconhecidos” (“I Soliti Ignoti”, 1958), que será exibido sábado, dia 31, às 17h20 no Cinesesc, e segunda, dia 2, às 14h na Cinesala.

Na lista de minhas cinco comédias prediletas de todos os tempos, “Os Eternos Desconhecidos” estaria lado a lado com “A General” (Buster Keaton, 1926), “Diabo a Quatro” (1933), com os Irmãos Marx, “Quanto Mais Quente Melhor” (Billy Wilder, 1959) e “Monty Python e o Cálice Sagrado” (Terry Gilliam, 1975).

“Os Eternos Desconhecidos” é uma paródia de “Rififi” (1955), excelente filme de Jules Dassin sobre um grupo de bandidos que tenta dar o golpe perfeito ao roubar uma joalheria que supostamente tem um sistema de segurança infalível.

O filme conta a história de uma gangue de bandidos incompetentes que planeja assaltar uma loja de penhores destruindo a parede do apartamento vizinho. Claro que dá tudo errado.

É um filme muito engraçado e que ao mesmo tempo traz a melancolia das melhores comédias italianas, em que o humor disfarça e ameniza a pobreza e os problemas sociais. É muito comovente perceber como o cinema italiano conseguir rir das desgraças do país.

Para ajudá-lo no filme, Monicelli juntou um verdadeiro dream team da comédia italiana: o roteiro teve participação de Suso Cecchi D’Amico (1914-2010), uma roteirista extraordinária que trabalhou só com Visconti, Antonioni, Zurlini, Comencini, Rosi e a nata do cinema italiano, e da dupla Age (1914-2005) & Scarpelli (1919-2010), dona de outro currículo notável, com roteiros para Ettore Scola, Sergio Leone, Steno, Risi, Comencini, Petri e de muitos filmes estrelados por Totò.

O elenco é brincadeira: Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni, Renato Salvatori, Claudia Caridinale, Carlo Pisacane, Memmo Carotenuto e Tiberio Murgia, além da participação antológica de Totò como Dante Cruciani, “especialista” que ensina o bando a abrir cofres.

Veja a cena em que Cruciani ensina a gangue de idiotas os segredos de sua profissão e presta tributo a seu velho mestre, “Fu Chi-Min”:

O filme fez tanto sucesso que teve duas continuações na Itália, “Audace Colpo Dei Soliti Ignoti” (Nanni Loy, 1959) e “I Soliti Ignoti – Vent’Anni Dopo” (Amanzio Todini, 1985), além de uma refilmagem norte-americana, “Crackers” (1984), dirigida pelo francês Louis Malle e estrelada por Donald Sutherland e Sean Penn.

“Os Eternos Desconhecidos” também inspirou Woody Allen a fazer “Trapaceiros” (2000), em que o próprio Allen lidera um grupo de bandidos incapazes numa malsucedida tentativa de assalto a uma loja.

Se tiver a chance de ver "Os Eternos Desconhecidos" em tela grande, não perca de jeito nenhum.

Bom fim de semana a todos. O blog volta com um texto inédito na terça, logo após o feriado.

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Já viu “Sicario”?

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O canadense Denis Villeneuve, 48, é um diretor muito acima da média, que fez pelo menos dois filmes – “Incendies”, de 2010, e “Os Suspeitos”, de 2013 – muito bons. Mas nada que chegasse perto de “Sicario”, que estreou semana passada no Brasil. Esse é daqueles filmes que marcam a carreira de qualquer cineasta.

Há muito tempo não ficava tão impressionado com um “thriller” policial. Bem escrito, com um elenco fortíssimo e fotografia do grande Roger Deakins (indicado só DOZE vezes ao Oscar, por filmes dos Irmãos Coen, Scorsese e do próprio Villeneuve), é um dos grandes filmes de ação dos últimos tempos.

A história gira em torno de uma agente do FBI, Kate Macer (Emily Blunt), que é convocada a acompanhar uma equipe de elite do Exército norte-americano nas buscas por um poderoso traficante mexicano na fronteira entre Estados Unidos e México.

O líder da equipe é um agente da CIA, Matt Graver (Josh Brolin), auxiliado por um sujeito misterioso, Alejandro Gillick (Benicio Del Toro), que ninguém sabe para quem trabalha. Logo na primeira missão do grupo, a busca de um importante prisioneiro em Ciudad Juárez, Macer tem um gostinho do que é atuar em uma das regiões mais violentas do mundo, onde leis não existem, tiroteios com metralhadoras são corriqueiros e corpos decapitados são pendurados diariamente em pontes e outdoors.

A conclusão dessa missão é um tiroteio no meio de um engarrafamento de trânsito, certamente uma das sequências mais bem filmadas e tensas que vi em muito tempo. Aliás, o filme tem pelo menos quatro cenas de ação antológicas, incluindo uma rodada com câmeras infravermelhas. A música, do islandês Jóhann Jóhannson, é muito forte e ajuda a realçar os momentos de tensão, suspense e mistério da trama.

A forma como Villeneuve relata as tentativas dos norte-americanos para atacar os indestrutíveis cartéis mexicanos é brilhante. Em clara desvantagem – de grana e de armamentos - os gringos atuam como verdadeiras milícias, promovendo ataques com grupos pequenos de soldados, mas sempre buscando atingir pontos importantes do esquema de contrabando de drogas dos cartéis.

Se você se interessa pelo tema do tráfico no México, sugiro também assistir ao documentário "Narco Cultura", sobre os grupos de “narcocorridos” que fazem música de louvor ao tráfico. O filme tem cenas inacreditáveis rodadas em Juárez.

Voltando a Denis Villeneuve, li que vai dirigir a continuação de “Blade Runner” com Harrison Ford. Confesso que não estava muito empolgado pelo filme ou pela perspectiva de ver alguém continuando uma história tão boa, mas, com ele no comando, fiquei bem mais esperançoso.

