Quantcast
Channel: Andre Barcinski
Viewing all 575 articles
Browse latest View live

COMO SE DIZ “CHUPA, PACHECADA!” EM ALEMÃO?

$
0
0

Nunca imaginei que um dia vibraria com um time vestido de rubro-negro. Mas o massacre imposto pela Alemanha – o maior vexame da história das Copas do Mundo – foi um delírio, do início ao fim.

A traulitada prova algumas coisas: a primeira é que cara feia não ganha jogo. Não adianta David Luiz e Júlio César cantarem o hino com cara de Chuck Norris, segurando uma camisa de Neymar.

O que ganha jogo é um time bem treinado, com variações táticas, controle emocional, boa forma física e raça. Coisas que a selecinha da CBF não tem. E nunca terá enquanto o treinador for um chucro como Felipão, técnico ultrapassado e obsoleto.

No dia em que pegou um time forte, e não as cinco babas que havia enfrentado, o time da CBF mostrou o que é: um bando mal treinado e prepotente, que ainda acha que camisa ganha jogo.

Obrigado, Joachim Loew, técnico tão criticado na Alemanha, mas que nunca, nunca, nunca tratou mal ninguém, nunca xingou jornalista ou foi arrogante.

Obrigado, Klose, por ter batido o recorde de Ronaldo, um atleta de primeira e uma figura pública de quinta.

Obrigado, Kroos, por ter varrido do mapa qualquer menção a Neymarketing, Neymártir, Neymala. Nem o mais Galvãobuênico dos torcedores será capaz de dizer: “Ah, mas se tivesse Neymar...” Se tivesse, teria sido de seis.

Obrigado, Muller, por não nos fazer ouvir Galvão gritando “É hexaaaa! É hexaaaaa!”

Obrigado, Schwensteiger, por ter acabado de vez com essa babaquice preconceituosa de dizer que alemão é “frio”. Perguntem ao povo de Santa Cruz Cabrália, na Bahia, onde os alemães se concentraram e encantaram o povo local.

Obrigado, Neuer, por acabar com a marra desse David Luiz, que ninguém conhece no Brasil, mas foi alçado a ídolo por alguns publicitários espertos, aproveitando seu “carisma”, que prefiro chamar de canastrice.

Enfim, obrigado a todo o time da Alemanha pelo show de bola, competência e humildade.

Que o Brasil aprenda com o chucrute que levou: que tire o poder da CBF, mande esses bandidos todos pra cadeia, valorize o futebol nacional e pare de elitizar os estádios. Nossos técnicos são ultrapassados, nossos campeonatos, uma piada. Estamos décadas atrasados em relação ao futebol de outros países e continuamos confiando no "jeitinho" - para construir estádios, montar um time, enfim, para tudo.

Chega de Marin, Felipão, Parreira, retranca, prepotência, corporativismo, CBF. Chega. Quem sabe, daqui a alguns anos, a gente possa ter pra quem torcer de novo.

The post COMO SE DIZ “CHUPA, PACHECADA!” EM ALEMÃO? appeared first on Andre Barcinski.


ENQUANTO ISSO, NA GRANJA COMARY…

$
0
0

Madrugada de quarta, Granja Comary: ainda atordoados pelo chucrute levado dos alemães, jogadores e comissão técnica se reúnem na sala de TV da concentração...

Felipão – Que tal um pôquerzinho pra relaxar?

Daniel Alves – Eu topo! Seven stud, alguém?

Felipão – Esquece o baralho. E um filminho? Murtosa, vê que filmes tem aí nos DVDs...

Murtosa – Vamos ver... “Os Sete Samurais”, “Sete Noivas para Sete Irmãos”, "Os Sete Gatinhos", “Sete Homens e um Destino”, "A Montanha dos Sete Abutres"... Ah, já sei, esse é lindo: “Sete Anos no Tibet”!

Thiago Silva – Ah, gente, eu não posso ver esse filme que caio no choro! (Thiago Silva chora)

Felipão – Porra, Murtosa, não tem um filme melhor que essas porcarias aí?

Murtosa – Tem um bom aqui: “Seven – Os Sete Pecados Capitais”!

Felipão – Mas guri, esse é triviolento, um banho de sangue!

Murtosa (magoado) – Poxa, Luiz Felipe... gostou, gostou, não gostou, vai pro inferno!

Felipão – E tu, David Luiz, vai fazer o quê? Aliás, guri, parabéns pela cara de mau que fizeste no hino, gostei muito. Onde foi que vi aquela cara antes?

David Luiz – Ah, professor, sabia que você ia reconhecer, é do Sargento Pincel. Aprendi na palestra de vilão que ele deu no curso do Wolf Maya...

Felipão – E tu, Fred? Vai descansar agora?

Fred – Não vou não, professor, já dormi bastante durante o jogo, tô descansado.

Felipão – E tu, Bernard, por que não faz alguma coisa pra alegrar o pessoal? Dança um frevo aí, guri, tu não tem alegria nas pernas? Ah, já sei! Quer tal um vídeo pra preparar pro próximo jogo? Murtosa, prepara a fita de Cerâmica e União Frederiquense, semifinal da série B do Gauchão. Foi um banho tático do técnico Kleiton Kledir, vocês vão ver...

Júlio César – Pô, professor, não tem nada mais animado não? Tô cansado de chorar...

Parreira – Aí, galera, cheguei!

Felipão – Carlos Alberto, era tu mesmo que eu esperava! Repete pros guris aquela palestra que tu fizeste na Soccer Expo, sobre como formar equipes modernas e vencedoras!

Parreira – É pra já, Luiz Felipe!

E a seleção, enfim, dorme o sono dos justos.

 

1 andre ENQUANTO ISSO, NA GRANJA COMARY...

The post ENQUANTO ISSO, NA GRANJA COMARY… appeared first on Andre Barcinski.

DIRE STRAITS: A MAIOR BANDA DO UNIVERSO INTEIRO (E VAI, ARGENTINA!)

$
0
0

barca DIRE STRAITS: A MAIOR BANDA DO UNIVERSO INTEIRO (E VAI, ARGENTINA!)

Sujeito insistente esse Oséas O. Souza Junior: há uns quatro anos, vem pedindo um texto sobre sua banda predileta, o Dire Straits.

Confesso que tenho dado um migué no Oséas, até porque nunca ouvi um disco inteiro da banda e prefiro fazer um tratamento de canal a ouvir “Sultans of Swing”.

Mas o Oséas tanto insistiu, que fiz uma promessa: se a seleção da CBF fosse eliminada da Copa, eu escreveria sobre o Dire Straits.

Então aqui, vai, Oséas, em homenagem a você. Acredite, o texto é sincero e não foi influenciado pelo estado de delírio em que me encontro desde o sétimo gol alemão.

DIRE STRAITS – A GENIALIDADE EM ESTADO PURO

Esqueça Beatles, Elvis, Hendrix e Stones. A única banda que importa no universo é o Dire Straits.

O que seria de festas de firma em todo o planeta se não existisse Mark Knopfler? Quantos milhões de publicitários em estado avançado de embriaguez não fizeram air guitar de olhos fechados e gravata na cabeça, balançando o coco aos acordes límpidos do solo de “Sultans of Swing”?

Que residência de classe média branca estaria completa sem uma cópia de “Brothers in Arms”, LP clássico que reúne Mark Knopfler e Sting, os músicos prediletos de Tiago Leifert e Rubens Barrichello?

Que banda seria capaz de revolucionar a moda rocker com a introdução de um acessório tão radical e cool quanto bandanas de tenista? Veja este clipe e diga se não dá vontade de botar sua bandana e sair correndo para a rua dançar?


Outro aspecto de Mark Knopfler que poucos comentam é seu irresistível groove e sua incomparável malemolência. Nem um Frankenstein formado por pedaços de James Brown, Sly Stone, Prince, Jorge Ben e Etta James conseguiria requebrar e suingar com a desenvoltura de Markinho.