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Scorsese fez um grande filme sobre livros e ideias

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A HBO exibe esses dias “O Argumento de 50 Anos”, de Martin Scorsese e David Tedeschi (veja horários aqui), um documentário rodado em 2013 sobre o aniversário de meio século da “New York Review of Books”, uma das mais importantes e influentes revistas literárias norte-americanas.

Fundada em 1963, a revista tem até hoje o mesmo editor, o incansável Robert B. Silvers, que passou a trabalhar sozinho depois da morte da cofundadora da revista, Barbara Epstein, em 2006.

Mais que uma publicação com críticas de livros, a NYRB tem sido uma fonte importante de ensaios e polêmicas sobre todo tipo de assunto: política, mídia, ciência, artes, tecnologia, etc.

A lista de colaboradores é inigualável: nesses 52 anos, já escreveram para a NYRB nomes como Vladimir Nabokov, Gore Vidal, Norman Mailer, Susan Sontag, Joan Didion, Saul Bellow, Isaiah Berlin, Noam Chomsky, James Baldwin, Margaret Atwood e centenas de outros.

O filme de Scorsese e Tedeschi não se preocupa em esmiuçar a história da revista, preferindo mostrar exemplos da importância e influência da publicação na vida cultural norte-americana – e, por consequência, mundial.

Também são relatadas algumas das mais interessantes e notórias polêmicas e brigas que apareceram em suas páginas, como Edmund Wilson esculhambando a tradução de Nabokov para “Eugene Onegin”, de Pushkin, Norman Mailer arrasando um livro de Tom Wolfe e Gore Vidal moendo um livro do próprio Norman Mailer.

O filme de Scorsese e Tedeschi recorda um período em que ideias importavam e autores de ideias tinham espaço para divulgá-las – e, mais importante, um público ansioso por discuti-las.

É quase surreal, hoje, ver imagens de programas de TV dos anos 70 em que Susan Sontag debatia feminismo com Norman Mailer, Gore Vidal discutia literatura, Isaiah Berlin falava de política externa e James Baldwin pontificava sobre questões raciais. E não falo de programas obscuros em TVs a cabo ou estatais, mas de programação de emissoras gigantes e poderosas. Como mudaram as coisas...

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Dez anos sem Link Wray, o punk original

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Em abril de 1958, a gravadora americana Cadence lançou um compacto do guitarrista Link Wray com duas músicas instrumentais: “Rumble” e “The Swag”.

“Rumble” foi imediatamente boicotada por rádios de todo o país. Programadores temiam a reação da juventude ao ouvir aquela bomba atômica. O que provocaria nos jovens? Surtos psicóticos? Ataques de loucura? Agressões gratuitas contra os mais velhos? Em 1958, nada – nada mesmo – se comparava a “Rumble” em termos de peso e agressividade.

É mais incrível ainda lembrar que a música não fora gravada em 1958, mas em 1954 – isso mesmo, 54, quando o som mais radical que o pop conhecia era Elvis cantando “That’s All Right” – e permanecera inédita por quatro anos antes da Cadence ter coragem de lançá-la.

Apesar do boicote de rádios – “Rumble” (“briga”, “confusão”) foi considerado apologia à delinquência juvenil – a música fez bastante sucesso e inspirou jovens como Dave Davies e Pete Townshend (este diria que se não fosse por “Rumble” ele nunca teria se tornado guitarrista).

Aqui está uma cena do documentário “A Todo Volume” que dá vontade de chorar: Jimmy Page, parecendo uma criança, fazendo “air guitar” ouvindo “Rumble”:

Corta. Dez anos depois. Fim dos anos 60.

O produtor musical Steve Verocca está em um bar vagabundo no estado da Virginia e descobre que Link Wray vai se apresentar ali. Não há mais de 20 pessoas no lugar, e ninguém parece prestar muita atenção em Wray. Àquela altura ele era um esquecido, uma relíquia quarentona tornada obsoleta por Beatles, Stones e a Invasão Britânica.

Wray morava em uma casa pobre no interior de Maryland e, segundo disse Verocca à revista “Uncut”, não tinha dinheiro nem para alimentar a família. Sua banda – Link, o irmão Doug na bateria e o baixista e tecladista Billy Hodges – ensaiava em um velho galinheiro convertido em estúdio. Link usava uma velha guitarra japonesa que havia comprado em uma loja de penhores e um amplificador que ele próprio havia construído a partir de um velho rádio valvulado.

Verocca convenceu a gravadora Polydor a dar mais uma chance a Link Wray. O resultado foram três discos – “Link Wray” (1971), “Mordicai Jones” (1972) e “Beans and Fatback” (1973) – todos gravados no galinheiro em TRÊS canais (a produção do primeiro LP era tão pobre que a percussão foi gravada com os músicos batucando em pedaços de madeira e latas, já que nem bateria tinham). Eram LPs diferentes do surf-rock instrumental que Wray gravara até então, misturando country pesado e blues, e com uma novidade: Wray cantava. Os discos lembram muito o som do Crazy Horse e The Band.

Ouça a linda “Fire and Brimstone”, uma das melhores faixas do LP “Link Wray”, de 1971 (e regravada por Mark Lanegan na trilha do filme "Lawless", com roteiro de Nick Cave):

Os três discos foram reunidos na caixa “3-Track Shack”, que acaba de sair na gringa. Nenhum deles vendeu muito na época, mas pelo menos incentivaram Link Wray a retomar a carreira. Ele mudou para São Francisco e emendou três décadas de turnês ininterruptas.

Aqui está Link Wray e banda numa versão matadora de “Rawhide”, em 1974:

Hoje é aniversário de dez anos da morte de Link Wray. Boa ocasião para lembrar o homem que inventou o punk quando Sid Vicious ainda usava fralda.

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Jim Thompson: papa do “pulp”

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jim thompson Jim Thompson: papa do pulpAs melhores críticas e opiniões são aquelas que nos fazem enxergar, por outra ótica, coisas que julgávamos conhecer a fundo.

Dia desses, li um texto do “The New York Times” sobre um de meus autores prediletos de romances policiais, o norte-americano Jim Thompson (1906-1977), quando me deparei com uma frase de Robert Polito, biógrafo do escritor: “Thompson não é como os escritores aos quais ele é frequentemente comparado. Ele não é como Hammett, Chandler ou Cain. Seus livros não são realistas, mas estão mais perto do fantasmagórico”.

Bingo. Pelo amor de Ed McBain, como eu não tinha percebido isso antes? Trinta anos lendo Jim Thompson e não tinha me ligado que ele não escreve livros de crimes, mas histórias sobrenaturais?

As pistas eram claras. Stephen King, um dos maiores fãs de Thompson, escrevera: “Existem três coisas que Thompson se permite fazer em seus livros: ele se permite enxergar tudo, se permite escrever tudo, e então se permite publicar tudo (...) Ele era louco. Chegou correndo no subconsciente americano com um maçarico numa mão, uma pistola na outra e gritando como um alucinado. Ninguém nunca chegou perto dele”.

Resumindo: a ficção de Jim Thompson não tem limites ou barreiras. Ele não tem medo de escrever as maiores barbaridades, de criar personagens exagerados e caricatos e inventar situações extremas. Tão extremas e irreais que chegam, como muito bem definiu Polito, ao sobrenatural. Thompson usou um dos gêneros costumeiramente mais presos a normas e convenções – a literatura policial – e o transformou num parque de diversões de experimentos estilísticos extremos e temas estranhos.

Claro que eu já havia percebido esse gosto de Thompson pelo inusitado. Vários de seus livros são narrados em primeira pessoa e têm longas passagens em que os personagens refletem sobre os crimes e maldades que estão cometendo. Suas narrativas são esquisitas e fogem do lugar comum.

“The Criminal” (1953), um de meus livros prediletos de Thompson, conta a história de uma adolescente que é violentada e morta numa área rural de uma pequena cidade interiorana. O maior suspeito é outro adolescente, seu colega de escola. Na verdade, o livro não “conta” a história, mas relata os fatos de acordo com os pontos de vista de uns dez narradores diferentes, incluindo o pai do menino, o delegado da cidade, o promotor de Justiça, um repórter de um jornal local e um menino de dez anos, negro, miserável e analfabeto, que pode – ou não – ter testemunhado o crime.

Talvez o truque de usar múltiplos narradores e versões para a mesma história tenha sido inspirado no filme “Rashomon” (1950), de Akira Kurosawa, mas em “Savage Night” serve para Thompson destilar uma das principais marcas de sua literatura, que é a visão ácida e desesperançada da raça humana. Em seus livros, quase ninguém presta. Vizinhos odeiam vizinhos, boatos maldosos se espalham como fogo, pessoas que a família do menino julgavam amigas condenam o jovem a priori. É cada um por si.

1280 almas 201x300 Jim Thompson: papa do pulp

Depois de descobrir a frase de Polito, reli meu exemplar de “Savage Night” (1953), 149 páginas de pura bestialidade, e cheguei à conclusão que o cara estava certo: Jim Thompson não escreve sobre este mundo. O livro conta a história de Charles Bigger, um matador de aluguel que chega a uma pequena cidade com a missão de se fingir de estudante, hospedar-se na casa de um sujeito e matá-lo. O sujeito é um informante da polícia e está prestes a entregar um chefão da Máfia. Bigger é um homem doente, tuberculoso e que perdeu os dentes por conta de uma infecção. No meio da narrativa, o leitor não sabe mais se o que ele descreve é a realidade ou produto de uma mente perturbada. Na casa, Bigger se envolve com duas mulheres, a esposa do homem que ele precisa matar e outra hóspede, uma estudante gostosérrima e que só tem uma perna, resultado de uma doença genética. Bigger também parece sofrer alucinações, e algumas passagens do livro lembram mais o suspense psicológico de Henry James e Maupassant do que a literatura policial de Raymond Chandler.

Thompson escreveu roteiros de dois dos meus filmes prediletos de Stanley Kubrick, “O Grande Golpe” (1956) e “Glória Feita de Sangue” (1957), além de ter vários romances adaptados para o cinema. Os melhores são “Coup de Tourchon” (Bertrand Tavernier, 1981, adaptado de “1280 Almas”), “Os Imorais” (Stephen Frears, 1990) e “Os Implacáveis” (Sam Peckinpah, 1972).

Os livros de Jim Thompson são curtos – quase nunca passam de 200 páginas – e tão intensos e empolgantes que é impossível largá-los. Vários estão disponíveis em português. Por ordem de sugestão: “O Assassino em Mim”, “Os Imorais”, “1280 Almas” e “Os Implacáveis”.

Bom fim de semana a todos.

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Música pop é coisa de criança

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No fim dos anos 90, entrevistei Mister Sam, o produtor argentino responsável por hits de Gretchen como “Freak Le Boom Boom” e “Conga, Conga, Conga”. Perguntado sobre o segredo de uma música de sucesso, Sam disse algo como: “O mais importante é ter um “refrán” (refrão) infantil, que qualquer criança ouça uma vez e já saia por aí repetindo”.

Lembrei essa frase de Sam há poucos dias, quando andava de carro com nossos filhos. De repente, nosso caçula, que tem três anos e meio, começou a cantar: “Meia-noite no meu quarto... ela vai surgir...” Quase caímos de costas. Era, claro, o verso inicial de “Menina Veneno”, de Ritchie, música que está em uma coletânea de pop-rock brasileiro que tocamos com alguma frequência em passeios da família.

A coletânea tem umas 80 músicas. As preferidas das crianças, além de “Menina Veneno”, são “Pelo Interfone” (Ritchie), “Planeta Água” (Guilherme Arantes”), “Conga, Conga, Conga” (Gretchen), “O Vira” (Secos e Molhados), “Sossego” (Tim Maia), “Ide a Mim Dada” (Raul Seixas), “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)”, de Jorge Ben e “Doce Vampiro” (Rita Lee).

Por outro lado, elas reclamam quando colocamos “Feito Gente” (Walter Franco), “Ouro de Tolo” (Raul Seixas) ou “Amor, Meu Grande Amor” (Ângela Ro Rô). Não por coincidência, todas canções de letras mais longas, intrincadas e sem o tal "refrán infantil" sugerido por Mister Sam.