Para finalizar, é preciso dizer que Mark Knopfler é um visionário. Que outro gênio pop teria a clarividência de fazer, trinta anos atrás, uma canção que fala dos milhões de reais que empresas de frango, celular e desodorante gastaram com Neymala?

Obrigado, Mister Knopfler. E quem gostou, gostou, quem não gostou, pode ir pro inferno.

PS.: Fim de semana dos sonhos: Holanda mete cinco na seleção da CBF, e hermanos levantam a Copa no New Maraca.

 

 

The post DIRE STRAITS: A MAIOR BANDA DO UNIVERSO INTEIRO (E VAI, ARGENTINA!) appeared first on Andre Barcinski.

QUAL SERÁ O LEGADO DA COPA DO 7 A 1?

$
0
0

din din  QUAL SERÁ O LEGADO DA COPA DO 7 A 1?

Ano passado, em meio à empolgação com as manifestações de rua e ao blablablá do “Gigante Acordou”, muita gente disse que o Brasil tinha mudado para sempre. Cascata. As manifestações viraram desculpa para quebrar agência bancária e joguete no Fla x Flu ideológico PT x PSDB. Não se falou mais em reforma política e nenhuma mudança aconteceu de verdade.

Depois do vexame histórico dos 7 a 1 que a seleção da CBF tomou da Alemanha, ouvi muita gente dizendo que o futebol brasileiro precisava mudar, que era hora de uma chacoalhada geral, de jogar fora as maçãs podres e recomeçar do zero. Teve comentarista esmurrando mesa e dando um “basta” na corja da CBF.

Mas foi só rolar a entrevista coletiva pós-jogo para ver que nada vai mudar.

Fosse num país de homens públicos decentes, a direção da CBF e a comissão técnica inteira teriam pedido demissão na hora. No Japão, o técnico cometeria harakiri. Na Coréia do Sul, pularia de uma ponte. No Brasil, não: Parreira e Felipão juntaram os aspones e agiram como se nada tivesse acontecido. Fingem não entender a gravidade e importância histórica de um 7 a 1 numa semifinal de Copa.

Enquanto isso, a mídia especula quem será o novo técnico da seleção: Tite? Muricy? Um gringo? Guardiola, talvez?

Não importa. Podem invocar os espíritos de Rinus Michels, Saldanha e Telê e juntar Del Bosque, Mourinho, Guardiola e Van Gaal para comandar a seleção, que o desastre será o mesmo. Enquanto o futebol brasileiro e a seleção estiverem na mão da CBF, uma entidade grotesca liderada por um rebutalho da ditadura que não gosta de futebol – assim como seu antecessor, o igualmente soturno Ricardo Teixeira – nada vai mudar.

O que fizeram com a seleção brasileira é uma barbaridade. Privatizaram a camisa mais importante da história do futebol. E o cúmulo do lambe-botas corporativo foi descobrir que a tal campanha “espontânea” de apoio a Neymar no Twitter (#jogapramim), em que “astros” da seleção como Marcelo, Willian e David Luiz desejavam pronta recuperação ao craque, era na verdade propaganda de uma empresa que vende frango. Leia este artigo e vomite.

Como explicar para um moleque de dez anos que idolatra Neymar e mandou mensagens de apoio ao jogador no Twitter que ele foi peão de uma jogada publicitária para vender salsicha? Dá para ser mais asqueroso? Como respeitar uma seleção dessas?

A única coisa espontânea e inesperada que Neymar fez na Copa foi levar uma joelhada nas costas. Até as máscaras dele vistas no Mineirão durante o massacre alemão foram criadas por uma agência de publicidade. Ontem, deu mais uma de suas coletivas inócuas, obviamente mandado pela CBF para tentar apagar o incêndio dos 7 a 1. Mais uma vez, Neymar chorou sem lágrimas e disse um monte de frases ensaiadas. Chegou a dizer que torcia para Messi ser campeão do mundo. Não me surpreenderia se ele tivesse sido orientado pela CBF a dizer isso, para amenizar a vergonha caso a Argentina levante a Copa no Maracanã. Não dá para admirar um "ídolo" como Neymar, por mais que ele jogue.

Sobre o "legado" da Copa, não tenho ilusão: gastamos bilhões em elefantes brancos que nunca serão pagos, destruímos estádios mitológicos para construir arenas que mais parecem shopping centers, tiramos os pobres dos estádios e estamos garantindo que só o público do “Sou brasileiro, com muito orgulho” terá condição de pagar ingresso. Estamos matando os clubes pequenos e aniquilando o futebol do interior.

Depois dos 7 a 1, achei que poderia acontecer uma revolução por aqui. Me enganei de novo. Vão trocar de técnico, e vai ficar nisso. Tite vai assumir, mas a seleção vai continuar rendendo milhões para Marin, Del Nero e cia., nossos campeonatos continuarão deficitários, oc clubes seguirão falidos, todos os craques vão jogar no exterior, teremos jogos às 22h para satisfazer a TV, os estaduais continuarão sendo destruídos, times menores morrerão e as arquibancadas vão se embranquecer de vez.

O que precisaria acontecer pra mudar alguma coisa? Que humilhação seria maior do que levar de sete em casa? Messi erguer a Copa no Maracanã? Os hermanos destruírem a estátua do Bellini e botarem uma do Maradona no lugar?

Que seja isso, então. Vai, Argentina!

*Imagem: brainstorm9.com.br

The post QUAL SERÁ O LEGADO DA COPA DO 7 A 1? appeared first on Andre Barcinski.

ADEUS TOMMY, O ÚLTIMO DOS RAMONES

$
0
0

Morreu Tommy Erdelyi, mais conhecido por Tommy Ramone. Era o último remanescente da formação original dos Ramones, que incluía Joey, Johnny e Dee Dee.

Tommy tocou bateria nos primeiros discos, mas não gostava da estrada e logo virou uma espécie de mentor/produtor da banda. Quem esteve perto dos caras nos anos 70 diz que Tommy foi o principal arquiteto sônico-estético do grupo.

Impressionante a devastação que o câncer e outras doenças/drogas causaram nessa banda. Além de Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy, morreu recentemente Arturo Vega, designer do icônico logotipo da águia e considerado o "quinto membro" da banda.

Dos que estavam com a banda desde o início, o único sobrevivente é Monte Melnick, tour manager e assessor desde os primórdios. Que viva muito.

The post ADEUS TOMMY, O ÚLTIMO DOS RAMONES appeared first on Andre Barcinski.

Ninguém mereceu mais

$
0
0

Final feliz: o time mais organizado, bem dirigido, bem treinado, mais dedicado e com o melhor elenco ganhou a Copa do Mundo.

Futebol não tem sorte, não tem mandinga, não tem jeitinho. Vence quem é mais competente. E o futebol alemão vem sendo o mais competente do mundo desde o início dos anos 2000, quando iniciou um processo de renovação. Hoje tem alguns dos melhores clubes do mundo e, possivelmente, o melhor campeonato.

E tem três jogadores especiais: o goleiro Neuer, o meio-campista Schweinsteiger e o atacante Muller. Na final, Schweinsteiger deve ter corrido uns 16 km e errado uns dois passes durante duas horas de jogo. Foi um monstro.

Isso sem contar Lahm, que joga bem de ala, de volante, de tudo; Klose, o maior artilheiro da história das Copas, e uma zaga absolutamente fenomenal. Inacreditável alguém falar de Thiago Silva e David Luiz como “a melhor zaga do mundo”, depois do que jogaram Hummels e Boateng. Não há comparação.

E, convenhamos, Messi de melhor jogador da Copa foi piada. Robben, Schweinsteiger, Muller e Neuer se destacaram mais.

Sei que isso não vai acontecer, mas tomara que alguém da CBF observe o comportamento da federação, da comissão técnica e dos jogadores alemães, e compare com o papelão que o time da CBF fez nessa Copa.

Depois de tomar dez gols em dois jogos e virar o café com leite da fase final do torneio, com os adversários tirando o pé do acelerador no segundo tempo e a Holanda até botando o terceiro goleiro, o time de Felipão cometeu uma derradeira grosseria, saindo antes de a Holanda receber as medalhas de bronze. Na verdade, era esperado: chefiado por uma entidade tosca como a CBF e dirigida por um chucro como Felipão, esse time de presepeiros seria incapaz de ter uma atitude educada, civilizada e cortês. Uma pataquada vergonhosa pra coroar o vexame.

E se tudo continuar como está, em 2018 teremos Alemanha penta e a seleção da CBF fora da Copa pela primeira vez.

The post Ninguém mereceu mais appeared first on Andre Barcinski.

DEPOIS DE ABRAÇAR O CINEMA, POR QUE VOCÊS NÃO ABRAÇAM O CAPETA?

$
0
0

cineleblon DEPOIS DE ABRAÇAR O CINEMA, POR QUE VOCÊS NÃO ABRAÇAM O CAPETA?

Só existe uma coisa que artista brasileiro gosta mais do que aplauso: é participar de alguma manifestação totalmente inócua em prol de uma iniciativa fadada ao fracasso, mas que renda linhas elogiosas em jornais e uma foto na coluna social.

Veja o caso do Cine Leblon, no Rio de Janeiro: há algumas semanas, foi anunciado o fechamento da sala, que existe desde 1951 e, segundo os proprietários, dá prejuízo há anos. O prédio é tombado e, por isso, os donos não puderam construir uma garagem subterrânea e um edifício comercial no local.

Mais rápido do que você poderia dizer “Pizzaria Guanabara”, um grupo de artistas e moradores do bairro se juntou e promoveu um “abraço coletivo” ao cinema. Teve gente que – snif, snif – se ajoelhou e botou velas na porta do cinema. Tudo muito odara, uma coisa de pele, de gente do bem, saca?

Numa sociedade civil organizada e atuante, o que aconteceria? Fácil: artistas e associações de moradores se juntariam, promoveriam uma coleta de doações e organizariam uma entidade para gerenciar o cinema. Ou comprariam a bagaça e a doariam ao bairro.

Foi o que ocorreu em 1988 em Brookline, cidade perto de Boston, quando o tradicional cinema Coolidge Corner estava ameaçado fechar. Hoje, a associação que toma conta do cinema tem quase três mil membros.

No fim dos anos 80, quando Martin Scorsese percebeu que negativos de filmes antigos estavam se deteriorando, o que fez o cineasta? Juntou os amigos e deu um abraço coletivo numa lata de filme? Não: botou grana do próprio bolso e criou a Film Foundation, que já salvou mais de seiscentos filmes antigos.

Um exemplo mais recente: ano passado, o músico Jack White doou 200 mil dólares à Fundação Nacional de Preservação de Fonogramas, organização que preserva a história dos discos e gravações norte-americanos.

Mas aqui ainda não compreendemos como funciona uma sociedade capitalista de verdade. Ninguém parece entender que um cinema precisa de público que pague ingresso (aposto que boa parte dos que abraçaram a sala só iam ao cinema no Shopping Leblon). E a solução, em vez de botar a mão na massa e trabalhar, ou doar seu próprio dinheiro, é apelar ao Estado nhonhô: “Ah, o governo tem de dar um jeito nisso”.

Ninguém está dizendo que o Estado não tem de apoiar a cultura. Claro que tem. Mas o Cine Leblon é privado e precisa sobreviver com seus próprios recursos.

Mas o nhonhô sempre dá um jeito, não é mesmo?

E a solução veio rapidinho: o prefeito do Rio, Eduardo Paes, prometeu destombar a sala (como se "destomba" algo? Quer dizer que um prédio pode perder a importância histórica e arquitetônica de uma hora pra outra?). Isso permitiria aos donos construírem a garagem subterrânea e um prédio comercial anexo ao cinema. Claro que o destombamento vai desfigurar a arquitetura do cinema - um representante dos donos da sala disse ao "Globo" que a fachada será restaurada e as salas, "modernizadas" - mas isso não parece ser empecilho para o prefeito, que já apoiou a destruição das marquises tombadas do Maracanã e não parece ter nenhum respeito pela tradição arquitetônica da cidade. Destombar é com ele mesmo.

É a solução mais fácil: artistas não perderão horas preciosas de sol trabalhando para manter o cinema e podem continuar flanando nas calçadas do Leblon enquanto são perseguidos por paparazzi; o cinema vai continuar lá, embora desfigurado, e os moradores, que gostam mesmo é de ver “Transformers” em 3D, poderão se lambuzar de pipoca com azeite trufado.

Vão abraçar o capeta, todos vocês.

P.S.: Estarei fora o dia todo e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço um pouco de paciência. Desculpe pelo incômodo.

The post DEPOIS DE ABRAÇAR O CINEMA, POR QUE VOCÊS NÃO ABRAÇAM O CAPETA? appeared first on Andre Barcinski.

MEU NOVO LIVRO, “PAVÕES MISTERIOSOS”

$
0
0

capa pavoesmist 1000x1500 1 MEU NOVO LIVRO, “PAVÕES MISTERIOSOS”

 

Em agosto sai meu novo livro, “Pavões Misteriosos: 1974-1983: A Explosão da Música Pop no Brasil” pela editora Três Estrelas, da “Folha de S. Paulo”.

Quem quiser ler um trecho antes do lançamento pode conferir a revista “Piauí” de julho (edição 94), que traz um capítulo sobre a indústria dos covers que proliferou na cena musical brasileira dos anos 1970 e o fenômeno dos falsos gringos – cantores brasileiros que se faziam passar por estrangeiros, como Fábio Júnior (Uncle Jack), Jessé (Christie Burgh) e o mais famoso deles, Morris Albert.

Voltarei a falar do livro quando ele estiver disponível nas lojas. O que posso adiantar é que “Pavões Misteriosos” conta a história de um período pouco abordado pela bibliografia musical brasileira: a explosão da cena pop nacional, em meados dos anos 1970.

Logo após o Milagre Econômico, a indústria do disco se multiplicou no Brasil. O público consumidor tornou-se muito maior e mais jovem. Se, até então, a música romântica havia dominado as paradas, a partir de 1973/74 uma nova geração de artistas se tornaria campeã de vendas: Secos e Molhados, Novos Baianos, Raul Seixas, Guilherme Arantes, Frenéticas, Fagner, Gretchen, Rita Lee, Sidney Magal, Ritchie e muitos outros (todos foram entrevistados – com exceção de Raul, claro – além de dezenas de artistas, produtores e executivos da indústria musical).

“Pavões Misteriosos” conta a história de como a música jovem dominou o Brasil, abrindo caminho para a geração do BRock de Legião Urbana, RPM e Ultraje a Rigor. Entre os temas abordados estão o sucesso dos discos de novela, a popularização das rádios FM, a explosão da discoteca no Brasil, o jabá nas rádios e TV, a "invenção" de astros como Sidney Magal e Gretchen, o fenômeno dos “falsos gringos”, o tsunami Sullivan & Massadas e a descoberta do gigantesco mercado de música infantil, com Xuxa e A Turma do Balão Mágico.

Tento explicar, também, por que tantos discos bons foram lançados na primeira metade da década de 1970, como "Secos e Molhados", "Gita" (Raul Seixas), "Acabou Chorare" (Novos Baianos), "A Tábua de Esmeralda" (Jorge Ben), "Roberto Carlos", "Carlos, Erasmo" (Erasmo Carlos) e tantos outros.

Em 1º de agosto, participo de um debate com um dos principais entrevistados do livro, Guilherme Arantes. Será na Casa Folha, durante a FLIP, em Paraty.