Elas não parecem ter preferência por artistas específicos, mas por canções. Adoram certas músicas de Raul (“Al Capone”, “Gita”, “Mosca na Sopa”) e não ligam para outras (“A Verdade sobre a Nostalgia”, “Maluco Beleza”). Amam o mantra de “Bat Macumba” com os Mutantes, mas reclamam quando colocamos “Panis et Circensis” (“Muito chata essa!”).

Começamos a fazer umas experiências musicais em casa. Fizemos umas listas no Spotify reunindo três ou quatro músicas de astros do pop como Michael Jackson, Stevie Wonder e Elton John. Selecionamos músicas ótimas, mas sempre com o cuidado de colocar no meio delas o maior – ou um dos maiores - hits de cada um dos artistas: “Billie Jean”, “I Just Called to Say I Love You” e “Can You Feel the Love Tonight”.

O resultado foi impressionante: as crianças pareceram curtir todas as músicas, mas reagiram com mais alegria e empolgação justamente nessas três canções, e sem ter nenhuma referência sobre elas. Foram reações instintivas e irracionais, motivadas somente pela sonoridade. Em uma audição, as músicas penetraram no subconsciente da molecada. E a gente não aguenta mais nossa filha de sete anos pedindo para ver Michael Jackson fazendo o “Moonwalk” durante “Billie Jean”. Pop é isso.

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Os últimos dias de Pasolini

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Um filme sobre Pier Paolo Pasolini dirigido por Abel Ferrara. Que bom que esse projeto terminou nas mãos de Ferrara, um diretor que parece ter afinidade com o cinema sujo, violento e poético do gênio italiano. Não dava para esperar nada de muito normal dessa reunião de talentos, e o resultado é um filme estranho e surpreendente.

Ferrara se concentra nos últimos dias de vida de Pasolini. Estamos em Roma, em 1975: Pasolini (Williem Dafoe, extraordinário) acaba de lançar “Salò”, seu polêmico e ofensivo filme baseado no romance “120 Dias de Sodoma”, do Marquês de Sade.

Pasolini sente-se isolado numa sociedade que o rejeita. Quando um repórter pergunta se ele é costumeiramente xingado na rua, o cineasta-poeta-escritor responde: “Sim, muitas vezes, mas não me perturbo com isso, porque não sou um moralista”.

Ele ama o cinema. “Mesmo que eu fosse o último ser sobre a Terra, continuaria a filmar, porque sinto necessidade disso, é algo que me dá prazer”. Seu novo projeto é um filme lúdico e misterioso sobre dois homens que chegam a uma cidade que descobrem ser Sodoma.

Pasolini queria escalar nos papéis principais o famoso ator italiano Eduardo De Filippo e Ninetto Davoli, ator de dez de seus filmes. O diretor descobrira Davoli, então com 15 anos, em “O Evangelho Segundo São Mateus” (1964) e os dois foram amantes por muitos anos. No filme de Ferrara, De Filippo é interpretado pelo próprio Davoli.

Ferrara acompanha os últimos dias da vida de Pasolini: as entrevistas para o lançamento de “Salò”, a sensação de deslocamento e isolamento numa sociedade italiana cada vez mais conservadora e materialista, a crescente dificuldade para produzir seus filmes, a placidez da vida familiar em companhia da mãe, Susanna, e da prima, Gabriela, em contraste com as escapadas noturnas para explorar o submundo gay em noitadas com garotos de programa, até o fim brutal, morto a pancadas em um terreno baldio.

Ferrara não se preocupa com detalhes biográficos. Sua intenção é captar o espírito anárquico e combativo de Pasolini e mostrar sua aflição com um mundo que não o compreendia e que ele parecia não compreender de volta.

Durante a entrevista para o lançamento de “Salò”, possivelmente o momento-chave do filme, o cineasta define o momento político, social e cultural da Itália de 1975 como “a situação”: “Eu desço ao inferno, e sei muitas coisas que ainda não tiram a paz dos outros. Mas fiquem atentos: o inferno vai chegar a vocês (...) Não se iludam: vocês, com a sua escola, a televisão, a pacatez de seus jornais, vocês são os grandes conservadores dessa ordem horrenda baseada na ideia de possuir e na ideia de destruir”.

Simultaneamente ao lançamento do filme de Ferrara, algum gênio teve a brilhante ideia de relançar, em cópia restaurada, um dos melhores filmes de Pasolini, “Mamma Roma” (1962). Que sessão dupla imperdível.

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Empurrando o país com a barriga

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Eduardo Cunha e Dilma 1024x643 Empurrando o país com a barrigaPior que um país em crise é um país em crise e paralisado.

É desesperador ler o noticiário todo dia e ver que não só a economia está derretendo, mas que não estamos fazendo nada para reverter a situação.

Está tudo parado. O governo distribuiu ministérios e cargos a granel e conseguiu, pelo menos por enquanto, frear o tsunami do impeachment, mas não tem apoio político para governar ou fazer o ajuste fiscal. O único objetivo aparente da presidente, no momento, é manter-se no poder a qualquer custo. Qualquer mesmo.

As medidas para cortar despesas do governo, anunciadas há 40 dias, são ridículas e ainda nem foram implementadas. O governo continua a falar na volta da CPMF enquanto descobrimos que Dilma deu 342 bilhões de reais em descontos de impostos para empresas em pouco menos de cinco anos.

A inflação sobe, o desemprego aumenta e o PIB despenca. Cairá mais de 3% este ano e deve cair, segundo novas projeções, perto de 2% em 2016.

E não dá para acreditar totalmente nos números. Na vida real, parecem bem piores. Leio que o mercado imobiliário no país caiu entre 20% e 35%, dependendo da cidade. Nas imobiliárias da cidade onde moro, no litoral do Rio, a situação é bem mais dramática. Há quem fale em 70% de queda nos últimos 12 meses.

Amigos e conhecidos perdem empregos, lojas fecham, empresas demitem e o êxodo de brasileiros para o exterior em busca de uma vida melhor só aumenta.