Dia 12 de agosto, estarei no MIS de São Paulo para o debate “Música Para Ler”, junto a três grandes jornalistas/autores: Fábio Massari (“Mondo Massari”, “Malcolm”), Ricardo Alexandre (“Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar”) e André Forastieri (“O Dia em que o Rock Morreu”). E dia 13, lanço “Pavões Misteriosos” na Livraria Cultura, em São Paulo.

Mais detalhes em breve.

O HORROR, O HORROR

Difícil passar um dia tranqüilo depois de ler essa noticia sobre abuso sexual de um pai contra as próprias filhas.

O cinema, tanto o de ficção quanto o documental, tem tratado do assunto de abuso sexual de menores com bastante freqüência. Mas a historia em Santa Catarina periga ser mais aterrorizante que a de qualquer filme.

Lembro “A Caça”, de Thomas Vinterberg, sobre um professor (Mads Mikkelsen) injustamente acusado de molestar uma aluna de quatro anos. É um grande filme, indicado ao Oscar.

O documentário norte-americano de média-metragem “Child of Rage”, feito para TV, conta uma história tétrica: a de uma menina que foi abusada pelo próprio pai quando tinha menos de dois anos de idade. O filme está disponível na Internet e é uma paulada.

Outro filme difícil de assistir é “Just Melvin, Just Evil”, sobre Melvin Just, patriarca de uma família que é acusado por filhas, sobrinhos e netos de molestá-los.

Mas o caso de Santa Catarina é ainda mais chocante, não só pela violência contra as filhas, mas pela duração do martírio que, segundo as vítimas, vinha ocorrendo há quase 20 anos.

The post MEU NOVO LIVRO, “PAVÕES MISTERIOSOS” appeared first on Andre Barcinski.


TRABALHAR NO RIO DE JANEIRO DÁ UM TRABALHO…

$
0
0

cristo redentor TRABALHAR NO RIO DE JANEIRO DÁ UM TRABALHO...

Pra começo de conversa: cresci no Rio de Janeiro, tenho família lá, adoro a cidade e meus amigos e amigas cariocas. Agora, pra trabalhar, o Rio periga ser um dos piores locais do planeta. Não vou especular as razões, mas a verdade é que, toda vez que preciso fazer um trabalho na Cidade Maravilhosa, especialmente um que envolva equipes numerosas – filmagens, gravações, etc. - já sei o que esperar: atrasos, frustração e desculpas esfarrapadas.

Dia desses, participei de uma entrevista e sessão de fotos com artistas famosos da música brasileira. Todos os astros chegaram na hora, mas o maquiador deixou todo mundo esperando por uma hora. Detalhe: a produção havia mandado um carro buscá-lo em casa. Quando a produtora ligou, desesperada, perguntando onde ele estava, o gênio do pincelzinho deu chilique: “Ai, fofa, não me apressa não, que o trânsito está hor-rí-vel!”

Claro que, no fim, as coisas sempre dão certo. A simpatia e competência das pessoas acabam compensando o esculacho. O tal maquiador era tão engraçado e boa praça que, em cinco minutos, os artistas estavam gargalhando de suas piadas. Quando uma cantora brincou que era “pau pra toda obra”, o sujeito respondeu na lata: “Ah, querida, pau e obra, é comigo mesmo!”

O maior choque de culturas que já presenciei foi quando fiz um show da banda gótica The Sisters of Mercy no Circo Voador, na Lapa.  O Sisters é inglês, mas sua equipe inteira é formada por alemães. Os caras parecem um exército, de tão disciplinados. Todo dia, o tour manager imprimia o cronograma do dia seguinte: “08h30 – café da manhã no hotel; 10h15 – encontro no saguão e embarque no ônibus”. Me sentia na Wehrmacht.

No dia do show, chegamos ao Circo às 11 da manhã para montagem de palco e passagem de som. O lugar estava trancado. O primeiro funcionário apareceu duas horas depois, de chinelo, regata e cara de ressaca. Os alemães espumavam. Pouco antes do show, o tour manager me chamou: “O Andrew (Eldritch, líder da banda) quer que você tire aquela mulher daqui”, apontando para a baiana que vendia acarajé. Eldritch estava preocupado com a panela de óleo fervente e disse que aquilo “não era seguro”. Expliquei pro sujeito que a baiana estava lá há 30 anos e não dava para expulsá-la assim.

Mas a pior experiência profissional que tive em terras cariocas foi uma festa de Réveillon em um clube na beira do mar. Contratamos dez garçons, mas nenhum apareceu. Durante a montagem da festa, alguém roubou a máquina de raio laser da equipe de som, que só foi recuperada depois que um policial deu uma prensa no flanelinha que guardava carros perto do lugar.

Meses antes, quando fui alugar banheiros químicos para o evento, ouvi a seguinte frase do gentilíssimo atendente da empresa: “O quê? Tá achando caro? O preço tá bom porque você tá pagando com antecedência; tenta alugar em cima da hora pra ver a trolha que você vai levar!”

Paguei a facada e combinei com o sujeito que eles recolheriam os banheiros químicos no dia seguinte à festa, até porque o clube estava alugado para outro evento. A festa aconteceu. Cinco ou seis dias depois, eu estava em casa, quando tocou o telefone. Era o dono do clube, furibundo: “P... que pariu! Tem um monte de família aqui na piscina e esses banheiros tão fedendo pra c....! Manda esses filhos da p... tirarem essas m.... daqui agora!” A empresa ainda não recolhera os infectos banheiros químicos, que estavam empesteando o clube todo. Liguei para a empresa, mas ninguém atendeu. Depois de um tempão, consegui falar no celular do gerente. Ele disse que estava em Rio das Ostras e “já, já” mandaria uma equipe retirar os banheiros.

Foi o último evento que fiz no Rio.

P.S.: Amanhã, um pequeno tributo a um grande músico: Johnny Winter.

The post TRABALHAR NO RIO DE JANEIRO DÁ UM TRABALHO… appeared first on Andre Barcinski.

JOHNNY WINTER (1944-2014)

$
0
0

Eu devia ter uns 12 anos quando vi uma foto de Johnny Winter empunhando sua Gibson Firebird. Por um bom tempo, achei que “Winter” (“Inverno”) era um apelido, por causa do cabelo branco como a neve. Não sabia que Johnny, assim como o irmão, Edgar, eram albinos.

Quando comecei a ouvir os discos, me empolguei. Meus dois guitarristas prediletos de blues-rock eram Johnny e Rory Gallagher. Achava que eles tinham uma pegada mais “rock”, suas músicas eram mais rápidas e animadas do que o blues “tradicional”, que eu só viria a apreciar depois (moleque gosta de velocidade, certo?).

Além de grande guitarrista, Johnny Winter foi uma espécie de arquivista do blues, sempre homenageando os pioneiros do gênero. Nos anos 70, ajudou a ressuscitar a carreira de Muddy Waters, produzindo alguns discos e fazendo shows com Waters.

É preciso lembrar que, por um bom tempo, esses patriarcas do blues viveram à margem da indústria musical. Muitos assinaram contratos longos e draconianos com suas gravadoras, e não são poucas as histórias de grandes bluesmen passando por dificuldades financeiras. Keith Richards sempre conta a história de quando foi visitar a gravadora Chess, em Chicago, e encontrou Muddy Waters trepado numa escada, pintando as paredes do lugar.

Johnny Winter nasceu no Mississipi, cresceu no Texas e se revelou como músico em Chicago. Três capitais do blues. No início dos anos 60, conheceu em Chicago uma turma de músicos talentosos e obcecados pelo blues, da qual faziam parte Mike Bloomfield e Paul Butterfield. Mas Johnny só faria sucesso em 1968, quando Bloomfield o chamou para dar uma canja num show em Nova York. Ele subiu no palco, tocou “It’s My Own Fault”, de B.B. King, e pôs o lugar abaixo. Na plateia estavam executivos da gravadora Columbia, que o contrataram na hora.