Achei que o Brasil tinha acordado em 2013. Não era isso que diziam, “o gigante acordou”? Pois o gigante foi às urnas em 2014 e elegeu esse Congresso que empurra a situação com a barriga e finge governar. Também elegeu uma oposição anêmica, burra e desorganizada.

Eduardo Cunha terá mais seis ou oito meses no cargo até ser julgado por seus pares, o que é praticamente garantia de impunidade. A CPI da Petrobras – uma imensa perda de tempo e dinheiro - poupou todos os políticos supostamente envolvidos na roubalheira. Dilma dá cargos como prefeito de vila dá dentaduras e cadeiras de rodas.

O que vai acontecer ninguém sabe. A Lava Jato parece ser a única chance real de vermos alguma mudança ou ruptura no status quo nos próximos meses. Porque já estamos em novembro, daqui a pouco tem recesso parlamentar, depois Natal, Ano Novo e Carnaval...

Bom fim de ano pra vocês. Em março a gente conversa.

P.S.: RIP ALLEN TOUSSAINT

Morreu ontem, na Espanha, aos 77 anos, o grande músico Allen Toussaint. Escrevi sobre ele na "Folha" (leia aqui).

Achei um trecho da última apresentação da longa carreira de Toussaint. Foi em Madri, na noite de segunda. Esse vai fazer falta...

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Cidade de Deus – e do ressentimento

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Assisti a “Cidade de Deus – Dez Anos Depois”, de Cavi Borges e Luciano Vidigal. Finalizado há três anos, o filme só estreia agora nos cinemas brasileiros, o que explica o erro na matemática do título (“Cidade de Deus” é de 2002).

O documentário mostra o que aconteceu com o elenco do filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund. Alguns – Seu Jorge, Leandro Firmino, Alice Braga, Jonathan Haagensen, Alexandre Rodrigues – conseguiram emplacar carreiras em cinema e TV, enquanto outros ganham a vida trabalhando de porteiros, mecânicos ou vendedores de rua. Alguns, infelizmente, tiveram problemas com drogas e com a polícia.

Fiquei surpreso com o tom das entrevistas no documentário. “Cidade de Deus” é um dos maiores filmes do cinema brasileiro e certamente o de maior repercussão internacional, uma obra que abrilhanta o currículo de qualquer um envolvido com sua produção. Mas a tônica de muitos dos entrevistados é o ressentimento. Há mais reclamações sobre o valor dos cachês do que satisfação pelo fato de terem atuado em um filme tão marcante.

“Cidade de Deus” tinha um elenco formado, majoritariamente, por jovens negros. O filme usou atores não profissionais, muitos oriundos de favelas cariocas, e conseguiu reunir um elenco numeroso e muito bom. Achei que o documentário traria relatos sobre esse processo de seleção e a preparação dos atores, mas, com exceção de algumas poucas cenas de ensaios, o assunto não é explorado.

Um dos entrevistados mais lúcidos é Seu Jorge. Refletindo sobre os diferentes destinos de membros do elenco, ele diz que cada um escolhe seus caminhos e que a vida pode parecer injusta. Concordo com ele. Se pegarmos qualquer filme de sucesso, feito em qualquer país e qualquer época, e depois de uma década entrevistarmos o elenco, veremos que uma pequena minoria se destaca, enquanto a maior parte continua buscando o sucesso.

Um assunto que tem tudo a ver com isso e que só é explorado superficialmente no filme é a pouca oferta de trabalho para atores negros no país. Vários entrevistados reclamam que tiveram dificuldades para conseguir papeis. Bem que o documentário poderia trazer dados que corroborassem isso: que percentual do total de papéis em cinema, TV e teatro são ocupados por artistas negros? Quantos roteiristas negros trabalham em nossa televisão?

“Cidade de Deus – Dez Anos Depois” traz algumas histórias comoventes, para o bem e para o mal. Ouvir Jonathan Haagensen (Cabeleira) dizendo como botou na cabeça que não poderia “viver na sombra do filme” e que precisava impulsionar sua carreira de ator – o que fez – é muito bonito, assim como é arrasador ver as entrevistas de Rubens Sabino (Neguinho) sobre seus problemas com a lei – e mais triste ainda saber que, há alguns meses, ele foi visto na Cracolândia, em São Paulo.

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100 músicas para fazer uma criança amar música pop brasileira

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No início da semana, publiquei um texto aqui no blog sobre a reação de crianças ao ouvir hits da música pop. Mencionei que havia feito uma compilação de canções brasileiras que ouvíamos com nossos filhos. Vários leitores pediram que eu publicasse a lista de músicas.

Selecionei 100 músicas. Não são minhas prediletas ou as que considero as melhores do pop brasileiro, mas as que eu mostraria a uma criança para fazê-la se interessar pelo pop brazuca.

Não incluí artistas que adoro, mas que acho herméticos demais para crianças, como Jards Macalé e Arrigo Barnabé, nem canções mais esquisitas de gênios como Raul Seixas e Mutantes.

Em ordem alfabética:

A Cor do Som – Menino Deus
Alceu Valença – Morena Tropicana
Angela Ro Rô – Amor, Meu Grande Amor
Antônio Marcos – O Homem de Nazareth
Baby Consuelo – Todo Dia Era Dia de Índio
Baiano e os Novos Caetanos – Vô Batê Pa Tu
Banda Black Rio – Maria Fumaça
Belchior – Apenas um Rapaz Latino-Americano
Benito di Paula – Charlie Brown
Blitz – Você Não Soube me Amar
Brylho – Noite do Prazer
Caetano Veloso – Alegria Alegria
Camisa de Vênus – Eu Não Matei Joana D’Arc
Cassiano – A Lua e Eu
Celly Campello – Biquini de Bolinha Amarelinha
Chico Science & Nação Zumbi – Maracatu Atômico
Claudia Telles – Fim de Tarde
Clube da Esquina – O Trem Azul
Di Melo – Pernalonga
Dudu França – Grilo na Cuca
Ednardo – Pavão Mysteriozo
Eduardo Dusek – Rock da Cachorra
Elba Ramalho – De Volta pro Aconchego
Erasmo Carlos – Dois Animais na Selva Suja da Rua
Erasmo Carlos – Filho Único
Evaldo Braga – Sorria, Sorria
Fagner – Canteiros
Frenéticas – Dancin Days
Frenéticas – Perigosa
Gal Costa – Festa do Interior
Garotos Podres – Papai Noel Velho Batuta
Genival Lacerda – Radinho de Pilha
Gerson King Combo – Mandamentos Black
Gilberto Gil – Domingo no Parque
Gretchen – Conga Conga Conga
Guilherme Arantes – Meu Mundo e Nada Mais
Guilherme Arantes – Planeta Água
Hyldon – Na Rua, na Chuva, na Fazenda
Ira! – Núcleo Base
Jerry Adriani – Doce, Doce Amor
João da Praia – Aonde a Vaca Vai o Boi Vai Atrás
João Penca e os Miquinhos Amestrados – Popstar
Jorge Ben – Meus Filhos, Meu Tesouro
Jorge Ben – Umbabarauma
Lady Zu – A Noite Vai Chegar
Legião Urbana – Geração Coca-Cola
Legião Urbana – Será
Leno e Lilian – Sou Rebelde
Lobão - Corações Psicodélicos
Lulu Santos – Como Uma Onda (Zen Surfismo)
Magazine – Tic Tic Nervoso
Marcio Greyck – Impossível Acreditar Que Perdi Você
Marcos Valle – Estrelar
Moraes Moreira – Pombo Correio
Mutantes – Batmacumba
Mutantes – Não Vá se Perder por Aí
Neuzinha Brizola – Mintchura
Ney Matogrosso – Não Existe Pecado ao Sul do Equador
Novos Baianos – Brasil Pandeiro
Novos Baianos – Preta Pretinha
Odair José – Mon Amour Meu Bem Ma Femme
Ovelha – Te Amo, o Que Mais Posso Dizer?
Paralamas do Sucesso – Óculos
Peninha – Sonhos
Pepeu Gomes – Deusa do Amor
Pepeu Gomes – Masculino e Feminino
Raimundos – Mulher de Fases
Raul Seixas – Meu Amigo Pedro
Raul Seixas – Mosca na Sopa
Rita Lee – Doce Vampiro
Rita Lee – Ovelha Negra
Ritchie – Menina Veneno
Ritchie – Pelo Interfone
Roberto Carlos – Como Dois e Dois
Roberto Carlos – Todos Estão Surdos
Robson Jorge e Lincoln Olivetti – Aleluia
Ronnie Cord – Rua Augusta
Roupa Nova – Whisky a Go Go
RPM – Olhar 43
Sá e Guarabyra – Dona
Secos e Molhados – O Vira
Secos e Molhados – Sangue Latino
Sidney Magal – Meu Sange Ferve por Você
Skank – Garota Nacional
Teo – O Novo de Hoje Já é Velho Aqui
Tim Maia – Coroné Antônio Bento
Tim Maia – Sossego
Tim Maia e Gal Costa – Um Dia de Domingo
Tokyo – Garota de Berlim
Tom Zé – Augusta, Angélica e Consolação
Toni Tornado – Podes Crer, Amizade
Tony Bizarro – Estou Livre
Turma do Balão Mágico – Superfantástico
Ultraje a Rigor – Rebelde Sem Causa
Walter Franco – Canalha
Wando – Fogo e Paixão
Wilson Simonal – Mamãe Passou Açúcar em Mim
Wilson Simonal – Sá Marina
Zé Ramalho – Admirável Gado Novo
Zé Rodrix – Soy Latino Americano

Gostou? Odiou? Concorda? Quer xingar? Mande sua lista.

P.S.1: Um RIP gigante para Philty "Animal" Taylor, ex-baterista do Motorhead, que morreu ontem. Se você quiser alegrar seus filhos e garantir que eles serão cidadãos respeitáveis e ordeiros, mostre essa belezinha pra eles:

P.S. 2: Atenção, cariocas e paulistanos: o grande guitarrista africano Bombino (leia aqui) se apresenta hoje e amanhã no Rio e domingo em São Paulo. Não percam.

P.S. 3: Hoje, às 22h30, estreia no canal Space a série “Zé do Caixão”, dirigida por Vitor Mafra e com Matheus Nachtergaele no papel de José Mojica Marins. Escrevi o roteiro em parceria com Mafra e Ricardo Grynszpan. Espero que gostem. Aqui vai um aperitivo:

Bom fim de semana a todos.

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Nós sempre teremos Paris

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parisnight Nós sempre teremos ParisO fim de semana foi uma tristeza só. Acompanhando as notícias dos massacres em Paris, a primeira conclusão é que ninguém está seguro em lugar algum do mundo.

Recentes atentados contra um avião russo no Sinai, em Beirute, e agora em Paris, mostram claramente uma tendência de internacionalização dos alvos do Estado Islâmico.

Das muitas horas de entrevistas e depoimentos que vi na TV, um momento me abalou especialmente: quando o grande jornalista David S. Rohde, da Reuters, disse à CNN que o “Estado Islâmico está ganhando a guerra”. Rohde, veterano de coberturas de combates, vencedor de dois prêmios Pulitzer e que passou sete meses sequestrado por terroristas do Taliban, explicou que, enquanto o Estado Islâmico tiver liberdade para treinar terroristas na Síria, será impossível pará-los.

A verdade é que a coalizão contra o Estado Islâmico, chefiada pelos Estados Unidos, não tem obtido grande sucesso no combate ao grupo na Síria, país devastado por uma guerra civil. Segundo analistas, a razão é simples: o grande objetivo norte-americano seria a derrubada do ditador sírio, Bashar al Assad.