Johnny Winter era adorado por outros músicos. Os Stones gravaram “Silver Train” (do álbum “Goat’s Head Soup”, de 1973), em homenagem a ele. Em 1974, John Lennon permitiu que ele gravasse “Rock and Roll People”, faixa então inédita do ex-Beatle. E os Smashing Pumpkins lançaram “Tribute to Johnny”, faixa instrumental que emula o estilo do guitarrista.

Bom fim de semana a todos. E lembrem que ele pode ficar melhor. É só ouvir Johnny Winter.

The post JOHNNY WINTER (1944-2014) appeared first on Andre Barcinski.

Dunga vai dar saudades do Felipão

$
0
0

070622dunga Dunga vai dar saudades do Felipão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Se for confirmada a informação divulgada domingo, o novo técnico da seleção da CBF, o homem que comandará a renovação do futebol brasileiro, o visionário que porá nosso futebol, finalmente, no século 21, é... Dunga.

Isso mesmo. Depois de convidar um empresário de jogador – Gilmar Rinaldi – para coordenar a seleção, a CBF agora ressuscita o gênio que levantou a Copa do Mundo em 1994 e só conseguiu pensar em xingar os jornalistas, que levou 34 volantes para a Copa de 2010 e que revelou ao mundo o craque Felipe Melo.

Fica a pergunta: o que um técnico brasileiro precisa fazer para comandar a seleção da CBF? Felipão, é bom lembrar, rebaixou o Palmeiras e ganhou o cargo. Dunga deu vexame em 2010 e vai ganhar o cargo de volta.

Imagino o que Tite deve estar pensando nessa hora. A campanha dele com o Corinthians em 2011/12 não vale nada?

E Cuca, o que pensa quando vê Dunga assumir a seleção? O que ele fez no Atlético-MG em 2012 e vem fazendo há vários anos em vários clubes não tem valor?

Principalmente, gostaria de saber o que passa na cabeça de Marcelo Oliveira nesse momento. O cara monta o time que vem jogando o melhor futebol do Brasil nos últimos 18 meses – o Cruzeiro – e tem de passar pela humilhação de ver um tosco incompetente como Dunga recompensado com o cargo mais desejado por técnicos do país.

Pensando bem, faz todo sentido a CBF se associar a Gilmar Rinaldi e Dunga. Quem pensava que uma entidade liderada por uma múmia como Marin seria capaz de se renovar e olhar pro futuro, errou feio. Marin é a vanguarda do atraso, e a CBF espelha sua visão retrógrada e provinciana.

De minha parte, adorei a escolha de Dunga. Começo, desde já, a torcida pela derrota nas eliminatórias para 2018.

The post Dunga vai dar saudades do Felipão appeared first on Andre Barcinski.

JÁ LEU JOSEPH WAMBAUGH?

$
0
0

joseph wambaugh photo JÁ LEU JOSEPH WAMBAUGH?

Já escrevi aqui no blog sobre a crise de qualidade da literatura policial moderna. Quando um abacaxi como “A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert” é considerado um livro revolucionário, é porque alguma coisa está muito errada.

Isso sem falar em “O Jogo de Ripper”, primeira – e, espero, última – incursão de Isabel Allende pelo romance policial. Tive de ler por obrigação profissional e foi uma experiência das mais torturantes.

Enquanto não chega o novo livro de James Ellroy, “Perfidia” (o meu já está encomendado, sai em setembro), achei no Netflix gringo um grande filme baseado em um de meus livros prediletos: “The Onion Field”.

Dirigido por Harold Becker (dos ótimos “Sea of Love” e “City Hall”) em 1979, é inspirado no livro homônimo de Joseph Wambaugh, lançado em 1973, sobre uma história real ocorrida dez anos antes na Califórnia: uma dupla de policiais, Ian Campbell (Ted Danson) e Karl Hettinger (John Savage) para um carro suspeito numa averiguação de rotina. No automóvel estão dois ladrões, Jimmy Smith (Franklyn Seales) e Gregory Powell (James Woods).

Os bandidos rendem os policias e os levam para uma plantação de cebolas na periferia da cidade, com a promessa de soltá-los. Quando chegam à  plantação, Powell atira nos dois. Campbell morre na hora, mas Hettinger consegue escapar.

O filme acompanha os anos seguintes ao crime e ao julgamento dos assassinos, e conta como os bandidos conseguem, por meio de manobras jurídicas espertas, sair por cima. E Hettinger, o policial sobrevivente, é assombrado pelas memórias do crime e entra numa depressão suicida. As atuações de Woods, Savage e Seales são incríveis.

Não sei se “The Onion Field”, o livro, foi lançado em português. No site Estante Virtual há dezenas de livros de Wambaugh, tanto em português quanto em inglês. Se tiver chance, leia qualquer um. Wambaugh é daqueles escritores obrigatórios para quem gosta de literatura policial.

Antes de virar escritor, Wambaugh foi tira. Seus livros relatam a vida e trabalho dos policiais com uma visão de “insider”. Os diálogos não são cheios de bossa como os de Elmore Leonard ou Lawrence Block, mestres do “thriller” pop, mas realistas. A impressão é de estar escutando uma gravação de tiras batendo papo.

Vários dos livros de Wambaugh, especialmente os primeiros, escritos na primeira metade dos anos 70, não trazem histórias complexas sobre crimes misteriosos, mas relatos de como policiais são afetados pelo stress e brutalidade do dia a dia.

“The Choirboys”, um dos melhores livros dele, fala de um grupo de tiras que se reúne num parque da cidade de madrugada para beber, fumar, trepar com umas garçonetes taradas por policiais e trocar histórias da batalha nas ruas.

“Os Novos Centuriões” – esse tem em português – conta a vida de três colegas da Academia de Polícia e suas experiências na rua. É o livro mais autobiográfico de Wambaugh.

Leia, e dificilmente você terá paciência para muito do que se passa por literatura policial hoje em dia.

 

The post JÁ LEU JOSEPH WAMBAUGH? appeared first on Andre Barcinski.

CIÊNCIA CONFIRMA: MOTÖRHEAD FAZ MAL AO CÉREBRO

$
0
0

Lemmy eyeball CIÊNCIA CONFIRMA: MOTÖRHEAD FAZ MAL AO CÉREBRO

Meu amigo Cássio Leite Vieira é especialista em dois assuntos: ciência e heavy metal. E me enviou um artigo que junta os temas de forma inusitada.

Em janeiro de 2013, um homem de 50 anos chegou ao Departamento de Neurocirurgia da Escola de Medicina de Hanover, na Alemanha, com uma forte dor de cabeça, que já durava duas semanas.

O histórico médico do paciente não indicava a causa da dor, mas uma entrevista revelou que, algumas semanas antes, ele havia comparecido a um show do Motörhead. E pior: havia passado o show inteiro batendo cabeça. Ou, como dizem lá fora, “headbanging”.

Uma tomografia do cérebro confirmou o que os médicos temiam: o homem tinha, no lado direito da cabeça, um hematoma subdural – em bom português, “sangramento no cérebro”.

Cirurgiões retiraram o hematoma e drenaram o sangue do cérebro do metaleiro por seis dias. As dores de cabeça diminuíram de intensidade, e ele recebeu alta poucos dias depois.

Uma reportagem em uma revista médica diz: “Bater cabeça, embora geralmente considerado inofensivo, pode causar dissecção da artéria carótida, lesões no pescoço e enfisema no mediastino. Este é o primeiro caso conhecido em que ‘headbaning’ causa um hematoma subdural crônico”.

E termina: “Este caso prova a reputação do Motörhead como um dos grupos mais pesados do planeta, não só pela velocidade e peso contagiantes de seu som, mas também devido ao potencial risco de fãs sofrerem lesões cerebrais ao baterem cabeça”.

Estejam avisados.

The post CIÊNCIA CONFIRMA: MOTÖRHEAD FAZ MAL AO CÉREBRO appeared first on Andre Barcinski.

JABÁ, PIRATARIA E TRAMBIQUE: O LADO SOMBRIO DA MÚSICA

$
0
0

Simon JABÁ, PIRATARIA E TRAMBIQUE: O LADO SOMBRIO DA MÚSICA

Você sabe quando começou o jabá na música?

Foi na década de trinta. Mil oitocentos e trinta e quatro, para ser exato, quando o inglês Thomas Chappell pagou à cantora lírica Clara Butt uma grana para que ela adicionasse algumas canções ao seu repertório. E quem vendia a partitura das canções? A Chappel Music, claro.

E o primeiro caso de pirataria musical?

Aconteceu em 1905, quando um meliante foi preso nas ruas de Londres vendendo cópias falsificadas de partituras de famosas músicas da época, por um quinto do preço das partituras legítimas.

Há também o caso do empresário de uma banda desconhecida que procurou dois escritórios especializados em publishing (edição musical) para representar seus artistas. Ele foi ao primeiro escritório, da Essex Music, esperou quinze minutos para ser atendido, perdeu a paciência e decidiu ir ao segundo, onde foi recebido por um sujeito chamado Dick James. James ouviu a única música que o grupo havia gravado até então e concordou em representá-lo.

O empresário era Brian Epstein, a banda, os Beatles, e Dick James virou bilionário. Por décadas, ganhou 32,5% dos direitos de publishing de todas as canções de Lennon e McCartney. Ganhava mais que os compositores, que só ficavam com 29,25%. E a Essex Music ficou conhecida como a casa que rejeitou os Beatles.

Essas histórias – e dezenas de outras – sobre o lado sombrio da indústria musical estão em um livro obrigatório para quem se interessa pelas maquinações da indústria: “Ta-ra-ra-boom-de-ay: The Dodgy Business of Popular Music”, do inglês Simon Napier-Bell.

Napier-Bell tem 75 anos e é uma lenda dos bastidores do showbizz. Nos anos 60, escreveu letras para Dusty Springfield e empresariou os Yardbirds; nos 70, descobriu Marc Bolan e depois inventou o duo pop Wham!, com o então desconhecido George Michael (na foto do alto, ele bate papo com Michael e Andrew Ridgeley, em 1985). Napier-Bell é um estudioso da história da música e conhece todo mundo. No livro, junta a erudição de décadas de pesquisa com o veneno de quem testemunhou, como insider, várias das histórias que relata.

Ele conta, por exemplo, como Paul McCartney ficou furibundo ao descobrir que suas músicas já não lhe pertenciam, e como o Beatle resolveu se vingar do mundo fazendo exatamente o mesmo com outros artistas, comprando todo o catálogo de Buddy Holly e vendendo suas músicas para comerciais de TV.

Mas Macca não demoraria a experimentar do próprio veneno: certa noite, jantando com Michael Jackson, comentou como estava ganhando uma fortuna com músicas de outros artistas. Jacko brincou: “Sabe, Paul, um dia eu vou comprar as músicas dos Beatles”. McCartney riu e não deu muita bola.

Mas Jacko não esqueceu a história. E depois de embolsar 100 milhões de dólares com as vendas de “Thriller”, usou metade da grana para comprar as músicas dos Beatles. Enquanto McCartney espumava, Jacko vendia “Revolution” para um anúncio da Nike e “All You Need is Love” para a Panasonic.

O livro começa no início do século 19, com o primeiro caso de jabá registrado, e acompanha todo o desenvolvimento da indústria musical. Ficamos sabendo como Duke Ellington, Benny Goodman e todos os líderes de big bands recebiam grana de empresas de publishing para tocar determinadas canções e incentivar a venda de partituras, o negócio mais rentável da música na época.

Napier-Bell fala da “Taxa Elvis” – um percentual de 30% que todo compositor precisava pagar a Elvis se quisesse que ele gravasse sua música; conta como se formaram as maiores gravadoras do planeta – Columbia, RCA Victor, Atlantic – e faz perfis dos executivos que as comandaram. E explica, de forma clara, como um artista que vendeu 200 mil cópias de um disco conseguia dever dinheiro à gravadora.

Mas o melhor do livro são as pequenas histórias de grandes trambiques e espertezas: como a do sul-africano Clive Calder, que vendeu parte de sua gravadora, a Zomba, para a BMG, com uma cláusula em que a BMG se comprometia a comprar o restante da Zomba por três vezes o lucro médio dos últimos três anos. Calder moveu o mundo e conseguiu contratar, de uma vez, Backstreet Boys, N’Sync e Britney Spears, que venderam, juntos, 50 milhões de discos só nos Estados Unidos. O lucro anual da Zomba chegou a 900 milhões de dólares, e Calder liquidou a empresa por inacreditáveis 2,7 bilhões, tornando-se, de um dia para o outro, um dos 200 homens mais ricos do planeta.

O capítulo sobre a invenção das boy bands é demais. Em especial o perfil de Johnny Kitagawa, um empresário americano que mudou para o Japão nos anos 50 e por quatro décadas montou dezenas de grupos infantis como KinKi Kids, SMAP, Tokio, V6 e Four Leaves, todos soando idênticos e com menininhos adoráveis, que ele traçava sem dó, aproveitando que a idade consensual para sexo no Japão era de 13 anos.

Napier-Bell conta também a história de Lou Pearlman, agente que inventou o Backstreet Boys e o N’Sync (e depois foi processado pelas duas bandas por assédio). Quando um repórter perguntou a Pearlman se esses grupos tinham prazo de validade, ele respondeu: “Boy bands só deixarão de ser populares no dia em que Deus parar de fabricar garotinhas”. Napier-Bell completa: “ou no dia em que Deus parar de fabricar agentes homossexuais”.

The post JABÁ, PIRATARIA E TRAMBIQUE: O LADO SOMBRIO DA MÚSICA appeared first on Andre Barcinski.

MUSSUM FORÉVIS

$
0
0

Dia 29 é aniversário de 20 anos da morte de Mussum. Para homenageá-lo, Selecionei seis momentos dele nos “Trapalhões”.

Mussum vira chefe – Adoro esse quadro, que brinca com sexismo e racismo no ambiente de trabalho.

 

Mussum Sommelier – É uma piada velha, que os Trapalhões adaptaram nesse esquete curtinho.

 

Mussum e o xadrez – Todos os coadjuvantes dos Trapalhões eram divertidos, mas eu gostava especialmente de Carlos Kurt, que sempre fazia o “alemão” nervoso.

 

O governo tá certo – Este é um dos quadros mais bizarros de sátira política, em que Mussum defende o governo.

 

Ponto de ônibus – O esquete não é dos mais criativos, mas a frase sobre a “ambulância preta” é sensacional.

 

Criolovil – Já postei esse vídeo aqui no blog, mas não dá para fazer uma seleção dos melhores momentos de Mussum sem incluí-lo. Dá para perceber que boa parte do monólogo é improvisado, e que Mussum esculhamba vários amigos e colegas. Imagino a equipe passando mal de rir atrás das câmeras.

Bom fim de semana a todos.

The post MUSSUM FORÉVIS appeared first on Andre Barcinski.


ROGER EBERT: UM ADEUS DE CINEMA

$
0
0

Todo cinéfilo tem seu crítico predileto: André Bazin, Pauline Kael, Andrew Sarris... Mas ninguém pode discordar que o crítico mais influente e conhecido da história do cinema foi Roger Ebert.

Por quase 30 anos, Ebert, em parceria com Gene Siskel, apresentou um programa de TV nos Estados Unidos em que faziam críticas dos filmes da semana. Os filmes recebiam “thumbs up” (polegares para cima) ou “thumbs down” (para baixo), e a opinião dos dois influenciava o resultado de bilheteria.