Entrevistado por William Waack no programa “Painel”, da Globonews, o professor de Relações Internacionais da Faculdade Rio Branco, Gunther Rudzit, disse que a coalizão estava realizando cerca de 300 missões aéreas por semana contra o Estados Islâmico na Síria. “Só para comparar, quando os Estados Unidos queriam derrubar Saddam Hussein, realizavam 16 mil missões aéreas por semana”.

Depois que a Rússia, aliada de Bashar al Assad, começou a bombardear o grupo terrorista na Síria – e atingir também vários focos de opositores do ditador, é bom lembrar – a situação ficou ainda mais caótica.

Talvez a única consequência boa dos atentados de Paris seja uma trégua ideológica entre Putin, Obama e a coalizão, para um combate mais intenso e organizado contra o Estado Islâmico.

Mas acabar com as tropas terroristas na Síria seria só uma pequena parte da missão. Difícil também será identificar e exterminar as células extremistas infiltradas na Europa e outras partes do mundo. O fato de que três grupos fortemente armados e muito bem treinados executaram os massacres em Paris, uma das cidades mais vigiadas por grupos antiterroristas, prova que nenhuma cidade do planeta está livre do risco.

Um norte-americano especialista em antiterrorismo, entrevistado pela BBC, disse ser impossível vigiar com eficiência todos os milhares de indivíduos suspeitos de ligações com grupos extremistas morando na França. Ele explicou que isso demandaria um número de homens e uma logística que nenhum país possui. “Para fazer a vigilância presencial de alguém, ou seja, segui-lo dia e noite, são necessários vários agentes por indivíduo vigiado. É difícil também vigiá-lo virtualmente, porque ele pode ter inúmeros celulares e se comunicar por diversas maneiras diferentes. Há também a questão do idioma. Se o vigiado falar em árabe, significa que todos os agentes que participam da vigilância precisam conhecer a fundo o idioma”.

Resumindo: não estamos combatendo o Estado Islâmico como deveríamos na Síria e somos impotentes para evitar atentados em nossas próprias cidades. Quem diz que as Olimpíadas do Rio, ano que vem, não serão um alvo?

Enquanto isso, podemos esperar uma radicalização da xenofobia na Europa e a ascensão da extrema direita. É um círculo vicioso: quanto mais ataques terroristas, mais preconceito contra muçulmanos; quanto mais preconceito, mais jovens nos bairros muçulmanos de Paris ou de outras cidades estarão propensos à radicalização.

Seria bom lembrar que o Estado Islâmico e outros grupos terroristas, como a Al-Qaeda, matam muito mais muçulmanos do que não-muçulmanos (veja esta reportagem da CNN) e que grande parte das tropas que estão combatendo os terroristas na Síria são formados por seguidores do Islã. Mas é difícil esperar razão e sensibilidade da opinião pública, especialmente depois das cenas bárbaras em Paris.

E no meio da barbárie, que ironia terrível ver uma banda tão festiva e alegre quanto o Eagles of Death Metal no meio da carnificina, não? Escrevi uma matéria para a “Folha” (leia aqui), contando um pouco sobre a origem da banda e sua música escapista e divertida. Felizmente, Jesse Hughes e seus companheiros escaparam ilesos.

Para finalizar, muito boa a notícia de que a Conferência do Clima, a COP-21, não será cancelada ou adiada por causa dos atos terroristas. O encontro está marcado para o dia 30 de novembro na capital francesa e deve reunir mais de 100 chefes de Estado. É uma demonstração importante de que Paris, que já sobreviveu a invasões de vikings e nazistas, vai superar mais esse desafio.

P.S.: O assunto é tão importante que adiantei o texto que publicaria segunda. O blog volta com um texto inédito terça. Segunda, estarei fora boa parte do dia e com dificuldade para responder a comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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“Você é corrupto ou estava dormindo?”: a arte de entrevistar

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Atenção, escolas de jornalismo: que tal legendar essa entrevista e mostrar aos alunos?

Antes de continuar, vamos apresentar os personagens: o entrevistador é o inglês Jon Snow, 68 anos, jornalista que há 26 comanda o telejornal “Channel Four News”.

O entrevistado é Sebastian Coe, ou melhor, Lord Coe, 59, um dos maiores atletas da história do esporte britânico, vencedor de quatro medalhas olímpicas nos 800 e 1500 metros rasos. Coe foi chefe do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, vice-presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) de 2007 a 2015 e, desde agosto, presidente da Associação, a entidade máxima do atletismo mundial.

Imagine William Bonner entrevistando Pelé. É mais ou menos por aí.

O tema da entrevista não era dos mais alegres: a divulgação do recente relatório acusando atletas russos de competirem dopados nas Olimpíadas de Londres. O relatório diz que a Federação Russa de Atletismo agiu para esconder os resultados dos exames de doping. Pelo menos cinco atletas testaram positivo para substâncias proibidas, o que fez a Agência Mundial Antidoping recomendar que toda a equipe russa de atletismo seja banida das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.

Onde entra a IAAF nisso?

No início de novembro, Lamine Diack, antecessor de Coe na presidência da IAAF, foi preso na França junto com altos executivos da Associação, acusados de receber propina dos russos para esconder os resultados dos exames. Lord Coe, que era vice de Diack, disse ter sido pego de surpresa com as revelações e que “elementos trapaceiros” (“rogue elements”, que pode ser traduzido por "algo ou alguém que age diferentemente de seus pares, prejudicando o todo") podem ter se infiltrado na IAAF.

Durante a entrevista, Jon Snow questiona Lord Coe.

01:00
Coe – Elementos trapaceiros podem ter se infiltrado em nossa organização (...) Isso pode não significar uma falha total do nosso sistema de segurança.
Snow – É impossível acreditar nisso. Você está no comando da IAAF desde 2007. O homem que sentava ao seu lado está no centro dessas alegações, e você está dizendo que não tinha ideia de que essas atividades extraordinárias estavam acontecendo à sua volta?