Outros críticos malharam Siskel e Ebert por “banalizarem” a crítica cinematográfica. Ebert sabia que o curto tempo na TV não permitia análises profundas sobre filmes, mas via seu trabalho como uma peça de resistência do bom cinema no “mainstream” e sempre fez questão de elogiar o trabalho de jovens talentos. Martin Scorsese, Errol Morris e Michael Moore são apenas alguns dos muitos cineastas que receberam grande incentivo do crítico no início de suas carreiras.

Ebert não começou na TV. Em 1967, foi contratado como crítico do jornal “Chicago Sun-Times”, onde permaneceu por mais de 40 anos. Foi o primeiro crítico de cinema a ganhar um Pulitzer (em 1975) e ajudou a popularizar a geração de jovens cineastas que surgia: Coppola, Scorsese, Bogdanovich, Arhtur Penn e e outros.

Suas críticas positivas a filmes polêmicos como “Bonnie e Clyde” (Arthur Penn, 1967), “Meu Ódio Será Tua Herança” (Sam Peckinpah, 1969) e “Caminhos Violentos” (Scorsese, 1973) ajudaram a bilheteria dos filmes e a carreira de seus diretores. Ebert também ajudou a popularizar, na América, cineastas estrangeiros como Kurosawa, Bergman e Fellini, e escreveu o roteiro de “Beyond the Valley of the Dolls”, clássico trash/pornô de Russ Meyer.

Em 2002, Ebert foi diagnosticado com câncer na tireoide e, logo depois, na glândula salivar. Passou os anos seguintes entrando e saindo de hospitais, fez inúmeras cirurgias, retirou parte do maxilar e passou a se comunicar por meio de um sistema computadorizado de reprodução de som, usando, como base, gravações de sua própria voz. Morreu em 4 de abril de 2013, cercado por amigos e pela esposa, Chaz, com quem casou aos 50 anos e que, segundo Ebert, o salvou de “passar os últimos anos de vida em completa solidão”.

Acaba de sair nos Estados Unidos “Life Itself”, documentário de Steve James (“Hoop Dreams”) sobre a vida de Roger Ebert. Enquanto nenhum iluminado lança por aqui, dá para ver no Cine Torrent.

O filme começou a ser produzido seis meses antes da morte de Ebert e traz entrevistas com amigos, colegas de trabalho, cineastas (Scorsese, Herzog, Errol Morris) e críticos (Richard Corliss, A.O. Scott, Jonathan Rosenbaum). A entrevista de Scorsese, em especial, é muito emocionante. Ele lembra como Siskel e Ebert o homenagearam em um festival de cinema em 1980, quando ele passava por uma fase braba de cocaína e havia quase morrido de overdose. Foi a primeira vez que vi Scorsese quase chorar numa entrevista.

“Life Itself” também mostra, em detalhes agonizantes, todo o processo clínico a que Ebert se submeteu. É comovente a luta dele para continuar trabalhando em meio à dor. Em 2008, e até seus últimos dias, manteve um blog, onde falava sobre cinema e a vida, e onde escreveu sua despedida:

“Eu sei que ela está chegando, e não temo, porque acredito que não há nada do outro lado da morte para temer. Espero ser poupado de sofrimento nesse caminho. Sempre fui perfeitamente feliz antes de nascer, e penso na morte da mesma forma. Sou grato pelo dom da inteligência, do amor, do deslumbramento e do riso. Não dá para dizer que não foi interessante. As memórias de minha vida são o que eu trouxe dessa viagem. E não preciso deles, para a eternidade, mais do que preciso daquele pequeno souvenir da Torre Eiffel que eu trouxe de Paris.”

Dois dias antes de morrer, Roger Ebert escreveu:

“Nesse dia de reflexão, digo novamente: obrigado por terem me acompanhado nessa jornada. Vejo vocês no cinema.”

The post ROGER EBERT: UM ADEUS DE CINEMA appeared first on Andre Barcinski.

O HENDRIX DO DESERTO

$
0
0

Até três meses atrás, eu não tinha ouvido falar de Bombino. Mas fui ao Austin Psych Fest, festival da música psicodélica de Austin, onde ele se apresentou, e alguns leitores recomendaram não perder o show.  Segui o conselho. Hoje, não consigo parar de ouvir Bombino, especialmente seu terceiro disco, “Nomad”, produzido por Dan Auerbach, do Black Keys.

Bombino é o nome artístico do guitarrista Omara Moctar, 34. Moctar nasceu em um acampamento Tuareg no deserto perto de Agadez, no Níger, oeste da África. Os Tuaregs são um povo nômade do Níger, Mali, Burkina Faso e outros países africanos, que habitam o norte do Saara.

O grupo musical Tuareg mais famoso é o Tinariwen, do Mali, que existe há mais de 30 anos e tem nove discos. Bombino cresceu ouvindo Tinariwen, Terakaft e outras bandas que fazem uma mistura de sons africanos com blues e rock. Adorava Hendrix e Mark Knopfler. Aos dez anos de idade, foi forçado a ir com a família para a Argélia e depois para a Líbia, fugindo da perseguição do governo de Níger, que sempre teve uma relação conflituosa com os Tuaregs.

Bombino trabalhou como pastor de cabras enquanto praticava guitarra. Aos 17 anos, voltou a Agadez. Foi chamado por um famoso guitarrista Tuareg para integrar seu conjunto e virou músico profissional.  Em 2007, houve uma grande rebelião Tuareg, um período de lutas intensas contra o governo de Níger. Os Tuaregs exigiam melhores condições de vida e uma divisão dos lucros da exploração de urânio (as maiores minas do mundo estão no país). Dois músicos, colegas de Bombino, foram mortos por tropas do governo, que proibiu o uso de guitarras elétricas entre a população Tuareg. Bombino fugiu de novo, dessa vez para Burkina Faso.

Veja um trecho emocionante de um show de Bombino num acampamento Tuareg no Níger, em 2007:

Do outro lado do mundo, Dan Auerbach, guitarrista e cantor do Black Keys, viu vídeos de Bombino no Youtube e ficou obcecado pela música dele. Chamou o guitarrista e banda para gravarem em seu estúdio em Nashville. “Foi a primeira vez que gravamos em um estúdio de verdade”, conta Bombino (leia uma boa entrevista dele, em inglês, aqui).

O resultado foi “Nomad”, um dos melhores discos de 2013 que eu, estupidamente, só conheci mais de um ano depois. Veja aqui o clipe de “Azamane Tiliade”:

A música de Bombino é uma porta de entrada para uma cultura que poucos conhecem. Ele é um bluesman do deserto e faz a ponte entre as tradições Tuaregs e a música pop ocidental, que conheceu criança. É um som diferente, original e inesquecível. Espero que alguém traga logo Bombino para tocar por aqui.

 

The post O HENDRIX DO DESERTO appeared first on Andre Barcinski.

FLIP: PREÇOS DAS POUSADAS ASSUSTAM MAIS QUE LIVRO DO STEPHEN KING

$
0
0

flip paraty 3c FLIP: PREÇOS DAS POUSADAS ASSUSTAM MAIS QUE LIVRO DO STEPHEN KING

Começa hoje, em Paraty, a 12ª edição da Flip.

A cidade nunca esperou o evento com tanta ansiedade, até pelo prejuízo que a Copa trouxe para o comércio e turismo locais. Nos últimos dias, falei com vários donos de pousadas, lojas e restaurantes, e todos tiveram movimento menor em junho e julho do que em anos anteriores. Para alguns, a diminuição chegou a 50%.