02:00
Snow – Você é um dos grandes esportistas a competir pela Grã-Bretanha, mas agora é presidente de uma organização cuja liderança é desesperadamente corrupta (...) As pessoas certamente imaginaram que você lutaria para eliminar desse tipo de coisa da IAAF.
Coe – Essa é minha responsabilidade agora.
Snow – Mas o que você fez?
Coe – Essa é minha responsabilidade agora. Agora sou presidente e poderei fazer as mudanças que desejo.
Snow – Lord Coe, isso não vai colar. Você era o número dois na Associação, vice-presidente, e não fez nenhum esforço para livrá-la das drogas.

02:50
Coe - Essas alegações foram um choque para todos nós.
Snow – Só há duas explicações aqui: ou você estava dormindo no emprego ou é corrupto. Qual das duas?

03:22
Coe – Precisamos analisar os procedimentos internos que permitiram que isso ocorresse.
Snow – Como pode alguém que fracassou em identificar uma coisa dessas, que não viu nem sinal disso, ser agora o homem que vai resolver o problema?
Coe – Eu vou fazer o que for necessário...
Snow – Isso não responde à pergunta.

04:09
Snow - Se você fosse um político – e você foi – e estivesse vendo essa situação, com seu passado de grande – e honesto – atleta, e percebesse que falhou em combater um mal que tomou conta do esporte, você não diria que estava na hora de se aposentar?
Coe – Não. Eu diria que é hora de resolver o problema.
Snow – Sebastian Coe, muito obrigado por sua entrevista.

Bonito, não?

Para completar a aula, bem que os cursos de jornalismo poderiam comparar a performance de Jon Snow com essa:

Ou essa:

P.S.: Estarei fora boa parte do dia e com dificuldade para responder a comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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“Amizade Desfeita” inaugura o terror via Skype

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O sujeito que teve a ideia de filmar “Amizade Desfeita” é um gênio. Não lembro ter visto um filme cuja estética foi executada tão bem e tão especificamente para um determinado público-alvo.

E olha que não gostei do filme. Para falar a verdade, chegar ao fim dos 83 minutos foi um suplício. Mas não faço parte do público que o filme quer agradar, e entendo o sucesso que está fazendo com plateias adolescentes.

Dirigido pelo russo Levan Gabriadze e coproduzido por empresas russas e norte-americanas, “Amizade Desfeita” é um sucesso impressionante. Custou um milhão de dólares e já rendeu, no mundo todo, quase 63 vezes seu orçamento.

O filme é inteiramente narrado da tela do computador de uma jovem. A tela do cinema é ocupada pela tela de um Macbook, e toda a “ação” – chats, trocas de e-mails, pesquisas no Google e conversas via Skype – acontecem ali. Não há cenas externas, a não ser algumas sequências de vídeos trocados entre os internautas.

A história gira em torno do suicídio de uma adolescente, Laura Bairns (Heather Sossaman), que se matou com um tiro depois que um vídeo comprometedor foi postado no Facebook. Um ano depois da tragédia, cinco colegas de classe de Laura fazem um chat via Skype, quando são incomodados pelo que aparenta ser um hacker.

Essa figura misteriosa aparece no chat sem mostrar o rosto. No início, os jovens acham que se trata de uma falha técnica, mas logo percebem que estão sendo observados. O suspense aumenta quando a figura começa a enviar perguntas para os participantes, seguidas por ameaças. Finalmente a figura se identifica: é Laura Bairns. Será um trote? Algum maldoso que entrou na conta de Laura e está assustando seus colegas de classe?

Começa então o processo de eliminação dos cinco adolescentes. Todos que fizeram mal a Laura acabam pagando por isso.

O filme é igual a seu público: tem uma capacidade de atenção reduzida e não gosta de perder tempo com o supérfluo. Assim, não espere aprofundamento na psique dos personagens ou grandes elucubrações morais.

Você sacaneou a Laura? Então vai morrer. Simples assim.

No início, o filme até que funciona. Por uns cinco ou dez minutos, é divertido ver o cursor andando na tela e abrindo janelas que vão revelar algumas surpresas. O espectador vira um voyeur, olhando a vida desses jovens por uma janela virtual. O problema é que o tempo vai passando e você percebe que o filme é só isso, um truque esperto que o diretor estendeu para completar um longa-metragem.

P.S.: Estarei fora boa parte do dia e com dificuldade para responder a comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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Hollywood contra os “terroristas”

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Você já viu esse filme antes: um avião - ou um hospital, uma escola, um hotel - é tomado por um bando de árabes mal encarados, que ameaçam mandar tudo pelos ares. A situação parece perdida, até que algum fodástico super-herói dos filmes de ação - Chuck Norris, Stallone, Schwarzenegger, Steven Seagal - chega para salvar os inocentes e fazer os terroristas comerem capim pela raiz.

Em 2005, a cineasta norte-americana Jackie Reem Salloum, de família síria e palestina, editou "Planeta dos Árabes", uma coletânea com algumas cenas marcantes da caracterização de personagens árabes em filmes. Assista:

Não é de hoje que muitos reclamam que o cinema comercial norte-americano reduz a cultura árabe a estereótipos. Em 1993, o Comitê Árabe-Americano Contra a Discriminação convenceu a poderosa Disney a mudar um verso de uma música do filme "Aladdin" em que um personagem descrevia sua terra como um lugar "onde eles cortam sua orelha / se não gostarem da sua cara (...) É bárbaro, mas ei, é a minha casa!"

Curiosamente, depois do 11 de setembro, o uso de personagens do Oriente Médio como vilões de filmes parece ter diminuído muito. É só comparar com a década de 80, quando os produtores israelenses Menachem Golan e Yoram Globus, da produtora Cannon, fizeram uns 20 filmes - muitos estrelados por Chuck Norris - em que árabes eram vilões sanguinários.

Nem as comédias poupavam os árabes (ou os persas, como bem lembra o leitor Gustavo S.). Quem pode esquecer essa cena de "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu 2" (1982), em que a van da companhia área Iran Air chegava ao terminal trazendo passageiros de olhos vendados e acompanhados por atendentes armados até os dentes?

iran air Hollywood contra os terroristas

E confesso que ri demais com essa cena do detector de metais no aeroporto:

Alguém faria uma cena dessas num filme hoje em dia? Duvido muito.

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