Talvez para compensar, muitos aumentaram seus preços absurdamente agora na Flip. Os valores pedidos para os pacotes em pousadas e hotéis chegaram a níveis ridículos.  Pousadas simples, que normalmente cobram 100 ou 150 reais por um quarto, pedem 500 ou 600, aproveitando a demanda maior que a oferta. Um amigo ligou para uma pousada bacana no Centro Histórico e ficou chocado com o preço: um pacote de quatro noites saía por 10 mil reais. Desse jeito, o turista até pode vir para a Flip, mas não volta à cidade nunca mais.

Da programação, o mais interessante, para mim, deve ser a entrevista dos “Cassetas”(e ex-“Pasquim”) Hubert e Reinaldo com Jaguar, falando sobre Millôr Fernandes (hoje, 19h).

Não vou perder o colunista do “The New York Times”, David Carr, autor da ótima autobiografia “A Noite da Arma” junto à repórter argentina Gabriela Mochkofsky na mesa “Narradores do Poder” (sábado, 21h30), nem o trio Sérgio Augusto, Claudius e Cássio Loredano falando sobre Millôr na mesa “O Guru do Méier” (sexta, 10h).

Também quero muito ver o paquistanês Mohsin Hamid na mesa “Livre Como um Táxi” (sexta, 17h15). Gostei muito de seu “Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente”, que li em inglês. E para finalizar, não perco o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e o historiador de arquitetura italiano Francesco Dal Co na mesa “Paraty, Veneza no Atlântico Sul” (quinta, 19h30).

Se você tiver como vir à Flip sem gastar as economias todas numa pousada, vale a pena, mesmo que os ingressos já estejam esgotados para as mesas. Sempre dá para ver os debates pelo telão.

E se sobrar um tempinho, vá à Casa Folha na sexta, 17h, onde participo, com Guilherme Arantes, de uma conversa sobre meu novo livro “Pavões Misteriosos: 1974-1983: a Explosão da Música Pop no Brasil”. Depois conto como foi.

Até lá.

The post FLIP: PREÇOS DAS POUSADAS ASSUSTAM MAIS QUE LIVRO DO STEPHEN KING appeared first on Andre Barcinski.

RIO DE JANEIRO ÜBER ALLES

$
0
0

barca RIO DE JANEIRO ÜBER ALLES

Acaba de sair no Brasil “Dead Kennedys – Fresh Fruit For Rotting Vegetables” (Editora Ideal), livro do inglês Alex Ogg sobre a banda punk liderada por Jello Biafra.

Não é uma biografia completa da banda, mas o relato de seus primeiros três ou quatro anos, da fundação ao lançamento do disco de estreia, em 1980. O livro é uma versão ampliada de um texto que Ogg escreveu para o relançamento comemorativo de 25 anos do disco, em 2005.

A edição que está saindo no Brasil é caprichada, com muitas fotos, reproduções de cartazes de shows e flyers, e colagens de Winston Smith, o artista gráfico que fez o logo e as capas do DK.

Para quem quiser saber mais sobre a origem do Dead Kennedys, como Jello, Klaus Flouride e East Bay Ray se conheceram e montaram a mais original e inventiva banda hardcore de todos os tempos, vale a pena a leitura.

Mas uma história que não está no livro e que pouca gente conhece aconteceu no Rio de Janeiro em 1992, seis anos depois do fim da banda.

Naquele ano, lancei “Barulho”, livro sobre o rock alternativo americano. Jello e o então baixista do Ministry, Paul Barker, vieram ao Brasil para o lançamento.  Estupidamente, marquei a festa mo Rio na mesma semana em que acontecia a Rio Eco, uma conferência global sobre meio-ambiente, com presença de políticos e celebridades do mundo todo. A cidade estava lotada.

Uma noite, levei Jello, Paul e um grupo de amigos para jantar no Lamas, tradicional restaurante carioca, ponto de encontro de intelectuais e boêmios. Estávamos traçando filés com cebola frita (menos Jello, que era vegetariano), quando entrou no restaurante um grupo de engravatados. Jello reconheceu um deles e percebi que ficou constrangido na hora.

A figura era ninguém menos que Jerry Brown. Brown tinha sido governador da Califórnia de 1975 a 1983 (e seria novamente em 2011), e era o alvo de uma das melhores e mais virulentas letras de Jello, “California Über Alles”, composta em 1979.

Nela, Jello espinafrava o que considerava “hippismo” de Brown e previa uma América onde “zen-fascistas” executariam cidadãos em câmaras de “gás orgânico venenoso” e onde crianças seriam obrigadas a meditar na escola. Brown era descrito como “Big Brother num cavalo branco”.

Em nossa mesa estava um amigo meu, Lance Gould, jornalista que trabalhava para várias revistas americanas. Lance e eu decidimos promover o encontro de pedra e vidaraça. Fomos à mesa de Brown, nos apresentamos e dissemos que Jello estava na mesa ao lado e “adoraria conhecer o governador”. Jello, constrangido, cumprimentou Brown, que foi simpático e não demonstrou nenhum ressentimento. Os dois falaram por um tempo sobre a conferência.

Até ler o livro de Alex Ogg, eu achava que aquele fora o primeiro encontro de Jello e Jerry Brown, mas o jornalista conta que, depois do fim dos Dead Kennedys, Jello acabou meio que se arrependendo da letra, percebeu que Brown era um político muito acima da média, e até participou de grupos ativistas apoiados por Brown. Os dois já haviam se encontrado antes.

De qualquer forma, foi um encontro inusitado e improvável entre um punk revoltado e seu alvo, num templo da boemia carioca.

The post RIO DE JANEIRO ÜBER ALLES appeared first on Andre Barcinski.

FAUSTO FANTI (1978-2014)

$
0
0

fausto fanti hermes e renato1 FAUSTO FANTI (1978 2014)

Muito triste e chocado com a morte de Fausto Fanti, do grupo humorístico “Hermes e Renato”.

Depois do surgimento do “Casseta e Planeta”, a trupe do “H & R” foi a mais talentosa a aparecer na TV brasileira, e isso não é pouca coisa.

O humor dos caras misturava roteiros muito bem escritos a uma tosquice estética impagável. O cenário de um telejornal podia ser apenas uma mesa, duas cadeiras e um pano no fundo; uma fantasia de mulher se limitava a uma peruca e peitos falsos.

Quando o “Casseta” apareceu, provou que um humorista não precisava ser ator de verdade para fazer sucesso na TV. Ninguém ali tinha experiência de palco, como Agildo Ribeiro, Jô Soares ou Paulo Silvino, mas a qualidade das piadas e a cara de pau deles, que sabiam estar “interpretando” de forma exagerada e caricata, resultavam num humor anárquico, que brincava com a tradição “clean” da comédia televisiva.

Foi um choque ver um programa tão delirantemente tosco quanto o “Casseta” na Globo. E esse gosto pela ogrice, o pessoal do “Hermes e Renato” levou a extremos. A impressão era de estar vendo vídeos de amigos fazendo palhaçadas, tal o despojamento e esculacho – no bom sentido, claro.

E os esquetes eram muito bem escritos. A série “Brasil Mulambo”, em que um repórter – Fausto Fanti - acompanhava as desventuras de Charlinho, um pobre coitado que só queria estudar, esculhambava o tom condescendente da visão da mídia sobre a pobreza. É um clássico:

 

 

Um de meus momentos prediletos de Fausto Fanti é a entrevista com a banda Também Sou Hype – “um pouco de indie rock, com eletro e um tiquinho assim, desse tamanhinho, de carimbó” – inesquecível sacaneada no Cansei de ser Sexy.

 

 

Fanti é mais um numa lista longa de comediantes que morreram cedo demais. Chris Farley, Sam Kinison, John Belushi, Phil Hartman, Greg Giraldi, Lenny Bruce... É impressionante como artistas que viveram do humor tiveram, em suas vidas privadas, momentos tristes e sombrios, que ninguém poderá compreender.

The post FAUSTO FANTI (1978-2014) appeared first on Andre Barcinski.

Viewing all 575 articles
Browse latest View live